domingo, 7 de dezembro de 2008

O Mundo irradia futilidade,
Respira vulgaridade,
Sempre que se esconde a Verdade.

Perdemo-nos das essências,
Das coisas simples,
Que atrofiadas crescem,
Nas sombras ocultas do Nada.

Dispersos,
Pairamos,
Pelas encruzilhadas
Da Morte e da Vida.

Perdemos o Ser,
Vagueamos,
Sem sabermos mais o que somos.

Isabel Rosete
O meu pensamento viaja,
Prenhe de fertilidade.

Vagueia,
Por todos os espaços,
Ainda não visitados.

Escuta,
Todos os sons,
Ainda não admirados.

Cheira,
Todos os odres,
Ainda não apurados.

Vê,
Todos os rostos,
Ainda não des-ocultados.

Tacteia,
Todos os estares,
Ainda não apreciados.

Comove-se,
Com a imensidão do Mundo
Ainda não des-velada.

Sente,
Todas a emoções,
Ainda não experimentadas.

Penetra,
Em todos os espíritos,
Ainda não percepcionados.

Abarca,
Todas as sensações,
Ainda não vivenciadas.

Diviniza,
O êxtase da criação,
Ainda não des-florado.

Espanta-se,
Com a beleza dos orbes celestes,
Ainda não avistada.

Exalta-se,
Com a escassa felicidade dos Homens,
Ainda não consumada.

Glorifica-se,
Com os segredos da Vida e da Morte,
Ainda não des-mitificados.

Apaixona-se,
Pela face oculta do mistério,
Ainda não re-velada.

Prende-se,
Nos atalhos labirínticos de todas as incógnitas,
Ainda não manifestados.

Isabel Rosete
No vazio das palavras
Ecoam todos os sons,
Todas as pausas,
Todos os silêncios.

As palavras são punhais,
Cristais,
Dardos,
Sementes de criação.

Despedaçam,
Espelham.
Reluzem
Transluzem.

Persuadem,
Enfeitiçam.
Exortam,
Instigam…

Corpos
E almas,
Em união
E dis-persão

Isabel Rosete
Poesias/Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(12/03/08)


- A solidão das multidões não me apavora. Preservo a minha identidade.

- A Alma do Mundo espalha-se por cada um de nós. Nem todos a reconhecem dentro de si.

- Há um Espírito errante que nos percorre,
Cobre as nossas faces desprotegidas,
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.

- Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto,
Das mentes pálidas;

A podridão do horror,
O enfado do tédio,
A escuridão
Cega e surda,
Das franjas deixadas ela inveja.

- Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões
Dispersas,
Invisíveis,
Aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.

Agoiros pronunciam,
Em nome do desespero
Egoísta,
Que lhes corrói a alma.

- Das Fontes
Já não jorram mais
Águas cristalinas.

Dos mares
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias.

Das Estrelas
Já não renasce mais
O brilho duradoiro

Da Terra
Já não desponta mais
A fonte da Salvação.

Da Humanidade
Já não eclode mais
O grito do perdão.

- O grito das aves migratórias
Ensurdece
Os meus ouvidos.

Anunciam tempestade,
Morte,
Terror,
Guerra….

- Amamos a paz dos desertos,
Onde encontramos a tranquilidade.
Aí permanecemos,
Nessa espécie de refúgio do Mundo,
A salvo dos olhares alheios
Que nos penetram na alma,
A salvo das mãos dos outros,
Que nos apontam o dedo,
A salvo das mentes incriminatórias,
Que só vêem o visível,
A salvo dos espíritos perversos
Que a verdade atrofiam.

- O mar que me deu a paz
É o mesmo que me revolta as entranhas,
Nas escuras noites de trovoada,
Que sob o meu tecto desfalecem.

- Caminho pelas areias infinitas
Das praias desertas.
Nada se ouve.
Nada se sente.

O luar
Incandesce os meus olhos,
Míopes,
Perante a imensidão da linha do horizonte
Que não vislumbro mais

A minha alma esvaiu-se
Na solidão das marés,
Que vão e vêm,

Nunca se fixam
Nunca deixam os mesmos rastos,
Nunca permanecem
No mesmo lugar.

Trazem um tempo outro,
Anunciam outros espaços,
Outras vidas,
Encobertas
Pelas águas,
No seu incessante peregrinar.

- O meu Mar salgado
Em açúcar transformou o seu sal.
Fala-nos de outros mundos
Onde reina a glória merecida,
Dos nobres feitos dos Homens.
PENSAMENTOS DISPERSOS
Isabel Rosete

18/10/07

I.
Portugal: Uma Pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os mundos das outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

II.

* Amo o Mundo, fechando-me dentro de mim própria.

* Não há espaços que nos absorvam nos caminhos da Vida e que à Morte não nos conduzam.

* Vivemos…Estamos…Caminhamos…em que direcção? Não o sabemos. Mas, algum Destino nos guia…

* Somos o que somos. Nada mais do que aquilo que somos.

* Amamos, odiamos, sentimos… Somos humanos.

* A morte faz-se e desfaz-se, em cada pedaço de Vida.

* Sorrio, sempre, como se as rosas não tivessem espinhos.

* Resta-nos pensar o Infinito…

* Não temos Vida. Vamos vivendo. Não temos esperança. Permanecemos expectantes…

* Suamos por todos os poros o que a Vida não nos dá.

* Permanecemos nos rodeios da Vida, com indeléveis marcas de esperança.

* Não posso esperar que o Mundo venha ter comigo… Vou ter com o Mundo…

* A inocência não é sinónimo de infantilidade. Mas, tão-só, da Pureza da Alma.

* O Amor arde, queima, corrói… Sobressalta os corações, sempre na expectativa de um outro amanhecer…

* Os amantes são sôfregos.

* O Amor entusiasma. Leva os corações para uma outra idade.

* As gerações são como um ciclo, em perpétuo ou eterno retorno…

* Há almas que fazem transparecer o hálito opaco dos corpos imundos…

* Cogitar o impossível. A maior satisfação do Ego.

* O Mundo, em perpétuo movimento, mantém-se sob a corda bamba do equilibrista.

* Movemo-nos no espaço incerto do Universo comunicacional. Sempre presentes e ausentes de todos os auditórios.

* Passamos ao lado dos outros. Não os vemos. Vemo-nos a nós mesmos.

III.

* Assumir, convictamente, a identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, fundeadas no espaço camaliónico das diferenças não aceites, da imposição de um padrão comum, do estereotipado, onde não lugar para o ser-si-mesmo, nesta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum que, na generalidade, não passa de uma mera utopia demagógica.

Vigora a mais deslavada hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza intrínseca à essência do universo físico e humano, a que já não pertencemos mais.

Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do des-equilíbrio dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos Homens que clamam o Paraíso perdido?

O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, des-norteada, que hoje somos.

Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzele, do puzzele universal, onde já não se encaixam mais.
Somos mero pó, cinzas dispersas, em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.

Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais. Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irrascíveis e concupiscentes.

Erramos, navegamos pelos espaços infindos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os nossos sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.

Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.

Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, dissimulados num habitat, que já não é mais natural.
Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.
Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é essa, geradora de todas as misérias? Que racionalidade é esta re-veladora da massa indigente das gentes vagueantes, bicéfalas?

IV.

* Convivo com o Mundo dentro de mim própria. Basta-me.

* A “Paz Perpétua” reina dentro de mim. Conquistei a felicidade.

12/11/07

* Não quero viver no Inferno das noites foguedas,
Na solidão das gentes,
Nos espaços atópicos de cada pensamento,
Nos espaços indefinidos dos pensamentos dispersos.
Não quero a luz opaca dos olhares indiscretos. O brilho negro dos falsos sorrisos. A demagogia retórica das palavras imundas. O cheiro nauseabundo dos corpos em putrefacção.

* O Mundo está podre. Rejeito-o completamente. Recuso-me a compactuar com a hipocrisia, com as falsas verosimilhanças, com as vãs ironias, com as inglórias inteligências dessas mentes foragidas, que nada vêm. São inúteis. Completamente inúteis. Perpetuam, apenas, um saber “fantasiado”, com longos rasgos de ignorância extrema.

15/11/07

* Distante, no meu Mundo, penso as trilhas da Vida e da Morte.

* Viver é o quê, afinal? As respostas são múltiplas. Nenhuma me satisfaz…

20/11/07

I.

* O meu corpo, morto, embala-se nas cinzas do chão que, um dia, o deixou esvanecer.

* Quero viver Tudo, intensamente, como se cada instante fosse o último dia do resto da minha Vida.

* Sou a exemplificação da Hipérbole…

II.

* A monotonia congela-me o cérebro. Irrita-me a alma, ávida do sempre novo, do constantemente diferente, da metamorfose, do mistério, do enigma, de todas as incógnitas…
A minha alma suplica pelo desafio do desconhecido, do nunca visto ou imaginado. Do impensado e do impensável. Caminha para o impossível, para o reino efémero da ausência de limites, para o paralelamente infinito, para todos os caminhos, até mesmo para os mais recônditos.
Procura a inocência primeira, a leveza do Ser de todas as coisas, animadas e inanimadas, terrestres e celestes, no seio dos dois lados da quadratura perfeita: os Homens, a Terra; os Deuses, o Céu.
Busca o infinito, na esperança de encontrar um mundo novo, exemplar. Este já está gasto, saturado, desgovernado, demasiadamente costumeiro para quem deseja ver mais longe, para além das ilusórias aparências que ofuscam o olhar primogénito.

A minha alma procura, sem cessar, a liberdade, esse espaço aberto de expansão total do Tudo, onde não há o acaso, nem o vazio, nem o nada.
Quer percorrer os círculos viscerais de todos os entes. Ama a Totalidade, na sua grandeza, que foge aos estreitos limites do Tempo, do Espaço, do Destino.
Vagueia por todos os lugares. Não cabe dentro de si mesma. Procura o Aberto, onde Tudo se funde, em perpétua comunhão com o Ser, o Estar e o Pensar.

A minha alma pensa o Mundo. Esmorece perante o caótico cenário da miséria humana. Quer mudar o Mundo, a mente das gentes agrilhoadas à mesquinhez do mero sobreviver. Quer ultrapassar as barreiras do tempo e do espaço. Quer ser eterna e nessa eternidade mover o Mundo.
Não é narcísica. Vê-se ao espelho. Reconhece a sua própria identidade. Sofre com todos os “Epimeteus”…Deseja todos os “Prometeus”…
Sente-se só. Desamparada, neste espaço cósmico “des-humanizado”, que não suporta a disparidade da alteridade.

