terça-feira, 4 de setembro de 2007

Somos Amantes

Somos amantes
Inter-seccionados…

Esquecemos o Mundo
Fechamo-nos
Nas nossas próprias conchas…

Esquecemos os Homens
Queremos ser só nós
Nada mais importa…

O Amor preenche-nos
Por completo…

Alimenta
Os nossos corpos
Ardentes…

As nossas almas
Inundadas
De intensa alucinação…

Temo-nos um ao outro
E isso basta-nos…

É mais do que Tudo
Está para além do Nada…

Tornamo-nos esféricos
Auto-suficientes…

Esquecemos o Universo
Permanecemos
Em todos os espaços…

Somos o mesmo corpo
A mesma alma…

O mesmo sangue
O mesmo plasma
A mesma pele…

Somos um só organismo
Que se auto-preenche
Prenhe de fertilidade…

Esquecemos a vida
Vadia
Repleta de futilidades….

Esquecemos a morte
Somos eternos…

Isabel Rosete
06/08/07
25/01/08

Sinto a Humanidade

Sinto a Humanidade
Penso nos Homens
No Mundo que criaram
Em pleno estado de agitação…

Os meus horizontes auditivos alargam-se
Escuto o pulsar assustador
Dos corações
Aflitos
Amargurados
Despedaçados…

Já não ousam mais sonhar
Já não ousam mais esperar…

Numa aura longínqua
Sentem
Pressintam
A vizinhança
Da salvação…

A fonte da Fé
Secou…

Cristo
Já não é milagreiro…

Violência
Crime…

Desacato
Insanidade…

Enchem
E preenchem
A panóplia
Do Mundo em que vivemos...

Isabel Rosete
14/07/07
23/01/08

Pensar a Humanidade

Pensar a Humanidade…

É descortinar o abismo do Ser
O inquietante momento originário
Do Tudo e do Nada…

É presentificar
A metamorfose
A mudança…

As múltiplas faces
De entes camalionicos
Eternamente vagueantes
Em derredor
Do seu próprio círculo
Descentrado…

Do ponto-chave
Da gravitação
Universal…

É o des-velar de caminhos cruzados
Entre-cruzados…

De encontros
E desencontros…

Do determinismo
E da liberdade
Do livre-arbítrio
E da vontade…

È o despertar de uma racionalidade
Que apesar
De todos as calamidades
Ainda se considera imaculada…

Nascemos com o rótulo
De “animais racionais”…

O que diremos
Dessa “racionalidade”
Perante o vandalismo ecológico
O des-equilíbrio da Terra e dos Céus
A de-sordem do Mundo
O caos cósmico … ?

A inversão de todos os valores
O aparecimento de novos valores
Sem fundamento plausível …?

A indignidade
A des-igualdade
A intolerância
A intransigência
A insensatez
A mesquinhez
A indiferença …?

Isabel Rosete
14/07/07 - 5.00h
23/01/08

Não sei Viver

Não sei viver
Sem sonhar…

Sem o prazer
De uma doce
Ou terrível ilusão…

Sair
Evadir-me…

Uma necessidade
Imperiosa…

Urge viver outros mundos
Outros espaços
Outras gentes…

Outras realidades
Outros universos
Outros planetas…

A realidade
Presente
Esgotasse-se
Num instante…

Torna-se vazia
Sem essência
Sem Nada…

O Mundo
É tão grande
E tão pequeno
Ao mesmo tempo…!

Esmaga-me
Comprime-me…

Transporta-me
Para outros lugares…

Preenche-me
Torna-me vazia…

Um infinito paradoxo
Instala-se…

Um jogo de forças contrárias
Impõe-se…

Em atracção
E exclusão
Permanentes…

Tudo morre…
Tudo nasce…
Tudo se transforma…

Nada permanece…
Nada permanece…

A perpétua mudança
Impera
Num equilíbrio inextinguível…

O Ser está aí
Permanecente
Em cada alvorecer
Em cada des-floração…

Oculta-se
Em todas as coisas…

Desvela-se
Em todos os entes…

Aparece
E desaparece
Num círculo redondo…

Isabel Rosete
06/08/07
25/01/08

Não Posso Pensar...

