domingo, 23 de março de 2008

O Mundo irradia futilidade
Respira vulgaridade
Sempre que se esconde a Verdade

Perdemo-nos das essências
Das coisas simples
Que atrofiadas crescem
Nas sombras ocultas do Nada

Dispersos
Pairamos
Pelas encruzilhadas da Vida

Perdemos o Ser
Vagueamos
Não sabemos mais quem somos

Isabel Rosete
05/01/08
O Mundo
É-me tão estranho

Voltas e reviravoltas
Em todos os espaços
Eclodem

Não as identifico
Como minhas

São sempre dos outros
De quaisquer outros

Esfumam-se
Na vertigem do meu olhar
Microscópico
Intenso
Imenso

Sempre em busca das Essências
Da Verdade
Da Realidade

Lançam-se
Dúvidas eternas
No seio da minha Escuta
Em permanente estado de alerta

De vigília vespertina
Que nem o sono atormenta
Desorienta
Ou amortece

Isabel Rosete
07/02/08
04/03/08
O meu corpo
Em sofrimento contínuado
Consome-me todas as energias

Fico exausta
Prostrada

Permaneço deitada
Sem força
Para os membros erguer

As minhas mãos
Ainda não escrevem
O que o meu pensamento
Lhes determina

Até quando?

A incógnita
Persiste
Neste meu estar de agonia
Sem tréguas

Agonia-se-me a alma
Aproximo-me da Morte
A qualquer momento
Esperada

Sinto que o colapso final
Está aí
Algures
À minha espera
Pronto a revelar-se

Não o temo
Em mim jaz
Em mim está integrado

Lembra-me
Quão a existência é efémera
Quão ninguém
Somos
Neste espaço de arrogância
Que alimenta a incompreensão dos outros

Isabel Rosete
08/030/8
Pensamentos Dispersos
08/02/08

‑ Passo todos os dias da minha vida rodeada por um conjunto de feras indomáveis…
Não quero lançar-me
No mar infinito
Dos desejos indiscretos

Enrolo-me na solidão
Dos silêncios
Do ainda não dito
Do ainda não pensado

A ressonância calorosa das ondas
Nas marés-altas
Conforta-me

Desperta-me
Para os segredos da Criação
Para o devir contínuo
Da marcha do Mundo
Sem pausas…

Isabel Rosete
08/03/08
Não há círculos viciosos
No tempo
Tripartido
Em aparente
Linha de continuidade

O Passado foi e é
Na memória
Que sempre o presentifica

O Presente é e deixa de ser
Na linha giratória
Que ao Passado e ao Futuro o conduz

O Futuro é o que ainda não é
Do Passado e do Presente
Se projecta
Para uma nova idade

A última da nossa existência
Pelas três linhas do Tempo
Perpassada

Isabel Rosete
0//8/03/08
Nada me resta
A não ser suportar
Este sofrimento
Que me persegue
De forma continuada

Amarrada me mantém
À ideia da efemeridade da Vida
Sentida no seio da incompletude do Nada

O passado
Assoma
Num espaço longínquo
Como se de outra vida
Falasse…

Não me inquieta
Mostra-me um outro Eu
Deixado num tempo
Que já não é
E que não voltará a ser mais

Esfuma-se
Presentifica-se

Oculta-se
Revela-se

Em instantes
Diversos
De comunhão
E de evasão

Aponta para um estado outro
Para um futuro
Que não o repetirá jamais

Isabel Rosete
0//8/03/08
A solidão
Percorre as almas desertas

Esgota a esperança
De outro renascer

Anuncia a morte
De um ser renovado

Corrói as entranhas da Vida
Até ao limiar de Morte

Desperta o vazio da Existência
Em torno da sua efemeridade

Consolida a massa compacta
Dos espíritos amortecidos

Dissipa a luz
De um novo horizonte

Definha cada ser
No seu pedaço de nada

Isabel Rosete
03/03/08
A Paz não se aquieta mais dentro de mim…

Não sou Atlas
Mas carrego
Nas costas
O peso do Mundo

O peso das convivências
Impiedosas
Que me atormentam

Dos olhares
Impertinentes
Que me crucificam

Da tolerância
Dissimulada
Que me esgota a alma…

O peso dos sorrisos
Hipócritas
Que me consomem o espírito

Da vileza
Sórdida
Que me rouba a seiva

Que raio de gentes…!

