domingo, 23 de outubro de 2011


Li a tua carta de ontem

Ao rair da madrugada luminosa.

Não inalei o teu cheiro,

Não ouvi a tua voz,

Não saboreei o teu paladar.

Por isso, não te senti.

Estavas longe, muito longe...

Demasiado longe... Tão longe...

Para chegares até mim!



As tuas mãos já não me tocam,

Os teus olhos já não me enxergam,

A tua alma já não me anima

E o teu corpo já não penetra o meu.



Permanecemos na distância próxima

Da nostalgia que, ainda, nos abala,

Na memória repleta de recordações

De nós, outrora, fundidos numa mesma

Matéria e num mesmo Espírito.



Isabel Rosete, Ílhavo, 19/06/2010

Os pratos da balança já não se equilibram mais!

Já não sabemos onde mora a Justiça!

A medida certa acabou!

Esgotou-se nas hipérboles

Dos inglórios feitos humanos.



A incerteza, a dúvida, o paradoxo

São o paradeiro do nosso caminhar incerto

Em terreno irremediavelmente movediço,

Ao mesmo tempo que estanque

E repleto de obstáculos inultrapassáveis.



Sempre nos prendem as pernas

Quando os nossos passos são longos!

Sempre nos prendem os passos

Quando as nossas pernas caminham

Em direcção aos lugares nunca antes cogitados!



Ah, que ilusão, a dos Homens,

Sempre que lançam na Terra e nos Mares

As malhas apertadas das suas próprias redes

Como (supostos) senhores, dominadores do Universo

Físico e humano, onde residem e escassamente habitam!



O Mundo está aí e permanece imutável,

Na sua essência, apesar de todas as investidas

Desta Humanidade minoritária que luta

Pelas suas mais nobres causas, sempre solitária;

Que acompanha, em desacordo, o furor das multidões

Em revolta, contra o imposto pelas leis da Natureza,

Que não mais salvaguarda ou protege.



Ai, esta Humanidade que, um dia,

Alimentou a vã ilusão do Tudo manipular,

De ser a gestora de um Universo que,

Amiúde, gosta de se esconder

Na sua mutabilidade camaliónica!

Isabel Rosete
Amo o Desejo com o corpo todo.

Amo o Desejo com a alma inteira.

Amo-te de corpo e alma com o Desejo pleno.

Queres maior prova do meu Amor?

Assim me habito e te habito nesta morada

Viva de um Amor eterno, num obscuro domínio.


IR, Ílhavo, 09/02/2011