segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Deixa-me amar-te
Na sombra dos traços finos
Desse teu corpo nu,
Sem braços,
Sem memória.

Não vou desistir desse amor
De ilusão ou de realidade
Que me escondes e negas
Depois do sobressalto imediato,
Intenso, de uma noite, só.

Há um futuro a construir
Nas paragens desse sentimento
Que, vivo ou morto,
Há-de continuar,
Perpetuar-se nos labirintos
Das recordações
Por... entre-corpos.

Isabel Rosete
O que esperamos?

que esperamos desta Humanidade,
Assim transviada?
O que esperamos deste Mundo cruel,
Indigno para os seres puros?
O que esperamos da ausência de senso
Dos que, pressupostamente,
Comandam as nossas vidas?

- Esperança, ora! A Esperança!
Ah, a Esperança!
Quanto a procuramos, quanto a desejamos
Em nós e me todos os outros!

Mas que Esperança?
A da mudança do caos para a ordem?
Vislumbrais outra?


Instalado o caos, como ordem,
Apenas nos resta permanecermos
No reflexo de uma qualquer espécie
De expectativa - quiçá, possível –
De uma ordem humana que nos ampare.

Até quando?
A luta será sempre a mesma
Num eterno retorno do outro e do mesmo!


Isabel Rosete
19/12/2008
27/12/2010

domingo, 26 de dezembro de 2010

NASCIMENTO E MORTE DE CRISTO: O ESPÍRITO DO NATAL

Por: Isabel Rosete

De um certo ponto de vista, o da universalidade, não há propriamente data determinada nem para o nascimento, nem para a morte de Cristo – essa extraordinária e iluminada figura que a História nos doou, quiçá por vontade de Deus –, para além daquelas que são assinaladas no calendário.

Não obstante estarmos em época de celebração cronológica do nascimento de Cristo e, por extensão, da Paz, da Solidariedade, da Luz, da Verdade, do Bem, do Amor, da Amizade, ou de outros valores que enaltecem a essência divina da Humanidade, não nos podemos esquecer que o Mundo continua a sofrer, a ser martirizado e crucificado como Cristo o foi, um dia.

Iludir a realidade presente e futura, pelo véu das comemorações tradicionais, não faz a Humanidade pensar, reflectir, sobre esse sofrimento, físico e psíquico, de que ela mesma é vitima, a partir das suas próprias mãos, manchadas, amiúde, pelo sangue jorrado dos corpos inocentes, pelas lágrimas das almas moribundas pela ausência da Esperança prometida.

Enquanto uns estão à mesa, na noite de ceia, a confraternizar com as suas famílias, em suposta paz e alegria, deliciando-se com o mais requintado dos manjares, trocando os mais caros e belos presentes, outros morrem de subnutrição, são vítimas de balas perdidas, da má fé, das guerras injustas, da violência gratuita, da inveja e da discriminação sem fundamento plausível.

Claro que este texto que escrevi a propósito de uma discussão com amigo meu sobre o filme de Gibson, “A Paixão de Cristo” é, naturalmente, provocatório, propositadamente provocatório, se nos centramos, apenas e redutoramente, no vulgar contexto natalício que estamos vivendo.

O objectivo é mesmo esse: abanar as consciências, incitar as mentes à mais profunda reflexão, fazer renascer o espírito crítico, por detrás de todas as máscaras ou de todos os discursos demagógicos sobre a bem feitoria.

O Sofrimento, a Maldade, a Violência, a Crueldade, a Fome, a Angústia… – constatações óbvias para quem as quer ver não acabam pelo simples facto do Natal estar a ser comemorado. Lamentavelmente, continuam, embora de um camuflado nos meandros do consumismo ilusório de uma certa felicidade rebuscada.

Recuso-me a ludibriar a realidade; recuso-me a compactuar com a hipocrisia dos homens, que só se lembram, aberta e publicamente, que há mendicantes, crianças e velhos moribundos e desamparados, povos em guerra e em degeneração total, quando o Natal é, oficialmente, festejado.

A memória dos Homens deve deixar de ser curta; a memória dos Homens não deve ser apenas testada assim como a sua humanidade, ou pseudo-humanidade quando o socialmente instituído é solenizado.

O Espírito do Natal jamais se deve restringir aos dias 24 e 25 de Dezembro. O Espírito do Natal deve estar presente em todas as criaturas, todos os dias, durante o ano inteiro, ad eternum.

Quiçá, todos já o pensaram e já o disseram. Porém, o Espírito do Natal não é posto em prática quotidianamente, todos o sabemos, a não ser em momentos de catástrofe e, mesmo assim, de um modo meramente imediato.

As luzes que, incandescentemente iluminam as ruas, não conseguem eliminar a miséria humana, pelo menos aos olhos daqueles que vêem sempre mais longe, para além das aparências, das convenções, dos preconceitos, ou do chamado politicamente correcto.

Isabel Rosete
26/12/2010
Sejamos Natal


Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias,

Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera.

Natal é Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor e Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens.

Natal é a apologia do autenticamente Humano,
Em toda a sua essência genuína
De Bondade e de Verdade.

Natal é o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade.

Natal é a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União dos
Povos e das Nações.

Natal é a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas.

Natal é a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e de todas as Uniões.

Natal é o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana.

Natal é a benção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.

Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre.

Isabel Rosete