domingo, 9 de dezembro de 2007

Duvido que seja eu quem escreva

Duvido que seja eu quem escreva
Neste vale de lágrimas impetuoso
Sem deuses
Sem homens
Sem destino…

Agarro a vida por um fio
Tão subtil
Tão frágil
Tão leve
Como as asas dos pássaros migratórios…

O sussurro do mundo envolve-me
Embala-me
Num lento e doce caminhar…

Sinto-me leve
Abandonei todos os grilhões…

A minha alma
Eleva-se
Confunde-se com as nuvens de um céu claro
Transborda de serenidade…

Entrou
Por um momento
Em harmonia consigo mesma
E com o Mundo

Fechou
Por parcos minutos
Os olhos à hipocrisia
À mediocridade
Ao vil
Ao comum…

Enaltece-se
Com a grandiosidade do Universo
Vendou os olhos para os terrores humanos…

Isabel Rosete
03/09/07

O artista não é um imitador

Não,
O artista não é um imitador…

A arte não é mimésis
Cópia simples da realidade…

Dá-se no desflorar da verdade
No brilho da sua adveniência
Que é o Belo

Na plena libertação dos sentidos
E do sentir…

È matéria e forma
Talento e génio
O dizível e o indizível
O latente e o manifesto
O in-habitual…

Uma outra mundividência
Que nos aliena do quotidiano…

Uma dádiva epifânica
Que aí se mostra
E sempre nos fala
Do íntimo
Das “coisas-mesmas”
Sempre tão próximas….
Sempre tão distantes…

Isabel Rosete
26/05/2007
10/11/07

Maquiavélicos

Maquiavélicos,
Somos…

Criativos,
Nobres,
Também somos…

Apesar de toda a miséria
Da mediocridade
Da menoridade
Que nos preenche a alma…

Isabel Rosete
10/11/07

Amo o Silêncio ...

Amo o silêncio…

O ruído das máquinas
Fere os meus ouvidos
Tão puros,
Tão singelos,
Quanto cada amanhecer

Os sons das trombetas dos anjos
Espero ouvir
Ao entardecer

As suaves melodias das almas
Espero beber
Ao anoitecer

Os sons da Terra
Espero sentir
Em cada renascer…

Amo a pureza de cada ente Nu
No despertar da Humanidade
Que suspira
O Virgem
O Fértil
O Imaculado
De todo o desflorar da criação
Em todos os seus estados de Graça…

Isabel Rosete
02/08/07
09/12/07

Amo a transparência ...

Amo a transparência
A lucidez das formas
A visibilidade dos conteúdos

Amo o Mar
O pôr-do-sol,
Reflectido nas águas cristalinas

Amo o vento
Que espalha as areias,
Pelas praias desertas

Amo a Vida
Perdida,
Em todos os rumos
Procurada,
Em todas as veias
Ainda não dilaceradas…

Amo os Amores
Os meus,
Que vão e vêm
Os dos outros,
Que estão aí
E alimentam a roda do mundo

Amo a criação
“Des-veladora” do Ser de cada ente
Que ganha forma
Num Mundo
Jamais feito à nossa medida…

Num Mundo
Castrador dos pensamentos
Livres e abertos,
Intolerante perante os actos mais arrojados
Diferentes
In-habituias…

Num Mundo que não comporta a excentricidade
Nem a identidade
Nem a alteridade
Nem nada…
Para além do imposto
Do instituído
Do convencionado…


Isabel Rosete
18/10/07
Consciência Negra: Racismo ou Xenofobia?

