domingo, 27 de outubro de 2013

Esmago a Hipocrisia com um punho forte,

Qual peste negra e podre miséria das almas vis,

Das sanguessugas amaldiçoadas

Pela ausência da lúcida transparência,

Luminosa,

Das mentes pelo bom-senso embriagadas

Que, do Céu, recebem essa nobre missão:

‑ A Humanidade salvar do cavernoso reino

Dos olhares dissimulados e perversos,

Das falsas intenções de bondade e de humanismo

Camuflados em nome da vanglória;

Do oportunismo fútil,

Barato;

Da incoerência dos raciocínios paradoxais,

Da maledicência das santas vozes

Que, em nome de Deus (ou do Diabo),

Clamam a fraternidade ainda não consumada,

A tolerância perdida do abismo do egoísmo.

Isabel Rosete

domingo, 11 de agosto de 2013

O Ser torna-se leve,
Apesar do peso do Mundo;
O Amor assoma,
Em toda a sua nudez originária;
O Prazer dá-se,
Assim, sem mais.
Isabel Rosete
"TOQUE EXTASIADO"
Por IR (semi-heterónimo de Isabel Rosete)

«O teu corpo é singular na majestade
Do seu cheiro e do seu sabor.
Assim te ama o meu corpo
Na virgindade de cada vez que o tocas.

Ah, esse toque tão extasiado
Que me faz reencontrar a Paz que eleva o Amor,
Para além das horas;
A Tranquilidade que afasta o Medo e a Dor,
Para além dos dias;
Os campos de acácias silvestres,
Para além das noites!

Ah, esse toque tão extasiado
Que traz a Placidez e
Aqueles Amores-Perfeitos em canteiros renascidos
No nosso Jardim roxo de cheiro a girassóis,
Onde Van Gogh pintou os lírios e os ciprestes
Que tocam os céus, em pinceladas pastosas,
E fez surgir o silêncio do amarelo-cobre do Sol indefinido!»

IR

O que encontram neste Blogue:

Algumas das minhas Poesias e dos meus Pensamentos - em olhares, sentire(s) e escutas permanentes - que brotam em mim das minhas vivências quotidianas, quiçá comuns a muitos de vós.
Aqui não há ficções! Apenas realidade(s)!
A minha escrita é puramente existencialista!
Sem uma reflexão adequada sobre as coisas, desde as mais simples às mais complexas (que integram a Vida e as nossas vidas), jamais poderão existir acções éticas, dignas de serem realizadas!
O Pensamento deve estar sempre presente antes, no momento e depois da acção!
Eis algumas das minhas certezas absolutas!
Isabel Rosete



DA POESIA, DO POETA E DA OBRA, por Isabel Rosete

«Sempre que um Poeta nos dá a conhecer a sua obra, é a Poesia e a sua poesia que se torna a protagonista no palco onde a ouvimos e se expõe. Afinal, a obra fica para além do seu autor e, neste sentido, ultrapassa-o, mesmo que ninguém a leia.
A obra clama pela eternidade que contrasta com a efemeridade física da pena que a lavrou no auge de um momento de glória, com o punho erguido pela seiva que a vivifica e torna animada, coisa viva, por entre o suor ou as lágrimas, nem sempre de alegria, nem sempre de dor.
É por esta via de protesto da luta do tempo com o Tempo, que se imortaliza o nome da mão e do pensamento que a ergueu, porque nela deixou o seu sangue, que é o seu espírito impregnado em cada palavra dita ou não dita, a sua identidade irredutível, nunca substituível por nenhum outro, mesmo que o Poeta não saiba o que sobre si mesmo dizem os seus versos.
O tempo do Poeta, sempre o nosso tempo, é o da Sociedade em que está inserido, o da Cultura que a move ou desvirtua. O tempo do Poeta é o tempo recente e presente que não se perde na vertiginosa passagem dos séculos que lhe sucederam ou que lhe sucederão.
O tempo do Poeta é o hoje que, do outrora, se projecta num futuro a desenhar, uma vez que é à visão do seu quotidiano, igualmente o nosso, que vai buscar a inspiração facilitadora da conquista da atenção dos seus ouvintes, dos seus leitores, até mesmo dos seus seguidores, discípulos, presentes ou vindouros. Esta tese é simples de demonstrar: é a Poesia que fala em nós, e não nós que falamos por ela; é a Poesia que nos interpela, e não nós que a interpelamos.
A Poesia, como qualquer outra forma da Arte se dar, é, genuinamente, fruto da imaginação criadora e, portanto, possui uma autonomia própria que a torna independente do seu autor, sem jamais o esquecer, e dos seus leitores que, a limite, dela tomam posse no sentido físico, espiritual e emotivo do seu ser obra, destinada a todo o tipo de interpretações.»
Isabel Rosete