Só na vida alheia
Tropeçam
Isentas de infelicidade

Essa maldita
Intromissão no alheio

Essa maldita
Farsa da unidade

Essa maldita
Mesquinhez do Pré-conceito…

A identidade
Desprezam

A Diferença
Condenam

A uniformidade
Preservam
Em nome da impostura social
Que não pode ser adiada

Isabel Rosete
13/03/08
A monotonia
Não desperta mais
As mentes inquietas

Traz o tédio
Dos olhares encobertos

Pelas cicatrizes da Vida
Vivida
Em sobressalto perpétuo

Isabel Rosete
12/03/08
Amo o Amor II

Amo o Amor
Fonte dos prazeres eternos
Indescritíveis

Memoráveis
Jamais esquecidos…

Amo o Amor
Na sublimidade
De um beijo ardente
Que em cada boca se vivifica

No enlace
Dos corpos lânguidos
Derretidos
Esvaídos

No bálsamo
Do orgasmo eternizado
A cada instante
Nascido…

Amo o Amor
Das mentes desvairadas
Suadas
Pela intensidade
Indominável
Do Desejo…

Amo o Amor
Na instintividade
Da comunhão dos pares
Jogados
Nos lençóis soltos
Das camas desfeitas

Isabel Rosete
03/03/08
Amo o Amor I

Amo o Amor
O meu
O dos outros

Pelo prazer de o ter
De o sentir
De o viver…

Pelo Amor
Corpos e almas
Se vivificam

Em comunhão
Se consomem
Na alegria
Aberta do Desejo…

Pelo Amor
Outros horizontes se rasgam
Para além do visível

Outros Mundos
Se mostram
Para além do apreensível

Outros estares
Se manifestam
Para além do cognoscível

Isabel Rosete
03/03/08

Páscoa 2008,

por Isabel Rosete



Bebi esse delicioso vinho, símbolo eterno do sangue de Cristo, que agora e sempre nos vivifica alma e nos enobrece os corações, para que o ódio neles se apague, para que a raiva sempre desprezem; para que à comunhão e ao perpétuo renascimento permaneçam abertos.
Cristo, pelas mãos do seu próprio povo, os Judeus, foi sacrificado. Por eles, e por nós também, sofreu e morreu, no auge da sua maturidade, aos 33 anos de idade. Pelo menos, assim rezam as Escrituras.
Apenas mais uma norte de um ideólogo alucinado? Perguntarão aqueles que, à luz da Verdade, a História não leram. Não. Claro que não. Estão completamente enganados. Responderão essoutros que as alegorias bíblicas souberam interpretar literariamente
Não se trata, de facto, assim o penso, nem de mais de uma morte, nem uma morte qualquer. A morte de Cristo é uma metáfora, uma simbolização metafórica que, com precisão, devemos saber analisar.
O que verdadeiramente importa – pelo menos assim o vejo aquando de olhos postos no Mundo – não é a sua morte ou a sua dor física, não é o seu frágil corpo açoitado e ensanguentado, mas a sua morte e dor espiritual, que até hoje se perpétua, denotação perfeita da crueldade, da cobardia e da insanidade humana, que da desgraça alheia se alimenta, petrificada num estado de exacerbação do prazer próprio, assombrada pela “glória” que não vêem mais como sinónimo da sua própria imbecilidade.
A morte de Cristo, Deus feito Homem, é a exemplificação, "claramente vista", da ignorância das gentes, que em histeria colectiva entram, ao som da voz de um líder movido por uma infundada sede de vingança, sem saberem exactamente por que causa lutam.
Eles, os Judeus, preferiram soltar Barrabás e crucificar Cristo. Escolheram salvar o mal, o crime, a bestialidade, em vez de conservarem a pureza de uma alma que pelo Bem e pela Justiça sempre lutou, aceitando, pacificamente, mesmo num atroz sofrimento universal, o destino que o Pai lhe havia confiado, a selvajaria norteada pela mais inconcebível inversão de valores que a humanidade devia, deve, banir convictamente de todos os seus pensamentos e, principalmente, de todas as seus actos.
Cristo lutou, honrosamente, em nome da filosofia que o movia. Defendeu-a, com toda a convicção, em prol de um mundo mais humano, onde imperasse essa costela de bondade, de verdade e de rectidão do carácter, que nem sempre des-ocultamos. Morreu por ela, manifestando toda a sua coragem e lealdade ideológica, até mesmo nos momentos em que a sua dimensão humana se encontrava estarrecida.
Caminhou, a passos largos, sem medo de assumir essa penosa tarefa de ser “Persona no grata” a um sistema corrupto, degenerativo, completamente desqualificado.
Podemos considerá-lo um herói histórico? Claro. Podemos e Devemos. É a minha tese, que passo a defender num intercâmbio de perguntas e respostas.
O que representa ou simboliza este herói? Um mártire, entre tantos outros, que a Historia nos apresenta? A resposta parece-me simples e clara: Cristo foi, é, o símbolo da essência do Humano, na sua grandeza e na sua miséria. Mostrou, mostra, aos Homens – hoje tão cegos e tão surdos como os do seu tempo – como a irracionalidade e o puro instinto são o cancro de todos os Povos, de todas as Nações, em todas as épocas.