Quer renascer num mundo novo, com a hierarquia axiológica adequada…. Sem rótulos, sem rebanhos, sem congeminações forçadas e infundadas. Quer crescer no topos infinito de todos os oceanos…
Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(21/01/08)

A Guerra, sempre a Guerra, em nome da Paz…

Pátrias desoladas pelos horrores da Guerra. Corpos despedaçados cobrem a Terra com um manto vermelho. O sangue tinge as águas, daqueles que foram e não mais voltaram. Almas ultrajadas vagueiam por este Universo incógnito, sem destino.
Uma criança chora, a preto e branco. Outra soluça, de olhos esbugalhados pelo horror, ao mesmo tempo que se esconde dos Homens de verdes fardas, que correm, de arma em punho, para todos os lugares, pelo sórdido prazer da morte e do sangue. Já não têm Fé, nem Paz, nem Amor, nem Esperança, nem Nada… Já não sabem que são humanos.
Movem-se como autómatos. Tornam-se meras máquinas programadas para matar, indiscriminadamente. A Guerra torna-se um vício, um hábito enraizado, qual nicotina, cuja ausência desatina.
Não há mais um lar habitável para além deste cenário de todas as desgraças. Restam as trincheiras, os campos de batalha, onde a morte de uns é a vida de outros.
Violência e mais violência…Atrocidades e mais atrocidades… movem um ciclo completamente vicioso, sem princípio nem fim. A agressividade perpétua marca os espíritos robotizados dos fazedores da Guerra.
Fazer Guerra para alcançar a Paz, dizem os mentores dos pseudo-projectos de salvação da Humanidade. Que grande ironia! Que tremenda hipocrisia dos espíritos insanos!
A Guerra é o chamamento sem fim das mentes desejosas de expulsar a agressividade, durante anos contida, a violência, sempre reprimida, recalcada pelo convencional, pelo instituído, pelo “politicamente correcto”, nem sempre com fundamento válido visível.
Como queria ser Deus, Todo-Poderoso, o Deus que tudo pode, para aniquilar essa face negra do coração dos homens.
Pensamentos dispersos
Isabel Rosete
(24/01/08)

Pensar um mundo que não é meu? Porquê? Para quê?
Interrogações existenciais corem, em cadeia, por este meu espírito em constante fluir. Não sossega perante nada, nem ninguém, nem mesmo quando os olhos se cerram, obrigando-o a dormir.
Sempre observador, nada lhe escapa. Tudo o move ao permanente estado de questionação, de dúvida – por vezes, céptica, por vezes, metódica –, de crítica, de meditação…
Nunca se acomoda, este meu pensamento. Vive em rebeldia perene. Jamais está satisfeito, nunca entra em estado de serenidade, mesmo que a paz nele assome, durante escassos instantes.
Não pára! Não pára! Não se acomoda! Não se acomoda!
Vê sempre um “porquê” na transparência das coisas opacas, desde as mais simples e singelas, até às mais complexas, conflituosas ou dilemáticas.
Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(09/01/08)

‑ Deixem as nossas almas livres da mesquinhez do mundo.

‑ A inveja corrói a paz dos nobres corações.

‑ Plantámos o Amor. Colhemos o ódio.

‑ Apregoamos a Paz. Resta-nos a Guerra.
Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(07/02/08)


‑ Não quero mais percorrer os caminhos insondáveis dos Mistérios do Mundo.

‑ Descodificar o Todo não é uma missão impossível. Apenas um desejo que, um dia, se realizará nos limiares do Infinito.

‑ Paradoxos: são a marca perpétua deste Universo em perpétuo devir.

‑ Nem todos os rios desaguam nos mar… Represas travam o seu livre e curso…

‑ A Liberdade ainda não é um estado. Mas, um ideal a conquistar…

‑ Percorremos a marcha eterna num Universo sem princípio nem fim…

- Esmagados, somos, pela plenitude do Universo.

‑ Deixamos de pensar quando a consciência abafa o Pensamento.

‑ Espero pela morte… num momento de glória eterna…

‑ «Ser ou não seu: eis a questão?» Mas, que questão? A do Tudo e do Nada? A do Cheio e do vazio? Uma epigrafe tão repetida… Um mistério por desvendar….

‑ Abomino o sono dos que dormem com a consciência pesada.

‑ É insuportável o Amor do Nada.

‑ Tudo cresce melancolicamente na sombra de um Ser que não desabrocha…

‑ A monotonia congela-me o cérebro…

‑ Amar o poder da criação é um estado de júbilo…

‑ Caminho, a passos largos, para a aniquilação do meu ser, sem Pátria, sem Morada, sem Destino, sem nada…

‑ Lamento não me poder reduzir ao nada pela convicção de que a Vida não vale a pena….

‑ É tudo tão passageiro, sem substância que nos enchas as mãos…

‑ De mãos vazias, sobrevivemos à dor do existir….

‑ Pensar a Morte é pensar a purificação do Ser…

‑ Recuso, adio o sono, para que o meu pensamento viaje e a minha mão registe todos os topos das suas paragens infinitas…

‑ Não quero viver na superfície das águas, mas nas profundezas dos oceanos.

‑ A minha megalomania Universal rejeita todos os limites.

‑ O meu querer precisa de ter asas para voar. Só, assim, me é permitido sobreviver.

‑ A transparência da minha alma conduz-me a todos os lugares desconhecidos, a todos os espaços não visitados, ao infinito do infinito da minha própria existência, tão efémera e tão circunscrita…

‑ A proximidade da Morte torna-se-me clara…, porque a desejo.

‑ Sobreviver à vivência do Nada é um estado vegetativo. Aqui, a depressão ocorre, na sua esmagadora infinitude…

‑ Somos tão ilusoriamente obcecados pela “normalidade” como se, de facto, a “normalidade” existisse… O que é a “normalidade”? Respondam-me, se sois capazes….
Escuto. Paro. Vejo. Concentro-me na “normalidade” dos Homens… Não passamos, assim o constato, de complexos físico-químicos, de um conjunto de átomos e de moléculas, organizados de uma determinada forma. Aí está, a nossa “normalidade”. E o resto? O resto… são meras variações de uma fórmula comum. É simples, não é?
“Atroz”: é o adjectivo que devemos utilizar para quem é incapaz de percepcionar a diferença, dentro da “normalidade.

‑ Não quero que prantem a minha morte. Odeio essas lágrimas mordidas que nada significam. Esses meros pedaços de nada das mentes que sempre me ultrajaram e nunca me acudiram.
Glorifiquem, venerem, os Pensamentos que tive e nunca escrevi. Passados quarenta e dois anos, desta minha existência conturbada, é o que vos peço.
Quantos erros não cometi? Quantos, ainda, não irei cometer?
Sou a réplica perfeita de um alma que chora, por não ser compreendida. Não tenho a paz perpétua. Não deixei outros opúsculos. Apenas, alguns pensamentos dispersos. A quem os ler, resta encontrar a lógica, o sentido de tantos retalhos que, nem sempre, fui capaz de unir…
O timbre do tédio regista-se na minha mente, onde já não cabe mais um ínfimo resquício de esperança.
Como me revejo em Sócrates e nessa ideia da Morte como um Bem, Supremo….
Poesias/Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete

(09/01/08)

Não merecemos
As maravilhas da Criação.

Somos restos
De um Paraíso Perdido,
Sem glória.

Somos as mais efémeras criaturas
De um Mundo,
Que o sangue chora.

Movemos
Céus,
Terras
E mares.

Lançámos
As malhas de todas as redes
E a dignidade não conquistámos.

O sabor da vitória dos homens
É mesclado
Com o sangue dos inocentes.

Para paragens incógnitas
Foram atirados,
Jogados,
Lançados,
Sem solenidade.

Em espaços estilhaçados,
Foram depositados,
Sem identidade,
Sem nome,
Sem nada.

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O calor da lareira,
No frio do Inverno,
Uma dádiva de Prometeu,
Que aos homens o fogo doou.

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As árvores despidas,
Pelos ventos do Norte,
Acolhem as aves migratórias,
Que à Natureza doam,
Os mais nobres frutos,
De cada renascer.

A Terra abraça,
No seu doce leito,
As tenras crias,
Que suspiram pela liberdade,
Numa tarde de imensa alegria.

Os céus estrelados
Iluminam as almas dos amantes,
Calorosamente entrelaçadas.
Em silêncio permanecem.
Na harmonia musical
Sustentam
O ardor intenso
Dos seus corpos nus.
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Celebremos
As notes de Lua cheia,
Todos os equinócios,
Todos os solstícios,
Todas as dádivas da Terra.

Celebremos
As glórias merecidas,
As batalhas vencidas,
Nos verdes campos,
Aonde a morte
Não regressará jamais.

Celebremos
O Aberto,
O Cantar
E o Ante-cantar,
Serenamente protegido
Pela aura dos Anjos,
Belos e terríveis.
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Com asas grandiosas,
Se dirigem os Anjos,
Para o misterioso topos
Da génese Universal,
Para o espaço intra-estelar
Dos céus comovidos.

Vivamos
No mundo dos Anjos,
Nas suas alas,
Indeléveis,
Que a felicidade despertam.

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Amemos
As flores
De todas as formas,
De todas as cores,
De todos os cheiros.

Amemos
A ternura de todas as pétalas,
Aveludadas,
De doces texturas

Amemos
O fundo gravitacional,
Que tudo abriga.

Louvemos
Todos os espaços astrais,
De luzes incandescentes.

Louvemos
O brilho redondo
Da infinitude do Universo,
O som distante
Das órbitas planetárias,
A informe forma
Das nuvens brancas.

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Escrevo
Movida pela doçura de um beijo,
Pela meiguice indiscreta
Do olhar dos outros.

Escrevo
Por entre os comoventes
E silenciosos espaços
Das palavras,
Ditas e não ditas.

Escrevo
Ao som do grito
Universal do Pensamento,
Agitado pelos interstícios da Terra,
Rodopiante,
Em torno do seu próprio círculo,
Aberto,
Redondo....

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Entrevejo,
Ao longe,
A invisibilidade dos seres
Encerrados no seu próprio casulo,
Emaranhados
Nas mais finas teias,
Da esmagadora infinitude.

Antevejo,
À distância mais prósima,
Os caminhantes,
Doces e leves,
Em todos os caminhos paralelos,
Que a tragicidade existencial replicam.

Vivo
No Universo insólito
De um mundo sonhado,
Que da realidade terrena
Se afasta.

Ergo-me
Para os límpidos céus,
Para a harmonia musical
Das esferas sagradas,
Encobertas pela vil hipocrisia.

Afasto-me dos homens.
Paira a singeleza
Do cosmos dos Anjos,
Guardiões
Das consciências apoquentadas,
Auditores
Dos pensamentos inconscientes,
Mensageiros
Dos insondáveis segredos
Das mentes abnegadas.

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Se penso no Universo,
Penso
No louvor da Criação,
Nas dádivas
Da Natureza,
Na harmonia
Dos átomos e das moléculas,
No sangue
Que em todas as veias corre,
Na seiva
Que todas as almas vivifica.

Se penso no Universo,
Penso
No esplendor
De todos os sons,
Na beleza,
Conjugada,
De todas as cores,
Na serenidade,
Encantatória,
Dos olhares apaixonados,
Na marca,
Singela,
De cada individualidade.

Se penso no Universo
Penso
Na extraordinária beleza
Da diversidade,
No suculento sumo
De todos os futuros,
Ainda não apodrecidos,
Na enbriaguez
Da comunhão dos corpos,
Na libidinal textura
Dos instintos indiscretos.

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As rosas chamam-me...

Falam-me dos amores
Possíveis
E impossíveis,
Serenos
E inquietos.

Falam-me dos amores
Abençoados
E amaldiçoados,
Comprados
E vendidos.

Falam-me dos amores
Permitidos
E proibidos,
Dos que perpetuam a paz
E dos que a guerra provem.
Pensamentos dispersos,
Isabel Rosete

08/02/08

* Sinto-me só,
Num espaço atopos…

* Não amo a ilusão do Nada,
Mas a solidão do Tudo…

sábado, 27 de setembro de 2008

Primavera (s)

Cruzam-se os olhares,
Na paz perpétua
De um saudoso beijo.

Não há mais revolta.
Paira a serenidade,
A tranquilidade intranquila
De todos os desejos.