segunda-feira, 5 de agosto de 2013


"CAMINHOS PARALELOS", por IR

"Entre-Vejo, ao longe,
A invisibilidade dos seres
Encerrados no seu próprio casulo,
Emaranhados nas mais finas teias
Da esmagadora infinitude.

Ante-Escuto, além,
Os passos dos caminhantes
Doces e leves, peregrinos
Em todos os caminhos paralelos
Que a tragicidade existencial replicam.

Entre-Vivo, de perto,
O Universo insólito e ex-traordinário
De um mundo sonhado
Em momentos de vigília consciente
Que da realidade terrena
Se afasta pela vil miséria dos Homens.

Ergo-me, então, para os límpidos céus,
Para a harmonia musical das divinas
Esferas de nuvens brancas,
Despojadas da abominável Hipocrisia.

Afasto-me da crueldade dos Homens.
Paira a simplicidade do cosmos
Dos Anjos, Guardiões dos espíritos apoquentados,
Auditores dos pensamentos inconscientes,
Mensageiros dos insondáveis segredos
Das mentes abnegadas e manipuladas."

IR (semi-heterónimo de Isabel Rosete)

sexta-feira, 2 de agosto de 2013


NAVEGUEI PARA O ÍNDICO, por Isabel Rosete
(Inspirado no meu Mestre Álvaro de Campos)

Já não tinha Alma! Só tinha Sentidos!
Naveguei para o Índico estendida no hemisfério Austral
De um excerto de poesia
Inscrito, anonimamente, num pedaço de rolha triangular
Boiante em tantos outros mares.

Roubei o Índico no des-norte do meu canto.
Apropriei-me dele como se fosse meu.

No Índico me deitei com a serenidade de um navegante livre
Sem saber para onde me levavam as ondas,
As correntes paralelas ou entre-cruzadas.

Já não tinha bússola! Já não tinha leme!
A agulha magnética acabara de se partir.
Deixei-me levar pelo natural rumo das águas.
O seu balanço fez-me adormecer no sono primeiro,
Livre das cordas dos mastros,
Livre do encurralamento dos porões;
Longe do ruído da casa das máquinas,
Longe dos gritos dos marinheiros, em euforia,
Quando há terra à vista.

Velas também já não tinha, a não ser as dos meus sentidos!
Cobriam-me o corpo, para que não ficasse queimado pelo Sol intenso.
Protegiam-me a pele do sal, para que continuasse macia.
Apelavam ao surgimento dos ventos de monções
- Companheiro desta minha longa viagem -
Esses sopros húmidos e instáveis do Céu quente
No coração da tarde que caía.

Encontrei o Índico e lá fiquei - qual oceano pacífico
Dos espíritos em rios de paz, de recifes e corais -,
Onde o riso ainda é riso, na combustão do petróleo,
Onde o canto ainda é virgem, na plataforma dos minérios,
Onde Deus me sopra aos ouvidos em odes de tranquilidade
Vindas do fundo dessas gotas de águas abençoadas.

Isabel Rosete, Ílhavo, 10/03/2012

domingo, 28 de julho de 2013

https://www.youtube.com/watch?v=goK8vVHHKCQhttps://www.youtube.com/watch?v=goK8vVHHKCQ

sábado, 27 de julho de 2013

Tanta paz camuflada,
Tanta miséria aveludada,
Tanta guerra e quanto sofrimento
Desabrocha no coração dos Homens!

Empedernidos, incapazes de amar,
Quais entes errantes, vagabundos,
Viandantes eternos, vão, por aí...
Nem sempre sabendo para onde
Os seus próprios passos os levam.

