terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Universo derrama lágrimas
De um insondável silêncio
De sangue
De angústia
De morte…

Insuflado pelo ódio dos Homens
Des-orbita-se
Des-concentra-se do ante-cantar primordial
Que da lava viscosa
Em Terra firma
Não mais se transformou.

É uma massa difusa
Uma amálgama de lixo cósmico
De pedaços soltos caoticamente organizados
Num centro que não é centro algum
Num Topos
Que não é mais um lugar natural,
Num espaço
Que não tem mais consistência;
Num tempo
Que não é mais Tempo
Nem finitude
Nem eternidade!

Um universo perdido
Em órbitas desencontradas
Em revolta intra-estelar
Em ritmo desconcertante…
Eis o que fizemos
Des-fizemos
E não conquistámos mais
Por essa pobre angústia nossa
De aves de rapina
Ou por essa dilacerada e sórdida leveza
De asas de condor.

Isabel Rosete
04/01/2009


IDENTIDADE

Assumir, convictamente, a Identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, fundeadas no espaço camaliónico das diferenças não aceites, da imposição de um padrão comum, do estereotipado, onde não há lugar para o ser-si-mesmo, nesta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum que, na generalidade, não passa de uma mera utopia demagógica.
Vigora a mais deslavada hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza intrínseca à essência do universo físico e humano, a que já não pertencemos mais.
Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do des-equilíbrio dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos Homens que clamam o Paraíso perdido?
O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, des-norteada, que hoje somos.
Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzle, do puzzle universal, onde já não se encaixam mais.
Somos mero pó, cinzas dispersas, em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.
Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais. Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irascíveis e concupiscentes.
Erramos, navegamos pelos espaços infindos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os nossos sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.
Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.
Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, dissimulados num habitat, que já não é mais natural.
Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.
Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é essa, geradora de todas as misérias? Que racionalidade é esta re-veladora da massa indigente das gentes vagueantes, bicéfalas?

Isabel Rosete

A Paz flui dentro de mim
Num ritmo suave e sereno.
Apenas escuto o Silêncio
E o cadenciado chilrear dos pardais
Ora
Poisados nas árvores agrestes
Ora
Caminhando pela terra ardente
Na recolha das últimas migalhas.

Lembro-me de ti!
Já não te amo mais!
Já não te quero,
Nunca mais!

Ah, se o amor por ti
Voltasse!
Como seria
De novo
Infeliz!

Como se desprenderiam
Todos os fragmentos de mim!

25/11/2009
Isabel Rosete
O fluir das águas
Afugenta a minha memória,
Que em Paz permanece,
Sem sonhos
E sem glória.

Isabel Rosete
04/01/2009

MONOTONIA

A monotonia congela-me o cérebro. Irrita-me a Alma, ávida do sempre novo, do constantemente diferente, da metamorfose, do mistério, do enigma, de todas as incógnitas…
A minha Alma suplica pelo desafio do desconhecido, do nunca antes visto ou imaginado. Do impensado e do impensável. Caminha para o impossível, para o reino efémero da ausência de limites, para o paralelamente infinito, para todos os caminhos, até mesmo para os mais recônditos.
A minha Alma procura a inocência primeira, a leveza do Ser de todas as coisas, animadas e inanimadas, terrestres e celestes, no seio dos dois lados da quadratura perfeita de um círculo por quatro pilares comandando: os Homens, a Terra; os Deuses, o Céu.
A Minha Alma busca o Imenso, na esperança de encontrar um Mundo novo, exemplar. Este já está gasto, saturado, des-governado, demasiadamente costumeiro para quem deseja ver mais longe, para quem almeja ver para além das ilusórias aparências que ofuscam o olhar primogénito.
A minha Alma procura, sem cessar, a Liberdade, qual espaço aberto de expansão total do Tudo, onde não há o acaso, nem o vazio, nem o nada.
A minha Alma quer percorrer os círculos viscerais de todos os entes. Ama a Totalidade, na sua grandeza, que foge aos estreitos limites do Tempo, do Espaço, do Destino. Vagueia por todos os lugares. Não cabe mais dentro de si mesma. Procura o Aberto, onde o Todo se funde, em perpétua comunhão com o Ser, o Estar e o Pensar.
A minha Alma pensa o Mundo. Esmorece perante o caótico cenário da miséria humana. Intenta mudar o Mundo, a mente das gentes agrilhoadas à mesquinhez do mero sobreviver, à vileza dos pré-conceitos. Quer ultrapassar as barreiras do Tempo e do Espaço. Quer ser eterna e nessa eternidade mover o Universo.
Porém, não é narcísica. Vê-se ao espelho. Sempre. Reconhece a sua própria identidade, as suas faces e as faces que não são as suas. Sofre com todos os “Epimeteus”…Deseja todos os “Prometeus”… Sente-se só. Desamparada, neste espaço cósmico des-humanizado, que não suporta a disparidade da alteridade.
A minha Alma quer re-nascer num mundo novo, com a hierarquia axiológica adequada…. Sem rótulos, sem rebanhos, sem congeminações forçadas e infundadas. A minha Alma quer crescer no topos infinito de todos os oceanos…

Isabel Rosete
Das Fontes
Já não jorram mais
Águas cristalinas.

