quinta-feira, 5 de março de 2009

Meros farrapos
Nos tornámos,
Nós, os pretensos
Arautos da Razão.

Razão!?
O que é a Razão?
Não sabeis, pois não?

A palavra degenerou-se,
Gastou-se,
Transmutou-se para um outro,
Que jamais é o outro de si mesma.

Continuamos a carregar este rótulo,
O de sermos racionais,
Cada vez mais vazio,
Cada vez mais insano...

Não é Justiça que nos move,
Não é o Bom-Senso que nos determina,
Não é a Ética que nos rege!...

O que nos alimenta
Ou des-nutre,
Sobe o nome da Razão?

A demagogia e a retórica,
Degeneradas;
O poder e a ambição,
Des-medidas;
A intolerância e a discriminação,
Arrogantes,
Sem fundamento plausível.

É nisto, Homem,
Movido pelas escaldantes farpas do Demo,
Que te transformas-te,
Por conta própria.

Isabel Rosete
Silêncios políticos

Um Silêncio remoto
Comanda a voz da oposição.
Um rosto vazio de esperança
Apresenta-se ao País.

Sem convicção
Nem persuasão,
Nos movemos,
Como se a causa
Pela qual lutamos,
Já estivesse perdida.

Qual causa?
Qual luta?

Se sabeis a resposta,
Dizei-me,
Por favor,
Porque não a vislumbro.

Isabel Rosete
Sinto-me só,
Num espaço atopos.

Não amo a ilusão do Nada,
Mas a solidão do Tudo.

Isabel Rosete
Portugal: Uma Pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os Mundos de outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

Isabel Rosete

A Guerra, sempre a Guerra, em nome da Paz! …

Pátrias desoladas pelos horrores da Guerra. Corpos despedaçados cobrem a Terra com um manto vermelho. O sangue tinge as águas, daqueles que foram e não mais voltaram. Almas ultrajadas vagueiam por este Universo incógnito, sem Destino.

Uma criança chora, a preto e branco. Outra soluça, de olhos esbugalhados pelo horror, ao mesmo tempo que se esconde dos Homens de verdes fardas, que correm, de arma em punho, para todos os lugares, pelo sórdido prazer da morte e do sangue. Já não têm Fé, nem Paz, nem Amor, nem Esperança, nem Nada… Já não sabem que são humanos!
Movem-se como autómatos. Tornam-se meras máquinas programadas para matar, indiscriminadamente. A Guerra torna-se um vício, um hábito enraizado, qual nicotina, cuja ausência desatina.

Não há mais um lar habitável, para além deste cenário de todas as desgraças. Restam as trincheiras, os campos de batalha, onde a morte de uns é a vida de outros.

Violência e mais violência… Atrocidades e mais atrocidades… movem um ciclo completamente vicioso, sem princípio nem fim. A agressividade é a marca perpétua dos espíritos robotizados dos fazedores da Guerra.

Fazer Guerra para alcançar a Paz, dizem os mentores dos pseudo-projectos de salvação da Humanidade. Que grande ironia! Que tremenda hipocrisia desses espíritos insanos!

A Guerra é o chamamento, sem fim, das mentes desejosas de expulsar a agressividade, durante anos contida, a violência, sempre reprimida, recalcada pelo convencional, pelo instituído, pelo “politicamente correcto”, nem sempre com fundamento válidamente visível.

Como queria ser Deus! Ah, como queria ser Deus! O Todo-Poderoso, aquele que tudo pode, para aniquilar essa face negra do coração dos homens.



Isabel Rosete
O destino desloca-me.
Não sei para onde vou!

Caminho por todas as estradas.
Não encontro o meu rumo!

Vagueio pelos trilhos do Pensamento.
Não me reconheço mais!

Procuro a serenidade nos olhares dos outros.
Não encontro o seu verdadeiro viso!

Ergo-me, magnânime, afirmando a minha identidade.
Não escuto senão a dissimulada hipocrisia!

Isabel Rosete
A pujança da escrita
Enobrece-me a Alma.
Torna-a sensível,
Sempre desperta
Para os infinitos traços
Dos exasperáveis actos dos Homens,
Que avançam,
Sem auto-crítica,
Sem racionalidade…

Isabel Rosete

Ainda há espaços escondidos nos corações dos Homens!

Movo-me no âmago amargo
Do fingimento alheio.
Ergo-me com o escudo da Verdade,
Que nem sempre vence,
Nesta cova de Leões,
Protagonizada
Pela vã glória.

Caminho pelas estradas da vida.
Não sei onde vou parar!…


Isabel Rosete
Silenciar a voz
Na face oculta
Do devir do mundo…

Vozes dispersas,
Ouvem-se ao longe!...

Isabel Rosete