Permaneço no silêncio fechado
Do mar remoto por onde se ergue
A minha voz calada…
Porque as palavras já se esgotaram;
Porque o efêmero permanece e o
Eterno não alcanço;
Porque as lágrimas já foram
Todas derramadas;
Porque o choro me trava a garganta;
Porque a vida não me sorri;
Porque a morte já não me espera;
Porque a dor já não me deixa;
Porque a felicidade já não regressa;
Porque o destino já não me comanda;
Porque o espanto me fecha em mim;
Porque as águas domar já não me
Molham os pés nem me consolam a alma;
Porque o Sol já não brilha na sua
Mais pura claridade;
Porque as flores já não são coloridas;
Porque já não flutuo nos ares airosos;
Porque o fogo já não me aquece;
Porque a tormenta me congela o cérebro;
Porque o mundo já não é mais redondo;
Porque as andorinhas já não
Voltam com a primavera;
Porque o sonho já não se regue e as folhas
No Outono teimam em cair secas e desfeitas;
Porque o silêncio já não desce do alto e Deus
Impõe-no à minha voz calada no suor e no sopro da
Eternidade que clama o infinito na purificação
Da unidade do cosmos universal, que já não
Ouço, que já não vejo, que já não sinto;
Porque aqui estou no silêncio recolhido que me cobre
E me deixa flutuar por entre as pedras roxas
Onde os sons já não se propagam, nem a luz
Se acende, nem a carne vibra.
Isabel Rosete