quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Entre-vejo,
Ao longe,
A invisibilidade dos seres
Encerrados no seu próprio casulo,
Emaranhados
Nas mais finas teias,
Da esmagadora infinitude.

Ante-vejo
Os caminhantes,
Doces e leves,
Em todos os caminhos paralelos,
Que a tragicidade existencial replicam.

Entre-Vivo
No Universo insólito
De um mundo sonhado,
Que da realidade terrena
Se afasta.

Ergo-me, então,
Para os límpidos céus,
Para a harmonia musical
Das divinas esferas,
Encobertas pela vil hipocrisia.

Afasto-me dos homens.
Paira a simplicidade
Do cosmos dos Anjos,
Guardiões
Das consciências apoquentadas,
Auditores
Dos pensamentos inconscientes,
Mensageiros
Dos insondáveis segredos
Das mentes abnegadas.

Isabel Rosete
Escrevo
Movida pela ternura de um beijo,
Pela meiguice in-discreta
Do olhar dos outros.

Escrevo
Por entre os silenciosos espaços
Das palavras,
Ditas e não-ditas.

Escrevo
Ao som do Grito
Universal do Pensamento,
Agitado pelos interstícios da Terra,
Rodopiante,
Em torno do seu próprio círculo,
Sempre Aberto,
Sempre redondo.

Isabel Rosete
Amemos
As flores
De todas as formas,
De todas as cores,
De todos os cheiros.

Amemos
A ternura de todas as pétalas,
Aveludadas,
De doces texturas,
Inigualáveis.

Amemos
O fundo gravitacional,
Que tudo abriga.

Louvemos
Todos os espaços astrais,
De luzes incandescentes.

Louvemos
O brilho redondo
Da infinitude do Universo,
O som distante
Das órbitas planetárias,
A informe forma
Das nuvens brancas.

Isabel Rosete
Com asas grandiosas,
Se dirigem os Anjos,
Para o misterioso topos da génese Universal,
Para o espaço intra-estelar
Dos céus comovidos.

Vivamos
No mundo dos Anjos,
Nas suas alas,
Indeléveis,
Que a Felicidade despertam.

Isabel Rosete
Celebremos
As noites de Lua cheia,
Todos os equinócios,
Todos os solstícios,
Todas as dádivas da Terra.

Celebremos
As glórias merecidas,
As batalhas vencidas,
Nos verdes campos,
Aonde a morte
Não regressará jamais.

Celebremos
O Aberto,
O Cantar
E o Ante-cantar,
Serenamente protegido
Pela aura dos Anjos,
Belos e terríveis.

Isabel Rosete
As árvores despidas,
Pelos ventos do Norte,
Acolhem as aves migratórias,
Que à Natureza doam,
Os mais nobres frutos,
De cada re-nascer.

A Terra abraça,
No seu doce leito,
As tenras crias,
Que suspiram pela Liberdade,
Numa tarde de imensa Alegria.
Não merecemos
As maravilhas da Criação.

Somos restos
De um Paraíso Perdido,
Sem glória.

Somos as mais efémeras criaturas
De um Mundo,
Que o sangue chora.

Movemos
Céus,
Terras
E mares.

Lançámos
As malhas de todas as redes,
E a dignidade não conquistámos.

O sabor da vitória dos homens
É mesclado
Com o sangue dos inocentes.

Para paragens incógnitas,
Foram atirados,
Jogados,
Lançados,
Sem solenidade.

Em espaços estilhaçados,
Foram depositados,
Sem identidade,
Sem nome,
Sem nada.

A minha Alma procura,
Sem cessar,
A Liberdade,
Esse espaço Aberto
Da expansão total do Tudo,
Onde não há acaso,
Nem ocaso,
Nem vazio,
Nem nada.

A minha Alma quer percorrer
Os círculos viscerais
De todos os entes.

A minha Alma ama a Totalidade,
Na sua Grandeza,
Que foge aos estreitos limites do Tempo,
Do Espaço, do Destino…

A minha Alma vagueia
Por todos os lugares.
Não cabe dentro de si própria.

A minha Alma procura o Aberto,
Onde o Tudo se funde,
Em perpétua comunhão com o Ser,
Fundo e fundamento de todas as coisas.

A minha Alma pensa o Mundo.
Mas, esmorece,
Perante o caótico cenário da miséria alheia.

