sábado, 27 de julho de 2013

Tanta paz camuflada,
Tanta miséria aveludada,
Tanta guerra e quanto sofrimento
Desabrocha no coração dos Homens!

Empedernidos, incapazes de amar,
Quais entes errantes, vagabundos,
Viandantes eternos, vão, por aí...
Nem sempre sabendo para onde
Os seus próprios passos os levam.

Caminham sem rumo, em completo desnorte,
Sem destino, em completo desvario,
À procura de um espaço redondo
Que os acolha no seu perpétuo peregrinar.

Soltam-se à beira do Mar que,
Um dia, os levará para o paradeiro certo.
Já não sabem quem são!
Já não sabem para onde vão!
Perderam a noção do Corpo,
Dos seus contornos, das suas funções vitais.

Da Alma, também, nada sabem!
Definitivamente… estão perdidos!
Só têm espelhos e reflexos longínquos
De outros espelhos baços e quebrados,
Algumas sombras figurativas e
Indelimitadas, quase completamente
Amorfas, sem viso, sem Identidade.

Não souberam instituir a Paz.
Tornaram-se incapazes de devolver a Miséria
E de amolecer os Corações.
Tornaram-se incapazes de aniquilar a Dor.

Já não há Humanidade!
Só há estátuas amputadas,
De mármore ou de bronze,
Onde as Almas não repousam mais!

Isabel Rosete

terça-feira, 23 de julho de 2013



Um beijo desliza sobre a montanha rochosa,
Qual corpo de um homem rude sem alma refinada.
As árvores já não florescem!
O sangue já não circula!
As flores estão mortas!
Os braços do homem rude cruzam-se
E não se despegam do seu corpo!
Estão estáticos! Apenas estáticos!

Os pássaros fugiram para o vale mais próximo
Junto aos riachos de águas claras,
Onde os corpos (não mutilados) saltitam de Nenúfar em Nenúfar.
O Sol volta a ser amarelo e reluz na limpidez do horizonte
Sem as manchas cinza das montanhas rochosas.
Límpidas são também as almas das criaturas deste vale
   [de fresca vegetação
Onde brincam os infantes pulando como os sapos
Ao apanharem os girinos, fugidios amantes da sua liberdade.

Não há solidão!
As coisas da Natureza amparam-se entre si
No leito aberto ao constante re-nascer de todo as cores.

O luar surge!
A noite tarda em chegar!

Isabel Rosete

O sonho alimenta as Almas solitárias, por Isabel Rosete

O sonho alimenta as Almas solitárias,
Arrasta os corações des-pedaçados
Para um Paraíso por vir,
Tão perdido, quanto desejado.
Esfuma a voz tenebrosa
Do desassombro e do extraordinário,
As malhas das franjas entediantes
De uma existência in-completa.

O sonho dirige as gotas lastimosas
Do vil e desmedido desassossego,
A inquietude do Desejo de um tempo outro;
Ampara as des-ilusões do Destino,
Implacável, cruel, por vezes, sorridente,
Sempre presente na sua ausência discreta.

O sonho eleva os ânimos ao in-habitual
Na efervescência do prazer ou da dor,
Efémeros, por entre os escassos momentos
De Felicidade e de Glória que ainda restam
Nas margens do silêncio, que as palavras não dizem,
Nas pausas do sono e da vigília despertas
Nos caminhos insondáveis do inconsciente
Sem nexo, coerência ou razão visível.

O sonho acorda os mitos, os fantasmas,
As recordações de um passado
Que, em qualquer momento, se presentifica
Des-focado, velado, atrofiado ou liberto
Na latência de uma premonição única.

Isabel Rosete

Nada se fixa no e sobre o Homem, por Isabel Rosete

Nada se fixa no e sobre o Homem.
E se o Mundo é composto de mudança,
A metamorfose é o traço do viso desta humanidade,
Que a ritmos incertos,
Cresce dentro desse ser cheio de vazio que somos,
Cada um de nós,
Um dia rotulados de “animais racionais”,
Supostamente, pensantes, inteligentes,
Portadores de um raciocínio lógico-discursivo
Hipoteticamente emersos do melhor dos mundos possíveis,

E, afinal,
O que queremos de nós,
Seres errantes?

E o que queremos do Mundo
Que em torno de nós se move
A uma velocidade incomensurável?

Ou desfazemos essa aura de entes
Onde fomos depositados, um dia,
Sem que o nosso querer
Fosse chamado a opinar
Sobre esse modo de existência de caos e de ordem
Que nos caracteriza,
De que somos co-autores e co-produtos
Voluntária ou involuntariamente?

Perdemos o rumo.
Mas encontrámos o fio de Ariana
Que comanda o nosso Destino.
Destino? Mas... Que Destino?
O de sermos uma humanidade emaranhada
Nos nós da sua própria teia?

Ariana e a aranha estão sobre a caução
De um mesmo invólucro
Tão opaco, quanto transparente,
Tão sublime, quanto miserável.

E, apesar disso, ainda podemos falar
Da harmonia heracliteana dos contrários?
Do caos criativo que, quiçá,
Gera a nossa própria ordem des-ordenada?
Isabel Rosete