DA POESIA, DO POETA E DA OBRA, por Isabel Rosete
«Sempre que um Poeta
nos dá a conhecer a sua obra, é a Poesia e a sua poesia que se torna a
protagonista no palco onde a ouvimos e se expõe. Afinal, a obra fica para além
do seu autor e, neste sentido, ultrapassa-o, mesmo que ninguém a leia.
A obra clama pela
eternidade que contrasta com a efemeridade física da pena que a lavrou no auge
de um momento de glória, com o punho erguido pela seiva que a vivifica e torna
animada, coisa viva, por entre o suor ou as lágrimas, nem sempre de alegria,
nem sempre de dor.
É por esta via de
protesto da luta do tempo com o Tempo, que se imortaliza o nome da mão e do
pensamento que a ergueu, porque nela deixou o seu sangue, que é o seu espírito
impregnado em cada palavra dita ou não dita, a sua identidade irredutível,
nunca substituível por nenhum outro, mesmo que o Poeta não saiba o que sobre si
mesmo dizem os seus versos.
O tempo do Poeta,
sempre o nosso tempo, é o da Sociedade em que está inserido, o da Cultura que a
move ou desvirtua. O tempo do Poeta é o tempo recente e presente que não se
perde na vertiginosa passagem dos séculos que lhe sucederam ou que lhe
sucederão.
O tempo do Poeta é o
hoje que, do outrora, se projecta num futuro a desenhar, uma vez que é à visão
do seu quotidiano, igualmente o nosso, que vai buscar a inspiração facilitadora
da conquista da atenção dos seus ouvintes, dos seus leitores, até mesmo dos
seus seguidores, discípulos, presentes ou vindouros. Esta tese é simples de
demonstrar: é a Poesia que fala em nós, e não nós que falamos por ela; é a
Poesia que nos interpela, e não nós que a interpelamos.
A Poesia, como
qualquer outra forma da Arte se dar, é, genuinamente, fruto da imaginação
criadora e, portanto, possui uma autonomia própria que a torna independente do
seu autor, sem jamais o esquecer, e dos seus leitores que, a limite, dela tomam
posse no sentido físico, espiritual e emotivo do seu ser obra, destinada a todo
o tipo de interpretações.»
Isabel Rosete