Dos mares
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias.

Das Estrelas
Já não renasce mais
O brilho duradoiro

Da Terra
Já não desponta mais
A fonte da Salvação.

Da Humanidade
Já não eclode mais
O grito do perdão.

Isabel Rosete
Ah, como amo o Ex-traordinário
Na ausência de todos os limites,
O ser e o vir-a-ser de tudo o que
Na sua pujança
Ainda não é!

Um Mundo é sempre um Mundo!
Na vacuidade da sua representação formal,
No ilusório espaço de transmutação
Das criaturas
Sempre, em devir perpétuo.

Num espaço trans-planetário
Se desdobram e difundem
No mesmo de si
No mesmo de todos os outros.

Fusões de identidade
Dis-persas!

Criaturas e espaços!
Espaços das criaturas!
Do criado e do in-criado
Na inexistência da matéria originária
E da forma
Primogénita
Dos limites dos corpos!

E a hipérbole
Perpassa esta minha visão-do-mundo
Que ultrapassa o parecer-ser!

Sigo na direcção das essências
Almejo o Uno primordial
Algures
Oculto
Em qualquer parte do Universo.

25/11/2009
Isabel Rosete
Chamo a paz das nascentes
E as águas límpidas das fontes
Que não jorram mais.

Mas, não vou por aí!
Não, não vou por aí!

Os caminhos paralelos aureolam-me
Envolvem-me os passos
Na massa compacta do Mundo.

Distraída
Sigo
Em derredor do rumo dos ventos
Da direcção das estrelas.

No silêncio da atmosfera
Vagueio,
Na paz das florestas
Jamais descanso!

Florestas de pedra
De betão…
Tão opacas quanto transparentes
Tão verdes quanto vermelhas…

Também
Negras
Pela fumaça das máquinas
Que já não respiram mais.

25/11/2009
Isabel Rosete
Não há espaços ancestrais
Que nos acolham!

Que mãos terríveis
As dos Homens!
Tão trémulas e tão vacilantes
Quanto o mais frágil vime;
Tão poderosas e monstruosas
Indignas e vis
Quanto a alma de um tirano.

Isabel Rosete
O Mar faz ecoar,
Ao longe,
O doce e ilusório canto das sereias.

Pelos marinheiros
Não chamam!
Mas entoam os sons últimos
Das vozes nele caladas
Pelos estrondos sons dos canhões
Que, para sempre, as submergiram
Sem dó!

Isabel Rosete
O Universo derrama lágrimas
De um insondável silêncio
De sangue
De angústia
De morte…

Insuflado pelo ódio dos Homens
Des-orbita-se
Des-concentra-se do ante-cantar primordial
Que da lava viscosa
Em Terra firma
Não mais se transformou.

É uma massa difusa
Uma amálgama de lixo cósmico
De pedaços soltos caoticamente organizados
Num centro que não é centro algum
Num Topos
Que não é mais um lugar natural,
Num espaço
Que não tem mais consistência;
Num tempo
Que não é mais Tempo
Nem finitude
Nem eternidade!

Um universo perdido
Em órbitas desencontradas
Em revolta intra-estelar
Em ritmo desconcertante…
Eis o que fizemos
Des-fizemos
E não conquistámos mais
Por essa pobre angústia nossa
De aves de rapina
Ou por essa dilacerada e sórdida leveza
De asas de condor.

Isabel Rosete
Há um Espírito errante
Que nos percorre
Cobre as nossas faces
Desprotegidas
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.

Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto,
Das mentes pálidas;

A podridão
Do horror,
O enfado
Do tédio,
A escuridão
Cega e surda,
Das franjas deixadas ela inveja.

Isabel Rosete

Caminhos do Ser

As viagens são múltiplas
Os caminhos diversos
Os do Ser e os do “não-Ser”
Os do Nada…

A metamorfose
E a mudança
Comandam o mundo.

O Ser não permanece mais
Na sua imutabilidade originária!

As sombras
As aparências
Ofuscam o olhar
Dos que querem ver
A essência
O miolo sedoso
De um pão bolorento…

A identidade perde-se.
Somos o mesmo rebanho!

Corremos na mesma direcção
E já nada identificamos com precisão!

A amalgama do mundo
Corre nas nossas veias…

Isabel Rosete