Será que faz sentido falar em "consciência negra" ou em "consciência branca", se somos geneticamente idênticos, igualmente seres humanos, animais racionais, naturalmente dotados de consciência? "Celebrar" um tal dia, enfatizar a ideia da existência específica de uma "consciência negra", não será mais uma forma de dar continuidade ao terrível processo de discriminação, marginalização, há muito iniciado e ainda não terminado?
Não há, propriamente falando, ou seja, do ponto de vista da essência, nem negros, nem brancos; nem amarelos, nem vermelhos. Há, tão-só, seres humanos. Nada mais.
Aliás, as pesquisas mais recentes da engenharia genética têm mostrado como é cientificamente incorrecto continuar a usar o termo "racismo".
Não existem várias raças, mas somente uma única raça: a raça humana, com algumas variações genéticas minoritárias, dadas, por exemplo, por dois ou três genes (entre os mais dos cem mil que constituem o genoma humano) responsáveis pela cor da pele, dos olhos, do cabelo.... Meros detalhes insignificantes. Por conseguinte, o termo "racismo" deve ser substituído, na nossa linguagem quotidiana, pelo termo "xenofobismo", quer dizer, o medo natural (de “fobia”, medo, aversão) que o ser humano normalmente tem ao que é simplesmente diferente.
Trata-se de um questão filosófico-antropológica de grande relevo. Trata-se da sempre e ainda discutida problemática da identidade e da diferença.
Diz o slogan: "Todos iguais, todos diferentes". Como interpreta-lo?
Simples:
1. "Todos iguais" – em direitos e deveres. Qual o fundamento desta tese? Todos os habitantes deste planeta, que ainda nos recolhe sob o seu tecto rarefeito, são, igualmente, seres humanos. Sob a base deste alicerce irrefutável foi aprovada, em 1948, a "Declaração Universal dos Direitos Humanos", lamentavelmente ainda esquecida – não tanto em teoria, mas em prática – por muitos Povos e Nações ditos civilizados;
2. "Todos diferentes" – as dissemelhanças essenciais entre os seres humanos não são dadas pela cor, ou por qualquer outro tipo de características meramente acidentais. Mas sim, pela cultura em que crescem e se devolvem; por um conjunto de hábitos, tradições, costumes, perfilhadas por um dado Povo. E também neste ponto, é completamente desarrazoada qualquer espécie de discriminação: não há, efectivamente, culturas superiores ou inferires. Há, somente, culturas diferentes.
Pelos argumentos expostos, torna-se claro que devemos caminhar no sentido da interculturalidade, da multiculturalidade, do diálogo inteligentemente “inter-seccionado” entre as diversas culturas. Aqui reside, a um tempo, o enrequicimenteo da Humanidade e o desenvolvimento progressivo da Raça Humana.
Devemos, ainda, centrar a Educação dos Povos num universo naturalmente pluricultural, não partindo de uma estratégia de dominação, mas do diálogo aberto, sem “pré-conceitos”.
Senão vejamos: Os Índios da América – para citar apenas um exemplo entre tantos outros espalhados por este mundo – caracterizam o homem branco como o homem de “língua bifurcada”, isto é, o “homem que tem duas palavras”. Será que nos revemos, nós brancos, nesta qualificação?
A educação das nossas sociedades está marcada por estratégias de dominação, onde o “discurso” e o “canhão” “co-habitam” e/ou alternam como instrumentos de guerra. Porém, a ignorância do Outro conduz-nos à ignorância de nós mesmos e, a limite, à nossa própria destruição.
As ciências trazem, elas também, a marca da sociedade em que nasceram. Urge, por conseguinte:
1. Inventar uma nova linguagem, uma nova forma de comunicação e de entendimento, ainda mais universal do que a Língua dos Homens.
2. Estabelecer, de uma vez por todas, um diálogo de plena comunhão com Outro;
3. Aceitar a diferença e conviver pacificamente com ela;
4. Respeitar os deveres para consigo mesmo e, concomitantemente, os deveres para o outro.

Tenho dito.

Isabel Rosete
21/11/2007

PS: Acabei de escrever este texto para todos vós. É apenas a minha tese sobre esta problemática, tão discutível como qualquer outra.

«Paixão de Cristo» / Natal 2007



Não há propriamente data determinada nem para o nascer, nem para o morrer de Cristo – essa “ex-traordinária” e iluminada figura que a História nos doou, por vontade de Deus – para além daquelas que são convencionadas no calendário.
Não obstante estarmos bem perto de comemorar o nascimento de Cristo e, por extensão, a paz, a solidariedade, a luz, a verdade, o bem, o amor, a amizade... não nos podemos esquecer que o Mundo continua a sofrer, a ser martirizado e crucificado como Cristo o foi, um dia.
Iludir a realidade pelas comemorações convencionais não faz a humanidade crescer, pensar, reflectir, sobre esse sofrimento, físico e psíquico, de que ela mesma é vitima, a partir das suas próprias mãos, ensanguentadas, amiúde, pelo sangue jorrado dos corpos inocentes.
Enquanto uns estão à mesa, na noite de ceia, a confraternizar com as suas famílias, em paz e alegria, deliciando-se com o mais requintado dos manjares, trocando os mais caros e belos presentes, outros morrem de subnutrição, são vítimas de balas perdidas, da má fé, das guerras injustas, da violência gratuita.
Claro que este texto, que escrevi a propósito de uma discussão com amigo meu sobre o filme de Gibson é, naturalmente, provocatório, propositadamente, provocatório, se nos centramos, apenas e redutoramente, no contexto natalício que já estamos vivendo.
Porém, o objectivo é mesmo esse: abanar as consciências, incitar as mentes à mais profunda reflexão, fazer renascer o espírito crítico, por detrás de todas as máscaras ou de todos os discursos demagógicos.
O sofrimento, a maldade, a violência, a crueldade... não acabam pelo simples facto do Natal estar próximo. Lamentavelmente continuam, embora camufladamente.
Recuso-me a ludibriar a realidade; recuso-me a compactuar com a hipocrisia dos homens, que só se lembram que há mendicantes, crianças e velhos, moribundos e desamparados, povos em guerra…, quando o Natal é, oficialmente, comemorado.
A memória dos homens deve deixar de ser curta… a memória dos homens não deve apenas ser testada, assim como a sua humanidade ou “pseudo-humanidade”, quando o socialmente instituído é festejado.
O Espírito do Natal jamais se deve restringir ao dia 25 de Dezembro... O Espírito do Natal deve estar presente em todas as mentes, todos os dias.
As luzes que, incandescentemente iluminam as ruas, não conseguem eliminar a miséria humana, pelo menos aos olhos daqueles que vêem sempre mais longe, para além das aparências, das convenções, dos preconceitos, ou do chamado politicamente correcto.