Não posso pensar
No rosto dos homens
Sem ver o interior
Do seu rosto…

Cada expressão
Cada acto…

Cada gesto
É um sinal
Visível…

Da fragmentação
Do sobressalto…

Da agonia
Do prazer
Comoção…

Tudo se passa
Como se alguma
Faltasse ao viso humano…

Um sorriso
Por vezes
Doce
Por vezes
Pardacento…

A Alma humana
Destituiu-se de si….

Paira
Na bruma
Das tardes cinzentas
Sem paz…

Percorre
Os infinitos caminhos do Mundo…

Procura o Paraíso
Em todos os corpos outros
Sem saber
Qual a sua linhagem…

Ofusca-se
Com os raios do Sol
Vagueia
Pelas ondas do mar
Tumultuoso…
Parceiro dos ventos do Norte
Que consigo
Tudo arrastam…

Isabel Rosete
06/07/07
26/01/08

Amamos os Outros...

Amamos os outros…
Mas não amamos
Os outros…

Amamo-nos a nós mesmos
Centros de todos os Mundos
De todos os Universos
De todos os espaços siderais

O egocentrismo
É a nossa
Marca perpétua

A alteridade
Está aí
Vemo-la
Escutamo-la
E recusamo-nos
A senti-la

Queremos o outro
Mas não queremos o outro
Queremo-nos a nós mesmos
Em nós mesmos
E não no outro…

Fazemos do outro
O outro de nós
Giramos em círculo
Nem sempre perfeito
Em torno do outro
De nós…

Um eterno retorno
Ao Ego
É a marcha
De todos os nossos passos

Bifurcamo-nos nos caminhos dos outros
Para nos encontramos
Sempre que permanecemos dispersos

A incessante busca da Identidade
É o traço do nosso destino
Errante
Perplexo e complexo…

Isabel Rosete
6/08/07
26/01/08

Van Gogh...



Van Gogh…

Um par de sapatos
De camponês
Empoeirados
Nos trilhos
Das paisagens imaculadas…

Os caminhos do campo
Pisados
Por leves passos…

A fertilidade
O crescimento…

A celebração
Da pureza de todas as coisas…

A beleza singela
Das coisas simples…

Do trabalho do campo
Da charrua
Do arado…

Da colheita
Das batatas
Do trigo
Com que se faz o pão…

Da sesta ao pôr-do-sol
Dos corpos exaustos
Em plena união com a Natureza…

O amor pela Terra
A preservação
Da castidade de todos os entes…

Da germinação
De todos os frutos
De todas as flores…

Dos girassóis
Das papoilas
Dos lírios roxos…

Que engrandecem
As cores do mundo…

Do virgem canto dos pássaros
Que sempre vão
Que sempre voltam
Num eterno peregrinar…

Isabel Rosete
06/08/07
25/01/08

Quero viver todas as Vidas ...

Quero viver todas as vidas
Todas as realidades
Todas as existências…

Todos os Povos
Todas as Nações
Todos os Estados…

Todas as personagens
Todas as máscaras
Todos os véus…

Quero o Mundo em mim
Os mares
Os oceanos…

As estrelas
Os planetas
As galáxias…

Quero abraçar o Todo
Os outros
Que estão e não estão dentro de mim…

O Infinito
O Indeterminado
O Indefinido…

O mistério
O enigma
A incógnita…

Quero todas as dúvidas
Todos os porquês
Todas as interrogações…

Todos os silêncios
Todas as pausas…

Todos os vazios do cheio das palavras
Todas as entrelinhas…

Todos os sons
Todos os olhares…

Todos os gostos
Todos os cheiros…

Quero a criação
O renascer
A renovação…

Todos os amores
Todas as paixões
Todas as sensações…

O real
O imaginário
O virtual…

Quero a essência das coisas
O desvendar do Ser
A ocultação do Nada…

A transcendência da alteridade
A pureza de cada alma
A sensibilidade de cada corpo…

Isabel Rosete
27/12/07
26/01/08

Apolo e Dionísos


Apolo toca a sua lira
Faz brotar o sonho
A ilusão
A medida ....

A aparência
O brilho
A forma….

Dionísio solta a embriaguez
O delírio
O êxtase
O instinto...

A força selvagem
Das entranhas da Terra
Num único e majestoso canto
De celebração
Sem o comércio das palavras
Incapazes de dizer o indizível…

Resta o inefável
O enigma
O mistério...

O ante-cantar
Que as almas
Dignifica…

Isabel Rosete
31/o5/ 07
(7h.20m)
25/01/08