domingo, 7 de dezembro de 2008

O Mundo irradia futilidade,
Respira vulgaridade,
Sempre que se esconde a Verdade.

Perdemo-nos das essências,
Das coisas simples,
Que atrofiadas crescem,
Nas sombras ocultas do Nada.

Dispersos,
Pairamos,
Pelas encruzilhadas
Da Morte e da Vida.

Perdemos o Ser,
Vagueamos,
Sem sabermos mais o que somos.

Isabel Rosete
O meu pensamento viaja,
Prenhe de fertilidade.

Vagueia,
Por todos os espaços,
Ainda não visitados.

Escuta,
Todos os sons,
Ainda não admirados.

Cheira,
Todos os odres,
Ainda não apurados.

Vê,
Todos os rostos,
Ainda não des-ocultados.

Tacteia,
Todos os estares,
Ainda não apreciados.

Comove-se,
Com a imensidão do Mundo
Ainda não des-velada.

Sente,
Todas a emoções,
Ainda não experimentadas.

Penetra,
Em todos os espíritos,
Ainda não percepcionados.

Abarca,
Todas as sensações,
Ainda não vivenciadas.

Diviniza,
O êxtase da criação,
Ainda não des-florado.

Espanta-se,
Com a beleza dos orbes celestes,
Ainda não avistada.

Exalta-se,
Com a escassa felicidade dos Homens,
Ainda não consumada.

Glorifica-se,
Com os segredos da Vida e da Morte,
Ainda não des-mitificados.

Apaixona-se,
Pela face oculta do mistério,
Ainda não re-velada.

Prende-se,
Nos atalhos labirínticos de todas as incógnitas,
Ainda não manifestados.

Isabel Rosete
No vazio das palavras
Ecoam todos os sons,
Todas as pausas,
Todos os silêncios.

As palavras são punhais,
Cristais,
Dardos,
Sementes de criação.

Despedaçam,
Espelham.
Reluzem
Transluzem.

Persuadem,
Enfeitiçam.
Exortam,
Instigam…

Corpos
E almas,
Em união
E dis-persão

Isabel Rosete
Poesias/Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(12/03/08)


- A solidão das multidões não me apavora. Preservo a minha identidade.

- A Alma do Mundo espalha-se por cada um de nós. Nem todos a reconhecem dentro de si.

- Há um Espírito errante que nos percorre,
Cobre as nossas faces desprotegidas,
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.

- Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto,
Das mentes pálidas;

A podridão do horror,
O enfado do tédio,
A escuridão
Cega e surda,
Das franjas deixadas ela inveja.

- Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões
Dispersas,
Invisíveis,
Aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.

Agoiros pronunciam,
Em nome do desespero
Egoísta,
Que lhes corrói a alma.

- Das Fontes
Já não jorram mais
Águas cristalinas.

Dos mares
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias.

Das Estrelas
Já não renasce mais
O brilho duradoiro

Da Terra
Já não desponta mais
A fonte da Salvação.

Da Humanidade
Já não eclode mais
O grito do perdão.

- O grito das aves migratórias
Ensurdece
Os meus ouvidos.

Anunciam tempestade,
Morte,
Terror,
Guerra….

- Amamos a paz dos desertos,
Onde encontramos a tranquilidade.
Aí permanecemos,
Nessa espécie de refúgio do Mundo,
A salvo dos olhares alheios
Que nos penetram na alma,
A salvo das mãos dos outros,
Que nos apontam o dedo,
A salvo das mentes incriminatórias,
Que só vêem o visível,
A salvo dos espíritos perversos
Que a verdade atrofiam.

- O mar que me deu a paz
É o mesmo que me revolta as entranhas,
Nas escuras noites de trovoada,
Que sob o meu tecto desfalecem.

- Caminho pelas areias infinitas
Das praias desertas.
Nada se ouve.
Nada se sente.

O luar
Incandesce os meus olhos,
Míopes,
Perante a imensidão da linha do horizonte
Que não vislumbro mais

A minha alma esvaiu-se
Na solidão das marés,
Que vão e vêm,

Nunca se fixam
Nunca deixam os mesmos rastos,
Nunca permanecem
No mesmo lugar.

Trazem um tempo outro,
Anunciam outros espaços,
Outras vidas,
Encobertas
Pelas águas,
No seu incessante peregrinar.

- O meu Mar salgado
Em açúcar transformou o seu sal.
Fala-nos de outros mundos
Onde reina a glória merecida,
Dos nobres feitos dos Homens.
PENSAMENTOS DISPERSOS
Isabel Rosete

18/10/07

I.
Portugal: Uma Pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os mundos das outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

II.