Tudo se move,
No seu ritmo certo,
Absolutamente certo.

O desfiladeiro,
Não apavora mais
Os olhares inquietos.

O mar,
Enrola-se na areia,
Ao som do canto das sereias.

Na paz dos Anjos,
Se acalentam as tempestades,
Fatigadas,
Do seu peregrinar.

Os segredos
Da vida e da morte,
Já não se ocultam mais.

Os corações despertos,
Estão aí,
Preparados para todos os re-começos.

Eleva-se,
A singela nudez
Dos corpos em comunhão,

A pura leveza
Dos olhares,
Que já não são pálidos,

O riso das crianças,
De olhos claros,
Que a alegria espalham
Por todos os lugares.

A Paz
Torna-se visível,
Perceptível,
Até para os vistos míopes.

O Amor permanece,
No seu devido lugar,
Mesmo que incerto.

A Felicidade regressa,
A todas as almas,
Outrora despedaçadas.

Cantamos,
Sem dor,
Todas as dores.
E o sofrimento torna-se leve.


Isabel Rosete
12/03/08

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O mar…

Espelho dos horizontes,
Ao longe avistados,
Pelos espíritos inquietos.

O hipnótico canto das sereias,
As almas extasiadas
Pelo sopro dos sons ébrios.

A transparência das gotas espargidas
Pelos corpos nus,
Leves e puros.

Os corações perdidos
No fogo do amor,
Sempre renascido.

O devir das águas,
As areias esparsas
Das paixões enfraquecidas.

Isabel Rosete
14/07/08
Pensar o mar em marés de desassombro
Ao som do canto das gaivotas que passam
Anunciando tempestades violentas.

Os amantes suspiram,
Por entre os ventos do Norte.
No mar derramam o seu choro
De sal e alento.

Não há choro que o mar não acolha
Quando os corpos ardentes
Se lançam nas águas resplandecentes.

Isabel Rosete
14/07/08
Caminhamos
Pelas areias desertas,
Mas não sabemos onde está o Mundo.

Transpiramos
Por todos os poros,
E não expulsamos as aflições da Vida.

Removemos
Um passado penoso,
Que sempre nos consome o espírito.

Esperamos
A felicidade,
Numa marcha penosa e lenta.

Sonhamos
Com um futuro radioso,
Sem as manchas do infortúnio.

Repelimos
Os gritos desesperados
Dos Povos enclausurados,
E a liberdade não conquistamos.

Lutamos
Em des-união
Pela paz perpétua,
Mas a guerra não aniquilamos.

Isabel Rosete
12/03/08
Advém o turbilhão dos sentidos,
Dos desejos e dos quereres,
Dos seres e dos estares,
Inquietantes,
Alarmantes,
Libinidalmente difundidos.

Uma ansiedade,
Desmedida,
Percorre a minha alma.
Um desassossego,
Insuportável,
Remove-me as vísceras.

O alvoroço,
Perpetua-se.
A impulsividade,
Eterniza-se.
O sobressalto,
Aniquila-me.

Des-constroem-se,
Todos os pedaços de mim.
Sobrevivem, apenas, fragmentos,
Parcelas,
Indistintas,
Em pleno estado de com-bustão.

Subsistem,
Peças soltas,
Espalhadas,
Em des-ordem,
Em com-fusão,
Em dis-persão…

Isabel Rosete
25/01/08
A solidão
Percorre as almas desertas,

Esgota a esperança
De outro renascer.

Anuncia a morte
De um ser renovado,

Corrói as entranhas da Vida,
Até ao limiar de Morte.

Desperta o vazio da Existência,
Em torno da sua efemeridade,

Consolida a massa compacta
Dos espíritos amortecidos.

Dissipa a luz
De um novo horizonte,

Definha cada ser
No seu pedaço de nada.

Isabel Rosete
03/03/08
Uma saudade do infinito
Aflora dentro de mim,
Como se o Mundo acabasse
Num só dia…

O derradeiro dia
De todos os dias
Do resto da minha vida.

Perpetuar a Vida…,
A ilusão de todo o ser humano,
Eternamente atormentado
Pelos enredos da Morte,

Porque não é Deus,
Nem os Deuses,
Nem o Destino…

Isabel Rosete
06/07/07
Uma paixão ardente me consome,
Mina todo o meu ser,
No mais recôndito de si.

Trespassa a minha alma,
Com agudos espinhos.

Uma fina dor eleva-se,
Mexe e remexe
As minhas entranhas.

Estremeço…,
Quando ouço a tua voz,
Meu amor.

Todo o meu corpo vibra,
Na proximidade da tua presença.

Sinto-me em mim.

És um sopro de vida,
Alimentas todo o meu ser,
Sugas todas as minhas energias.

Fico débil.

Permaneço na loucura
De uma hipersensibilidade indescritível,
Incontrolável,

Desesperadamente avassaladora,
Desconcertante,
Desordenada…

E, aqui estou, irremediavelmente só…

Isabel Rosete
25/01/08
Uma histeria colectiva
Arrasta as multidões
Para um mesmo lugar,
Sem destino determinado.

Do Mundo,
A Identidade,
Evadiu-se.

O estereótipo,
Instalou-se,
E a monotonia,
Permanece.

A ilusão do Mesmo,
Quedou-se.
Abafou-se
A diversidade.

Isabel Rosete
05/03/08
Tudo morre,
Tudo nasce,
Tudo se transforma.

Nada permanece…!
Nada permanece…!

A perpétua mudança
Impera,
Num equilíbrio inextinguível.

O Ser está aí,
Estável,
Em cada alvorecer,
Em cada des-floração.

Oculta-se,
Em todas as coisas,

Des-vela-se,
Em todos os entes,

Aparece
E desaparece,
Num círculo redondo.

Isabel Rosete
06/08/07
Singelos e leves
Nos movemos
No espaço interplanetário
De todos os amores,
De todas as paixões,
Não nutridas,
Pela reciprocidade dos sentires.

Paixões brutais
Consomem,
Aniquilam
Os espíritos em des-união.

Paixões selváticas
Alimentam o amor e o ódio,
Tão próximos
E tão distantes.

Paixões bravias
Vulcanizam
Os pedaços dos pares
Em ininterrupto turbilhão.

Isabel Rosete
16/01/08
Silêncio?
Nunca.

O silêncio faz parte
Da alma dos cobardes.
Isso não queremos ser.

Ergamos as nossas vozes
Contra todas as formas de subjugação,
De violência,
Ou de des-humanidade.

Mantenhamos,
Bem alto,
O nosso grito de alerta,

Em nome de um futuro mais radioso,
Mais sereno,
Mais feliz...

Isabel Rosete
11/02/08
Semeámos o ódio.
Colhemos
A irracionalidade.

Plantámos a guerra.
Recolhemos
A miséria.

Desbravámos a Terra.
Instaurámos
A degeneração.

Minámos os solos.
Disseminámos
A infertilidade.

Consumimos os ares.
Recebemos
O degelo.

Amámos a cólera.
Destruímos
O Mundo.

Ludibriámos a Vida.
Permanecemos
Na Morte…

Isabel Rosete
07/02/08
Sei o que sou,
Mas não me vejo…

Apenas escuto
A voz da minha consciência,
Nem sempre atormentada…

Paro,
Perante mim própria.
Não tenho espelho,
Não sou Narciso…

Sou…,
Simplesmente,
Sou…,

Eu mesma
E o meu Ego.

Não me perguntem nada.
Sigo,
Apenas,
Por onde os meus passos me levam.

O resto?
O resto
É intromissão em espaço alheio…

Isabel Rosete
02/09/07
Saudade…
Da infância que não tive,
Dos amores que não vivi,
Dos sonhos que não sonhei.

Nostálgica, estou
De um Mundo não visto,
De um Paraíso não conquistado
De uma Existência não saboreada.

Isabel Rosete
15/01/08
Respiro o desejo libidinal
De um intenso querer.

Inspiro o prazer ansiado,
Desejado
Que me desassossega.

Na minha alma
Penetra
Vulnerável vidro,

Disposto a quebrar
Em mil pedaços,

Espalhados
No chão,
Dispersos,

Por todos os lugares
Lançados,

Soltos,
Sem ordem,

Sem ligação,
Nem relação possível.

A amargura
Instale-se no meu peito
Por esse outro que não vem.

Está aí
Mas, não aqui.

Paira no meu pensamento,
Consome-me visceralmente,
Deixa-me só.

Isabel Rosete
25/09/07
Recuso-me a aceitar
A marca perpétua
Do sofrimento.

Que as mágoas
Libertem o meu espírito;

Que as franjas da alegria
Invadam a minha alma;

Que os raios do optimismo
Cubram o meu rosto,

Que os melodiosos sons dos pássaros
Dominem a minha mente,
Prenhe de fertilidade.

Isabel Rosete
07/02/08
Por amor se mata
Por amor se morre.

Por amor se odeia
Por amor se deseja.

Por amor se unem os corpos
Por amor se aniquilam.

Por amor se iluminam as almas
Por amor se despedaçam.

Por amor percorremos montes e vales
Por amor destruímos montanhas.

Por amor o mundo se une
Por amor se fragmenta.

Isabel Rosete
03/03/08
O Tempo I

Definitivamente
Somos viandantes
Passageiros de múltiplas paragens
Sem lugar certo ou determinado.

Vagueamos
Sem Pátria
Sem Destino
Rumo a qualquer lugar.

Erramos pelas franjas do tempo
E do espaço
Sem habitação
Sem morada…

Somos metamorfoses ambulantes
De espaços de inflamação
Pedaços de um tempo finitamente infinito
Redondo
Em des-comunhão.

Isabel Rosete
19/01/2001
O Tempo II

Vivemos a vã aspiração
De controlar esse naco de nós
Pela minuciosa máquina do Tempo
Que o nosso pulso suporta.

O relógio está aí
Voltado
Sempre voltado
Para os nossos olhos.

Para os olhos de todos os outros
Expectantes
Ávidos
Ansiosos…

Por um tempo vindouro
Onde qualquer ideal
Possa ser consumado
Ad eternum.

Que ilusão
Somos nós
Homens
Criaturas temporais de rosto encoberto!

Entes de palpites inconstantes
Conscientes e inconscientes
No pulsar de um Mundo
Que nunca adormece.

Buliçoso
E turbulento
Gira sobre nós próprios
Em raios de luz e escuridão.

Move-nos
Dentro e fora das nossas órbitas
Nem sempre concêntricas…

Conduz-nos
Para o topos debilitado da nossa condição
De estritos seres de passagem…

Em digressão
No subterfúgio incógnito
Da nossa com-fusão.

Isabel Rosete
19/01/2001
Postos os olhos nos céus claros,
Vemos o Infinito.

O brilho das Estrelas
Ilumina-nos a Alma,
Destroçada,
Pelas mazelas da Vida vivida,
Em derredor do Nada

Isabel Rosete
03/03/08
O Sal,
Em açúcar se transforma.

O mar,
Torna-se leve.

Traz a magia do encanto
De todas as gotas,

Que tornam
As águas cristalinas.

Isabel Rosete
12/03/08
Caminhamos pelas areias desertas,
Mas não sabemos onde está o Mundo.

Transpiramos por todos os poros,
E não expulsamos as aflições da Vida.

Removemos um passado penoso,
Que sempre nos consome o espírito.

Esperamos a felicidade,
Numa marcha penosa e lenta.

Sonhamos com um futuro radioso,
Sem as manchas do infortúnio.

