terça-feira, 8 de junho de 2010

O salpico doce
Das gotas salgadas,
Desperta-me
Para os segredos da Criação,
Para o devir contínuo
Da marcha do Mundo,
Sem intervalos,
Sem pausas.

O farol que o mar torna visível,
Anuncia: “terra-à-vista”!

Sempre ilumina a minha alma,
Todas as almas,
Em todas as direcções
De onde os barcos
Partem e regressam,
Na saudade amarga
Daqueles que se separam
Pela luta do pão e da vida.

Isabel Rosete
Meros farrapos
Nos tornámos,
Nós, os pretensos
Arautos da Razão.

Razão?
O que é a Razão?
Não sabeis, pois não?

A palavra degenerou-se,
Gastou-se,
Transmutou-se para um outro,
Que jamais é o outro de si mesmo.

Continuamos a carregar este rótulo,
O de sermos racionais,
Cada vez mais vazio,
Cada vez mais insano!

Não é a Justiça que nos move,
Não é o Bom-Senso que nos determina,
Não é a Ética que nos rege!

O que nos alimenta
Ou des-nutre,
Sobe o nome da “Razão”?

A demagogia e a retórica,
Abastardadas;
O poder e a ambição,
Des-medidas;
A intolerância e a discriminação,
Arrogante,
Sem fundamento plausível.

É nisto, Homem,
Movido pelas escaldantes farpas do Demo,
Que te transformas-te
Por conta própria?

Isabel Rosete
Nos duelos com o teu corpo

Encho a minha alma
De sangue virgem,
A jorrar pelo meu peito.

Toda a força orgásmica
Corre-me nas veias.

Amo-te até à exaustão
Do sentir;
Amo-te para além
Dos limites do dizível;
Amo-te até ao último
Impulso audível.

Os duelos
Sempre continuam,
Cada vez
Mais intensos,
Porque a força do Amor nos move
Em todos os caminhos
Que se bifurcam.

Não quero parar de me debater
Com o teu corpo, único,
Com a tua alma, tão singular,
Que me extasia as moléculas,
De imediato,
Em estado de com-bustão.

Assim te amo
Na ponta da espada, sem bainha,
Sempre pronta a atravessar
Todas as tuas células,
Em inflamação;

Assim te amo
Nos cortes e recortes do teu corpo,
Delgado e nu
De emoção.

Isabel Rosete
08/06/2010