* Amo o Mundo, fechando-me dentro de mim própria.

* Não há espaços que nos absorvam nos caminhos da Vida e que à Morte não nos conduzam.

* Vivemos…Estamos…Caminhamos…em que direcção? Não o sabemos. Mas, algum Destino nos guia…

* Somos o que somos. Nada mais do que aquilo que somos.

* Amamos, odiamos, sentimos… Somos humanos.

* A morte faz-se e desfaz-se, em cada pedaço de Vida.

* Sorrio, sempre, como se as rosas não tivessem espinhos.

* Resta-nos pensar o Infinito…

* Não temos Vida. Vamos vivendo. Não temos esperança. Permanecemos expectantes…

* Suamos por todos os poros o que a Vida não nos dá.

* Permanecemos nos rodeios da Vida, com indeléveis marcas de esperança.

* Não posso esperar que o Mundo venha ter comigo… Vou ter com o Mundo…

* A inocência não é sinónimo de infantilidade. Mas, tão-só, da Pureza da Alma.

* O Amor arde, queima, corrói… Sobressalta os corações, sempre na expectativa de um outro amanhecer…

* Os amantes são sôfregos.

* O Amor entusiasma. Leva os corações para uma outra idade.

* As gerações são como um ciclo, em perpétuo ou eterno retorno…

* Há almas que fazem transparecer o hálito opaco dos corpos imundos…

* Cogitar o impossível. A maior satisfação do Ego.

* O Mundo, em perpétuo movimento, mantém-se sob a corda bamba do equilibrista.

* Movemo-nos no espaço incerto do Universo comunicacional. Sempre presentes e ausentes de todos os auditórios.

* Passamos ao lado dos outros. Não os vemos. Vemo-nos a nós mesmos.

III.

* Assumir, convictamente, a identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, fundeadas no espaço camaliónico das diferenças não aceites, da imposição de um padrão comum, do estereotipado, onde não lugar para o ser-si-mesmo, nesta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum que, na generalidade, não passa de uma mera utopia demagógica.

Vigora a mais deslavada hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza intrínseca à essência do universo físico e humano, a que já não pertencemos mais.

Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do des-equilíbrio dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos Homens que clamam o Paraíso perdido?

O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, des-norteada, que hoje somos.

Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzele, do puzzele universal, onde já não se encaixam mais.
Somos mero pó, cinzas dispersas, em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.

Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais. Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irrascíveis e concupiscentes.

Erramos, navegamos pelos espaços infindos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os nossos sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.

Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.

Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, dissimulados num habitat, que já não é mais natural.
Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.
Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é essa, geradora de todas as misérias? Que racionalidade é esta re-veladora da massa indigente das gentes vagueantes, bicéfalas?

IV.

* Convivo com o Mundo dentro de mim própria. Basta-me.

* A “Paz Perpétua” reina dentro de mim. Conquistei a felicidade.

12/11/07

* Não quero viver no Inferno das noites foguedas,
Na solidão das gentes,
Nos espaços atópicos de cada pensamento,
Nos espaços indefinidos dos pensamentos dispersos.
Não quero a luz opaca dos olhares indiscretos. O brilho negro dos falsos sorrisos. A demagogia retórica das palavras imundas. O cheiro nauseabundo dos corpos em putrefacção.

* O Mundo está podre. Rejeito-o completamente. Recuso-me a compactuar com a hipocrisia, com as falsas verosimilhanças, com as vãs ironias, com as inglórias inteligências dessas mentes foragidas, que nada vêm. São inúteis. Completamente inúteis. Perpetuam, apenas, um saber “fantasiado”, com longos rasgos de ignorância extrema.

15/11/07

* Distante, no meu Mundo, penso as trilhas da Vida e da Morte.

* Viver é o quê, afinal? As respostas são múltiplas. Nenhuma me satisfaz…

20/11/07

I.

* O meu corpo, morto, embala-se nas cinzas do chão que, um dia, o deixou esvanecer.

* Quero viver Tudo, intensamente, como se cada instante fosse o último dia do resto da minha Vida.

* Sou a exemplificação da Hipérbole…

II.

* A monotonia congela-me o cérebro. Irrita-me a alma, ávida do sempre novo, do constantemente diferente, da metamorfose, do mistério, do enigma, de todas as incógnitas…
A minha alma suplica pelo desafio do desconhecido, do nunca visto ou imaginado. Do impensado e do impensável. Caminha para o impossível, para o reino efémero da ausência de limites, para o paralelamente infinito, para todos os caminhos, até mesmo para os mais recônditos.
Procura a inocência primeira, a leveza do Ser de todas as coisas, animadas e inanimadas, terrestres e celestes, no seio dos dois lados da quadratura perfeita: os Homens, a Terra; os Deuses, o Céu.
Busca o infinito, na esperança de encontrar um mundo novo, exemplar. Este já está gasto, saturado, desgovernado, demasiadamente costumeiro para quem deseja ver mais longe, para além das ilusórias aparências que ofuscam o olhar primogénito.