Isabel Rosete
09/12/007

Sobre o filme de Gibson:«A Paixão de Cristo»

Se lermos os capítulos da Bíblia em que Gibson se inspirou, é isso mesmo que sente, vê, escuta. Todos os relatos da época confirmam, sem reservas, essa crueldade, essa "des-humanidade", essa insensata histeria colectiva movida pela agressividade... Por isso, não me parece que o realizador tenha enfatizado ou empolado a realidade. Apenas a mostrou como ela é em si mesma.
A humanidade é assim mesmo: cruel, violenta, vil... Toda a história o mostra. Só que nem sempre o queremos ver. Ou, simplesmente, não convém que o vejamos.
Cristo foi apenas mais um, entre ouros, mártire dessa crueldade, bestialidade ou insensibilidade exacerbada dos Homens.
Cristo não convinha ao sistema instituído. Foi um revolucionário. A sua filosofia contestatária. Naturalmente, tinha de ser morto, como também o foi Gandhi, só para dar mais um exemplo histórico.
Assim é a postura de todos os regimes políticos totalitários, os de ontem e os de hoje. São dogmáticos. Não admitem outras verdades, outras visões do mundo, ou, outra ordem...
É preciso mostrar ao Mundo, do modo mais realista possível, o que ele é em si mesmo.
Na verdade, o Mundo não é um mar de rosas, mas um mar de espinhos, camuflado por belas, cheirosas e aveludadas pétalas...
São estas algumas das razões que me levaram a colocar essas imagens em cena. Devem ser vistas, pensadas, analisadas com os olhos da razão.
Precisamos não esquecer, nunca, que estamos minados pela hipocrisia, pela inveja, pela violência, pela guerra, entre alguns escassos momentos de paz e de enaltecimento dos valores que autenticamente devem prevalecer: a verdade, a honestidade, o bem, a solidariedade, o respeito pelas diferenças...
Espero que tenha sido clara. Obviamente que esta é a minha perspectiva, tão discutível como qualquer outra. Mas, penso, seguramente realista, porque alicerçada em factos históricos devidamente fundamentados e, por conseguinte, incontestáveis.

Isabel Rosete
07/12/07

Pensamentos Dispersos, 18/10/07

I.
Portugal: Uma pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os mundos das outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

II.

* Amo o Mundo, fechando-me dentro de mim própria…

* Não há espaços que nos absorvam nos caminhos da Vida e que à Morte não nos conduzam….

* Vivemos…Estamos…Caminhamos…em que direcção? Não o sabemos. Mas, algum Destino nos guia…

* Somos o que somos. Não mais do que somos.

* Amamos, odiamos, sentimos… Somos humanos.

* A morte faz-se e desfaz-se, em cada pedaço de Vida…

* Sorrio, sempre, como se as rosas não tivessem espinhos…

* Resta-nos pensar o Infinito…

* Não temos Vida. Vamos vivendo. Não temos esperança. Permanecemos expectantes…

* Suamos por todos os poros o que a Vida não nos dá.

* Permanecemos nos rodeios da Vida, com indeléveis marcas de esperança.

* Não posso esperar que o Mundo venha ter comigo… Vou ter com o Mundo…

* A inocência não é sinónimo de infantilidade. Mas, tão-só, da Pureza da Alma.

* O Amor arde, queima, corrói… Sobressalta os corações, sempre na expectativa de um outro amanhecer…

* Os amantes são sôfregos.

* O Amor entusiasma. Leva os corações para uma outra idade.

* As gerações são como um ciclo, em perpétuo ou eterno retorno…

* Há almas que fazem transparecer o hálito opaco dos corpos imundos…

* Cogitar o impossível. A maior satisfação do Ego.

* O Mundo, em perpétuo movimento, mantém-se sob a corda bamba do equilibrista.

