quarta-feira, 29 de maio de 2013

CANTO, por Isabel Rosete



Aqui, neste dia pouco agradável,
Apesar do cinza,
Os raios de Sol brilham.
Entram pela minha varanda,
Cheia de flores desabrochadas,
Pela sacada desta minha biblioteca/escritório,
De onde vos escrevo.
A ventania, porém, é imensa e indesejável.
Porta fechada ao vento;
Porta aberta à luz,
Que encanta o meu canário,
Que canta por ele e por mim.

Isabel Rosete,
17/05/2013

terça-feira, 28 de maio de 2013

COISAS VÁRIAS, por IR (semi-heterónimo de Isabel Rosete)




‑ Até posso ser uma personagem de um filme,
Não realizado;
‑ Até posso ser uma personagem de um romance,
Não escrito;
‑ Até posso ser uma actriz, sem papel,
Em qualquer peça de teatro,
Não concluída;
‑ Até posso ser uma das faces da Lua,
Não revelada;
‑ Até posso ser um raio de Sol,
Não iluminado;
‑ Até posso ser um borrão de tinta-da-china
Espalhado por uma grande folha de papel
Em branco;
‑ Até posso ser um quadro de Van Gogh,
Onde o Semeador lança as suas sementes,
Em Terra fértil;
‑ Até posso ser um marco do correio,
Aquele ali da esquina,
Onde a Amélia coloca, todos os dias, as cartas
Para o seu amante,
Que navega nos confins dos oceanos;

‑ Até posso ser um tronco seco
Daquele carvalho velho que habita,
Há gerações, no meu jardim,
‑ Até posso ser aquele molho de girassóis,
Que cobre, de amarelo,
Os terrenos da minha quinta
Que não existe;
‑ Até posso ser todos os velhos
Que deixaram partir os barcos,
Que já não partem;
‑ Até posso ser os Adamastor(es),
Que já não assombram os mares;
‑ Até posso ser um Fernando Pessoa
Nestes versos lançados ao mar
Na “Lisboa Revisitada”
Pelos turistas ingleses
Que não percebem o que eu escrevo;
‑ Até posso ser um génio, agora brotante,
Da Poesia Portuguesa Contemporânea,
Mesmo que ninguém leia os meus versos
Em canto órfico, em canções de fado…
Sem rima propositada.

IR,
Ílhavo, 02/12/2012