Repelimos os gritos desesperados
Dos Povos enclausurados,
E a liberdade não conquistamos.

Lutamos em des-comunhão
Pela paz perpétua,
Mas a guerra não aplacamos.

Isabel Rosete
12/03/08

terça-feira, 1 de abril de 2008

Primavera

O brilho do Sol,
O cheiro suave e doce
Do ar tranquilo.

As flores despontam.
Apontam para um novo estado,
Coberto de graça.

Os pássaros
Fazem ouvir o seu canto,
Não premeditado.

As nuvens correm
Rumo
À nova desfloração.

O brilho intenso
Das noites claras,
Afaga-nos a alma.

A alegria da Vida
Desperta em todos os rostos,
Amantes da beleza diversa da Criação.

A beleza de cada ente
Mantém-se no palco
Da eterna comunhão.

O estares não se aquietam,
Os amores despertam
Para a colheita de novos frutos.

Desponta a reviravolta ardente
De outros desejos,
Ainda não consumados.

Tudo acontece,
Na embriaguez sólida,
De um eterno beijo.

Isabel Rosete
12/03/08
02/04/08
Revolta

Aniquilemos
Todos os opressores,
Todos os vendedores
De “banha da cobra”,
Todos os retóricos,
Todos os sofistas.

Pairemos
Nas estrelas,
Proclamadoras das essências
Camufladas pela trivialidade
Das vivências desnorteadas,
Das mentes bicéfalas.

Recusemos
O parecer-ser,
A vulgaridade instituída
Pelo consumismo exacerbado,
Que nos devora as vísceras.

Alimentemos
O pensamento do Ser,
Fundamento do desabrochar
De tudo o que é,
Na sua identidade Iluminatória.

Soltemos
Todas as máscaras encobertas,
Todos os visos deformados,
Pela glória das estátuas amputadas,
Pelo sopro sórdido
Das vozes maledicentes.

Criemos
Um Mundo novo,
Uma outra escala de valores,
Onde a essência do humano
Se reconheça
Sem véus,
Sem obscuridade,
Sem freios.

Isabel Rosete
07/02/08
05/03/02
Pré-conceito (s)… I

O odioso reino
Das mentes quadradas
Nos vértices encalhadas,
Em jaulas encarceradas,
Cegas e surdas,
Sem horizontes possíveis.

O Mundo corroem
E a Humanidade sacrificam,

Em nome de uma pseudo Verdade
Inquestionável,
Indubitável,
Para todos instituída,

Em prol da crendice míope
Do absolutamente certo
Ou da mutabilidade impossível.

Um pecado capital,
Que o Novo rejeita,
O Diferente esmaga,
A Mudança atrofia.

Percorrem as façanhas dos Homens,
Na mesquinhez do Pensar
E na intolerância ideológica.

Castram o direito à Identidade,
Em nome da vã uniformização
Do Ser
E do Estar,

Em nome da claustrofobia
Do Sentir
E do Agir.

Cancro de todas as sociedades,
Pelo Mundo se espalham
Como ervas daninhas.

Freios perpétuos do desenvolvimento,
Amordaçam as bocas,
Que a Liberdade apregoam.

Motores da Raiva e da Vingança,
Perpassam todas as gerações,
Violentadas por ideias mal formadas.

Erguem-se no patamar de uma “santa” ordem
Imperativa,
Jamais contestada.

Sobre as almas encurraladas,
Lançam grilhões
Infinitos,
Estéreis,
Na imperfeita quadratura do círculo,
Que não mais avança.

Isabel Rosete
07/03/08
02/04/08
Pré-conteito (s)… II

O turbilhão intelectual
Dos mente-captos,
Promovem.

Os maquiavélicos desígnios
Dos tiranos,
Alimentam,

Sob o dogmatismo
Que as franjas do fanatismo
Enaltece
E o espírito crítico
Adormece.

Isabel Rosete
07/03/08
02/04/08
Pré-conceito (s)… III

Em seu nome se matam
Os Povos inocentes,

Se destrói
A Diversidade,

Se aniquila
A Autonomia,

Se esmaga
A Igualdade,

Se extermina
A singular especificidade das gentes,

Imperativamente caladas,
Cobardemente açoitadas,

Lançadas nas valetas
Da Vida perdida,

Nos limiares da Morte
Que as almas petrifica.

Isabel Rosete
07/03/08
02/04/08
Pré-conceitos (s)… IV

Deflagradores da essência humana
Movem-se,
Neste Mundo de Pó e Miséria.

Insultos degenerativos,
Atentados hiperbólicos
A todas as formas de inteligência;

Traços da pobreza mental
Dos que olham,
Mas não vêm;

Pedaços do ruído deformado
Dos que ouvem,
Mas não escutam;

Fios da cegueira opaca,
Dos que caminham
Em linha recta;

Manifestações da podridão
Do Mundo
Que não se apressa;

Degenerações contaminadas,
Que o Universo
Mobilizam;

Calcanhar (es) de Aquiles
De todas as revoluções,
Cegamente amputadas

Pelas ideologias unilaterais,
Que as divergências
Proíbem;

Amantes da hipocrisia,
Da falsa moral,
Do aparente puritanismo;

Parceiros da demagogia,
Camuflada,
Dos homens do Poder;

Pares da propaganda
Enganosa,
Dos falsos revolucionários,

Que a Humanidade
Encantam
E não enobrecem.

Isabel Rosete
07/03/08
02/04/08

segunda-feira, 31 de março de 2008

Primavera (s)

Cruzam-se os olhares
Na paz perpétua
De um saudoso beijo

Não há mais revolta
Paira a serenidade.

Tudo se move
No seu ritmo certo

O desfiladeiro
Não apavora mais
Os olhares inquietos.

O mar
Enrola-se na areia
Ao som do canto das sereias

Na paz dos Anjos
Se acalentam as tempestades
Fatigadas do seu peregrinar.

Os segredos
Da vida e da morte
Já não se ocultam mais

Os corações despertos
Estão aí
Para todos os re-começos.

Eleva-se a singela nudez
Dos corpos em comunhão

A pura leveza
Dos olhares
Que já não são pálidos

O riso das crianças
De olhos claros
Que a alegria espalham
Por todos os lugares.

A Paz
Torna-se visível

O Amor permanece
No seu devido lugar
Mesmo que incerto.
Cantamos a Primavera
Sem mácula

A Felicidade regressa
A todas as almas
Outrora despedaçadas.

Isabel Rosete
12/03/08

domingo, 23 de março de 2008

O Mundo irradia futilidade
Respira vulgaridade
Sempre que se esconde a Verdade

Perdemo-nos das essências
Das coisas simples
Que atrofiadas crescem
Nas sombras ocultas do Nada

Dispersos
Pairamos
Pelas encruzilhadas da Vida

Perdemos o Ser
Vagueamos
Não sabemos mais quem somos

Isabel Rosete
05/01/08
O Mundo
É-me tão estranho

Voltas e reviravoltas
Em todos os espaços
Eclodem

Não as identifico
Como minhas

São sempre dos outros
De quaisquer outros

Esfumam-se
Na vertigem do meu olhar
Microscópico
Intenso
Imenso

Sempre em busca das Essências
Da Verdade
Da Realidade

Lançam-se
Dúvidas eternas
No seio da minha Escuta
Em permanente estado de alerta

De vigília vespertina
Que nem o sono atormenta
Desorienta
Ou amortece

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
O meu corpo
Em sofrimento contínuado
Consome-me todas as energias

Fico exausta
Prostrada

Permaneço deitada
Sem força
Para os membros erguer

As minhas mãos
Ainda não escrevem
O que o meu pensamento
Lhes determina

Até quando?

A incógnita
Persiste
Neste meu estar de agonia
Sem tréguas

Agonia-se-me a alma
Aproximo-me da Morte
A qualquer momento
Esperada

Sinto que o colapso final
Está aí
Algures
À minha espera
Pronto a revelar-se

Não o temo
Em mim jaz
Em mim está integrado

Lembra-me
Quão a existência é efémera
Quão ninguém
Somos
Neste espaço de arrogância
Que alimenta a incompreensão dos outros

Isabel Rosete
08/030/8
Pensamentos Dispersos
08/02/08

‑ Passo todos os dias da minha vida rodeada por um conjunto de feras indomáveis…
Não quero lançar-me
No mar infinito
Dos desejos indiscretos

Enrolo-me na solidão
Dos silêncios
Do ainda não dito
Do ainda não pensado

A ressonância calorosa das ondas
Nas marés-altas
Conforta-me

Desperta-me
Para os segredos da Criação
Para o devir contínuo
Da marcha do Mundo
Sem pausas…

Isabel Rosete
08/03/08
Não há círculos viciosos
No tempo
Tripartido
Em aparente
Linha de continuidade

O Passado foi e é
Na memória
Que sempre o presentifica

O Presente é e deixa de ser
Na linha giratória
Que ao Passado e ao Futuro o conduz

O Futuro é o que ainda não é
Do Passado e do Presente
Se projecta
Para uma nova idade

A última da nossa existência
Pelas três linhas do Tempo
Perpassada

Isabel Rosete
0//8/03/08
Nada me resta
A não ser suportar
Este sofrimento
Que me persegue
De forma continuada

Amarrada me mantém
À ideia da efemeridade da Vida
Sentida no seio da incompletude do Nada

O passado
Assoma
Num espaço longínquo
Como se de outra vida
Falasse…

Não me inquieta
Mostra-me um outro Eu
Deixado num tempo
Que já não é
E que não voltará a ser mais

Esfuma-se
Presentifica-se

Oculta-se
Revela-se

Em instantes
Diversos
De comunhão
E de evasão

Aponta para um estado outro
Para um futuro
Que não o repetirá jamais

Isabel Rosete
0//8/03/08
A solidão
Percorre as almas desertas

Esgota a esperança
De outro renascer

Anuncia a morte
De um ser renovado

Corrói as entranhas da Vida
Até ao limiar de Morte

Desperta o vazio da Existência
Em torno da sua efemeridade

Consolida a massa compacta
Dos espíritos amortecidos

Dissipa a luz
De um novo horizonte

Definha cada ser
No seu pedaço de nada

Isabel Rosete
03/03/08
A Paz não se aquieta mais dentro de mim…

Não sou Atlas
Mas carrego
Nas costas
O peso do Mundo

O peso das convivências
Impiedosas
Que me atormentam

Dos olhares
Impertinentes
Que me crucificam

Da tolerância
Dissimulada
Que me esgota a alma…

O peso dos sorrisos
Hipócritas
Que me consomem o espírito

Da vileza
Sórdida
Que me rouba a seiva

Que raio de gentes…!

