quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

No Silêncio dos mortos
Encontro todos os pares
Da minha famigerada Alma
Em trânsito
Em dilema
Em inquietação…

Quando em Paz regresso
A serenidade instala-se.
Vivo a plena Alegria de todos os
Re-nascimentos
Ressurreições
Re-novações…

Qual Cristo na cruz pregado
Mas
Vivo
Sempre!

Pressente na ausência
Do seu ser, cheio
Indelevelmente ancorado
Em todos os postes
Dos Espíritos abandonados

Isabel Rosete

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Não sossegas
Oh, minha alma
Na paixão dos des-encontros!

Vagueias pelo corpo luminoso
Do teu amante,
Que não está.

Palpitas
Arritmadamente
No seio do teu coração
Tão ansioso.

Isabel Rosete
31/11/2009
É tudo tão estranho
No Amor!
Tão incompreensível
Tão indecifrável!

Por vezes,
Chovem lágrimas
De paixão exacerbada
Sem freios de qualquer espécie!

O Universo está nos amantes.
Os seus corpos enrolam-se
E desenrolam-se
Por entre a chuva intensa,
Que não pára mais!

Por vezes,
Chovem lágrimas de amargura!

O coração fica despedaçado
A alma retalhada
A mente em turbilhão
Intelectual contínuo, sem dó…

O corpo
Amortecido e inquieto.

E a chuva não pára mais!

Isabel Rosete
13/11/2009
Na ausência de um Desejo
Se erguem os meus sonhos

De Esperança;

Na ausência do Amor
Se elevam a Amargura e a Dor

Do meu estar-só.

Mas

Não há Ausência
Que invada o meu

Espírito

Sempre sedento

Do novo e do Maior!


Isabel Rosete
7/12/2009

terça-feira, 22 de dezembro de 2009

Se se apagar a Luz da minha Alma,
Definho
Em todo o meu ser
De pó e miséria,
De colapso…

Isabel Rosete

"A escrita do Mundo", por Isabel Rosete, com comentário de Luiz Pires dos Reys

Duvido que seja eu quem escreva
Neste vale de lágrimas impetuoso,

Sem deuses
Sem homens
Sem destino!

Agarro a Vida por um só fio
Tão subtil
Tão leve
Tão frágil…
Como o das asas dos pássaros migratórios.

O sussurro do Mundo envolve-me
Embala-me
Afaga-me
Num lento e doce caminhar.

Sinto-me leve
Abandonei todos os grilhões
Todos os freios
Todas as limitações.

A minha alma eleva-se
Confunde-se
Com as nuvens
De um céu claro
Transbordante de serenidade.

Entrou
Por um momento
Em harmonia consigo mesma
E com o Mundo;

Fechou
Por parcos minutos
Os olhos à hipocrisia
À mediocridade
Ao vil
Ao comum;

Enaltece-se,
Agora,
Com a grandiosidade do Universo;

E venda os olhos
Aos horrores humanos.


Isabel Rosete
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Comentário de:
Luiz Pires Dos Reys 20/12 às 23:21
Cara Isabel,

Há palavras e sentires que exigem recolhimento ou recato que certa forma de pórtico ou praça pública aconselham a que se evitem.

Este seu poema "A Escrita do Mundo" (aliás, poderia dizer o mesmo dos seus últimos outros poemas, na sua generalidade) mostra, entreabre uma greta, uma fissura, uma entreabertura de tal forma aguda e intensa, feita de tensão paradoxal e de tão vívido drama íntimo que quase dói lê-la, tal a sinceridade mesma que, ao mesmo tempo, a Isabel tenta não desnudar de um modo que possa porventura mostrar mais que o justo pudor da intimidade da alma e do espírito sempre aconselhem a que se preserve.

As frases afirmativas são quase punjentes de tanto sentir-se serem escritas como que sobre uma espécie de lâmina que vai em crescente gume de sentir:

"Duvido que seja eu quem escreva"; "agarro a Vida por um só fio"; "o sussurro do Mundo envolve-me" - eis três destas lâminas de sentir. A primeira duvida, para tudo abrir e a tudo abrir-se; a mediana é como que um ímpeto de "empowerment"; a última é escuta do segredo sussurrante de tal gume.

Onde se passa isto? "Neste vale de lágrimas impetuoso"

Com quem ou o quê? "Sem deuses / Sem homens / Sem destino!"

De que modo? "Tão subtil / Tão leve / Tão frágil…"

O que tal faz em quem o sente? "Embala-me / Afaga-me / Num lento e doce caminhar."

O que provoca? "Sinto-me leve / Abandonei todos os grilhões / Todos os freios / Todas as limitações."

E, enfim, que resulta isso? "A minha alma eleva-se / Confunde-se / Com as nuvens / De um céu claro / Transbordante de serenidade."

A que paragens se alcandorou? "Entrou / Por um momento / Em harmonia consigo mesma / E com o Mundo"

O que conclui? "Enaltece-se,/ Agora,/ Com a grandiosidade do Universo"

O que decide? "E venda os olhos / Aos horrores humanos."

Com tudo sou abismicamente síntone e concorde consigo, irmã poeta. Que não numa apenas: no que decide.
Salvo se uma tal venda seja para melhor e mais fundo e mais alto ver além do que, ainda que seja de horror, sempre tem velada mão do Inominável que sempre de outro mais supreendente modo nos rasga de espanto o peito do olhar: em um sentir que é um pensar que compassivo ama, sem condições de imposição alguma.

Muito grato pelo dom da sua poesia, nela trazendo-me a sua mais "álmica" profundeza.

Abraço,

L-

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Sou a exemplificação
Mais ou menos fortuita
Das Paixões inconstantes.

O Amor comove-me!
Mas, nem sempre me move!

A dor do amor
Desampara-me
Desarma-me…
Todas as vezes
Que me bate à porta.

Nunca sei como recebê-lo
Pela inquietude do meu ser
Em demanda
Em digressão…
Perpétua.

Isabel Rosete
A solidão da ausência do Amor
Torna-se insuportável.
A Alma esmorece,
O coração des-falece
No eterno retorno de um ciclo perpétuo
Onde o tempo se esgota.

Isabel Rosete
Sofro pelos amores-vividos,
Pelos ainda não-vividos
E por viver.

Quero-os
E rejeito-os
Num só e mesmo instante
De plena inquietude,
Que me ex-tasia a Alma
Atormentada
Vagueante pelos atalhos,
Por onde não vou.

Isabel Rosete
Sinto, ao longe,
As marcas vindouras do sofrimento
De mais um dia des-feito.

Ecos das trevas da alma se alojam dentro de mim
Em instantes
De indecifráveis mistérios
Do amor e da morte
Que, em uníssono,
Se beijam...

Isabel Rosete
Magos celestiais,
Para onde nos levam
Os vossos caminhos?

Para o Futuro,
Há muito, esperado?
Para o Paraíso,
Outrora, perdido,
E agora desejoso de ser re-encontrado?

Que caminhos teremos
De percorrer, ainda?
Por quantas marés
Teremos de navegar?
Quantas Estrelas
Teremos de contemplar?
Quantos céus
Teremos de percorrer?
Quantos montes
Teremos de mover,
Rumo a uma outra era
Rumo a uma nova idade?

