sábado, 1 de março de 2008

No vazio das palavras
Ecoam todos os sons
Todas as pausas
Todos os silêncios…

As palavras são punhais
Cristais
Dardos
Sementes de criação…

Despedaçam
Espelham…

Reluzem
Transluzem…

Corpos e almas
Em união e dispersão…

Isabel Rosete
16/01/08
23/02/08
Narciso(s) somos
Não queremos ser Eco…

No espelho
Traçamos
As marcas das nossas máscaras…

Sempre as mesmas…
Sempre outras….

O som dobrado
Redobrado
Prolongado…

De uma voz distante
Ao longe se evade
Entre montes e vales…

Deixa-nos sós…

Entregues ao dilema
Eterno
Da identidade
E da diferença…

Da semelhança
E do diverso…

Nunca resolvido
Sempre adiado…

Nunca desejado
Sempre esperado…

Isabel Rosete
10/01/08
26/01/08
Não há amores-perfeitos
Apenas pedaços de nós
Que se vão dando e fragmentando
Na intimidade com o outro…

Amar:
O entusiasmo
Das Almas abertas
A todos os renascimentos…

A exaltação
Dos corações inquietos…

A embriaguez
Dos corpos libidinais
Ansiosos
Aflitos…

Amar:
A dor
A preocupação
A protecção…

O cuidado
A comunhão
A união
A intersecção…

O fluir oculto do sentir
A dádiva do eu no outro…

A marcha inconsciente
Das paixões
Dotadas ao desnorte
Dos afectos
Ao vaguear incerto
Dos instintos…

Amar:
Queima
Rói
Corrói
Destrói…

Aprisiona
Assalta
Sobressalta…

Amar:
Um encontro de Egos
Dispersos…

A comunhão
Das consciências em rebelião…

O estar próprio
Das almas altruístas…

A dádiva do Ser
Que por todos os entes e espalha…

O desassossego
Que chama
E inflama…

A ânsia
Que exclama
Reclama
Alucina
Proclama…

Isabel Rosete
09//01/08
25/6/01/08
Assim é o amor…

Força
Que move e comove
Despista
Rói
Corrói
Destrói…

Cego e surdo
Táctil e visual
Transporta-nos
Para a realidade
Do possível…

Para o possível
Do impossível…

Para o imaginável
Do inimaginável…

Para o sonho
Do in-sonhável…

Para as correntes tumultuosas
De um mar sem fim…

Para o infinito
Do próprio finito…

Para a alucinação
Da sensatez…

Para a irrazoabilidade
Do razoável…

Para o ilimitado
De todos os limites
Conscientes
Ou inconscientes…

Assim é o Amor
Uma força tremenda
Gigantesca…

Arrebatadora
Desmedida
Enorme…

Dentro de um tempo redondo
De um eterno retorno
Do mesmo e do outro
Com princípio e fim…

Isabel Rosete
26/05/07
26/01/08
Como não temo viver riscos
Como amo todos os desafios…

Ouso todos os excessos
Todas as hipérboles
Todas as excentricidades…

Ouso
Ousar o Tudo…

Isabel Rosete
19/12/07
26/01/08
Aqui estamos nós,
Homens,
Um dia rotulados de “animais racionais”…

Supostamente
Pensantes…

Supostamente
Sensatos…

Prudentes
Previdentes…

Detentores
De um raciocínio lógico-discursivo…

Hipoteticamente
Emersos
No melhor dos mundos possíveis…

Afinal
O que queremos de nós,
Seres errantes?

O que queremos do Mundo
Que em torno de nós
Se desloca
A uma velocidade incomensurável?

Que intentos nos movem?
O que pretendemos?

Apagar
Essa aura de entes
Onde
Um dia
Fomos depositados
Sem que o nosso querer
Fosse chamado a opinar?

Varrer
Este modo de Existência
De caos e de ordem?

Abolir
Este estado
Epimetaico e prometaico
Que sempre nos caracteriza?

Remover
Os des-equilíbrios
De que somos co-autores
E co-produtos
Voluntária
Ou involuntariamente?

Perdemos o rumo
A direcção…

Não encontramos mais
O fio de Ariana
Que comanda o nosso Destino…

Destino?
Mas, que Destino?

O de sermos meros pedaços enredados
De uma humanidade enlaçada
Nas malhas da sua própria teia?

Ariana e a Aranha
Estão sobre a caução do mesmo invólucro
Tão opaco
Quanto transparente
Tão sublime
Quanto miserável…

Ainda podemos falar
Da harmonia heracliteana dos contrários?

Do caos criativo que
Gera a ordem desordenada?

Isabel Rosete
19/01/2001
17/02/08
Finalmente
Sossego
Na melodiosa paz dos Anjos

Volto a ser infante
Adormeço
Com a serenidade clara da Lua…

Sonho outros mundos
Outras vidas
Outros estares…

Viajo por todos os espaços
Mesmo pelos mais inacessíveis…

Um imaginário suave e tranquilo
Traz-me a Paz
Sempre esperada em todos os momentos
Desta minha existência instável
Volúvel
Camaliónica….

Entranho-me nas mais labirínticas tramas
Deste Universo sem fim…

Vejo o Infinito
Encontro o silêncio dos orbes celestes…

O divino aureola-me
Entro em comunhão comigo mesma
Com todos os outros
Meros pedaços efémeros do meu caminhar…

Os meus pensamentos percorrem
A iter-mundaneidade do Mundo
Com pressa
Sem discrição…

Finalmente….
Sou Eu
E não mais o outro de mim mesma…

Isabel Rosete
03/09/07
16/02/08
Dali…

O inconsciente
O sonho…

O fantástico
O extraordinário…

A exuberância das formas
O surreal
Que a realidade esconde
Num mundo outro…

A intimidade do Ser
As profundezas da Alma…

O turbilhão dos instintos
Dos rostos e das máscaras...

O poli-cromático
O desconcertante…

A beleza do bizarro
O genial…

A metamorfose de todas as coisas
De todos os outros
De todos os traços
De todas as linhas…

Os bigodes retorcidos
As flores no cabelo…

As bengalas
Que apoiam
Uma presença nunca desaparecida…

Os elefantes
As gavetas…

As rosas
Que sangram e meditam…

Isabel Rosete
03/09/07
16/02/08
Édipo…

A trágica lembrança
Do amor maculado…

As mãos manchadas do sangue
Do mesmo sangue
Por uma traição não premeditada…

A memória
De um pecado capital…

Não mais compreendido…
Não mais perdoado…

Um amor proibido
Castrado
Pelas teias da moralidade…

Um amor
Pela polis
Punido…

Que as leis dos deuses
Não respeita mais…

Édipo…

A vileza inconsciente
De uma alma apaixonada…

Condenada
Aos degredos da dilaceração
De uma morte anunciada…

Um alma repleta de dor
Que os olhos cega
Para não mais enxergar…

Isabel Rosete
10/01/08
17/02/08