Só na vida alheia
Tropeçam
Isentas de infelicidade

Essa maldita
Intromissão no alheio

Essa maldita
Farsa da unidade

Essa maldita
Mesquinhez do Pré-conceito…

A identidade
Desprezam

A Diferença
Condenam

A uniformidade
Preservam
Em nome da impostura social
Que não pode ser adiada

Isabel Rosete
13/03/08
A monotonia
Não desperta mais
As mentes inquietas

Traz o tédio
Dos olhares encobertos

Pelas cicatrizes da Vida
Vivida
Em sobressalto perpétuo

Isabel Rosete
12/03/08
Amo o Amor II

Amo o Amor
Fonte dos prazeres eternos
Indescritíveis

Memoráveis
Jamais esquecidos…

Amo o Amor
Na sublimidade
De um beijo ardente
Que em cada boca se vivifica

No enlace
Dos corpos lânguidos
Derretidos
Esvaídos

No bálsamo
Do orgasmo eternizado
A cada instante
Nascido…

Amo o Amor
Das mentes desvairadas
Suadas
Pela intensidade
Indominável
Do Desejo…

Amo o Amor
Na instintividade
Da comunhão dos pares
Jogados
Nos lençóis soltos
Das camas desfeitas

Isabel Rosete
03/03/08
Amo o Amor I

Amo o Amor
O meu
O dos outros

Pelo prazer de o ter
De o sentir
De o viver…

Pelo Amor
Corpos e almas
Se vivificam

Em comunhão
Se consomem
Na alegria
Aberta do Desejo…

Pelo Amor
Outros horizontes se rasgam
Para além do visível

Outros Mundos
Se mostram
Para além do apreensível

Outros estares
Se manifestam
Para além do cognoscível

Isabel Rosete
03/03/08

Páscoa 2008,

por Isabel Rosete



Bebi esse delicioso vinho, símbolo eterno do sangue de Cristo, que agora e sempre nos vivifica alma e nos enobrece os corações, para que o ódio neles se apague, para que a raiva sempre desprezem; para que à comunhão e ao perpétuo renascimento permaneçam abertos.
Cristo, pelas mãos do seu próprio povo, os Judeus, foi sacrificado. Por eles, e por nós também, sofreu e morreu, no auge da sua maturidade, aos 33 anos de idade. Pelo menos, assim rezam as Escrituras.
Apenas mais uma norte de um ideólogo alucinado? Perguntarão aqueles que, à luz da Verdade, a História não leram. Não. Claro que não. Estão completamente enganados. Responderão essoutros que as alegorias bíblicas souberam interpretar literariamente
Não se trata, de facto, assim o penso, nem de mais de uma morte, nem uma morte qualquer. A morte de Cristo é uma metáfora, uma simbolização metafórica que, com precisão, devemos saber analisar.
O que verdadeiramente importa – pelo menos assim o vejo aquando de olhos postos no Mundo – não é a sua morte ou a sua dor física, não é o seu frágil corpo açoitado e ensanguentado, mas a sua morte e dor espiritual, que até hoje se perpétua, denotação perfeita da crueldade, da cobardia e da insanidade humana, que da desgraça alheia se alimenta, petrificada num estado de exacerbação do prazer próprio, assombrada pela “glória” que não vêem mais como sinónimo da sua própria imbecilidade.
A morte de Cristo, Deus feito Homem, é a exemplificação, "claramente vista", da ignorância das gentes, que em histeria colectiva entram, ao som da voz de um líder movido por uma infundada sede de vingança, sem saberem exactamente por que causa lutam.
Eles, os Judeus, preferiram soltar Barrabás e crucificar Cristo. Escolheram salvar o mal, o crime, a bestialidade, em vez de conservarem a pureza de uma alma que pelo Bem e pela Justiça sempre lutou, aceitando, pacificamente, mesmo num atroz sofrimento universal, o destino que o Pai lhe havia confiado, a selvajaria norteada pela mais inconcebível inversão de valores que a humanidade devia, deve, banir convictamente de todos os seus pensamentos e, principalmente, de todas as seus actos.
Cristo lutou, honrosamente, em nome da filosofia que o movia. Defendeu-a, com toda a convicção, em prol de um mundo mais humano, onde imperasse essa costela de bondade, de verdade e de rectidão do carácter, que nem sempre des-ocultamos. Morreu por ela, manifestando toda a sua coragem e lealdade ideológica, até mesmo nos momentos em que a sua dimensão humana se encontrava estarrecida.
Caminhou, a passos largos, sem medo de assumir essa penosa tarefa de ser “Persona no grata” a um sistema corrupto, degenerativo, completamente desqualificado.
Podemos considerá-lo um herói histórico? Claro. Podemos e Devemos. É a minha tese, que passo a defender num intercâmbio de perguntas e respostas.
O que representa ou simboliza este herói? Um mártire, entre tantos outros, que a Historia nos apresenta? A resposta parece-me simples e clara: Cristo foi, é, o símbolo da essência do Humano, na sua grandeza e na sua miséria. Mostrou, mostra, aos Homens – hoje tão cegos e tão surdos como os do seu tempo – como a irracionalidade e o puro instinto são o cancro de todos os Povos, de todas as Nações, em todas as épocas.
Lamentavelmente, esta lição não foi, ainda, por nós interiorizada. E porquê?
1. Porque não convém aos “donos” do poder uma humanidade marcada pela racionalidade do dever, pelo respeito pelas liberdades fundamentais, na sua igualitária e natural diferença;
2. Porque continua a reinar a hipocrisia, a mentira, a inveja e a intolerância.
A “Caixa de Pandora” abriu-se. Lançou sobre a Terra toda a espécie de males. Nela ainda se encontra Esperança, guardada a sete chaves e, quiçá, só libertada quando os Homens desnorteados, pautados por valores desonrosos, indignos e insolentes, encontrarem o seu verdadeiro caminho.
Será que, um dia, chegará esse tão ansiado momento? A mundividência que os nossos olhos diariamente des-velam, parece mostrar que jamais há possibilidade de voltarmos ao “Paraíso Perdido”. Senão vejamos: vivemos o ódio e a disputa desenfreada entre as Nações que, por interesses económicos ou políticos se dispõem a matar, a destruir, brutalmente, todos os obstáculos que à sua frente se apresentam e tendem a coarctar as ideias indigentes dos sistemas totalitários intencionalmente disfarçados.
O valor da dignidade humana, tomada em si mesma e por si mesma, foi aniquilado pela maioria dos Países que, só em teoria, o respeitam. Em primeiro lugar estão os valores da Pátria (que grande mentira!) encobertos pelo frenesim económico do lucro pelo lucro, pelo prazer do poder pelo poder, circunscrito a uma minoria que se auto-classifica como peremptoriamente capaz de defender os Direitos Humanos, por detrás das armas que, indiscriminadamente, fazem jorrar o sangue puro dos inocentes.
Alucinados nos mantemos neste céu de trevas, obscurecedor dos espíritos manipulados por uma escala axiológica inversa, comandada pelo valor imperativo do dinheiro, por sua vez, acompanhado pelo poder político, sem escrúpulos, que o faz crescer, nas mãos de uma pequena e perversa minoria que o mundo (des)governa.
Nesta corda bamba, não mais manobrada pelo equilibrista, continuamos a assistir ao subdesenvolvimento dos países do 3º Mundo, onde reina a fome, a escravidão, a insolência, a má fé, a falsa solidariedade e a intransigência, o des-humano, ou para sermos mais claros e realistas, o Inferno vivido em vida, entre outros anti-valores de que os nossos rostos, sorridentes, se deviam envergonhar, aquando de cada lágrima derramada dos olhos das crianças, que já nem o céu têm como horizonte possível.
Assistimos, todos os dias, pela televisão ou pelos jornais, a estes cenários degradantes. E nenhum de nós se pode declarar como intocável, ou como irresponsável perante estas mazelas que por todo o Mundo assomam, de forma mais ou menos visível. Até nos podemos lamentar. No entanto, nada fazemos para as eliminar ou minimizar.
Sabemos que o palco do Mundo caminha nas franjas da barbárie (nem sempre des-ocultada), de um modo cada vez mais assustador. Mesmo assim, permanecemos calados ou mostramos, apenas, a nossa revolta num restrito grupo de amigos, cuja voz ali se encerra, olhando os “coitados” que sofrem.
Afinal, jamais deixamos de pensar: «Quem sou eu para mudar o Mundo?». E assim voltamos à apatia de sempre, bem mais cómoda do que qualquer cogitação de uma possível luta pelos ideais em que acreditamos. Acrescentamos – a esta frase feita, e sem excepção – que a culpa é do Governo, o eterno bode expiatório das culpas que do nosso cartório, estamos sempre prontos a descartar.
Não convém à minoria, que este palco suporta por detrás de um permanente não dito, que sobre esta realidade meditemos. Levados pelas correntes da demagogia, vendamos os olhos, para que as atrocidades não nos façam pesar a consciência. Rolhamos os ouvidos, para que não ouçamos os gritos aflitos de milhões de pessoas – nossos semelhantes, por essência – que amarguradamente clamam em busca de um simples pedaço de pão, que os seus corpos nutrifique, em demanda de um simples sorriso ou de uma palavra, actuantemente solidária, que os seus acabrunhados espíritos console.
Não fazemos mais jorrar o sangue de Cristo pelas almas sedentas de paz. Não dividimos mais o pão por todos os outros de nós mesmos, também sobreviventes, neste Mundo marcado pelo egoísmo, por falsas promessas, ou por promessas sempre adiadas.


Isabel Rosete
23 de Março, 2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Não sei o que é feito do mar
Que os peixes
Não mais acolhe…

Não sei o que é feito do Amor
Que os corações
Não mais comove…

Não sei o que é feito da Amizade
Que os amigos
Não mais venera…

Não sei o que é feito da Paz
Que as guerras
Não mais amortece…

Não sei o que é feito da Humanidade
Que o Mundo
Não mais protege….

Não sei o que é feito do Ser
Que os entes
Não mais presentifica…

Não sei o que é feito de Deus
Que às criaturas
Não mais se manifesta…

Não sei o que é feito dos caminhos
Que à Felicidade
Não mais conduzem…

Não sei o que é feito de mim
Que o Destino
Não mais encontro….

Isabel Rosete
08/02/08
Semeámos o ódio
Colhemos
A irracionalidade

Plantámos a guerra
Recolhemos
A miséria

Desbravámos a Terra
Instaurámos
A degeneração

Minámos os solos
Disseminámos
A infertilidade

Consumimos os ares
Recebemos
O degelo

Amámos a cólera
Destruímos
O Mundo

Ludibriámos a Vida
Permanecemos
Na Morte…

Isabel Rosete
07/02/08
Recuso-me a aceitar
A marca perpétua
Do sofrimento

Que as franjas da alegria
Invadam a minha alma

Que os raios do optimismo
Cubram o meu rosto

Isabel Rosete
07/02/08
Somos acção
Criação

Geramos outros Mundos
Outras perspectivas

Outros seres
Outros estares

Sempre que o tédio
Nos invade a alma

Sempre que a monotonia do olhar
Nos consome o cérebro

Sempre que o desterro
Nos abandona ao Nada

Isabel Rosete
19/12/07
01/03/08

quarta-feira, 12 de março de 2008

Não somos Sócrates
Não abraçamos a Morte
Como um bem supremo

A morte do outro
A morte de nós mesmos…

Sempre esperada
Sempre adiada…

Sempre próxima
Sempre distante…

Uma figura do Destino
Implacável
Que todas as coisas conduz
Ao seu próprio fim…

Um estado outro
Que nem ousamos imaginar…

Apavora
Atormenta…

Sempre está aí
Numa outra face…

Numa presença
Ausente
Que não queremos presentificar…

Isabel Rosete
16/06/07
13/03/08
Pensamos na morte
Em todos os momentos
Da nossa existência
Individual e colectiva,
Mesmo
Que o façamos
Inconscientemente…

Receamos a morte
A única certeza absoluta
De que dispomos
Um vir a ser inevitável
Completamente irreversível…

A morte é lenta
Até chegar
O derradeiro momento
O instante final
Do seu incontornável
Aparecimento

A todos
Bate à porta
Sem aviso prévio
De recepção anunciada…

A morte?
Pois
A morte…!