Isabel Rosete
Pairo, por aí…
Não sei para onde vou!
Simplesmente pairo
E sou.

Isabel Rosete
Não me preocupo com o Ser
Do ser daquilo que é!

Porém, o vazio do espaço
E do tempo
Sempre me atrofia o cérebro,
Sempre trava os movimentos
Do meu corpo,
Languido.

Porque vos espantais?
Somos corpo e cérebro,
Puro complexo físico-químico!
Veias,
Sangue,
Células,
Átomos, moléculas…
E, também, mágoas!

Isabel Rosete
Um dia de Sol resplandece
Por entre as águas cristalinas
Tão puras
Tão imortais
Tão ancestrais quanto o próprio Homem.

Mas, não há Sol
Que ilumine as mentes escuras
Travadas pelas trevas da
Ignorância!

Mas, não há Sol
Que entre pelas vidraças
Húmidas e tristes
Das casas cinzentas
Votadas ao abandono
Pela (des)habitação do Humano!

Mas, não há Sol
Que acalente
Os corações jazidos
Pelo ódio ainda não arrefecido
Pela vingança irreflectida
Dos espíritos acobardados!

Isabel Rosete
Se a minha Alma falasse
Não se entenderia com a linguagem dos Homens
Cegos e surdos
Em veredas (des)amparados.

Pedaços de mim lançam-se por esse Mundo incógnito
Soltos
Completamente soltos
Como se o puzzle a que um dia pertenceram
Se tivesse desfeito, para sempre,
Na anarquia caótica dessas gentes que escondem
Os sorrisos de gratidão
As lágrimas de felicidade
Os aplausos, a um só ritmo,
Que não soam mais nos timbres da harmonia
Dos tambores da Paz e da Justiça
Que, outrora, me consolavam a Alma
Viandante
Que parte e fica num mesmo lugar
Num outro e mesmo lugar qualquer
Algures perdido na imensidão do Universo.

Ah, se encontrasse, um dia, esse meu topos
Esse lugar natural que me foi destinado
Esse espaço só do Tempo e só do Espaço
Apenas para mim guardo
Só para mim colhido e não para mais ninguém!

Mas a podridão dos sentires putrefactos
Sempre se eleva
Sempre fala mais alto
Pelas aquelas vozes ignóbeis
Da maledicência propositada.

Isabel Rosete
Quem me levará para onde eu não quero ir
Durante a minha Vida,
No momento da minha Morte,
Ou depois de todos os meus perecimentos
Infinitos?

Apenas os Anjos que sabem de mim
E escutam,
Silenciosamente,
As vozes do meu pensamento,
Nem sempre dis-persas.

Isabel Rosete
Finalmente,
Conquistámos a Felicidade!
Finalmente,
Renova-se a Alegria!

Não há mais sofrimento,
Nem dor, nem flagelos...

A Humanidade atingiu,
Por ora,
O auge da sua própria per-feição,
O júbilo do seu ser,
Em todo o seu esplendor...

E a serenidade regressou às Almas,
Agora,
Em paz perpétua.

Isabel Rosete
Se os girassóis florirem...
O nosso Amor continuará a ser eterno!
Mesmo que as amarguras da vida
Perdurem!
Mesmo que o Mundo nos
Separe!

Nada,
Ninguém,
Combaterá a intensidade
Da força do Amor!

Sempre que o Amor é Rei...!

Quando um Rei impera,
Pela seiva viva que o legítima,
Nada é imbatível,
Não há impossíveis!

Os obstáculos desaparecem
Pelo alento do Amor!
Todas as restrições
Podem ser contornadas!

Há um mundo infinito para explorar!

Todas as potencialidades
Do Sentir,
Tão intenso e extenso
Quanto o próprio Universo;
Tão sublime
E tão belo,
Quanto o nascer de todas as coisas;
Tão cruel
E fatídico,
Quanto as fímbrias de todas as tragédias gregas…

Sem fim
Aparentemente visível,
Sem fronteiras
Claramente determinadas,
Sem muros
Obviamente impeditivos
Das possíveis manipulações do Eu.

Isabel Rosete
Nos mais altos cumes das agrestes montanhas
Projecto a minha voz,
Bem... ao longe,
Num eco tremendo
Que por todos os lugares
Se espalha
Sem freios,
Sem percalços.

A Liberdade do Canto
Leva-se às entranhas da Terra
Ao coração dos Céus,
Às profundezas dos Oceanos.

Assim, solto o meu Grito
De estonteante Felicidade!
O Grito saudável da Loucura,
Da Razão exacerbada,
Da Consciência absoluta
Do Ser e do Não-Ser,
Mesmo que todas as verdades sejam ,
Naturalmente,
Relativas.

Isabel Rosete
Como odeio este Mundo
De sorrisos semi-cerrados
De olhares pardacentos
D escutas falsificadas
Pelo fanatismo retórico
Dos demagogos das estatísticas forjadas
Dos cínicos motes
Das aparências das aparências
Da arrogância das gentes
Snobes
Presas à enganosa cultura
Da ignorância mal-disfraçada.

Isabel Rosete
Esmago a Hipocrisia
Com um punho forte,
Qual peste negra e podre miséria
Das almas vis,
Das sanguessugas amaldiçoadas
Pela lúcida transparência,
Luminosa,
Das mentes pelo bom-senso embriagadas
Que, do Céu, recebem essa nobre missão:

- A Humanidade salvar do cadaveroso reino,
Dos olhares dissimulados e perversos,
Das falsas intenções de bondade e humanismo camuflados,
Apenas em nome da vã glória,
Do oportunismo fútil,
Barato,
Da incoerência dos raciocínios
Paradoxais;
Da maledicência das santas vozes
Que, em nome de Deus
(ou do Diabo),
Clamam a fraternidade.

Isabel Rosete
O sonho alimenta as Almas solitárias,
Arrasta os corações des-pedaçados
Para o Paraíso,
Tão perdido
Quanto desejado!

Esfuma a voz tenebrosa
Do desassombro,
As malhas das franjas entediantes,
De uma existência in-completa.

O sonho comanda as margens lastimosas
Do vil desassossego,
Ampara as des-ilusões do destino,
Implacável,
Cruel...
Sempre presente
Na sua ausência discreta.

O sonho eleva os ânimos
Na efervescência do prazer,
Efêmero,
Dos escassos momentos
De Felicidade
E de Glória.

Isabel Rosete
Sonho por entre as dunas desertas.
O desejo libidinal assoma,
O cheiro do Amor eleva-se
Nas mucosas ressequidas
Pela ausência da respiração orgástica.

O sonho e o desejo do sono...
O Eterno do prazer...
Já não têm par!

Mas, em uníssono se erguem.
Comovem a Alma,
O Espírito des-pertam,
Na ansiedade rara
De um amanhã mais terno.

Isabel Rosete

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ai, se o vento me levasse
Na orla infinda das marés
Que ainda me salpicam!

Ai, se o vento me levasse
No espasmo matinal
Do cheiro eterno das flores!

Aí permaneceria, cândida, pura…
No seio de uma alegria sem fim
Que me acalentaria a alma.

Já não choraria mais
A criança que não fui
Ou a infância que não tive.

