Estas minhas
doenças vão-me matando aos poucos. Aprisionam-me na minha cama, neste meu
quarto fechado, por onde só entra, ainda, a luz do Sol. Desde meados de Abril
que me perseguem, sem dó, como a polícia persegue um criminoso, há muito
procurado.
A minha alma
está cada vez mais deprimida, cada vez mais definhada; o meu corpo cada vez
mais debilitado, cada vez mais amortecido para se erguer. O tédio, a monotonia,
a solidão, abafam-me.
Lá vou
escrevendo, de quando em vez, quase sem força para os dedos se moverem no
teclado do computador, entre os compassos de descanso, escasso, das tonturas e
das náuseas, que me impedem de pensar com a agudeza habitual da minha mente, em
quase desfalecimento. A falta de imunidade tudo leva e tudo traz, nomeadamente
a impossibilidade de sair de casa e de cumprir os meus compromissos pessoais e
profissionais, de trabalhar, de fazer o meu trabalho, de fazer a minha vida.
Aqui estou só
e desamparada, sem família e sem amigos (estão todos mortos!), na minha grande
solidão interior, em desmaios de ansiedade para voltar a ser como era, para
voltar a ser quem era (agora sou, apenas, um quase invisível reflexo de mim).
Foi-se o vigor, a alegria de viver, mesmo que ainda exista um indelével traço
de esperança.
Sobrevivo
numa imposta paciência morna, sem paciência alguma para aguentar este
sofrimento insuportável. Corroem-se-me os ossos; nas minhas veias, o sangue
corre num lentidão tão intermitente, que quase já não o sinto. Só sinto a dor,
o mal-estar imenso de assim caminhar sentada, deitada, com os músculos
anestesiados.
Estou em
ruínas! Sou todas as ruínas!
Estou
deserta! Estou no deserto de mim!
Desculpem
este meu desabafo.
Isabel Rosete
03/05/2013