Lamentavelmente, esta lição não foi, ainda, por nós interiorizada. E porquê?
1. Porque não convém aos “donos” do poder uma humanidade marcada pela racionalidade do dever, pelo respeito pelas liberdades fundamentais, na sua igualitária e natural diferença;
2. Porque continua a reinar a hipocrisia, a mentira, a inveja e a intolerância.
A “Caixa de Pandora” abriu-se. Lançou sobre a Terra toda a espécie de males. Nela ainda se encontra Esperança, guardada a sete chaves e, quiçá, só libertada quando os Homens desnorteados, pautados por valores desonrosos, indignos e insolentes, encontrarem o seu verdadeiro caminho.
Será que, um dia, chegará esse tão ansiado momento? A mundividência que os nossos olhos diariamente des-velam, parece mostrar que jamais há possibilidade de voltarmos ao “Paraíso Perdido”. Senão vejamos: vivemos o ódio e a disputa desenfreada entre as Nações que, por interesses económicos ou políticos se dispõem a matar, a destruir, brutalmente, todos os obstáculos que à sua frente se apresentam e tendem a coarctar as ideias indigentes dos sistemas totalitários intencionalmente disfarçados.
O valor da dignidade humana, tomada em si mesma e por si mesma, foi aniquilado pela maioria dos Países que, só em teoria, o respeitam. Em primeiro lugar estão os valores da Pátria (que grande mentira!) encobertos pelo frenesim económico do lucro pelo lucro, pelo prazer do poder pelo poder, circunscrito a uma minoria que se auto-classifica como peremptoriamente capaz de defender os Direitos Humanos, por detrás das armas que, indiscriminadamente, fazem jorrar o sangue puro dos inocentes.
Alucinados nos mantemos neste céu de trevas, obscurecedor dos espíritos manipulados por uma escala axiológica inversa, comandada pelo valor imperativo do dinheiro, por sua vez, acompanhado pelo poder político, sem escrúpulos, que o faz crescer, nas mãos de uma pequena e perversa minoria que o mundo (des)governa.
Nesta corda bamba, não mais manobrada pelo equilibrista, continuamos a assistir ao subdesenvolvimento dos países do 3º Mundo, onde reina a fome, a escravidão, a insolência, a má fé, a falsa solidariedade e a intransigência, o des-humano, ou para sermos mais claros e realistas, o Inferno vivido em vida, entre outros anti-valores de que os nossos rostos, sorridentes, se deviam envergonhar, aquando de cada lágrima derramada dos olhos das crianças, que já nem o céu têm como horizonte possível.
Assistimos, todos os dias, pela televisão ou pelos jornais, a estes cenários degradantes. E nenhum de nós se pode declarar como intocável, ou como irresponsável perante estas mazelas que por todo o Mundo assomam, de forma mais ou menos visível. Até nos podemos lamentar. No entanto, nada fazemos para as eliminar ou minimizar.
Sabemos que o palco do Mundo caminha nas franjas da barbárie (nem sempre des-ocultada), de um modo cada vez mais assustador. Mesmo assim, permanecemos calados ou mostramos, apenas, a nossa revolta num restrito grupo de amigos, cuja voz ali se encerra, olhando os “coitados” que sofrem.
Afinal, jamais deixamos de pensar: «Quem sou eu para mudar o Mundo?». E assim voltamos à apatia de sempre, bem mais cómoda do que qualquer cogitação de uma possível luta pelos ideais em que acreditamos. Acrescentamos – a esta frase feita, e sem excepção – que a culpa é do Governo, o eterno bode expiatório das culpas que do nosso cartório, estamos sempre prontos a descartar.
Não convém à minoria, que este palco suporta por detrás de um permanente não dito, que sobre esta realidade meditemos. Levados pelas correntes da demagogia, vendamos os olhos, para que as atrocidades não nos façam pesar a consciência. Rolhamos os ouvidos, para que não ouçamos os gritos aflitos de milhões de pessoas – nossos semelhantes, por essência – que amarguradamente clamam em busca de um simples pedaço de pão, que os seus corpos nutrifique, em demanda de um simples sorriso ou de uma palavra, actuantemente solidária, que os seus acabrunhados espíritos console.
Não fazemos mais jorrar o sangue de Cristo pelas almas sedentas de paz. Não dividimos mais o pão por todos os outros de nós mesmos, também sobreviventes, neste Mundo marcado pelo egoísmo, por falsas promessas, ou por promessas sempre adiadas.


Isabel Rosete
23 de Março, 2008