Voltaria a brincar com os infantes.
E, finalmente, sorria
Na transparência de um desejo inocente.

Isabel Rosete,
03/12/2009

SOMETHING: STENDHAL [Henri-Marie Beyle] - (1783-1842)

SOMETHING: STENDHAL [Henri-Marie Beyle] - (1783-1842)

domingo, 29 de novembro de 2009

Um livro
De sons
E de silêncios
Estou a tentar escrever
Com a doçura das manhãs claras
Dos raios de sol
Que iluminam a minha mente
Num rasgo de luz
E transparência.

Torna-se tudo tão claro
E tão obscuro!

Um imenso universo de letras
Me espera
Em qualquer Mundo possível!

Vogais e consoantes
Se interpenetram
Sem fim
No seio do Mistério
De todos os enigmas.

Emerge o suposto
O especulativo
Do prazer do texto
Onde impera o não-dito.

Nada se decifra
No labirinto
Dos caminhos que não mais
Se bifurcam!

Pelas ruínas circulares
Vagueio
À procura do Minotauro
Tão longe e tão perto
Do ainda não perceptível.

E o livro
Ainda não foi escrito!

Isabel Rosete
28/11/2009

terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Universo derrama lágrimas
De um insondável silêncio
De sangue
De angústia
De morte…

Insuflado pelo ódio dos Homens
Des-orbita-se
Des-concentra-se do ante-cantar primordial
Que da lava viscosa
Em Terra firma
Não mais se transformou.

É uma massa difusa
Uma amálgama de lixo cósmico
De pedaços soltos caoticamente organizados
Num centro que não é centro algum
Num Topos
Que não é mais um lugar natural,
Num espaço
Que não tem mais consistência;
Num tempo
Que não é mais Tempo
Nem finitude
Nem eternidade!

Um universo perdido
Em órbitas desencontradas
Em revolta intra-estelar
Em ritmo desconcertante…
Eis o que fizemos
Des-fizemos
E não conquistámos mais
Por essa pobre angústia nossa
De aves de rapina
Ou por essa dilacerada e sórdida leveza
De asas de condor.

Isabel Rosete
04/01/2009


IDENTIDADE

Assumir, convictamente, a Identidade… Seguramente, o maior esforço de todo o ser humano, neste Mundo de falsas identidades ou de identidades camufladas, fundeadas no espaço camaliónico das diferenças não aceites, da imposição de um padrão comum, do estereotipado, onde não há lugar para o ser-si-mesmo, nesta sociedade do “parecer-ser”, em nome de um tal “bem-estar” comum que, na generalidade, não passa de uma mera utopia demagógica.
Vigora a mais deslavada hipocrisia anulativa das dissemelhanças, da diversidade, que faz a singela Beleza intrínseca à essência do universo físico e humano, a que já não pertencemos mais.
Adulterámos as Leis da Natureza. Instaurámos o caos cósmico. A isso, chamamos progresso. Que progresso? O da rarefacção da camada de ozono? O do efeito de estufa e do degelo dos oceanos? O do des-equilíbrio dos ecossistemas? O da miséria das crianças sub-nutridas? O dos Povos famintos? O da infelicidade dos Homens que clamam o Paraíso perdido?
O “progresso” da irracionalidade, das mentes inconscientes, dos pensamentos corroídos pelo ódio, instaurou-se, definitivamente, no seio desta massa humana, indefesa, des-norteada, que hoje somos.
Coitados dos homens. Tão potentes e tão frágeis, ao mesmo tempo. Meras peças soltas do grande puzzle, do puzzle universal, onde já não se encaixam mais.
Somos mero pó, cinzas dispersas, em incandescência dissonante. Brilho opaco dos restos do lixo cósmico, em degeneração total.
Corremos pelos leitos de todos os rios, que, no mar, não desaguam mais. Perdemo-nos de nós mesmos. Não nos encontramos mais. Rodopiamos num círculo imperfeito de esferas desencontradas, de espaços sem intersecção, indefinidos, incertos, indeterminados, mas, ao mesmo tempo, “extra-ordinários”, libidinais, irascíveis e concupiscentes.
Erramos, navegamos pelos espaços infindos da imaginação. Buscamos o Infinito, o Eterno, o Imutável. Projectamos um futuro outro, apenas existente no mundo ficcional de todos os nossos sonhos: do “princípio da realidade” se afastam, para erguer, sempre, o “princípio do prazer”.
Velejamos por todos os mares. Pairamos por todos os espaços siderais. Percorremos todos os caminhos da Floresta, sempre paralelos, sempre descontínuos. A escolha não é mais possível.
Esmagamos um Ego desesperado, descentrado de si mesmo, tão narcísico quanto paradoxal. E, no entanto, ainda somos aves de rapina, predadores universais, dominadores de todas as possíveis presas, dissimulados num habitat, que já não é mais natural.
Percorremos todos os atalhos. Edificamos uma nova ordem. A da caoticidade mundial. E, no entanto, ainda somos apelidados de “animais racionais”.
Que racionalidade é esta, criadora de um tempo de infortúnio? Que racionalidade é essa, geradora de todas as misérias? Que racionalidade é esta re-veladora da massa indigente das gentes vagueantes, bicéfalas?

Isabel Rosete

A Paz flui dentro de mim
Num ritmo suave e sereno.
Apenas escuto o Silêncio
E o cadenciado chilrear dos pardais
Ora
Poisados nas árvores agrestes
Ora
Caminhando pela terra ardente
Na recolha das últimas migalhas.

Lembro-me de ti!
Já não te amo mais!
Já não te quero,
Nunca mais!

Ah, se o amor por ti
Voltasse!
Como seria
De novo
Infeliz!

Como se desprenderiam
Todos os fragmentos de mim!

25/11/2009
Isabel Rosete
O fluir das águas
Afugenta a minha memória,
Que em Paz permanece,
Sem sonhos
E sem glória.

Isabel Rosete
04/01/2009

MONOTONIA

A monotonia congela-me o cérebro. Irrita-me a Alma, ávida do sempre novo, do constantemente diferente, da metamorfose, do mistério, do enigma, de todas as incógnitas…
A minha Alma suplica pelo desafio do desconhecido, do nunca antes visto ou imaginado. Do impensado e do impensável. Caminha para o impossível, para o reino efémero da ausência de limites, para o paralelamente infinito, para todos os caminhos, até mesmo para os mais recônditos.
A minha Alma procura a inocência primeira, a leveza do Ser de todas as coisas, animadas e inanimadas, terrestres e celestes, no seio dos dois lados da quadratura perfeita de um círculo por quatro pilares comandando: os Homens, a Terra; os Deuses, o Céu.
A Minha Alma busca o Imenso, na esperança de encontrar um Mundo novo, exemplar. Este já está gasto, saturado, des-governado, demasiadamente costumeiro para quem deseja ver mais longe, para quem almeja ver para além das ilusórias aparências que ofuscam o olhar primogénito.
A minha Alma procura, sem cessar, a Liberdade, qual espaço aberto de expansão total do Tudo, onde não há o acaso, nem o vazio, nem o nada.
A minha Alma quer percorrer os círculos viscerais de todos os entes. Ama a Totalidade, na sua grandeza, que foge aos estreitos limites do Tempo, do Espaço, do Destino. Vagueia por todos os lugares. Não cabe mais dentro de si mesma. Procura o Aberto, onde o Todo se funde, em perpétua comunhão com o Ser, o Estar e o Pensar.
A minha Alma pensa o Mundo. Esmorece perante o caótico cenário da miséria humana. Intenta mudar o Mundo, a mente das gentes agrilhoadas à mesquinhez do mero sobreviver, à vileza dos pré-conceitos. Quer ultrapassar as barreiras do Tempo e do Espaço. Quer ser eterna e nessa eternidade mover o Universo.
Porém, não é narcísica. Vê-se ao espelho. Sempre. Reconhece a sua própria identidade, as suas faces e as faces que não são as suas. Sofre com todos os “Epimeteus”…Deseja todos os “Prometeus”… Sente-se só. Desamparada, neste espaço cósmico des-humanizado, que não suporta a disparidade da alteridade.
A minha Alma quer re-nascer num mundo novo, com a hierarquia axiológica adequada…. Sem rótulos, sem rebanhos, sem congeminações forçadas e infundadas. A minha Alma quer crescer no topos infinito de todos os oceanos…

