sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

A Bailarina

Eis a viva expressão
De quem agarra a Vida
Por todos os fios possíveis
De um imaginário
Sempre reprodutivo.

Os seus acenos,
Suaves e determinados,
Sobem e descem.
Os seus paços,
Leves e silenciosos,
Ascendem e descendem,
Erguem-se, elevam-se,
Multiplicam-se
Em todas as direcções,
Indicam-nos o infinito
Que nos apraz bem,
Suspendem-nos a alma
Transportam-nos para outros lugares
Nunca imaginados.

São múltiplos os caminhos
Pela bailarina percorridos
Entre outros estares,
Entre outros rostos,
Entre todos os rostos
Que nela se presentificam
E mostram todos os reflexos
Revelados num espelho mágico
Que move o seu corpo sem sombras.
Os caminhos dos gestos,
Das palavras, dos sons…
Que a envolvem num círculo
Quase perfeito.
Os caminhos das notas
Que preenchem a partitura
Tornam-se audíveis
Em todos as melodias
Pelo seu corpo contornadas.

Há sempre um som
Que a embala,
Que a faz vibrar,
Estremecer ou sonhar
Por entre as linhas
Nem sempre unidas,
Nem sempre definidas
Dos trilhos delgados
Do seu balancear.

O chamamento do som assoma.
Que grande promessa!

O som puro e cristalino
Da música semi-oculto,
Semi-descoberto,
Envolve o corpo
E a alma da bailarina
Ainda capaz de o escutar.

A escuta, naturalmente a escuta…
Qual motor originário do mundo
Que faz mover
Os delicados daquela silhueta única.

Os seus movimentos,
Mesmo os mais simples,
Manifestam a pureza de uma alma
A singeleza de um corpo,
A nobreza de um carácter
Em momentos de perpétua comunhão.

Qual corpo? Qual alma?
Os da Bailarina
Fundidos se dão
A outros corpos, a outras almas,
Nunca em vão.

A bailarina está aí.
Dança, balança,
Rodopia ao tinir
De todos os acordes.
Faz renascer um ser outro
Sempre renovado,
Algures camuflado
No seio da sua própria interioridade.

Isabel Rosete

Os tons, os sons…
Enobrecem a beleza da Criação,
A harmonia da Natureza,
No seu eterno
Estado de graça.

No reino dos vivos
Movem
Os corações adormecidos.
No reino dos mortos,
Fazem renascer
As almas amortecidas,
Sossegam os espíritos
Atormentados,
Harmonizam os corações
Despedaçados,
Pela vil miséria
Do sofrimento inacabado.

Embalam os amores.
Acobertam os seus estares.
Estimulam a excitação dos corpos,
Embriagados,
Pelo intenso desejo
Da união visceral.

Isabel Rosete

No silêncio da Morte,
Enquanto Deus dorme,
Movo-me, leve, pelos espaços astrais.
A paz dos Anjos, em vigília
Permanente, acompanha-me
Com ternura e serenidade.
A minha alma, então,
Sossega e adormece
Na tranquilidade da Eternidade.

Isabel Rosete