Esse outro lado da Vida
Que não está iluminado
Voltado ou virado
Para nós?

O que tememos?
Aquilo que ignoramos?

A morte…?
O que é a morte?

A separação da alma e do corpo?
A passagem para um outro modo de ser?

O passaporte para uma outra vida?
A entrada num outro estado de graça
Pleno e purificado?

Um horror?
Um Inferno?
O Nada?

Isabel Rosete
16/06/07
13/03/08
Pensamentos Dispersos
09/01/08

‑ Deixem as nossas almas livres da mesquinhez do mundo.

‑ A inveja corrói a paz dos nobres corações.

‑ Plantamos o Amor. Colhemos o ódio.

‑ Apregoamos a Paz. Resta-nos a Guerra.
Pensamentos dispersos,
08/02/08

* Sinto-me só
Num espaço atopos…

* Não amo a ilusão do Nada
Mas a solidão do Tudo…
Os tons
Os sons…

Enobrecem a beleza da criação
A harmonia da Natureza
No seu estado de graça…

O reino dos vivos
Fazem mover
O reino dos mortos
Renascer…

Sossegam os espíritos
Atormentados…

Harmonizam os corações
Despedaçados…

Pela vil miséria
Do sofrimento inacabado…

Embalam os amores
Acobertam os seus estares...

Entusiasmam
A excitação dos corpos…

Embriagados
Pelo intenso desejo
Da união visceral…

Isabel Rosete
16/01/08
Os meus amores vão e vêem
Tão firmes e tão efémeros
Tão nostálgicos e tão saudosos

São eternos instantes de prazer
Guardados pela memória que os presentifica
Em todos os momentos de solidão

São pedaços de mim
Estilhaçam-me o peito
Inquietam-me o corpo e a alma

São revoltosos
Transpiram um desassossego megalómano
Transluzem a impaciência em efervescência

Os meus amores são ansiedade em estado líquido
Exausto devir de adrenalina pura
Correntes sanguíneas em excitação

Estares explosivos
Impulsivos
Gritantes

Não compactuam com as regras impostas
Ultrapassam todos os limites
O convencionalmente estabelecido
Os freios hipócritas da moral instituída

São excesso
Hipérbole
Des-medida
Deflagração perene do sentir

Não se contêm mais dentro de mim
Vagueiam pelo espaço libidinal
De um Universo ilimitado
Sem princípio nem fim…

Isabel Rosete
27/12/07
26/01/08
Orfeu…

O deus da lira e do canto
Da catarsis musical…

Sempre presente
No reino dos vivos
E dos mortos…

Amando
Sofrendo
Lamentando…

Uma dádiva de magia
Que os rochedos
Comovia …

Isabel Rosete
06/05/07
10/02/08
Olho em frente…

Vejo a miséria
Das crianças que sofrem
Dos espíritos embriagados
Pela nudez
Que não é mais originária

Olho em frente…

Vejo a prepotência das Nações
As falsas intenções dos Povos
Que esmagam os seus pares
Que corrompem a escassa dignidade
Que ainda nos resta

Isabel Rosete
13/03/08
O ser humano perdeu-se de si próprio
Do Mundo e dos Homens…

Vive a ambição desenfreada
De um novo progresso…

Percorre todas as vias
Todos os caminhos
E chega ao Nada…

Só olha
Não vê…

Só ouve
Não escuta mais…

Vagueia por montes e vales
Sem destino determinado
À procura de uma qualquer coisa
Perdida
Outrora
Num espaço misterioso e indecifrável…

Não sabe mais de si
Nem do Mundo…

O Universo escapa-lhe
Tal como os intermináveis céus
Em noites de Lua cheia…

Chama o Tudo
Só o Tudo lhe satisfaz…

Não tem medida
Não tem freios
Não tem governo…

Move e remove todos os espaços
Num eterno círculo
Sem identidade…

Que Humanidade é esta
Que a si mesma se odeia
Se destrói
E se atropela?

Quanta violência
Que com o pensar crítico se confunde
Que da racionalidade se afasta
Que a livre expressão oprime…

Praguejam
Os Homens
Em nome da demagogia
Das falsas promessas
Sempre camufladas
Sempre adiadas…

Hipocrisia: é a palavra-chave
Desta gente des-vairada
Corrompida
Esmagada
Completamente destroçada…

Isabel Rosete
02/09/07
23/01/08
O Mundo está aí…

Não poupa a cegueira branca
Das almas puras

Desprotegidas
Das garras escondidas…

Não oferece gratidão
Aos nobres espíritos

Não escuta os gritos de alerta
Da Natureza desolada…

Não sente os odores da Terra
O chamamento das coisas simples

A singeleza do desabrochar das flores
A leveza do correr das aguas puras…

Não perpetua o poder da Paz
A força do Amor

As dádivas da Criação
O jorrar originário das Fontes…

A serenidade dos céus
O brilho translúcido das estrelas…

A transparência dos raios solares
A magnitude da Lua cheia

O livre voo dos pássaros
A frescura das árvores onde pousam…

Isabel Rosete
10/01/08
26/01/08
O êxtase da alma…

É insuportável
Em qualquer paixão…

As mãos tremem
Transpiram…

O coração
Consome-se

Num ritmo
Acelerado

Incontrolável
Incontornável…

O estômago
Já não se contém
Com tanta ansiedade…

Calafrios
Pela coluna
Sobem e descem…

Tudo se move
Tudo se transforma

A um ritmo
Desenfreado
Imparável
Inefável…

Isabel Rosete
26/05/07
26/01/08
O brilho de Apolo
Contra a lucidez dionisíaca…

Assim somos
Assim vivemos
Os dois lados expostos e inseparáveis,
Ocultos numa mesma existência

Com a harmonia das formas
Das cores e dos sons,
Com o esplendor do Belo
E a racionalidade dos instintos

A Lira de Apolo adormece
Os corações aflitos…

Emerge o sonho
As máscaras
Os véus
Que encobrem os rostos

A adivinhação
A divinidade da luz
A claridade do visível
A medida
A virtude

O mundo interior da imaginação
O princípio da individuação
As figuras de contornes precisos
Os limites da criação…

Diónisos
A exemplificação do imenso
Do enorme
Do excesso
Do hiperbólico

A grandiosidade
Do “crescendo”
De todo o acto de renovação,
O fluxo incessante da Vida

O sofrimento
O instintivo
O subterrâneo
O instintivo

A união umbilical
Com as entranhas da Terra,
A tragédia dos caminhos paralelos
E as contradições do humano

O êxtase da morte
E da ressurreição,
A infinitude libidinal
O férmito da embriaguez

O eterno retorno
Do cíclico imparável
Da vida e da morte,
O transe dos sentires…

Isabel Rosete
26/05/2007
15/01/2-08
O Belo
O Sublime
Enaltecem-me a alma…

Na clareira do Ser
Vejo a minha essência
De pó e miséria…

Isabel Rosete
21/01/08
O Amor… II

Crava-se
No peito
Como um espinho
De uma rosa
Sangrenta…

Aveludada
Doce
Sedosa…

Quente
Misteriosa
Enigmática…

A Felicidade
É o paradoxo
Dos amores
Verosímeis
E inacreditáveis…

O Amor…

Espalha-se por todas as veias
Tornar-se plasmático…

Dividido
Unido…

Move-se nessa massa
Vermelha
Que circula
Em todas as células
Em todas as veias
Em todos os poros…

Tudo inunda
Tudo faz
E desfaz…

Na dimensão paradoxal
Do infinito Universo do sentir…

Isabel Rosete
6/08/07
23/02/08
O Amor… I

Está na essência
De um destino
Traçado por encontros
E desencontros…

Move-se
Na corda bamba
Do equilibrista…

Tão frágil
Como as asas dos anjos…

Tão forte
Como as montanhas rochosas…

Tão intenso
Como as tempestades…

O Amor…

Corrói a alma
Invade as entranhas
Revoluciona-as
Sem digestão…

Percorre todo o corpo
Exalta-o
Enobrece-o
Subestima-o…

É um viandante
Devasta
Todas as moradas
Desprevenidas…

Vem…
Passa…
Vai…

Deixando
Longínquas pegadas
Impressas…

Qual fóssil
Em terreno desconhecido…

O Amor…

Também mata
Também dói…

Espelha
O inquietante composto
De alegria e de felicidade…

De exaltação
E De exuberância…

De nudez
E De pureza…

Do Tudo
E do Nada…

Isabel Rosete
6/08/07
23/02/08
Pensamentos Dispersos
08/02/08

‑ Passo todos os dias da minha vida rodeada por um conjunto de feras indomáveis…
Não sei o que é feito do mar
Que os peixes
Não mais acolhe…

Não sei o que é feito do Amor
Que os corações
Não mais comove…

Não sei o que é feito da Amizade
Que os amigos
Não mais venera…

Não sei o que é feito da Paz
Que as guerras
Não mais adormece…

Não sei o que é feito da Humanidade
Que o Mundo
Não mais protege….

Não sei o que é feito do Ser
Que os entes
Não mais presentifica…

Não sei o que é feito de Deus
Que às criaturas
Não mais se manifesta…

Não sei o que é feito dos caminhos
Que à Felicidade
Não mais conduzem…

Não sei o que é feito de mim
Que o Destino
Não mais encontro….

Isabel Rosete
08/02/08
13/03/08
Não quero mais o outro de mim mesma
Mera peça de um puzzele
Do baralho Universal…

Preservo a identidade e a diferença
Do ser e do estar
De cada ente diverso
Deste espaço cósmico de mudança
De variação
De metamorfose…

A Natureza é múltipla
Multi-fórmica
Multi-color
Aí reside a sua extraordinária beleza…

As regras sociais impõem-se
Em prol da concordância
De todas as condutas
Em nome da uniformidade
De todos os ritmos…

Fecham os olhos à bio-diversidade
Como se fossemos todos o mesmo…

Como se tivéssemos a obrigação natural
De permanecer
Para sempre
Em uníssono…

A massa das gentes incógnitas
Solidifica-se
O massacre do Ego
Presentifica-se…

São constantes
Em crescendo
Desta pseudo unificação do Humano…

Isabel Rosete
02/08/07
23/02/02/08
Finalmente
Sossego
Na melodiosa paz dos Anjos

Volto a ser infante
Adormeço
Com a serenidade clara da Lua…

Sonho outros mundos
Outras vidas
Outros estares…

Viajo por todos os espaços
Mesmo pelos mais inacessíveis…

Um imaginário suave e tranquilo
Traz-me a Paz
Sempre esperada em todos os momentos
Desta minha existência instável
Volúvel
Camaliónica….

Entranho-me nas mais labirínticas tramas
Deste Universo sem fim…

Vejo o Infinito
Encontro o silêncio dos orbes celestes…

O divino aureola-me
Entro em comunhão comigo mesma
Com todos os outros
Meros pedaços efémeros do meu caminhar…

Os meus pensamentos percorrem
A iter-mundaneidade do Mundo
Com pressa
Sem discrição…

Finalmente….
Sou Eu
E não mais o outro de mim mesma…

Isabel Rosete
03/09/07
16/02/08
«Dia Internacional da Mulher»
08 de Março de 2008

Ex. mos Senhores,
Ex. mas Senhoras,


Deixemo-nos de eufemismos:

O “Dia Internacional da Mulher” é todos os dias;
Não há, propriamente falando, Mulheres e Homens;
Há, apenas, Seres Humanos, com algumas diferenças genéticas inultrapassáveis.
Neste ponto, referimo-nos à óbvia dissemelhança do Mesmo, e o Mesmo é, tão simplesmente, isso a que chamamos de “Humanidade”, naturalmente, diversa, naturalmente, enformada em múltiplas dimensões;
Há, apenas, Seres Humanos, com igualdade de Direitos e de Deveres;
Falar, tão empoladamente da Mulher, apenas no “Dia Internacional da Mulher”, já é uma forma de discriminação,
Mais nada.