Caminham sem rumo, em completo desnorte,
Sem destino, em completo desvario,
À procura de um espaço redondo
Que os acolha no seu perpétuo peregrinar.

Soltam-se à beira do Mar que,
Um dia, os levará para o paradeiro certo.
Já não sabem quem são!
Já não sabem para onde vão!
Perderam a noção do Corpo,
Dos seus contornos, das suas funções vitais.

Da Alma, também, nada sabem!
Definitivamente… estão perdidos!
Só têm espelhos e reflexos longínquos
De outros espelhos baços e quebrados,
Algumas sombras figurativas e
Indelimitadas, quase completamente
Amorfas, sem viso, sem Identidade.

Não souberam instituir a Paz.
Tornaram-se incapazes de devolver a Miséria
E de amolecer os Corações.
Tornaram-se incapazes de aniquilar a Dor.

Já não há Humanidade!
Só há estátuas amputadas,
De mármore ou de bronze,
Onde as Almas não repousam mais!

Isabel Rosete

terça-feira, 23 de julho de 2013



Um beijo desliza sobre a montanha rochosa,
Qual corpo de um homem rude sem alma refinada.
As árvores já não florescem!
O sangue já não circula!
As flores estão mortas!
Os braços do homem rude cruzam-se
E não se despegam do seu corpo!
Estão estáticos! Apenas estáticos!

Os pássaros fugiram para o vale mais próximo
Junto aos riachos de águas claras,
Onde os corpos (não mutilados) saltitam de Nenúfar em Nenúfar.
O Sol volta a ser amarelo e reluz na limpidez do horizonte
Sem as manchas cinza das montanhas rochosas.
Límpidas são também as almas das criaturas deste vale
   [de fresca vegetação
Onde brincam os infantes pulando como os sapos
Ao apanharem os girinos, fugidios amantes da sua liberdade.

Não há solidão!
As coisas da Natureza amparam-se entre si
No leito aberto ao constante re-nascer de todo as cores.

O luar surge!
A noite tarda em chegar!

Isabel Rosete

O sonho alimenta as Almas solitárias, por Isabel Rosete

O sonho alimenta as Almas solitárias,
Arrasta os corações des-pedaçados
Para um Paraíso por vir,
Tão perdido, quanto desejado.
Esfuma a voz tenebrosa
Do desassombro e do extraordinário,
As malhas das franjas entediantes
De uma existência in-completa.

O sonho dirige as gotas lastimosas
Do vil e desmedido desassossego,
A inquietude do Desejo de um tempo outro;
Ampara as des-ilusões do Destino,
Implacável, cruel, por vezes, sorridente,
Sempre presente na sua ausência discreta.

O sonho eleva os ânimos ao in-habitual
Na efervescência do prazer ou da dor,
Efémeros, por entre os escassos momentos
De Felicidade e de Glória que ainda restam
Nas margens do silêncio, que as palavras não dizem,
Nas pausas do sono e da vigília despertas
Nos caminhos insondáveis do inconsciente
Sem nexo, coerência ou razão visível.

O sonho acorda os mitos, os fantasmas,
As recordações de um passado
Que, em qualquer momento, se presentifica
Des-focado, velado, atrofiado ou liberto
Na latência de uma premonição única.

Isabel Rosete

Nada se fixa no e sobre o Homem, por Isabel Rosete

Nada se fixa no e sobre o Homem.
E se o Mundo é composto de mudança,
A metamorfose é o traço do viso desta humanidade,
Que a ritmos incertos,
Cresce dentro desse ser cheio de vazio que somos,
Cada um de nós,
Um dia rotulados de “animais racionais”,
Supostamente, pensantes, inteligentes,
Portadores de um raciocínio lógico-discursivo
Hipoteticamente emersos do melhor dos mundos possíveis,

E, afinal,
O que queremos de nós,
Seres errantes?

E o que queremos do Mundo
Que em torno de nós se move
A uma velocidade incomensurável?

Ou desfazemos essa aura de entes
Onde fomos depositados, um dia,
Sem que o nosso querer
Fosse chamado a opinar
Sobre esse modo de existência de caos e de ordem
Que nos caracteriza,
De que somos co-autores e co-produtos
Voluntária ou involuntariamente?