A minha Alma quer mudar o Mundo,
As mentes das gentes agrilhoadas
À mesquinhez do pré-conceito,
Ao vergonhoso estado
Do mero sobreviver.

A minha Alma quer ultrapassar as barreiras
Do tempo e do espaço.
Quer ser eterna
E nessa eternidade mover o Mundo,
Na sua direcção adequada.

A minha Alma não é narcísica.
Vê-se ao espelho
E reconhece a sua própria Identidade.
Sofre com todos os “Epimeteus”…
Deseja todos os “Prometeus”…

A minha Alma sente-se só,
Desamparada,
Neste espaço cósmico des-humanizado,
Que não suporta a disparidade da alteridade.

A minha Alma quer renascer
Num Mundo Novo,
Sem rótulos,
Sem rebanhos,
Sem congeminações forçadas e infundadas.

A minha Alma quer crescer
Nas margens Infinitas de todos os oceanos,
Nos leitos Ilimitados de todos os rios,
Nas águas não-estagnadas,
Que à mudança, sempre, impelem.
A monotonia congela-me o Cérebro,
Irrita-me a Alma,
Ávida do sempre novo,
Do constantemente diferente,
Da metamorfose,
Do mistério,
Do enigma,
De todas as incógnitas…

A minha Alma suplica
Pelo desafio do desconhecido,
Do nunca visto ou imaginado,
Do im-pensado e do im-pensável.

A minha Alma caminha para o impossível,
Para o reino efémero da ausência de limites,
Para o paralelamente infinito,
Para todos os caminhos,
Até mesmo para os mais ocultos.

Procura a inocência primeira,
A leveza do Ser de todas as coisas,
Animadas e inanimadas,
Terrestres e celestes,
No seio dos dois lados da quadratura perfeita:
Os Homens, os Deuses, a Terra e o Céu.

A minha Alma busca o Infinito,
Na esperança de encontrar um Mundo Novo,
Exemplar.

Este nosso mundo está gasto,
Saturado,
Des-governado,
Demasiadamente costumeiro
Para quem deseja ver mais longe,
Para além das ilusórias aparências
Que ofuscam o olhar primogénito.
O Mundo está corrompido.
Rejeito-o completamente.

Recuso-me a compactuar
Com a hipocrisia,
Com as falsas verosimilhanças,
Com as vãs ironias,
Com as inglórias inteligências
Das mentes foragidas,
Que nada vêm.

Enjeito os espíritos inúteis,
Completamente inúteis,
Que, apenas, perpetuam,
Um saber “fantasiado”,
Com longos rasgos de ignorância extrema.
Não quero viver
No Inferno das noites afogueadas,
Na solidão das gentes,
Nos espaços atópicos
De cada pensamento,
Nos campos indefinidos,
Dos pensamentos dispersos.

Não quero a luz opaca
Dos olhares indiscretos,
O brilho negro
Dos falsos sorrisos,
A demagogia retórica
Das palavras imundas,
O cheiro nauseabundo
Das mentes em decomposição.
O que esperamos
Desta Humanidade,
Assim transviada?

O que esperamos
Deste Mundo cruel,
Indigno para os seres puros?

O que esperamos
Da ausência de senso
Dos que,
Pressupostamente,
Comandam as nossas vidas?

Esperança!
Mas que Esperança?
A da mudança do caos para a ordem?

Instaurado o caos,
Como ordem,
Resta-nos permanecermos
No vislumbre de qualquer espécie de expectativa,
Quiçá, possível!

Sorriam, sempre, como se as rosas não tivessem espinhos

As rosas chamam-se.
Falam-me dos amores
Possíveis
E impossíveis,
Serenos
E inquietos.

As Rosas chamam-me.
Falam-me dos amores
Abençoados
E amaldiçoados,
Comprados
E vendidos.

As rosas chamam-me.
Falam-me dos amores
Permitidos
E proibidos,
Dos que perpetuam a paz
E dos que a guerra provem.
Os Céus-Estrelados
Iluminam as almas dos amantes,
Calorosamente entrelaçadas.

Em silêncio permanecem.
Na harmonia musical,
Sustentam,
O ardor dos corpos nus.
Pensar o mar em marés de desassombro,
Ao som do canto das gaivotas que passam,
Anunciando tempestades violentas.