Mulher, para sempre…

Uma dádiva da Natureza
O topos da Criação…

Em si carrega
As sementes da Renovação…

Consigo arrasta
O gérmen de outras Vidas

No Mundo lançadas
Como um Dom

Sempre esperado
Sempre desejado
Nunca esgotado…

O seu ventre é Sagrado
Fonte jorrante da Vida
Que em cada embrião se eterniza…

Os seus seios,
Símbolos,
Sinais
Do alimento divino,
Corpos e almas fortificam…

Os ciclos da Vida multiplica
Em doce ou vã alegria…

A sucessão das gerações assegura
Sempre prenhe de fertilidade…

Em si acolhe todos os frutos
Todos os rebentos…

Com a genuína graça
Do Renascimento Infinito
De novas Idades…

Isabel Rosete
08/0308
Criamos e destruímos o Mundo
Um paradoxo infinito de contradições
Se impõe a todo o momento…

Misturamos o caos e a ordem
Numa massa atómica
Que não distinguimos mais…

Revolvemos os elementos e os compostos
Os átomos e as moléculas
Em crescendo
Para uma nova ordem…

Amamos os espaços dos outros
Num misto de solidariedade
Pena
Inveja
E compaixão…

Desconhecemos o que somos
Nos caminhos alienados da Vida
Que rodopia
Em torno do seu próprio círculo

Complexo
Perplexo
Inacabado…

Isabel Rosete
18/10/07
10/02/08
Assim é o amor…

Força
Que move e comove
Despista
Rói
Corrói
Destrói…

Cego e surdo
Táctil e visual
Move-nos
Para a realidade
Do possível…

Para o possível
Do impossível…

Para o imaginável
Do inimaginável…

Para o sonho
Do in-sonhável…

Para as correntes tumultuosas
De um mar sem fim…

Para o infinito
Do próprio finito…

Para a alucinação
Da sensatez…

Para a irrazoabilidade
Do razoável…

Para o ilimitado
De todos os limites
Conscientes
Ou inconscientes…

Assim é o Amor
Uma força tremenda
Gigantesca…

Arrebatadora
Desmedida
Enorme…

Dentro de um tempo redondo
De um eterno retorno
Do mesmo e do outro
Com princípio e fim…

Isabel Rosete
26/05/07
26/01/08
Aqui estamos nós,
Homens,
Um dia rotulados de “animais racionais”…

Supostamente
Pensantes…

Supostamente
Sensatos…

Prudentes
Previdentes…

Detentores
De um raciocínio lógico-discursivo…

Hipoteticamente
Emersos
No melhor dos mundos possíveis…

Afinal
O que queremos de nós,
Seres errantes?

O que queremos do Mundo
Que em torno de nós
Se desloca
A uma velocidade incomensurável?

Que intentos nos movem?
O que pretendemos?

Apagar
Essa aura de entes
Onde
Um dia
Fomos depositados
Sem que o nosso querer
Fosse chamado a opinar?

Varrer
Este modo de Existência
De caos e de ordem?

Abolir
Este estado
Epimetaico e prometaico
Que sempre nos acompanha?

Remover
Os des-equilíbrios
De que somos co-autores
E co-produtos
Voluntária
Ou involuntariamente?

Perdemos o rumo
A direcção…

Não encontramos mais
O fio de Ariana
Que comanda o nosso Destino…

Destino?
Mas, que Destino?

O de sermos meros pedaços enredados
De uma humanidade enlaçada
Nas malhas da sua própria teia?

Ariana e a Aranha
Estão sobre a caução do mesmo invólucro
Tão opaco
Quanto transparente
Tão sublime
Quanto miserável…

Ainda podemos falar
Da harmonia heracliteana dos contrários?

Do caos criativo que
Gera a ordem desordenada?

Isabel Rosete
19/01/2001
17/02/08
Apaixono-me pela Vida
Quando me desvio
Do seu ritmo alucinatório…

Vivo intensamente
Cada instante
Como se fosse o último…

O presente
O imediato
Superam o passado
Apontam em direcção ao Futuro…

Nada impede esse meu desejo
De assim viver
De estar para além da mera sobrevivência
Mesquinha
Vexada
Das gentes de mente pequena…

Sinto a profundeza do Ser
De todas as coisas
De tudo o que se presentifica
E se oculta
Num tempo que não é o meu…

Isabel Rosete
03/09/07
16/02/08
Antes que o Sol desponte
Quero brilhar…

Fugir
Para o outro lado do Mundo
Que me é oculto…

Sentir outros rostos
Outras gentes…

Outros estares
Outras naturezas…

Ver outras cores
Outros brilhos…

Outras Estrelas
Outros Planetas…
Outras Galáxias…

Intuir o infinito do Universo
Envolto naquela cápsula
Que quero abrir…

O fechado atrofia-me os membros
Congela-me cérebro
Sempre em pleno estado de agitação…

Todos os vulcões
Aí se concentram

Todas as lavas
Daí escorrem

E os caminhos
Não se bifurcam mais…

Isabel Rosete
06/07/07
10/02/08
Amo o Sol
Tudo o que brilha
Numa intensa e vã agonia…

As palavras soltam-se
Da minha boca
Como dados certeiros…

Aos homens se dirigem
Visam o seu rosto
Dependurado
Na face do mistério…

Nos terrores da guerra
Nos visos sanguinárias
De todos os opressores…

Nos medos das gentes
Acabrunhadas
E maltratadas
Em nome
De um tal dito progresso…

Isabel Rosete
09/12/07
26/01/08
Amo
Não sei bem o que amo…

Tenho medo de voltar a amar
De voltar a sofrer
De voltar a sonhar…

As ilusões crescem
Quando se ama…

Emerge a dor
A insatisfação
A insanidade
A insensatez…

A cólera manifesta
A presença ausente
De um outro estado
Sempre inacabado
Sempre adiado…

Caminhos que não conduzem
A parte alguma
Espreitam-nos no amor…

Nos caminhos
Que se bifurcam
Perdemo-nos
De nós
E do outro…

Encontramos o desfiladeiro
Assoma o vazio
De uma alma deserta
Dispersa
Em con-fusão…

Alienada pela adrenalina
Que sobe
Escorrega
Desampara
Inquieta…

Isabel Rosete
26/05/07
26/01/08
Amar a Paz
Já não é coisa dos Homens…

Tudo destroem
Desbravam
Corroem

O centro do seu olhar
É o sangue
Selvagem
Dos oprimidos

Quanta cobardia !
Quanta indignidade !

A vergonha
A vileza
Não mesclam mais o seu rosto
Marcado pela insensatez
Manchado pelas sórdidas raízes ódio…

Enlameado pelo fanatismo
Que estreita
Os horizontes das mentes
Ensurdecidas
Pelos timbres do tambores
Que a guerra anunciam…

Isabel Rosete,
07/02/08
A inveja
O pior dos males
De todos os mundos possíveis

Motor das injustiças
Sem rosto

Das rebeliões
Sem ordem

Das mortes
Sem causa determinada

Das calamidades
Atrozes
Lancinantes
Medonhas

Que para si próprios
Os homens criam

Sedentos da vingança
Ofuscada
Cega
Irreversível
Que agoniza
As castas gentes

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08

quarta-feira, 5 de março de 2008

O preço da identidade
Anula
As mentes menos despertas

Alucina
As personalidades
In-identificáveis

Manipula-as
No seio das multidões
Sem rosto próprio

Devolve-as
Ao anonimato
Que convém à Hipocrisia

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
O Mundo
É-me tão estranho

Voltas e reviravoltas
Em todos os espaços
Eclodem

Não as identifico
Como minhas

São sempre dos outros
De quaisquer outros

Esfumam-se
Na vertigem do meu olhar
Microscópico
Intenso
Imenso

Sempre em busca das Essências
Da Verdade
Da Realidade

Lançam-se
Dúvidas eternas
No seio da minha Escuta
Em permanente estado de alerta

De vigília vespertina
Que nem o sono atormenta
Desorienta
Ou amortece

Isabel Rosete,
07/02/08
04/03/08
Penso no amor
Assoma a angústia
Dos sentimentos vividos
E por viver

Amor é dor
Calafrio do corpo
Que se arrepia

Desassossego da alma
Que se atrofia…

Isabel Rosete,
07/02/08
Tenho tantas faces
Tantos rostos
Tantos Eu(s)

A insatisfação
Preenche o meu Ego

Nada lhe basta
Nunca está bem

Identifica-se com o Tudo
E com o Nada

Quer deambular
Pelo Universo
Sem sair do seu Mundo

Tantas contradições
Rodopiam
Dentro deste meu espírito
Sempre
Irrequieto

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
Fico deprimida
Não quero os amores
Que me desejam

Quero todos os outros
Que não identifico

Sei que estão aí
Algures
Em parte incerta

Procuro-os
Não os encontro

Vejo-me envolvida
Por um desejo do outro

Recuso-o
Ao mesmo tempo
A habitar em mim

Isolo-me do Mundo
Sinto a Solidão
Até ao mais fundo
Do fundo
Das minhas entranhas

Isabel Rosete,
07/02/08
04/03/08
Os sons
Vão e vêm…

Apossam-se
De todo o ente carente
À espera do sossego musical…

A magia inebriante da música
Tudo atinge
Tudo penetra…

Nos tenebrosos rochedos
Do Cáucaso
Ecoou…


Permanece Prometeu
Agrilhoado…

O prudente
O previdente…

Aos homens
O fogo doou
Como sinal do seu amor…

Qual espécie errante
Nasceu
Bicéfala…

Capaz das maiores proezas
E das maiores atrocidades…

Isabel Rosete
31/05/07
25/01/08
O meu pensamento viaja
Prenhe de fertilidade

Vagueia
Por todos os espaços

Escuta
Todos os sons

Cheira
Todos os odres


Todos os rostos

Comove-se
Com a imensidão do Mundo…

O meu pensamento
Tacteia todos os estares

Sente
Todas a emoções

Penetra
Em todos os espíritos

Abarca
Todas as sensações

Entusiasma-se
Com a face oculta do mistério…

O meu pensamento
Diviniza toda a criação

Espanta-se
Com a beleza dos orbes celestes

Exalta-se
Com a felicidade dos Homens

Glorifica-se
Com os segredos da Vida e da Morte…

Isabel Rosete
18/12/07
26/01/08
Nós
Cidadãos
O que Somos?

Marionetas
Nas mãos do Poder?

Meros cumpridores
Passivos
De leis que não ouviram
As nossas vozes?

Escravos
Voluntários
De uma liberdade que não é a nossa?

Peças solitárias
De um jogo
Por outros criado
Sem intimarem
As nossas vontades?

Perpétuas presas
Dos regimes políticos
Que não elegermos?