Isabel Rosete
Das Fontes
Já não jorram mais
Águas cristalinas.

Dos mares
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias.

Das Estrelas
Já não renasce mais
O brilho duradoiro

Da Terra
Já não desponta mais
A fonte da Salvação.

Da Humanidade
Já não eclode mais
O grito do perdão.

Isabel Rosete
Ah, como amo o Ex-traordinário
Na ausência de todos os limites,
O ser e o vir-a-ser de tudo o que
Na sua pujança
Ainda não é!

Um Mundo é sempre um Mundo!
Na vacuidade da sua representação formal,
No ilusório espaço de transmutação
Das criaturas
Sempre, em devir perpétuo.

Num espaço trans-planetário
Se desdobram e difundem
No mesmo de si
No mesmo de todos os outros.

Fusões de identidade
Dis-persas!

Criaturas e espaços!
Espaços das criaturas!
Do criado e do in-criado
Na inexistência da matéria originária
E da forma
Primogénita
Dos limites dos corpos!

E a hipérbole
Perpassa esta minha visão-do-mundo
Que ultrapassa o parecer-ser!

Sigo na direcção das essências
Almejo o Uno primordial
Algures
Oculto
Em qualquer parte do Universo.

25/11/2009
Isabel Rosete
Chamo a paz das nascentes
E as águas límpidas das fontes
Que não jorram mais.

Mas, não vou por aí!
Não, não vou por aí!

Os caminhos paralelos aureolam-me
Envolvem-me os passos
Na massa compacta do Mundo.

Distraída
Sigo
Em derredor do rumo dos ventos
Da direcção das estrelas.

No silêncio da atmosfera
Vagueio,
Na paz das florestas
Jamais descanso!

Florestas de pedra
De betão…
Tão opacas quanto transparentes
Tão verdes quanto vermelhas…

Também
Negras
Pela fumaça das máquinas
Que já não respiram mais.

25/11/2009
Isabel Rosete
Não há espaços ancestrais
Que nos acolham!

Que mãos terríveis
As dos Homens!
Tão trémulas e tão vacilantes
Quanto o mais frágil vime;
Tão poderosas e monstruosas
Indignas e vis
Quanto a alma de um tirano.

Isabel Rosete
O Mar faz ecoar,
Ao longe,
O doce e ilusório canto das sereias.

Pelos marinheiros
Não chamam!
Mas entoam os sons últimos
Das vozes nele caladas
Pelos estrondos sons dos canhões
Que, para sempre, as submergiram
Sem dó!

Isabel Rosete
O Universo derrama lágrimas
De um insondável silêncio
De sangue
De angústia
De morte…

Insuflado pelo ódio dos Homens
Des-orbita-se
Des-concentra-se do ante-cantar primordial
Que da lava viscosa
Em Terra firma
Não mais se transformou.

É uma massa difusa
Uma amálgama de lixo cósmico
De pedaços soltos caoticamente organizados
Num centro que não é centro algum
Num Topos
Que não é mais um lugar natural,
Num espaço
Que não tem mais consistência;
Num tempo
Que não é mais Tempo
Nem finitude
Nem eternidade!

Um universo perdido
Em órbitas desencontradas
Em revolta intra-estelar
Em ritmo desconcertante…
Eis o que fizemos
Des-fizemos
E não conquistámos mais
Por essa pobre angústia nossa
De aves de rapina
Ou por essa dilacerada e sórdida leveza
De asas de condor.

Isabel Rosete
Há um Espírito errante
Que nos percorre
Cobre as nossas faces
Desprotegidas
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.

Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto,
Das mentes pálidas;

A podridão
Do horror,
O enfado
Do tédio,
A escuridão
Cega e surda,
Das franjas deixadas ela inveja.

Isabel Rosete

Caminhos do Ser

As viagens são múltiplas
Os caminhos diversos
Os do Ser e os do “não-Ser”
Os do Nada…

A metamorfose
E a mudança
Comandam o mundo.

O Ser não permanece mais
Na sua imutabilidade originária!

As sombras
As aparências
Ofuscam o olhar
Dos que querem ver
A essência
O miolo sedoso
De um pão bolorento…

A identidade perde-se.
Somos o mesmo rebanho!

Corremos na mesma direcção
E já nada identificamos com precisão!

A amalgama do mundo
Corre nas nossas veias…

Isabel Rosete

terça-feira, 3 de novembro de 2009

"Normalidade"


Somos tão ilusoriamente obcecados pela “normalidade” como se, de facto, a “normalidade” existisse… O que é a “normalidade”? Respondam-me, se sois capazes….
Escuto! Paro! Vejo!
Concentro-me na “normalidade” dos Homens… Não passamos, assim o constato, de complexos físico-químicos, de um conjunto de átomos e de moléculas, organizados de uma determinada forma, específica. Aí está, a nossa “normalidade”. E o resto? O resto… são meras variações de uma fórmula comum. É simples, não é?
“Atroz”: é o adjectivo que devemos utilizar para quem é incapaz de percepcionar a diferença, dentro da “normalidade”.

Isabel Rosete
Não quero que prantem a minha morte. Odeio essas lágrimas mordidas que nada significam. Esses meros pedaços de nada das mentes que sempre me ultrajaram e nunca me acudiram.
Glorifiquem, venerem, os Pensamentos que tive e nunca escrevi. Passados quarenta e dois anos, desta minha existência conturbada, é o que vos peço.
Quantos erros não cometi? Quantos, ainda, não irei cometer?
Sou a réplica perfeita de um alma que chora, por não ser compreendida. Não tenho a paz perpétua. Não deixei outros opúsculos. Apenas, alguns pensamentos dispersos. A quem os ler, resta encontrar a lógica, o sentido de tantos retalhos que, nem sempre, fui capaz de unir…
O timbre do tédio regista-se na minha mente, onde já não cabe mais um ínfimo resquício de esperança.
Como me revejo em Sócrates e nessa ideia da Morte como um Bem, Supremo….

