segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

 OS MEUS AMORES, por Isabel Rosete

Os meus amores vão-e-vêm
Tão firmes e tão efémeros,
Tão nostálgicos e tão saudosos!

São eternos instantes de prazer,
Guardados pela memória que os presentifica,
Em todos os momentos de solidão;
São pedaços de mim,
Estilhaçam-me o peito,
Inquietam-me o Espírito, sem Paz;
São revoltosos, transpiram um desassossego
Megalómano, trans-luzem a impaciência
Em efervescência do meu estar-só.

Os meus amores são ansiedade em estado líquido,
Exausto devir de adrenalina pura,
Correntes sanguíneas em excitação;
Estares explosivos, impulsivos,
Gritantes… algozes, gladiadores,
Anjos-da-guarda sem guarda de nenhuma;
Não compactuam com as regras impostas,
Ultrapassam todos os limites,
O convencionalmente estabelecido,
Os freios hipócritas da moral instituída.

Os meus Amores são Excesso,
Hipérbole, des-medida,
Deflagração perene do Sentir;
Não se contêm mais dentro de mim,
Nem dentro de si;
Vagueiam pelo espaço libidinal
De um Universo ilimitado
Sem o princípio e o fim
De qualquer emoção percorrida.

Isabel Rosete
Breves constatações sobre um Portugal de demissionários, por Isabel Rosete

1. Vivemos, hoje, num Pais de demissionários, de gentes sem rosto e sem voz própria, convicta ou determinada;

2. Vivemos, hoje, no silêncio mórbido dos que não sabem como salvar este País em marés de desalento, em estado de naufrágio total. Completamente alagados, na sua ausência de ideais, os mandantes ou (des)mandantes nacionais talvez seja este o termo mais adequado navegam, sem norte, nos mares da dissimulação, da mentira e do faz-de-conta, sem escrúpulos ou peso nas suas consciências inconscientes;

3. Vivemos, hoje, banhados por um regime político incógnito e, naturalmente, indefinível e impassível de qualquer espécie de adjectivação apropriada, porque: vagueamos na política da lamentável conveniência, do tachismo sem disfarce, da ausência da identidade nacional, do parecer-ser estatístico que pretende camuflar – pensam eles! – as misérias nacionais, apenas invisíveis perante a quadradice dos espíritos míopes.

Isabel Rosete



Cansas-me, por Isabel Rosete

Estou cansada desse teu olhar que me despe
Cheio de mágoas e de frustrações;
Estou cansada desses teus olhos esbugalhados
Que me sorvem, sem piedade,
Pelo egoísmo de me possuíres,
Tão intensamente, que me exaures
O corpo e me desgastas a alma;
Estou cansada desse teu suor, desbravador,
Durante e depois do Amor;
Estou cansada dessa tua obsessão, desmedida,
De me quereres, sempre, dentro de ti
Mesmo quando estás ausente,
Algures, em qualquer lugar.

 Cansas-me de sufoco sempre que
A claustrofobia mental se instala
Em mim pela obsessão do teu amor;
Cansas-me quando beijas a minha boca
Mais que embebida nessa tua saliva
Que me amordaça a mente.

Tudo, no teu amor, é repleto de cansaço.
Um cansaço de tédio, que é mais do que cansaço.

Não te suporto mais!
Isabel Rosete



SINOPSE do meu, quiçá vosso NOVO LIVRO, "FLUXOS DA MEMÓRIA - Autobiografia(s) Poéticas", Pelo Professor Doutor José Caiado Ribeiro Graça (Filósofo), à venda nas Livrarias Bertrand Livreiros, Fnac e Wook.
«A criação poética, como as grandes aventuras do espírito, está envolta em mistério e enigma. É a expressão de uma existência inquieta, em sobressalto, em cuidado. Ou seja, o meio ou ecossistema onde a poesia ganha vida é, desde as suas origens, desassossego, agitação, impetuosidade, inquietação.
O elevado estatuto do poeta, tal como o elevado estatuto do profeta, radica precisamente aqui: ele é o mediatário, o mensageiro de um passado esquecido ou ignorado, de um presente oculto e nunca suspeitado e de um futuro que virá. "Fluxos da Memória", para além de todos os méritos literários e poéticos, é também um tributo ao respeito pela língua e ao (bom) gosto da escrita. Concretamente, esta- mos perante um texto de um elevado nível literário e de um apurado e profundo sentido poético. Consequentemente, constata-se um tão raro quanto louvável domínio, correcção e controlo das possibilidades e virtualidades da língua e da escrita.
Hoje, ainda mais do que ontem, é urgente (...) é necessário relevar a boa escrita. É que hoje, fala-se muito, mas diz-se pouco; escreve-se imenso, mas pior; diz-se que há ideias, mas sem ideia nenhuma. Em "Fluxos da Memória", as palavras não são zurzidas nem molestadas, os períodos uma tortura, os parágrafos um massacre e, pasme-se, os sinais de pontuação regressam, estão perdoados! E nem quando a autora abandona, por momentos, o registo poético, recorrendo ao texto em prosa, não insiste na nota de rodapé, não salta, continuada e reverentemente, para o colo da citação e não ameaça, ponto sim, ponto não, com o pai da ‘doutrina’.
Fluxos da Memória revela um traço extremamente invulgar: a autora tem pensamento próprio, tem uma ideia. E esse é um traço que distingue e diferencia as obras pensa- das, vividas, autênticas e maduras, das...outras. Deixa-se aqui, e para concluir, uma última sugestão aos futuros leitores: mãos à obra!»
Professor Doutor José Caiado Ribeiro Graça