quarta-feira, 5 de março de 2008

O preço da identidade
Anula
As mentes menos despertas

Alucina
As personalidades
In-identificáveis

Manipula-as
No seio das multidões
Sem rosto próprio

Devolve-as
Ao anonimato
Que convém à Hipocrisia

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
O Mundo
É-me tão estranho

Voltas e reviravoltas
Em todos os espaços
Eclodem

Não as identifico
Como minhas

São sempre dos outros
De quaisquer outros

Esfumam-se
Na vertigem do meu olhar
Microscópico
Intenso
Imenso

Sempre em busca das Essências
Da Verdade
Da Realidade

Lançam-se
Dúvidas eternas
No seio da minha Escuta
Em permanente estado de alerta

De vigília vespertina
Que nem o sono atormenta
Desorienta
Ou amortece

Isabel Rosete,
07/02/08
04/03/08
Penso no amor
Assoma a angústia
Dos sentimentos vividos
E por viver

Amor é dor
Calafrio do corpo
Que se arrepia

Desassossego da alma
Que se atrofia…

Isabel Rosete,
07/02/08
Tenho tantas faces
Tantos rostos
Tantos Eu(s)

A insatisfação
Preenche o meu Ego

Nada lhe basta
Nunca está bem

Identifica-se com o Tudo
E com o Nada

Quer deambular
Pelo Universo
Sem sair do seu Mundo

Tantas contradições
Rodopiam
Dentro deste meu espírito
Sempre
Irrequieto

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
Fico deprimida
Não quero os amores
Que me desejam

Quero todos os outros
Que não identifico

Sei que estão aí
Algures
Em parte incerta

Procuro-os
Não os encontro

Vejo-me envolvida
Por um desejo do outro

Recuso-o
Ao mesmo tempo
A habitar em mim

Isolo-me do Mundo
Sinto a Solidão
Até ao mais fundo
Do fundo
Das minhas entranhas

Isabel Rosete,
07/02/08
04/03/08
Os sons
Vão e vêm…

Apossam-se
De todo o ente carente
À espera do sossego musical…

A magia inebriante da música
Tudo atinge
Tudo penetra…

Nos tenebrosos rochedos
Do Cáucaso
Ecoou…


Permanece Prometeu
Agrilhoado…

O prudente
O previdente…

Aos homens
O fogo doou
Como sinal do seu amor…

Qual espécie errante
Nasceu
Bicéfala…

Capaz das maiores proezas
E das maiores atrocidades…

Isabel Rosete
31/05/07
25/01/08
O meu pensamento viaja
Prenhe de fertilidade

Vagueia
Por todos os espaços

Escuta
Todos os sons

Cheira
Todos os odres


Todos os rostos

Comove-se
Com a imensidão do Mundo…

O meu pensamento
Tacteia todos os estares

Sente
Todas a emoções

Penetra
Em todos os espíritos

Abarca
Todas as sensações

Entusiasma-se
Com a face oculta do mistério…

O meu pensamento
Diviniza toda a criação

Espanta-se
Com a beleza dos orbes celestes

Exalta-se
Com a felicidade dos Homens

Glorifica-se
Com os segredos da Vida e da Morte…

Isabel Rosete
18/12/07
26/01/08
Nós
Cidadãos
O que Somos?

Marionetas
Nas mãos do Poder?

Meros cumpridores
Passivos
De leis que não ouviram
As nossas vozes?

Escravos
Voluntários
De uma liberdade que não é a nossa?

Peças solitárias
De um jogo
Por outros criado
Sem intimarem
As nossas vontades?

Perpétuas presas
Dos regimes políticos
Que não elegermos?

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
Amo a Lua
As suas diversas caras…

As caras de todos os outros
Escondidas noutras faces…

Ocultas
Veladas…

Pesadas
Serenas…

Marcadas pelas cicatrizes da Vida
Que nada perdoa…

Amarga e doce
Com finos espinhos…

Aveludadas pétalas
Envolventes do nosso ser-aí…

Inquietante
Medonho…

Ordinário
Extra-ordinário…

Descomunal
Monstruoso…

Pacificante
Vil …

Isabel Rosete
09/12/07
26/01/08
Abomino o egocentrismo
Das “mentes brilhantes”
Apenas voltadas
Para as suas entranhas…

Incomoda-me a ilusão da vã glória
Os soltos pedaços de vulgaridade
Das gentes
Que vagueiam sem destino…

Revolta-me a dor dos inocentes
O sofrimento silencioso
Das mentes escravizadas
A consagração fascista
Dos insolentes tiranos…