Os amantes suspiram,
Por entre os ventos do Norte.
No mar derramam o seu choro,
De sal e alento.

Não há choro que o mar não acolha,
Quando os corpos ardentes
Se lançam nas águas resplandecentes.
Amo o Amor.
O meu,
O dos outros,
Pelo prazer de o ter,
De o sentir,
Ou de o viver.

Amo o Amor,
Fonte dos prazeres eternos
Indescritíveis,
Memoráveis,
Jamais esquecidos.

Amo o Amor
Na sublimidade
De um beijo ardente,
Que em cada boca se vivifica.

No enlace
Dos corpos lânguidos,
Derretidos,
Esvaídos,
No bálsamo
Do orgasmo eternizado,
Em cada instante,
Nascido.

Amo o Amor
Das mentes des-vairadas,
Suadas
Pela intensidade,
Indominável,
Do Desejo.

Amo o Amor
Na instintividade
Da comunhão dos pares,
Jogados,
Nos lençóis soltos
Das camas desfeitas.

Botticelli, «Primavera», 1478


O brilho do Sol,
O cheiro suave e doce,
Do ar tranquilo,
Volta com a Primavera.

As flores despontam
E apontam para um novo estado,
Coberto de Graça.

Os pássaros,
Fazem ouvir o seu canto,
Não pré-meditado.

As nuvens correm,
Rumo
A uma nova des-floração.

O brilho intenso,
Das noites claras,
Afaga-me a Alma.

A alegria da Vida,
Desperta em todos os rostos,
A distinta formosura da Criação,

A beleza de cada ente,
Mantém-se no palco,
Da eterna comunhão.

O estares não se aquietam,
E os amores despertam,
Para a colheita de novos frutos.

Nasce a reviravolta ardente
De outros desejos,
Ainda não-consumados.

Tudo acontece,
Na embriaguez sólida,
De um eterno beijo.
Penso no amor.
Assoma a angústia
Dos sentimentos vividos
E por viver.

Amor é dor,
Calafrio do corpo
Que se arrepia,
Desassossego da Alma
Que se atrofia…
Quero viver todas as vidas,
Todas as realidades,
Todas as existências…

Todos os Povos,
Todas as Nações,
Todos os Estados…

Todas as personagens,
Todas as máscaras,
Todos os véus…

Quero o Mundo em mim,
Os mares,
Os oceanos…

As estrelas,
Os planetas,
As galáxias…

Quero abraçar o Todo,
Os outros,
Que estão e não estão dentro de mim…

O Infinito,
O Indeterminado,
O Indefinido…

O mistério,
O enigma,
A incógnita…

Quero todas as dúvidas,
Todos os porquês,
Todas as interrogações…

Todos os silêncios,
Todas as pausas…

Todos os vazios do cheio das palavras,
Todas as entrelinhas…

Todos os sons,
Todos os olhares…

Todos os gostos,
Todos os cheiros…

Quero a criação,
O renascer,
A renovação…

Quero todos os amores,
Todas as paixões,
Todas as sensações,
Todos os desejos…

O real,
O imaginário,
O virtual…

Quero a essência das coisas-mesmas,
O des-vendar do Ser,
A ocultação do Nada…

A transcendência da alteridade,
A pureza de cada alma,
A sensibilidade de cada corpo…
O Amor crava-se no meu peito
Como um espinho
De uma rosa
Sangrenta,

Aveludada,
Doce,
Sedosa,

Quente,
Misteriosa,
Enigmática.

A Felicidade,
É o paradoxo
Dos amores
Verosímeis
E inacreditáveis.

O Amor espalha-se por todas as veias,
Tornar-se plasmático,
Dividido,
Unido.

Move-se nessa massa
Vermelha,
Que circula
Em todas as células,
Em todas as veias,
Em todos os poros.

Tudo inunda,
Tudo faz,
E des-faz,
Na dimensão paradoxal
Do Infinito Universo do sentir.
Singelos e leves
Nos movemos
No espaço interplanetário
De todos os amores,
De todas as paixões,
Não nutridas,
Pela reciprocidade dos sentires.

Paixões brutais,
Consomem,
Aniquilam,
Os espíritos em des-união.

Paixões selváticas,
Alimentam o amor e o ódio,
Tão próximos
E tão distantes.