A minha alma procura, sem cessar, a liberdade, esse espaço aberto de expansão total do Tudo, onde não há o acaso, nem o vazio, nem o nada.
Quer percorrer os círculos viscerais de todos os entes. Ama a Totalidade, na sua grandeza, que foge aos estreitos limites do Tempo, do Espaço, do Destino.
Vagueia por todos os lugares. Não cabe dentro de si mesma. Procura o Aberto, onde Tudo se funde, em perpétua comunhão com o Ser, o Estar e o Pensar.

A minha alma pensa o Mundo. Esmorece perante o caótico cenário da miséria humana. Quer mudar o Mundo, a mente das gentes agrilhoadas à mesquinhez do mero sobreviver. Quer ultrapassar as barreiras do tempo e do espaço. Quer ser eterna e nessa eternidade mover o Mundo.
Não é narcísica. Vê-se ao espelho. Reconhece a sua própria identidade. Sofre com todos os “Epimeteus”…Deseja todos os “Prometeus”…
Sente-se só. Desamparada, neste espaço cósmico “des-humanizado”, que não suporta a disparidade da alteridade.

Quer renascer num mundo novo, com a hierarquia axiológica adequada…. Sem rótulos, sem rebanhos, sem congeminações forçadas e infundadas. Quer crescer no topos infinito de todos os oceanos…
Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(21/01/08)

A Guerra, sempre a Guerra, em nome da Paz…

Pátrias desoladas pelos horrores da Guerra. Corpos despedaçados cobrem a Terra com um manto vermelho. O sangue tinge as águas, daqueles que foram e não mais voltaram. Almas ultrajadas vagueiam por este Universo incógnito, sem destino.
Uma criança chora, a preto e branco. Outra soluça, de olhos esbugalhados pelo horror, ao mesmo tempo que se esconde dos Homens de verdes fardas, que correm, de arma em punho, para todos os lugares, pelo sórdido prazer da morte e do sangue. Já não têm Fé, nem Paz, nem Amor, nem Esperança, nem Nada… Já não sabem que são humanos.
Movem-se como autómatos. Tornam-se meras máquinas programadas para matar, indiscriminadamente. A Guerra torna-se um vício, um hábito enraizado, qual nicotina, cuja ausência desatina.
Não há mais um lar habitável para além deste cenário de todas as desgraças. Restam as trincheiras, os campos de batalha, onde a morte de uns é a vida de outros.
Violência e mais violência…Atrocidades e mais atrocidades… movem um ciclo completamente vicioso, sem princípio nem fim. A agressividade perpétua marca os espíritos robotizados dos fazedores da Guerra.
Fazer Guerra para alcançar a Paz, dizem os mentores dos pseudo-projectos de salvação da Humanidade. Que grande ironia! Que tremenda hipocrisia dos espíritos insanos!
A Guerra é o chamamento sem fim das mentes desejosas de expulsar a agressividade, durante anos contida, a violência, sempre reprimida, recalcada pelo convencional, pelo instituído, pelo “politicamente correcto”, nem sempre com fundamento válido visível.
Como queria ser Deus, Todo-Poderoso, o Deus que tudo pode, para aniquilar essa face negra do coração dos homens.
Pensamentos dispersos
Isabel Rosete
(24/01/08)

Pensar um mundo que não é meu? Porquê? Para quê?
Interrogações existenciais corem, em cadeia, por este meu espírito em constante fluir. Não sossega perante nada, nem ninguém, nem mesmo quando os olhos se cerram, obrigando-o a dormir.
Sempre observador, nada lhe escapa. Tudo o move ao permanente estado de questionação, de dúvida – por vezes, céptica, por vezes, metódica –, de crítica, de meditação…
Nunca se acomoda, este meu pensamento. Vive em rebeldia perene. Jamais está satisfeito, nunca entra em estado de serenidade, mesmo que a paz nele assome, durante escassos instantes.
Não pára! Não pára! Não se acomoda! Não se acomoda!
Vê sempre um “porquê” na transparência das coisas opacas, desde as mais simples e singelas, até às mais complexas, conflituosas ou dilemáticas.
Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(09/01/08)

‑ Deixem as nossas almas livres da mesquinhez do mundo.