Isabel Rosete

domingo, 25 de outubro de 2009

Um dia de Sol resplandece
Por entre as águas cristalinas
Tão puras,
Tão imortais,
Tão ancestrais quanto o próprio Homem.

Mas não há Sol
Que ilumine as mentes escuras
Travadas pelas trevas da
Ignorância!

Mas não há Sol
Que entre pelas vidraças,
Húmidas e tristes,
Das casas cinzentas
Votadas ao abandono
Pela (des)habitação do Humano!

Mas não há Sol
Que acalente
Os corações jazidos
Pelo ódio ainda não arrefecido,
Pela vingança irreflectida
Dos espíritos acobardados!

Isabel Rosete
Se a minha Alma falasse
Não se entenderia com a linguagem dos Homens,
Cegos e surdos,
Em veredas (des)amparados.

Pedaços de mim lançam-se por esse Mundo incógnito,
Soltos,
Completamente soltos,
Como se o puzzle a que um dia pertenceram
Se tivesse desfeito, para sempre,
Na anarquia caótica dessas gentes que escondem
Os sorrisos de gratidão,
As lágrimas de felicidade,
Os aplausos, a um só ritmo,
Que não soam mais nos timbres da harmonia
Dos tambores da Paz e da Justiça
Que, outrora, me consolavam a Alma
Viandante
Que parte e fica num mesmo lugar,
Num outro e mesmo lugar qualquer
Algures perdido na imensidão do Universo.

Ah, se encontrasse, um dia, esse meu topos,
Esse lugar natural que me foi destinado,
Esse espaço só do Tempo e só do Espaço
Apenas para mim guardo,
Só para mim colhido e não para mais ninguém!

Mas a podridão dos sentires putrefactos
Sempre se eleva,
Sempre fala mais alto,
Pelas aquelas vozes ignóbeis
Da maledicência propositada.

Isabel Rosete

domingo, 11 de outubro de 2009

A pujança da escrita
Enobrece-me a Alma.
Torna-a sensível,
Sempre desperta
Para os infinitos traços
Dos exasperáveis actos dos Homens
Que avançam,
Sem auto-crítica,
Sem racionalidade…

Isabel Rosete





Movo-me no âmago amargo
Do fingimento alheio.
Ergo-me com o escudo da Verdade,
Que nem sempre vence,
Nesta cova de Leões
Protagonizada
Pela vã glória.

Isabel Rosete
Silenciar a voz
Na face oculta
Do devir do mundo…

Vozes dispersas,
Ouvem-se ao longe...

Isabel Rosete

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Caminho pelas areias infindas
Das praias abandonadas.
Nada se ouve!
Nada se sente!

O luar
Incandesce os meus olhos,
Míopes,
Perante a imensidão da linha do horizonte,
Que não vislumbro mais.

A minha alma esvade-se
Na solidão das marés,
Que vão-e-vêm,
Ora cheias,
Ora vazias.

Nunca se fixam,
Nunca deixam os mesmos rastos,
Nunca permanecem
No mesmo lugar.

Trazem um tempo outro,
Anunciam outras àguas,
Outras vidas,
En-cobertas
No trubilhão das ondas,
Inquietas,
No seu incessante peregrinar.

Isabel Rosete
O mar que me deu a paz
É o mesmo que me revolta as entranhas,
Nas escuras noites de trovoada,
Que sob o meu tecto des-falecem.

Isabel Rosete

Das Fontes,
Já não jorram mais
As águas cristalinas.

Dos mares,
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias.

Das Estrelas,
Já não renasce mais
O brilho duradoiro.

Da Terra,
Já não desponta mais
A fonte da Salvação.

Da Humanidade,
Já não eclode mais
O grito do perdão.

Isabel Rosete
Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões
Disseminadas,
Invisíveis,
Aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.

Agoiros pronunciam,
Em nome do desespero,
Egoísta,
Que lhes corrói a alma.

Isabel Rosete
Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto
Das mentes pálidas,

A podridão do horror,
O enfado do tédio,
A escuridão
Cega e surda,
Das franjas deixadas
Pelo negro rosto da inveja.

Isabel Rosete
Há sempre um Espírito errante que nos percorre,
Cobre as nossas faces des-protegidas,
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.

Isabel Rosete
Um Heidegger

Expressões silentes,
Sobranceiras,
Marcadas por um misto
De espanto
E de inquietação.

Olhos que fitam o infinito
Perante a imensidão
Dos caminhos do campo,
Ainda longe das mãos,
Destruidoras,
Dos Homens sem Razão.

Expressões carregadas
De solidão,
Face à desertificação da Terra,
Que sempre nos lança
O seu des-esperado grito de alerta.

Pés que pisam o chão,
Como uma bênção,
Enquanto a serena musicalidade atmosférica
Invade um espírito expectante,
Que o Ser sempre escuta…

Isabel Rosete
Perdões,
Mil perdões
Por todos os des-amores,
Por todos os des-acordos,
Por todos os des-encontros,
Por todas as contorvércias…
Enfim,
Por todas as infelicidades
E infortúnios.

Não sou perfeita!
Não, não sou perfeita!
E disso não tenho dúvida!

Aqui estou e caminho,
Apenas como um outro ser humano qualquer,
Por entre montes e vales,
Silvas e abetos,
Por vezes secos e agrestes,
Por vezes verdejantes
E suculentos.

Nem sempre a seiva fresca
E imaculada
Me corre nas veias,
Já esvaziadas pelo sofrimento,
Atroz,
Que os males do corpo fortalece,
Em grande agonia.

Nem sempre a Luz me ilumina a Alma,
Quando, enferma, se arrasta
Pelas maleitas da matéria,
Impura.

Isabel Rosete

domingo, 17 de maio de 2009

A solidão da ausência do Amor
Torna-se insuportável.
A Alma esmorece,
O coração des-falece
No eterno retorno de um ciclo perpétuo
Onde o tempo se esgota.

Isabel Rosete

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pensamentos Dispersos,
Isabel Rosete
(21/01/08)

A Guerra, sempre a Guerra, em nome da Paz…

Pátrias desoladas pelos horrores da Guerra. Corpos despedaçados cobrem a Terra com um manto vermelho. O sangue tinge as águas, daqueles que foram e não mais voltaram. Almas ultrajadas vagueiam por este Universo incógnito, sem destino.
Uma criança chora, a preto e branco. Outra soluça, de olhos esbugalhados pelo horror, ao mesmo tempo que se esconde dos Homens de verdes fardas, que correm, de arma em punho, para todos os lugares, pelo sórdido prazer da morte e do sangue. Já não têm Fé, nem Paz, nem Amor, nem Esperança, nem Nada… Já não sabem que são humanos.
Movem-se como autómatos. Tornam-se meras máquinas programadas para matar, indiscriminadamente. A Guerra torna-se um vício, um hábito enraizado, qual nicotina, cuja ausência desatina.
Não há mais um lar habitável para além deste cenário de todas as desgraças. Restam as trincheiras, os campos de batalha, onde a morte de uns é a vida de outros.
Violência e mais violência…Atrocidades e mais atrocidades… movem um ciclo completamente vicioso, sem princípio nem fim. A agressividade perpétua marca os espíritos robotizados dos fazedores da Guerra.
Fazer Guerra para alcançar a Paz, dizem os mentores dos pseudo-projectos de salvação da Humanidade. Que grande ironia! Que tremenda hipocrisia dos espíritos insanos!
A Guerra é o chamamento sem fim das mentes desejosas de expulsar a agressividade, durante anos contida, a violência, sempre reprimida, recalcada pelo convencional, pelo instituído, pelo “politicamente correcto”, nem sempre com fundamento válido visível.
Como queria ser Deus, Todo-Poderoso, o Deus que tudo pode, para aniquilar essa face negra do coração dos homens.