Paixões bravias,
Vulcanizam,
Os pedaços dos pares
Em ininterrupto turbilhão.
Eleva-se,
A singela nudez
Dos corpos em comunhão,

A pura leveza
Dos olhares,
Que já não são pálidos,

O riso das crianças,
De olhos claros,
Que a alegria espalham,
Por todos os lugares.

A Paz
Torna-se visível,
Até para os olhos míopes.

O Amor permanece,
No seu devido lugar,
Mesmo que in-certo.

A Felicidade regressa,
A todas as Almas,
Outrora des-pedaçadas.

Cantamos,
Sem dor,
Todas as dores.
E o sofrimento torna-se leve.
Cruzam-se os olhares,
Na paz perpétua
De um saudoso beijo.

Não há mais re-volta.
Paira a serenidade,
A tranquilidade intranquila
De todos os desejos.

Tudo se move,
No seu ritmo certo,
Absolutamente certo.

Tudo permanece
No seu devido lugar,
Sem des-vios ou des-norte.

O desfiladeiro,
Não apavora mais
Os olhares inquietos.

O Mar,
Enrola-se na areia,
Ao som do ébrio canto das Sereias.

Na paz dos Anjos,
Se acalentam as tempestades,
Fatigadas,
Do seu intenso peregrinar.

Os segredos
Da Vida e da Morte,
Já não se ocultam mais.

Os corações despertos,
Estão aí,
Preparados para todos os re-começos.
Não suportamos sobreviver
À ausência do Nada,
À Morte não anunciada,
Que sempre nos espera;

Não suportamos sobreviver
Ao Vazio da extensão do Ser,
Que se perpétua
Por todas as épocas,
Por todos os tempos,
Por todos os lugares…
Reais,
Possíveis,
Imaginários,
Ou seja lá o que for!…

“A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração“


Saudades, chegam,
Da infância que não tive,
Dos sonhos que não sonhei,
Dos amores que não vivi.

Nostálgica, estou,
De um Mundo não-visto,
De um Paraíso não-conquistado,
De uma Existência não-saboreada,
Das Paixões não-concretizadas.
A morte do Outro
Apraz-nos bem,
Engrandece-nos o Ego
Em busca de auto-satisfação…

Quem disse que o homem
Nasce naturalmente bom?

Quanta ilusão,
Quanta alucinação,
Quanta aparência,
Quanta insolência!...

A finitude do outro
E do mesmo,
O acabamento
A aniquilação…

Um outro espaço,
Um outro lugar,
Um outro tempo,
Uma outra vida…
Não sei o que é feito do mar,
Que os peixes
Não mais acolhe…

Não sei o que é feito do Amor,
Que os corações
Não mais comove…

Não sei o que é feito da Amizade,
Que os amigos
Não mais venera…

Não sei o que é feito da Paz,
Que as guerras
Não mais amortece…

Não sei o que é feito da Humanidade,
Que o Mundo
Não mais protege….

Não sei o que é feito do Ser,
Que os entes
Não mais presentifica…

Não sei o que é feito de Deus,
Que às criaturas
Não mais se manifesta…

Não sei o que é feito dos caminhos,
Que à Felicidade
Não mais conduzem…

Não sei o que é feito de mim,
Que o Destino
Não mais encontro….

«Amor-próprio»


Não sei como Amar o outro!
É tudo tão fútil,
Tão vulgar,
Tão comum!

Procuro o in-habitual,
O outro lado das coisas,
Nem sempre virado para mim.
Só visto para além do visível.

Desejo o oculto,
O mordaz,
O irónico,
O sagaz,
A inteligência,
Que vê longe,
Que escuta os infra-sons,
Que olha o infinito,

Não sei como Amar o outro!
É tudo tão insensato,
Tão efémero,
Tão fugaz!

Procuro a eternidade
De cada momento,
A delicadeza
De cada gesto,

A sublimidade
De cada sorriso,
A beleza
De cada olhar.

Desejo a paz,
A serenidade,
O amor-próprio,
Na sua identidade e alteridade.

Busco o amor do outro
Na sua especificidade,
Pureza,
Realidade,
E autenticidade.

Porém,
Permaneço no vazio
Da solidão incógnita,
Sem o outro de mim.
Respiro o desejo libidinal
De um intenso querer.

Inspiro o prazer ansiado,
Desejado,
Que me des-assossega.