‑ A inveja corrói a paz dos nobres corações.

‑ Plantámos o Amor. Colhemos o ódio.

‑ Apregoamos a Paz. Resta-nos a Guerra.
Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(07/02/08)


‑ Não quero mais percorrer os caminhos insondáveis dos Mistérios do Mundo.

‑ Descodificar o Todo não é uma missão impossível. Apenas um desejo que, um dia, se realizará nos limiares do Infinito.

‑ Paradoxos: são a marca perpétua deste Universo em perpétuo devir.

‑ Nem todos os rios desaguam nos mar… Represas travam o seu livre e curso…

‑ A Liberdade ainda não é um estado. Mas, um ideal a conquistar…

‑ Percorremos a marcha eterna num Universo sem princípio nem fim…

- Esmagados, somos, pela plenitude do Universo.

‑ Deixamos de pensar quando a consciência abafa o Pensamento.

‑ Espero pela morte… num momento de glória eterna…

‑ «Ser ou não seu: eis a questão?» Mas, que questão? A do Tudo e do Nada? A do Cheio e do vazio? Uma epigrafe tão repetida… Um mistério por desvendar….

‑ Abomino o sono dos que dormem com a consciência pesada.

‑ É insuportável o Amor do Nada.

‑ Tudo cresce melancolicamente na sombra de um Ser que não desabrocha…

‑ A monotonia congela-me o cérebro…

‑ Amar o poder da criação é um estado de júbilo…

‑ Caminho, a passos largos, para a aniquilação do meu ser, sem Pátria, sem Morada, sem Destino, sem nada…

‑ Lamento não me poder reduzir ao nada pela convicção de que a Vida não vale a pena….

‑ É tudo tão passageiro, sem substância que nos enchas as mãos…

‑ De mãos vazias, sobrevivemos à dor do existir….

‑ Pensar a Morte é pensar a purificação do Ser…

‑ Recuso, adio o sono, para que o meu pensamento viaje e a minha mão registe todos os topos das suas paragens infinitas…

‑ Não quero viver na superfície das águas, mas nas profundezas dos oceanos.

‑ A minha megalomania Universal rejeita todos os limites.

‑ O meu querer precisa de ter asas para voar. Só, assim, me é permitido sobreviver.

‑ A transparência da minha alma conduz-me a todos os lugares desconhecidos, a todos os espaços não visitados, ao infinito do infinito da minha própria existência, tão efémera e tão circunscrita…

‑ A proximidade da Morte torna-se-me clara…, porque a desejo.

‑ Sobreviver à vivência do Nada é um estado vegetativo. Aqui, a depressão ocorre, na sua esmagadora infinitude…

‑ Somos tão ilusoriamente obcecados pela “normalidade” como se, de facto, a “normalidade” existisse… O que é a “normalidade”? Respondam-me, se sois capazes….
Escuto. Paro. Vejo. Concentro-me na “normalidade” dos Homens… Não passamos, assim o constato, de complexos físico-químicos, de um conjunto de átomos e de moléculas, organizados de uma determinada forma. Aí está, a nossa “normalidade”. E o resto? O resto… são meras variações de uma fórmula comum. É simples, não é?
“Atroz”: é o adjectivo que devemos utilizar para quem é incapaz de percepcionar a diferença, dentro da “normalidade.

‑ Não quero que prantem a minha morte. Odeio essas lágrimas mordidas que nada significam. Esses meros pedaços de nada das mentes que sempre me ultrajaram e nunca me acudiram.
Glorifiquem, venerem, os Pensamentos que tive e nunca escrevi. Passados quarenta e dois anos, desta minha existência conturbada, é o que vos peço.
Quantos erros não cometi? Quantos, ainda, não irei cometer?
Sou a réplica perfeita de um alma que chora, por não ser compreendida. Não tenho a paz perpétua. Não deixei outros opúsculos. Apenas, alguns pensamentos dispersos. A quem os ler, resta encontrar a lógica, o sentido de tantos retalhos que, nem sempre, fui capaz de unir…
O timbre do tédio regista-se na minha mente, onde já não cabe mais um ínfimo resquício de esperança.
Como me revejo em Sócrates e nessa ideia da Morte como um Bem, Supremo….
Poesias/Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete

(09/01/08)

Não merecemos
As maravilhas da Criação.

Somos restos
De um Paraíso Perdido,
Sem glória.

Somos as mais efémeras criaturas
De um Mundo,
Que o sangue chora.

Movemos
Céus,
Terras
E mares.

Lançámos
As malhas de todas as redes
E a dignidade não conquistámos.

O sabor da vitória dos homens
É mesclado
Com o sangue dos inocentes.