Pensamentos Dispersos
Por: Isabel Rosete
12/03/08


I.
A solidão das multidões não me apavora. Preservo a minha identidade.

II.
A Alma do Mundo espalha-se por cada um de nós. Mas, nem todos a reconhecem dentro de si.

III.
Há um Espírito errante que nos percorre,
Cobre as nossas faces desprotegidas,
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.

IV.
Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto,
Das mentes pálidas;

A podridão do horror,
O enfado do tédio,
A escuridão
Cega e surda,
Das franjas deixadas ela inveja.

V.
Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões
Disseminadas,
Invisíveis,
Aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.

Agoiros pronunciam,
Em nome do desespero,
Egoísta,
Que lhes corrói a alma.

VI.
Das Fontes,
Já não jorram mais
Águas cristalinas.

Dos mares,
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias.

Das Estrelas,
Já não renasce mais
O brilho duradoiro

Da Terra,
Já não desponta mais
A fonte da Salvação.

Da Humanidade,
Já não eclode mais
O grito do perdão.

VII.
O grito das aves transmigratórias
Ensurdece
Os meus ouvidos.

Anunciam tempestade,
Morte,
Terror,
Guerra….

VIII.
Amamos a paz dos desertos,
Onde encontramos a tranquilidade.
Aí permanecemos,
Nessa espécie de refúgio do Mundo,
A salvo dos olhares alheios
Que nos penetram na alma,
A salvo das mãos dos outros,
Que nos apontam o dedo,
A salvo das mentes incriminatórias,
Que só vêem o visível,
A salvo dos espíritos perversos
Que a verdade atrofiam.

IX.
O mar que me deu a paz
É o mesmo que me revolta as entranhas,
Nas escuras noites de trovoada,
Que sob o meu tecto des-falecem.

X.
Caminho pelas areias infindas
Das praias abandonadas.
Nada se ouve.
Nada se sente.

O luar
Incandesce os meus olhos,
Míopes,
Perante a imensidão da linha do horizonte,
Que não vislumbro mais.

A minha alma esvaiu-se
Na solidão das marés,
Que vão e vêm,

Nunca se fixam
Nunca deixam os mesmos rastos,
Nunca permanecem
No mesmo lugar.

Trazem um tempo outro,
Anunciam outros espaços,
Outras vidas,
Encobertas
Pelas águas,
No seu incessante peregrinar.

XI.
O meu Mar salgado
Em açúcar transformou o seu sal.
Fala-nos de outros mundos
Onde reina a glória merecida,
Dos nobres feitos dos Homens.
Pensamentos Dispersos

Por: Isabel Rosete

30/04/2008


I.
Caminho pelas estradas da Vida.
Não sei onde vou parar…

II.
A pujança da escrita
Enobrece-me a Alma.
Torna-a sensível,
Sempre desperta
Para os infinitos traços
Dos exasperáveis actos dos Homens,
Que avançam,
Sem auto-crítica,
Sem racionalidade…

III.
O destino desloca-me.
Não sei para onde vou!

Caminho por todas as estradas.
Não encontro o meu rumo!

Vagueio pelos trilhos do Pensamento.
Não me reconheço mais!

Procuro a serenidade nos olhares dos outros.
Não encontro o seu verdadeiro viso!

Ergo-me, magnânime, afirmando a minha identidade.
Não escuto senão a dissimulada hipocrisia!


Ser Mãe…
Uma Dádiva da Natureza,
Que nem todas as mulheres
Abençoou.

Ser Mãe é ser Amor,
Dor,
Compreensão,
Compaixão,
Cuidado,
Preocupação…
Um estado de Graça,
Sem limites,
Num universo
De múltiplas possibilidades.

Bem-hajam todos os Ventres,
Que novas Vidas criaram,
Sem discriminação,
Sem contaminação,
Sem mancha…
E,
Na tolerância,
Fizeram nascer outras gerações,
Grávidas de Felicidade.

Isabel Rosete
Perdões,
Mil perdões
Por todos os des-amores,
Por todos os des-acordos,
Por todas as contorvércias.
Enfim,
Por todas as infelicidades
E infortúnios.

Não sou perfeita!
Não, não sou perfeita!
E disso não tenho dúvidas.

Aqui estou e caminho,
Apenas como um outro ser humano qualquer,
Por entre montes e vales,
Por vezes secos,
Por vezes verdejantes
E sucolentos.

Nem sempre a seiva fresca
E imaculada
Me corre nas veias,
Já secas pelo sofrimento,
Atroz,
Que os males do corpo fortalece,
Em grande agonia;

Nem sempre a Luz me ilumina a Alma,
Quando, enferma, se arrasta
Pelas maleitas da matéria,
Impura.

Isabel Rosete
O Ser torna-se leve,
Apesar do peso do Mundo;

O Amor assoma,
Em toda a sua nudez originária;

O Prazer dá-se, assim,
Sem mais...

Isabel Rosete
Esperais por mim,
Onde?
Na mais longínqua clareira
De uma floresta
Não iluminada?

Não!
Definitivamente, NÃO!
NÃO te acompanho mais!
NÃO te quero mais!
Enquanto não botar a Luz,
Que ilumine os meus caminhos,
Tão íngremes,
Como os rochedos do Cáucaso,
Onde a Morte e a ressurreição
Me esperam…

Isabel Rosete

Homenagem aos Poetas

Sejamos Poetas,
De Corpo e Alma,
Em nome do Verbo,
Que cria e manifesta
As essências,
As coisas-mesmas,
Em si mesmas,
Sem disfarces,
Sem ilusão
Ou obscuridade.

Sejamos Poetas,
De Espírito erguido,
Des-veladores de enigmas
E redentores do acaso.

Sejamos Poetas,
Anjos-da-guarda das mentes míopes,
Dos ouvidos moucos,
Dos corações petrificados
Pela dor,
Pela des-ventura,
Pela in-felicidade...

Isabel Rosete
A Solidão da ausência do Amor
Torna-se insuportável.
A alma esmorece,
O coração des-falece
No eterno retorno
De um ciclo perpétuo,
Onde o Tempo se esgotou.

Isabel Rosete

A dança induz o corpo
Aos movimentos,
Ainda, não des-velados;
Aos estados da alma
Ainda, ocultos,
Porque os manifesta,
Porque os torna vivos,
Numa descoberta,
Permanente,
Do sentir e dos sentidos,
Holisticamente conjugados.

A música embala,
Move e comove,
Numa dimensão universal,
Que corpos e almas harmoniza,
Em plena comunhão,
De um ser e estar únicos.