Desprezo os discursos demagógicos
A hipocrisia dos “defensores” da Pátria
A alucinação dos “salvadores” nacionais
A promessa adiado das falsas promessas…

Isabel Rosete
10/01/08
26/01/08
A magia da música
Eleva-me a alma
Exalta-me os sentidos…

Dobra-me o corpo
Em mil retalhos

Excita-me os músculos
Incita-os ao movimento ritmado
De cada melodia…

Tudo transforma
Faz mover
Vibrar
Sonhar…

Penetra em todos os espaços
Ultrapassa o tempo
E o limiar da eternidade…

Isabel Rosete
16/01/08
16/02/08
A fonte da Fé
Secou…

Cristo
Já não é mais milagreiro…

Violência
Crime…

Desacato
Insanidade…

Enchem
Preenchem…

A panóplia
Do Mundo em que vivemos...

Isabel Rosete
14/07/07
23/01/08
A Bailarina
(A Sandra Machado)

Eis a viva expressão
De quem agarra a Vida
Por todos os fios possíveis
De um imaginário
Sempre reprodutivo…

Os seus acenos
Suaves
E determinados
Sobem
E descem…

Os seus paços
Leves
E silenciosos
Ascendem
E descendem

Erguem-se
Elevam-se
Multiplicam-se
Em todas as direcções…

Indicam-nos o infinito
Que nos apraz bem

Suspendem-nos a alma
Transportam-nos para outros lugares
Nunca imaginados…

São múltiplos os caminhos
Pela bailarina percorridos…

Entre outros estares
Entre outros rostos
Entre todos os rostos
Que nela se presentificam…

Os caminhos dos gestos
Das palavras
Dos sons
Que a envolvem
Num círculo
Quase perfeito…

Os caminhos das notas
Que a partitura preenchem
Tornam-se audíveis
Em todos as melodias
Pelo seu corpo contornadas…

Há sempre um som
Que a embala
Que a faz vibrar
Estremecer
Ou sonhar…

Por entre as linhas
Nem sempre unidas
Nem sempre definidas
Dos trilhos delgados
Do seu balancear…

O chamamento do som
Assoma
Que grande promessa!

O som puro
E cristalino
Da música

Semi-oculto
Semi-descoberto

Envolve
O corpo
E a alma
Da bailarina
Ainda capaz de o escutar…

A escuta
Naturalmente a escuta…

Qual motor originário do mundo
Que faz mover
Os seus delicados contornos…

Os seus movimentos
Mesmo os mais simples
Manifestam a pureza
De uma alma
A singeleza de um corpo
A nobreza de um carácter
Em momentos
De perpétua comunhão…

Qual corpo?
Qual alma?

Os da Bailarina
Fundidos
Se dão
A outros corpos
A outras almas
Nunca em vão…

A bailarina
Está aí

Dança
Balança
Rodopia
Ao tinir
De todos os acordes…

Faz renascer
Um ser outro
Sempre renovado…

Algures
Camuflado
No seio
Da sua própria interioridade…

Isabel Rosete
(Escrito para Sandra Machado, a bailarina)
1999
17/02/08
A Alma humana
Destituiu-se de si….

Paira
Na bruma
Das tardes cinzentas
Sem tranquilidade
Sem paz…

Percorre
Os infinitos caminhos do Mundo
As estradas desertas
Sem rumo determinado…

Procura o Paraíso perdido
Em todos os corpos outros
Sem saber
Qual a sua linhagem…

Ofusca-se
Com os raios do Sol…

Vagueia
Pelas ondas imensas
Do mar revoltoso
Companheiro dos ventos do Norte…

Tudo arrastam
Movem
Deslocam…

No redemoinho universal
Da Vida
Que rodopia
Em todos os espaços
Por todos os lugares…

Isabel Rosete
06/07/07
22/02/08
Alma
Sopro da Vida
Não cabes mais
Dentro dos teus limites

Transcendes-te
Rumo ao encontro
De todos os desencontros

Ao impossível
De todos os possíveis…

Evades-te
Nas dunas brancas
Das praias desertas

Respiras
Pura
A virgindade da Natureza

Escutas
Em silêncio
Os sons primordiais

Das profundezas
Do mar
Salgado

Ora verde
Ora azul
Ora vermelho

Manchado
Pelo sangue dos corpos
Derramados

Quantas batalhas
Quantas guerras

Nas águas cristalinas
Foram sepultadas…

Alma
Co-afim com o mar

Em revolta
Te moves

Em calmaria
Descobres
A eterna beleza
Das coisas simples

Aí estás
No correr
Das águas

Ao turbilhão do mundo
Nem sempre escapas…

Isabel Rosete
06/07/07
26/01/08