Na minha Alma
Penetra
Vulnerável vidro,
Disposto a quebrar-se
Em mil pedaços
Espalhados
Pelo chão,
Dispersos,
Por todos os lugares
Lançados,
Soltos,
Sem ordem,
Sem ligação,
Nem relação possível.

A amargura
Instale-se no meu peito,
Por esse outro que não vem.

Está aí
Mas, não aqui.

Paira no meu pensamento,
Consome-me visceralmente,
Deixa-me só.
Pelo Amor,
Corpos e almas se vivificam.
Em comunhão
Se consomem,
Na alegria
Aberta do Desejo.

Pelo Amor,
Outros horizontes se rasgam,
Para além do visível.
Outros Mundos
Se mostram,
Para além do apreensível.

Pelo Amor,
Outros estares
Se revelam,
Outros sentires
Se manifestam,
Para além do cognoscível.
Os meus amores vão e vêem,
Tão firmes e tão efémeros,
Tão nostálgicos e tão saudosos!

São eternos instantes de prazer,
Guardados pela memória que os presentifica,
Em todos os momentos de solidão.

São pedaços de mim,
Estilhaçam-me o peito,
Inquietam-me o corpo e a Alma.

São revoltosos,
Transpiram um desassossego megalómano,
Transluzem a impaciência em efervescência.

Os meus amores são ansiedade em estado líquido,
Exausto devir de adrenalina pura,
Correntes sanguíneas em excitação.

Estares explosivos,
Impulsivos,
Gritantes…

Não compactuam com as regras impostas,
Ultrapassam todos os limites,
O convencionalmente estabelecido,
Os freios hipócritas da moral instituída.

Os meus Amores são Excesso,
Hipérbole,
Des-medida,
Deflagração perene do sentir.

Não se contêm mais dentro de mim.
Vagueiam pelo espaço libidinal
De um Universo ilimitado,
Sem princípio nem fim.
O Amor está na essência
De um destino
Traçado por encontros
E des-encontros.

Move-se
Na corda bamba
Do equilibrista,
Tão frágil
Como as asas dos Anjos,

Tão forte
Como as montanhas rochosas,
Tão intenso
Como as tempestades.

O Amor des-gasta a Alma,
Invade as suas entranhas
E revoluciona-as,
Sem digestão.

Percorre todo o corpo,
Exalta-o,
Enobrece-o,
Ou subestima-o.

O Amor é um viandante.
Des-basta
Todas as moradas,
Desprevenidas.

Vem,
Passa,
Vai,
Deixando
Longínquas pegadas
Impressas,
Qual fóssil
Em terreno des-conhecido.

O Amor também mata,
Também dói!

Espelha
O inquietante composto,
De alegria e de felicidade,
De exaltação
E De ex-uberância,
De nudez
E de pureza,

Do Tudo
E do Nada.
O Amor está na essência
De um destino
Traçado por encontros
E des-encontros.

Move-se
Na corda bamba
Do equilibrista,
Tão frágil
Como as asas dos Anjos,

Tão forte
Como as montanhas rochosas,
Tão intenso
Como as tempestades.

O Amor des-gasta a Alma,
Invade as suas entranhas
E revoluciona-as,
Sem digestão.

Percorre todo o corpo,
Exalta-o,
Enobrece-o,
Ou subestima-o.

O Amor é um viandante.
Des-basta
Todas as moradas,
Desprevenidas.

Vem,
Passa,
Vai,
Deixando
Longínquas pegadas
Impressas,
Qual fóssil
Em terreno des-conhecido.

O Amor também mata,
Também dói!

Espelha
O inquietante composto,
De alegria e de felicidade,
De exaltação
E De ex-uberância,
De nudez
E de pureza,

Do Tudo
E do Nada.

Não sei amar
Sem sofrer,
Sem ausentar a dor,
Num sereno
Campo de girassóis.

Não sei amar
Na quietude
Das noites de Lua cheia,
Na incandescência do fim da tarde,
Ao pôr-do-sol.

Não sei amar
Na suavidade das dunas
Das praias desertas,
Que as gaivotas sobrevoam,
Anunciando tempestades.

Não sei amar
Na paz,
Imutável,
De um encontro de amantes,
Insaciáveis e indiscretos.
Amar,
O entusiasmo
Das Almas abertas
A todos os renascimentos;

A exaltação
Dos corações inquietos;
A embriaguez
Dos corpos libidinais,
Ansiosos
E aflitos.