Isabel Rosete

sábado, 18 de abril de 2009

Revolta

Aniquilemos
Todos os opressores,
Todos os vendedores
De banha-da-cobra,
Todos os retóricos,
Todos os sofistas.

Recusemos
O parecer-ser,
A vulgaridade instituída,
Pelo consumismo exacerbado,
A identidade imposta,
Que nos devora as entranhas.

Soltemos
Todas as máscaras,
En-cobertas,
Todos os visos,
De-formados
Pela glória das estátuas amputadas,
Pelo sopro sórdido
Das vozes maledicentes.

Criemos
Um Mundo novo,
Uma outra escala de valores,
Sem freios totalitários,
Sem sombras escusas,
Sem opacos véus.

Pairemos
Sobre as Estrelas,
Fontes das essências,
Camufladas pela trivialidade
Das vivências des-norteadas,
Das mentes bi-céfalas.

Alimentemos
O Pensamento do Ser,
Fundamento do des-abrochar
De todas as coisas,
Nascente musical,
De todos sons eternos.

Isabel Rosete

sábado, 11 de abril de 2009

A Solidão
Percorre as almas desertas,
E,
Sorve a Esperança
De um outro re-nascer,
Sempre re-novado.
Extingue a fantasia,
E,
O sonho de outras idades.

Anuncia a morte
De um ser re-vigorado.
Corrói as entranhas da Vida,
Até ao liminar da Morte,
E,
Da Eternidade.

Desperta o vazio da Ex-istência,
Em torno da sua efemeridade.
Consolida a massa compacta
Dos espíritos amortecidos,
E,
Des-animados.

Dissipa a luz
De um novo horizonte,
E,
Definha cada ser,
No seu pedaço de Nada.

Isabel Rosete
Advém o turbilhão dos sentidos,
Dos desejos e dos quereres,
Dos seres e dos estares,
Inquietantes,
Alarmantes,
Libinidalmente disseminados.

Uma ansiedade,
Desmedida,
Percorre a minha alma.
Um desassossego,
Insuportável,
Remove-me as vísceras.

O alvoroço,
Perpetua-se.
A impulsividade,
Eterniza-se.
O sobressalto,
Esmaga-me.

Des-constroem-se,
Todos os pedaços de mim.
Sobrevivem, apenas, fragmentos,
Parcelas,
Indistintas,
Em pleno estado de com-bustão,
Acelerada.

Subsistem,
Peças soltas,
Difusas,
Em des-ordem,
Em com-fusão,
Em dis-persão…

Isabel Rosete
A magia da música
Eleva-me a alma,
Exalta-me os sentidos,
Dobra-me o corpo,
Em mil retalhos,
Espalhados,
Despedaçados…
Por todos os lugares;

Excita-me os músculos,
Incita-os ao movimento,
Ritmado e
Desordenado e
Desconexo e
Conjugado e
Conjunturado…
De cada melodia.

A magia da música
Celebra a embriaguez,
Catártica,
De todos os cânticos
De Nascimento e de Morte.

A magia da música
Tudo transforma,
Faz mover,
Vibrar,
Sonhar…
Penetra em todos os espaços,
Ultrapassa o Tempo,
E o limiar da Eternidade…

Isabel Rosete

quinta-feira, 5 de março de 2009

Meros farrapos
Nos tornámos,
Nós, os pretensos
Arautos da Razão.

Razão!?
O que é a Razão?
Não sabeis, pois não?

A palavra degenerou-se,
Gastou-se,
Transmutou-se para um outro,
Que jamais é o outro de si mesma.

Continuamos a carregar este rótulo,
O de sermos racionais,
Cada vez mais vazio,
Cada vez mais insano...

Não é Justiça que nos move,
Não é o Bom-Senso que nos determina,
Não é a Ética que nos rege!...

O que nos alimenta
Ou des-nutre,
Sobe o nome da Razão?

A demagogia e a retórica,
Degeneradas;
O poder e a ambição,
Des-medidas;
A intolerância e a discriminação,
Arrogantes,
Sem fundamento plausível.

É nisto, Homem,
Movido pelas escaldantes farpas do Demo,
Que te transformas-te,
Por conta própria.

Isabel Rosete
Silêncios políticos

Um Silêncio remoto
Comanda a voz da oposição.
Um rosto vazio de esperança
Apresenta-se ao País.

Sem convicção
Nem persuasão,
Nos movemos,
Como se a causa
Pela qual lutamos,
Já estivesse perdida.

Qual causa?
Qual luta?

Se sabeis a resposta,
Dizei-me,
Por favor,
Porque não a vislumbro.

Isabel Rosete
Sinto-me só,
Num espaço atopos.

Não amo a ilusão do Nada,
Mas a solidão do Tudo.

Isabel Rosete
Portugal: Uma Pátria desolada nos confins da Europa. Outrora, vitoriosa, no “reino cadaveroso da cultura”.
Portugal: um Povo, uma massa de gente deslumbrada, com outros modos de fazer mundos, com os Mundos de outras Pátrias, não perdidas nas marés do assombro.

Isabel Rosete

A Guerra, sempre a Guerra, em nome da Paz! …

Pátrias desoladas pelos horrores da Guerra. Corpos despedaçados cobrem a Terra com um manto vermelho. O sangue tinge as águas, daqueles que foram e não mais voltaram. Almas ultrajadas vagueiam por este Universo incógnito, sem Destino.

Uma criança chora, a preto e branco. Outra soluça, de olhos esbugalhados pelo horror, ao mesmo tempo que se esconde dos Homens de verdes fardas, que correm, de arma em punho, para todos os lugares, pelo sórdido prazer da morte e do sangue. Já não têm Fé, nem Paz, nem Amor, nem Esperança, nem Nada… Já não sabem que são humanos!
Movem-se como autómatos. Tornam-se meras máquinas programadas para matar, indiscriminadamente. A Guerra torna-se um vício, um hábito enraizado, qual nicotina, cuja ausência desatina.

Não há mais um lar habitável, para além deste cenário de todas as desgraças. Restam as trincheiras, os campos de batalha, onde a morte de uns é a vida de outros.

Violência e mais violência… Atrocidades e mais atrocidades… movem um ciclo completamente vicioso, sem princípio nem fim. A agressividade é a marca perpétua dos espíritos robotizados dos fazedores da Guerra.

Fazer Guerra para alcançar a Paz, dizem os mentores dos pseudo-projectos de salvação da Humanidade. Que grande ironia! Que tremenda hipocrisia desses espíritos insanos!

A Guerra é o chamamento, sem fim, das mentes desejosas de expulsar a agressividade, durante anos contida, a violência, sempre reprimida, recalcada pelo convencional, pelo instituído, pelo “politicamente correcto”, nem sempre com fundamento válidamente visível.

Como queria ser Deus! Ah, como queria ser Deus! O Todo-Poderoso, aquele que tudo pode, para aniquilar essa face negra do coração dos homens.



Isabel Rosete
O destino desloca-me.
Não sei para onde vou!

Caminho por todas as estradas.
Não encontro o meu rumo!

Vagueio pelos trilhos do Pensamento.
Não me reconheço mais!

Procuro a serenidade nos olhares dos outros.
Não encontro o seu verdadeiro viso!

Ergo-me, magnânime, afirmando a minha identidade.
Não escuto senão a dissimulada hipocrisia!