Para paragens incógnitas
Foram atirados,
Jogados,
Lançados,
Sem solenidade.

Em espaços estilhaçados,
Foram depositados,
Sem identidade,
Sem nome,
Sem nada.

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O calor da lareira,
No frio do Inverno,
Uma dádiva de Prometeu,
Que aos homens o fogo doou.

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As árvores despidas,
Pelos ventos do Norte,
Acolhem as aves migratórias,
Que à Natureza doam,
Os mais nobres frutos,
De cada renascer.

A Terra abraça,
No seu doce leito,
As tenras crias,
Que suspiram pela liberdade,
Numa tarde de imensa alegria.

Os céus estrelados
Iluminam as almas dos amantes,
Calorosamente entrelaçadas.
Em silêncio permanecem.
Na harmonia musical
Sustentam
O ardor intenso
Dos seus corpos nus.
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Celebremos
As notes de Lua cheia,
Todos os equinócios,
Todos os solstícios,
Todas as dádivas da Terra.

Celebremos
As glórias merecidas,
As batalhas vencidas,
Nos verdes campos,
Aonde a morte
Não regressará jamais.

Celebremos
O Aberto,
O Cantar
E o Ante-cantar,
Serenamente protegido
Pela aura dos Anjos,
Belos e terríveis.
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Com asas grandiosas,
Se dirigem os Anjos,
Para o misterioso topos
Da génese Universal,
Para o espaço intra-estelar
Dos céus comovidos.

Vivamos
No mundo dos Anjos,
Nas suas alas,
Indeléveis,
Que a felicidade despertam.

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Amemos
As flores
De todas as formas,
De todas as cores,
De todos os cheiros.

Amemos
A ternura de todas as pétalas,
Aveludadas,
De doces texturas

Amemos
O fundo gravitacional,
Que tudo abriga.

Louvemos
Todos os espaços astrais,
De luzes incandescentes.

Louvemos
O brilho redondo
Da infinitude do Universo,
O som distante
Das órbitas planetárias,
A informe forma
Das nuvens brancas.

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Escrevo
Movida pela doçura de um beijo,
Pela meiguice indiscreta
Do olhar dos outros.

Escrevo
Por entre os comoventes
E silenciosos espaços
Das palavras,
Ditas e não ditas.

Escrevo
Ao som do grito
Universal do Pensamento,
Agitado pelos interstícios da Terra,
Rodopiante,
Em torno do seu próprio círculo,
Aberto,
Redondo....

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Entrevejo,
Ao longe,
A invisibilidade dos seres
Encerrados no seu próprio casulo,
Emaranhados
Nas mais finas teias,
Da esmagadora infinitude.

Antevejo,
À distância mais prósima,
Os caminhantes,
Doces e leves,
Em todos os caminhos paralelos,
Que a tragicidade existencial replicam.

Vivo
No Universo insólito
De um mundo sonhado,
Que da realidade terrena
Se afasta.

Ergo-me
Para os límpidos céus,
Para a harmonia musical
Das esferas sagradas,
Encobertas pela vil hipocrisia.

Afasto-me dos homens.
Paira a singeleza
Do cosmos dos Anjos,
Guardiões
Das consciências apoquentadas,
Auditores
Dos pensamentos inconscientes,
Mensageiros
Dos insondáveis segredos
Das mentes abnegadas.

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Se penso no Universo,
Penso
No louvor da Criação,
Nas dádivas
Da Natureza,
Na harmonia
Dos átomos e das moléculas,
No sangue
Que em todas as veias corre,
Na seiva
Que todas as almas vivifica.

Se penso no Universo,
Penso
No esplendor
De todos os sons,
Na beleza,
Conjugada,
De todas as cores,
Na serenidade,
Encantatória,
Dos olhares apaixonados,
Na marca,
Singela,
De cada individualidade.

Se penso no Universo
Penso
Na extraordinária beleza
Da diversidade,
No suculento sumo
De todos os futuros,
Ainda não apodrecidos,
Na enbriaguez
Da comunhão dos corpos,
Na libidinal textura
Dos instintos indiscretos.

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As rosas chamam-me...

Falam-me dos amores
Possíveis
E impossíveis,
Serenos
E inquietos.

Falam-me dos amores
Abençoados
E amaldiçoados,
Comprados
E vendidos.

Falam-me dos amores
Permitidos
E proibidos,
Dos que perpetuam a paz
E dos que a guerra provem.
Pensamentos dispersos,
Isabel Rosete

08/02/08

* Sinto-me só,
Num espaço atopos…

* Não amo a ilusão do Nada,
Mas a solidão do Tudo…