* Movemo-nos no espaço incerto do Universo comunicacional. Sempre presentes e ausentes de todos os auditórios.

* Passamos ao lado dos outros. Não os vemos. Vemo-nos a nós mesmos.

III.

* Assumir, convictamente, a identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, mergulhadas no espaço camaliónico das “diferenças” impostas, improvisadas, por esta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum.
Pura hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza, intrínseca à essência de um Mundo, a que já não pertencemos mais.
Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do “des-equilíbrio” dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos homens que clamam o Paraíso perdido?
O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, des-norteada, que hoje somos.
Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzele, o puzzele universal, onde já não se encaixam mais.
Somos mero pó em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.
Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais.
Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irrascíveis e concupiscentes.
Erramos, navegamos pelos espaços infinitos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.
Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.
Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico, quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, camuflados com o meio, que já não é mais natural.
Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.
Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é esta, “des-veladora” de todas as misérias? Que racionalidade é esta “re-veladora” da massa indigente das gentes vagueantes?

IV.

* Convivo com o Mundo dentro de mim própria. Basta-me.

* A “Paz Perpétua” reina dentro de mim. Conquistei a felicidade.

Pensamentos Dispersos, 12/11/07

* Não quero viver no Inferno das noites claras,
Na solidão das gentes,
Nos espaços atópicos de cada pensamento,
Nos espaços indefinidos dos pensamentos dispersos.

* Não quero a luz opaca dos olhares indiscretos. O brilho negro dos falsos sorrisos. A demagogia retórica das palavras sórdidas. O cheiro nauseabundo dos corpos em putrefacção.

* O Mundo está podre. Rejeito-o completamente. Recuso-me a compactuar com a hipocrisia, com as falsas verosimilhanças, com as vãs ironias, com as inglórias inteligências dessas mentes foragidas, que nada vêm. São inúteis. Completamente inúteis. Perpetuam, apenas, um saber “fantasiado”, com longos rasgos de ignorância extrema.

Pensamentos Dispersos, 15/11/07

* Distante, no meu Mundo, penso as trilhas da Vida e da Morte.

* Viver é o quê, afinal? As respostas são múltiplas. Nenhuma me satisfaz…

Pensamentos Dispersos, 20/11/07

I.

* O meu corpo, morto, embala-se nas cinzas do chão que, um dia, o deixou esvanecer.

* Quero viver Tudo, intensamente, como se cada instante fosse o último dia do resto da minha Vida.

* Sou a exemplificação da Hipérbole…

II.

* A monotonia congela-me o cérebro. Irrita-me a alma, ávida do sempre novo, do perpetuamente diferente, da metamorfose, do mistério, do enigma, de todas as incógnitas…
A minha alma requer o desafio do desconhecido, do nunca visto ou imaginado. Do impensado e do impensável. Caminha para o impossível, para o reino efémero da ausência de limites, para o paralelamente infinito, para todos os caminhos, até mesmo para os mais recônditos.
Procura a inocência primeira, a leveza do Ser de todas as coisas, animadas e inanimadas, terrestres e celestes, no seio dos dois lados da quadratura perfeita: os Homens, a Terra; os Deuses, o Céu.
Busca o infinito, na esperança de encontrar um mundo novo, perfeito. Este já está gasto, saturado, desgovernado, demasiadamente costumeiro para quem deseja ver mais longe, para além das ilusórias aparências que ofuscam o olhar primogénito.
A minha alma procura, sem cessar, a liberdade, esse espaço aberto de expansão total do Tudo, onde não há o acaso, nem o vazio, nem o nada.
Quer percorrer os círculos viscerais de todos os entes. Ama a Totalidade, na sua grandeza, que foge aos estreitos limites do Tempo, do Espaço, do Destino.
Vagueia por todos os lugares. Não cabe dentro de si mesma. Procura o Aberto, onde Tudo se funde, em perpétua comunhão com o Ser, o Estar e o Pensar.
A minha alma pensa o Mundo. Esmorece perante o caótico cenário da miséria humana. Quer mudar o Mundo, a mente das gentes agrilhoadas à mesquinhez do mero sobreviver. Quer ultrapassar as barreiras do tempo e do espaço. Quer ser eterna.
Não é narcísica. Vê-se ao espelho. Reconhece a sua própria identidade. Sofre com todos os “Epimeteus”…Deseja todos os “Prometeus”…
Sente-se só. Desamparada, neste espaço cósmico “des-humanizado”, que não suporta a disparidade da alteridade.
Quer renascer num mundo novo, com a hierarquia axiológica adequada…. sem rótulos, sem rebanhos, sem congeminações forçadas e infundadas. Quer crescer no topos infinito de todos os oceanos…