Amar,
A dor,
A preocupação,
A protecção;
O cuidado,
A comunhão,
A união,
A inter-secção;

Amar,
O fluir oculto do sentir,
A dádiva,
Do Eu no Outro;
A marcha,
Inconsciente,
Das paixões,
Condenadas ao des-norte
Dos afectos,
Ao vaguear,
Incerto,
Dos instintos,
Imprevisíveis.

Amar,
Queima,
Rói,
Corrói,
Destrói;
Aprisiona,
Assalta,
Sobressalta…

Amar,
Um eterno encontro de Egos,
Dispersos;
A comunhão
Das consciências,
Em rebelião;
O estar próprio,
Das almas altruístas;

Amar,
A dádiva do Ser,
Que por todos os entes
Se espalha;
O desassossego,
Que chama
E inflama;
A ânsia
Que exclama,
Reclama,
Alucina
E proclama.

«Amor-perfeito»


Não há amores-perfeitos.
Apenas pedaços de nós,
Que se vão doando
E fragmentando,
Na intimidade com o outro.
Assim é o amor,
Uma força que move e comove,
Despista,
Rói,
Corrói,
Destrói!...

Cego e surdo,
Táctil e visual,
Move-nos
Para a realidade
Do intolerável,
Para o possível
Do impossível,
Para o imaginável
Do inimaginável,
Para o sonho
Do in-sonhável…

Para o infinito
Do próprio finito,
Para a alucinação
Da sensatez,
Para a irrazoabilidade
Do razoável,
Para as correntes tumultuosas
De um mar sem fim…

Para o ilimitado
De todos os limites,
Conscientes
Ou inconscientes.

Assim é o Amor,
Uma força tremenda,
Gigantesca,
Arrebatadora,
Desmedida,
Enorme.

Assim é o Amor,
Sempre dentro de um tempo redondo,
De um eterno retorno
Do mesmo e do outro,
Com princípio e fim.
Amo o Amor.
O meu,
O dos outros,
Pelo prazer de o ter,
De o sentir,
Ou de o viver.
Amo.
Não sei bem o que amo!

Tenho medo de voltar a amar,
De voltar a sofrer,
De voltar a sonhar.

As ilusões crescem,
Quando se ama.

Emerge a dor,
A insatisfação,
A insanidade,
A insensatez.

Exterioriza-se a cólera
Na presença ausente
De um outro estado,
Sempre inacabado,
Sempre adiado.

Caminhos que não conduzem
A parte alguma,
Espreitam-nos no amor.

Nos caminhos
Que se bifurcam,
Perdemo-nos
De nós
E do outro.

Encontramos o desfiladeiro.
Assoma o Vazio
De uma Alma deserta,
Dispersa,
Em con-fusão,

Alienada pela adrenalina,
Que sobe,
Escorrega,
Desampara
E inquieta.
Uma paixão ardente me consome,
Mina todo o meu ser,
No mais recôndito de si.

Trespassa a minha Alma,
Com agudos espinhos.

Uma fina dor
Eleva-se,
Mexe e remexe
As minhas entranhas.

Estremeço,
Quando ouço a tua voz,
Meu amor.

Todo o meu corpo vibra,
Na proximidade da tua presença.

Sinto-me em mim!

És um sopro de Vida,
Alimentas todo o meu ser,
Sugas todas as minhas energias.

Fico débil!
Permaneço na loucura
De uma hipersensibilidade indescritível,
Incontrolável,
Desesperadamente avassaladora,
Desconcertante,
Desordenada.

E, aqui estou,
Irremediavelmente só.
Tudo morre,
Tudo nasce,
Tudo se transforma.

Nada permanece!
Nada permanece!

A perpétua mudança
Impera,
Num equilíbrio inextinguível.

O Ser está aí,
Estável,
Em cada alvorecer,
Em cada des-floração.

Oculta-se,
Em todas as coisas.
Des-vela-se,
Em todos os entes.

Aparece
E desaparece,
Num círculo redondo.
Somos amantes
Inter-seccionados.

Esquecemos o Mundo.
Fechamo-nos
Nas nossas próprias conchas.

Esquecemos os Homens,
Queremos ser só nós,
Nada mais importa!

O Amor preenche-nos.
Por completo,
Alimenta
Os nossos corpos
Ardentes,

As nossas almas,
Inundadas,
De intensa alucinação.