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
Amo a Lua
As suas diversas caras…

As caras de todos os outros
Escondidas noutras faces…

Ocultas
Veladas…

Pesadas
Serenas…

Marcadas pelas cicatrizes da Vida
Que nada perdoa…

Amarga e doce
Com finos espinhos…

Aveludadas pétalas
Envolventes do nosso ser-aí…

Inquietante
Medonho…

Ordinário
Extra-ordinário…

Descomunal
Monstruoso…

Pacificante
Vil …

Isabel Rosete
09/12/07
26/01/08
Abomino o egocentrismo
Das “mentes brilhantes”
Apenas voltadas
Para as suas entranhas…

Incomoda-me a ilusão da vã glória
Os soltos pedaços de vulgaridade
Das gentes
Que vagueiam sem destino…

Revolta-me a dor dos inocentes
O sofrimento silencioso
Das mentes escravizadas
A consagração fascista
Dos insolentes tiranos…

Desprezo os discursos demagógicos
A hipocrisia dos “defensores” da Pátria
A alucinação dos “salvadores” nacionais
A promessa adiado das falsas promessas…

Isabel Rosete
10/01/08
26/01/08
A magia da música
Eleva-me a alma
Exalta-me os sentidos…

Dobra-me o corpo
Em mil retalhos

Excita-me os músculos
Incita-os ao movimento ritmado
De cada melodia…

Tudo transforma
Faz mover
Vibrar
Sonhar…

Penetra em todos os espaços
Ultrapassa o tempo
E o limiar da eternidade…

Isabel Rosete
16/01/08
16/02/08
A fonte da Fé
Secou…

Cristo
Já não é mais milagreiro…

Violência
Crime…

Desacato
Insanidade…

Enchem
Preenchem…

A panóplia
Do Mundo em que vivemos...

Isabel Rosete
14/07/07
23/01/08
A Bailarina
(A Sandra Machado)

Eis a viva expressão
De quem agarra a Vida
Por todos os fios possíveis
De um imaginário
Sempre reprodutivo…

Os seus acenos
Suaves
E determinados
Sobem
E descem…

Os seus paços
Leves
E silenciosos
Ascendem
E descendem

Erguem-se
Elevam-se
Multiplicam-se
Em todas as direcções…

Indicam-nos o infinito
Que nos apraz bem

Suspendem-nos a alma
Transportam-nos para outros lugares
Nunca imaginados…

São múltiplos os caminhos
Pela bailarina percorridos…

Entre outros estares
Entre outros rostos
Entre todos os rostos
Que nela se presentificam…

Os caminhos dos gestos
Das palavras
Dos sons
Que a envolvem
Num círculo
Quase perfeito…

Os caminhos das notas
Que a partitura preenchem
Tornam-se audíveis
Em todos as melodias
Pelo seu corpo contornadas…

Há sempre um som
Que a embala
Que a faz vibrar
Estremecer
Ou sonhar…

Por entre as linhas
Nem sempre unidas
Nem sempre definidas
Dos trilhos delgados
Do seu balancear…

O chamamento do som
Assoma
Que grande promessa!

O som puro
E cristalino
Da música

Semi-oculto
Semi-descoberto

Envolve
O corpo
E a alma
Da bailarina
Ainda capaz de o escutar…

A escuta
Naturalmente a escuta…

Qual motor originário do mundo
Que faz mover
Os seus delicados contornos…

Os seus movimentos
Mesmo os mais simples
Manifestam a pureza
De uma alma
A singeleza de um corpo
A nobreza de um carácter
Em momentos
De perpétua comunhão…

Qual corpo?
Qual alma?

Os da Bailarina
Fundidos
Se dão
A outros corpos
A outras almas
Nunca em vão…

A bailarina
Está aí

Dança
Balança
Rodopia
Ao tinir
De todos os acordes…

Faz renascer
Um ser outro
Sempre renovado…

Algures
Camuflado
No seio
Da sua própria interioridade…

Isabel Rosete
(Escrito para Sandra Machado, a bailarina)
1999
17/02/08
A Alma humana
Destituiu-se de si….

Paira
Na bruma
Das tardes cinzentas
Sem tranquilidade
Sem paz…

Percorre
Os infinitos caminhos do Mundo
As estradas desertas
Sem rumo determinado…

Procura o Paraíso perdido
Em todos os corpos outros
Sem saber
Qual a sua linhagem…

Ofusca-se
Com os raios do Sol…

Vagueia
Pelas ondas imensas
Do mar revoltoso
Companheiro dos ventos do Norte…

Tudo arrastam
Movem
Deslocam…

No redemoinho universal
Da Vida
Que rodopia
Em todos os espaços
Por todos os lugares…

Isabel Rosete
06/07/07
22/02/08
Alma
Sopro da Vida
Não cabes mais
Dentro dos teus limites

Transcendes-te
Rumo ao encontro
De todos os desencontros

Ao impossível
De todos os possíveis…

Evades-te
Nas dunas brancas
Das praias desertas

Respiras
Pura
A virgindade da Natureza

Escutas
Em silêncio
Os sons primordiais

Das profundezas
Do mar
Salgado

Ora verde
Ora azul
Ora vermelho

Manchado
Pelo sangue dos corpos
Derramados

Quantas batalhas
Quantas guerras

Nas águas cristalinas
Foram sepultadas…

Alma
Co-afim com o mar

Em revolta
Te moves

Em calmaria
Descobres
A eterna beleza
Das coisas simples

Aí estás
No correr
Das águas

Ao turbilhão do mundo
Nem sempre escapas…

Isabel Rosete
06/07/07
26/01/08

sábado, 1 de março de 2008

No vazio das palavras
Ecoam todos os sons
Todas as pausas
Todos os silêncios…

As palavras são punhais
Cristais
Dardos
Sementes de criação…

Despedaçam
Espelham…

Reluzem
Transluzem…

Corpos e almas
Em união e dispersão…

Isabel Rosete
16/01/08
23/02/08
Narciso(s) somos
Não queremos ser Eco…

No espelho
Traçamos
As marcas das nossas máscaras…

Sempre as mesmas…
Sempre outras….

O som dobrado
Redobrado
Prolongado…

De uma voz distante
Ao longe se evade
Entre montes e vales…

Deixa-nos sós…

Entregues ao dilema
Eterno
Da identidade
E da diferença…

Da semelhança
E do diverso…

Nunca resolvido
Sempre adiado…

Nunca desejado
Sempre esperado…

Isabel Rosete
10/01/08
26/01/08
Não há amores-perfeitos
Apenas pedaços de nós
Que se vão dando e fragmentando
Na intimidade com o outro…

Amar:
O entusiasmo
Das Almas abertas
A todos os renascimentos…

A exaltação
Dos corações inquietos…

A embriaguez
Dos corpos libidinais
Ansiosos
Aflitos…

Amar:
A dor
A preocupação
A protecção…

O cuidado
A comunhão
A união
A intersecção…

O fluir oculto do sentir
A dádiva do eu no outro…

A marcha inconsciente
Das paixões
Dotadas ao desnorte
Dos afectos
Ao vaguear incerto
Dos instintos…

Amar:
Queima
Rói
Corrói
Destrói…

Aprisiona
Assalta
Sobressalta…

Amar:
Um encontro de Egos
Dispersos…

A comunhão
Das consciências em rebelião…

O estar próprio
Das almas altruístas…

A dádiva do Ser
Que por todos os entes e espalha…

O desassossego
Que chama
E inflama…

A ânsia
Que exclama
Reclama
Alucina
Proclama…

Isabel Rosete
09//01/08
25/6/01/08
Assim é o amor…

Força
Que move e comove
Despista
Rói
Corrói
Destrói…

Cego e surdo
Táctil e visual
Transporta-nos
Para a realidade
Do possível…

Para o possível
Do impossível…

Para o imaginável
Do inimaginável…

Para o sonho
Do in-sonhável…

Para as correntes tumultuosas
De um mar sem fim…

Para o infinito
Do próprio finito…

Para a alucinação
Da sensatez…

Para a irrazoabilidade
Do razoável…

Para o ilimitado
De todos os limites
Conscientes
Ou inconscientes…

Assim é o Amor
Uma força tremenda
Gigantesca…

Arrebatadora
Desmedida
Enorme…

Dentro de um tempo redondo
De um eterno retorno
Do mesmo e do outro
Com princípio e fim…

Isabel Rosete
26/05/07
26/01/08
Como não temo viver riscos
Como amo todos os desafios…

Ouso todos os excessos
Todas as hipérboles
Todas as excentricidades…

Ouso
Ousar o Tudo…

Isabel Rosete
19/12/07
26/01/08
Aqui estamos nós,
Homens,
Um dia rotulados de “animais racionais”…

Supostamente
Pensantes…

Supostamente
Sensatos…

Prudentes
Previdentes…

Detentores
De um raciocínio lógico-discursivo…

Hipoteticamente
Emersos
No melhor dos mundos possíveis…

Afinal
O que queremos de nós,
Seres errantes?

O que queremos do Mundo
Que em torno de nós
Se desloca
A uma velocidade incomensurável?

Que intentos nos movem?
O que pretendemos?

Apagar
Essa aura de entes
Onde
Um dia
Fomos depositados
Sem que o nosso querer
Fosse chamado a opinar?

Varrer
Este modo de Existência
De caos e de ordem?

Abolir
Este estado
Epimetaico e prometaico
Que sempre nos caracteriza?

Remover
Os des-equilíbrios
De que somos co-autores
E co-produtos
Voluntária
Ou involuntariamente?

Perdemos o rumo
A direcção…

Não encontramos mais
O fio de Ariana
Que comanda o nosso Destino…

Destino?
Mas, que Destino?

O de sermos meros pedaços enredados
De uma humanidade enlaçada
Nas malhas da sua própria teia?

Ariana e a Aranha
Estão sobre a caução do mesmo invólucro
Tão opaco
Quanto transparente
Tão sublime
Quanto miserável…

Ainda podemos falar
Da harmonia heracliteana dos contrários?

Do caos criativo que
Gera a ordem desordenada?

Isabel Rosete
19/01/2001
17/02/08
Finalmente
Sossego
Na melodiosa paz dos Anjos

Volto a ser infante
Adormeço
Com a serenidade clara da Lua…

Sonho outros mundos
Outras vidas
Outros estares…

Viajo por todos os espaços
Mesmo pelos mais inacessíveis…

Um imaginário suave e tranquilo
Traz-me a Paz
Sempre esperada em todos os momentos
Desta minha existência instável
Volúvel
Camaliónica….

Entranho-me nas mais labirínticas tramas
Deste Universo sem fim…

Vejo o Infinito
Encontro o silêncio dos orbes celestes…

O divino aureola-me
Entro em comunhão comigo mesma
Com todos os outros
Meros pedaços efémeros do meu caminhar…

Os meus pensamentos percorrem
A iter-mundaneidade do Mundo
Com pressa
Sem discrição…

Finalmente….
Sou Eu
E não mais o outro de mim mesma…

Isabel Rosete
03/09/07
16/02/08
Dali…

O inconsciente
O sonho…

O fantástico
O extraordinário…

A exuberância das formas
O surreal
Que a realidade esconde
Num mundo outro…

A intimidade do Ser
As profundezas da Alma…

O turbilhão dos instintos
Dos rostos e das máscaras...

O poli-cromático
O desconcertante…

A beleza do bizarro
O genial…

A metamorfose de todas as coisas
De todos os outros
De todos os traços
De todas as linhas…

Os bigodes retorcidos
As flores no cabelo…

As bengalas
Que apoiam
Uma presença nunca desaparecida…

Os elefantes
As gavetas…

As rosas
Que sangram e meditam…

Isabel Rosete
03/09/07
16/02/08