Perdemos o rumo.
Mas encontrámos o fio de Ariana
Que comanda o nosso Destino.
Destino? Mas... Que Destino?
O de sermos uma humanidade emaranhada
Nos nós da sua própria teia?

Ariana e a aranha estão sobre a caução
De um mesmo invólucro
Tão opaco, quanto transparente,
Tão sublime, quanto miserável.

E, apesar disso, ainda podemos falar
Da harmonia heracliteana dos contrários?
Do caos criativo que, quiçá,
Gera a nossa própria ordem des-ordenada?
Isabel Rosete

segunda-feira, 10 de junho de 2013

EM NOME DE CAMÕES (se hoje ressuscitasse, voltaria para o túmulo), por Isabel Rosete

"Estamos maioritariamente VAZIOS!
Não se espantem!
Pouco se lê hoje, para além das fúteis revistas "cor-de-rosa" sobre as vidas das ditas celebridades, muitas das quais mal sabem falar, ler e escrever.
Apagámos as preciosas MEMÓRIAS dos GRANDES PENSADORES PORTUGUESES QUE NOS ENCAMINHAM PARA O DESTINO CERTO. Aniquilámos as ALMAS DESTEMIDAS e AVENTUREIRAS de outrora.
Proliferam os ANALFABETOS FUNCIONAIS, esses que saem das Universidades com um conhecimento medíocre.
Que ILUSÃO é este País, sem CULTURA, sem EDUCAÇÃO!
Um Povo sem MEMÓRIA torna-se CEGO e SURDO!
E ainda falam de DESENVOLVIMENTO NACIONAL!
ONDE ESTÃO ESSAS BASES (PERDIDAS) QUE O PODERÃO SUSTENTAR?
E a culpa é da crise económica, claro!
QUE GRANDE FARSA!»
Isabel Rosete

segunda-feira, 3 de junho de 2013

MALES DO CORPO-ALMA, por Isabel Rosete



Estas minhas doenças vão-me matando aos poucos. Aprisionam-me na minha cama, neste meu quarto fechado, por onde só entra, ainda, a luz do Sol. Desde meados de Abril que me perseguem, sem dó, como a polícia persegue um criminoso, há muito procurado.
A minha alma está cada vez mais deprimida, cada vez mais definhada; o meu corpo cada vez mais debilitado, cada vez mais amortecido para se erguer. O tédio, a monotonia, a solidão, abafam-me.
Lá vou escrevendo, de quando em vez, quase sem força para os dedos se moverem no teclado do computador, entre os compassos de descanso, escasso, das tonturas e das náuseas, que me impedem de pensar com a agudeza habitual da minha mente, em quase desfalecimento. A falta de imunidade tudo leva e tudo traz, nomeadamente a impossibilidade de sair de casa e de cumprir os meus compromissos pessoais e profissionais, de trabalhar, de fazer o meu trabalho, de fazer a minha vida.
Aqui estou só e desamparada, sem família e sem amigos (estão todos mortos!), na minha grande solidão interior, em desmaios de ansiedade para voltar a ser como era, para voltar a ser quem era (agora sou, apenas, um quase invisível reflexo de mim). Foi-se o vigor, a alegria de viver, mesmo que ainda exista um indelével traço de esperança.
Sobrevivo numa imposta paciência morna, sem paciência alguma para aguentar este sofrimento insuportável. Corroem-se-me os ossos; nas minhas veias, o sangue corre num lentidão tão intermitente, que quase já não o sinto. Só sinto a dor, o mal-estar imenso de assim caminhar sentada, deitada, com os músculos anestesiados.
Estou em ruínas! Sou todas as ruínas!
Estou deserta! Estou no deserto de mim!
Desculpem este meu desabafo.
Isabel Rosete
03/05/2013

quarta-feira, 29 de maio de 2013

CANTO, por Isabel Rosete



Aqui, neste dia pouco agradável,
Apesar do cinza,
Os raios de Sol brilham.
Entram pela minha varanda,
Cheia de flores desabrochadas,
Pela sacada desta minha biblioteca/escritório,
De onde vos escrevo.
A ventania, porém, é imensa e indesejável.
Porta fechada ao vento;
Porta aberta à luz,
Que encanta o meu canário,
Que canta por ele e por mim.

Isabel Rosete,
17/05/2013