Temo-nos um ao outro.
E isso basta-nos.
É mais do que Tudo.
Está para além do Nada.

Tornamo-nos esféricos,
Auto-suficientes.
Esquecemos o Universo.
Permanecemos
Em todos os espaços.

Somos o mesmo corpo,
A mesma alma,
O mesmo sangue,
O mesmo plasma,
A mesma pele.

Somos um só organismo,
Que se auto-preenche,
Prenhe de fertilidade.

Esquecemos a Vida,
Vadia,
Repleta de futilidades.

Esquecemos a morte
Somos eternos!
Por amor se mata,
Por amor se morre.

Por amor se odeia,
Por amor se deseja.

Por amor se unem os corpos,
Por amor se aniquilam.

Por amor se iluminam as almas,
Por amor se despedaçam.

Por amor percorremos montes e vales,
Por amor destruímos montanhas.

Por amor o mundo se une,
Por amor se fragmenta.

Paul Klee, «Rosas sangrentas»


Amar é coisa dos homens,
Entes solitários,
Incapazes de percepcionar
A Solidão como outra forma de Amor.

E isso não basta
A estas criaturas errantes?

Não.
Não basta!
Nada basta!

Há sempre um mais,
Há sempre um depois,
Que aflora
Em todos os pensamentos
Translúcidos,
Recônditos
Ou inconscientes.
Pensamos na morte
Em todos os momentos
Da nossa existência,
Individual e colectiva,
Mesmo
Que o façamos
Inconscientemente.

Receamos a morte,
A única certeza absoluta
De que dispomos,
Um vir a ser inevitável
Completamente irreversível.

A morte é lenta,
Até chegar
O derradeiro momento,
O instante final
Do seu incontornável
Aparecimento.

A todos
Bate à porta,
Sem aviso prévio
De recepção anunciada.

A morte?
Pois,
A morte!

Esse outro lado da Vida
Que não está iluminado,
Voltado ou virado
Para nós?

O que tememos?
Aquilo que ignoramos?

A morte!
O que é a morte?

A separação da alma e do corpo?
A passagem para um outro modo de ser?

O passaporte para uma outra Vida?
A entrada num outro estado de graça
Pleno e purificado?

Um horror?
Um Inferno?
O Nada?
Não somos Sócrates,
Não abraçamos a Morte
Como um bem supremo.

A morte do outro,
A morte de nós mesmos…

Sempre esperada,
Sempre adiada…

Sempre próxima,
Sempre distante…

Uma figura do Destino,
Implacável…

Que todas as coisas conduz,
Ao seu próprio fim.

Um estado outro,
Que nem ousamos imaginar.

Apavora,
Atormenta…

Sempre está aí,
Numa outra face…

Numa presença,
Ausente,
Que não queremos presentificar.

O mar! Sim o Mar!
Sempre o Mar!
Espelho dos horizontes,
Ao longe avistados,
Pelos Espíritos inquietos.

O hipnótico canto das Sereias,
As Almas extasiadas
Pelo sopro dos sons ébrios.

A transparência das gotas espargidas
Pelos corpos nus,
Leves e puros.

Os corações perdidos
No fogo do amor,
Sempre re-nascido.

O devir das águas,
As areias esparsas
Das paixões enfraquecidas.
Amamos os outros,
Mas não amamos
Os outros.

Amamo-nos a nós mesmos,
Centros de todos os Mundos,
De todos os Universos,
De todos os espaços Siderais.

O egocentrismo,
É a nossa
Marca perpétua.

A alteridade
Está aí,
Vemo-la,
Escutamo-la,
E recusamo-nos
A senti-la.

Queremos o outro,
Mas não queremos o outro!
Queremo-nos
A nós próprios,
Apenas em nós próprios,
E não o outro.
Fazemos do outro
Um outro de nós.

Giramos em círculo,
Nem sempre perfeito,
Em torno do outro,
Em torno de todos os outros de nós.

Um eterno retorno
Ao Ego,
É a marcha
De todos os nossos passos.

Bifurcamo-nos
Nos caminhos dos outros,
Para nos encontramos,
Sempre,
Que permanecemos dispersos.

A incessante busca da Identidade
É o traço do nosso Destino,
Errante,
Perplexo,
Complexo.

Isabel Rosete