Isabel Rosete
A pujança da escrita
Enobrece-me a Alma.
Torna-a sensível,
Sempre desperta
Para os infinitos traços
Dos exasperáveis actos dos Homens,
Que avançam,
Sem auto-crítica,
Sem racionalidade…

Isabel Rosete

Ainda há espaços escondidos nos corações dos Homens!

Movo-me no âmago amargo
Do fingimento alheio.
Ergo-me com o escudo da Verdade,
Que nem sempre vence,
Nesta cova de Leões,
Protagonizada
Pela vã glória.

Caminho pelas estradas da vida.
Não sei onde vou parar!…


Isabel Rosete
Silenciar a voz
Na face oculta
Do devir do mundo…

Vozes dispersas,
Ouvem-se ao longe!...

Isabel Rosete

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Entre-vejo,
Ao longe,
A invisibilidade dos seres
Encerrados no seu próprio casulo,
Emaranhados
Nas mais finas teias,
Da esmagadora infinitude.

Ante-vejo
Os caminhantes,
Doces e leves,
Em todos os caminhos paralelos,
Que a tragicidade existencial replicam.

Entre-Vivo
No Universo insólito
De um mundo sonhado,
Que da realidade terrena
Se afasta.

Ergo-me, então,
Para os límpidos céus,
Para a harmonia musical
Das divinas esferas,
Encobertas pela vil hipocrisia.

Afasto-me dos homens.
Paira a simplicidade
Do cosmos dos Anjos,
Guardiões
Das consciências apoquentadas,
Auditores
Dos pensamentos inconscientes,
Mensageiros
Dos insondáveis segredos
Das mentes abnegadas.

Isabel Rosete
Escrevo
Movida pela ternura de um beijo,
Pela meiguice in-discreta
Do olhar dos outros.

Escrevo
Por entre os silenciosos espaços
Das palavras,
Ditas e não-ditas.

Escrevo
Ao som do Grito
Universal do Pensamento,
Agitado pelos interstícios da Terra,
Rodopiante,
Em torno do seu próprio círculo,
Sempre Aberto,
Sempre redondo.

Isabel Rosete
Amemos
As flores
De todas as formas,
De todas as cores,
De todos os cheiros.

Amemos
A ternura de todas as pétalas,
Aveludadas,
De doces texturas,
Inigualáveis.

Amemos
O fundo gravitacional,
Que tudo abriga.

Louvemos
Todos os espaços astrais,
De luzes incandescentes.

Louvemos
O brilho redondo
Da infinitude do Universo,
O som distante
Das órbitas planetárias,
A informe forma
Das nuvens brancas.

Isabel Rosete
Com asas grandiosas,
Se dirigem os Anjos,
Para o misterioso topos da génese Universal,
Para o espaço intra-estelar
Dos céus comovidos.

Vivamos
No mundo dos Anjos,
Nas suas alas,
Indeléveis,
Que a Felicidade despertam.

Isabel Rosete
Celebremos
As noites de Lua cheia,
Todos os equinócios,
Todos os solstícios,
Todas as dádivas da Terra.

Celebremos
As glórias merecidas,
As batalhas vencidas,
Nos verdes campos,
Aonde a morte
Não regressará jamais.

Celebremos
O Aberto,
O Cantar
E o Ante-cantar,
Serenamente protegido
Pela aura dos Anjos,
Belos e terríveis.

Isabel Rosete
As árvores despidas,
Pelos ventos do Norte,
Acolhem as aves migratórias,
Que à Natureza doam,
Os mais nobres frutos,
De cada re-nascer.

A Terra abraça,
No seu doce leito,
As tenras crias,
Que suspiram pela Liberdade,
Numa tarde de imensa Alegria.
Não merecemos
As maravilhas da Criação.

Somos restos
De um Paraíso Perdido,
Sem glória.

Somos as mais efémeras criaturas
De um Mundo,
Que o sangue chora.

Movemos
Céus,
Terras
E mares.

Lançámos
As malhas de todas as redes,
E a dignidade não conquistámos.

O sabor da vitória dos homens
É mesclado
Com o sangue dos inocentes.

Para paragens incógnitas,
Foram atirados,
Jogados,
Lançados,
Sem solenidade.

Em espaços estilhaçados,
Foram depositados,
Sem identidade,
Sem nome,
Sem nada.

A minha Alma procura,
Sem cessar,
A Liberdade,
Esse espaço Aberto
Da expansão total do Tudo,
Onde não há acaso,
Nem ocaso,
Nem vazio,
Nem nada.

A minha Alma quer percorrer
Os círculos viscerais
De todos os entes.

A minha Alma ama a Totalidade,
Na sua Grandeza,
Que foge aos estreitos limites do Tempo,
Do Espaço, do Destino…

A minha Alma vagueia
Por todos os lugares.
Não cabe dentro de si própria.

A minha Alma procura o Aberto,
Onde o Tudo se funde,
Em perpétua comunhão com o Ser,
Fundo e fundamento de todas as coisas.

A minha Alma pensa o Mundo.
Mas, esmorece,
Perante o caótico cenário da miséria alheia.

A minha Alma quer mudar o Mundo,
As mentes das gentes agrilhoadas
À mesquinhez do pré-conceito,
Ao vergonhoso estado
Do mero sobreviver.

A minha Alma quer ultrapassar as barreiras
Do tempo e do espaço.
Quer ser eterna
E nessa eternidade mover o Mundo,
Na sua direcção adequada.

A minha Alma não é narcísica.
Vê-se ao espelho
E reconhece a sua própria Identidade.
Sofre com todos os “Epimeteus”…
Deseja todos os “Prometeus”…

A minha Alma sente-se só,
Desamparada,
Neste espaço cósmico des-humanizado,
Que não suporta a disparidade da alteridade.

A minha Alma quer renascer
Num Mundo Novo,
Sem rótulos,
Sem rebanhos,
Sem congeminações forçadas e infundadas.

A minha Alma quer crescer
Nas margens Infinitas de todos os oceanos,
Nos leitos Ilimitados de todos os rios,
Nas águas não-estagnadas,
Que à mudança, sempre, impelem.
A monotonia congela-me o Cérebro,
Irrita-me a Alma,
Ávida do sempre novo,
Do constantemente diferente,
Da metamorfose,
Do mistério,
Do enigma,
De todas as incógnitas…

A minha Alma suplica
Pelo desafio do desconhecido,
Do nunca visto ou imaginado,
Do im-pensado e do im-pensável.

A minha Alma caminha para o impossível,
Para o reino efémero da ausência de limites,
Para o paralelamente infinito,
Para todos os caminhos,
Até mesmo para os mais ocultos.

Procura a inocência primeira,
A leveza do Ser de todas as coisas,
Animadas e inanimadas,
Terrestres e celestes,
No seio dos dois lados da quadratura perfeita:
Os Homens, os Deuses, a Terra e o Céu.

A minha Alma busca o Infinito,
Na esperança de encontrar um Mundo Novo,
Exemplar.

Este nosso mundo está gasto,
Saturado,
Des-governado,
Demasiadamente costumeiro
Para quem deseja ver mais longe,
Para além das ilusórias aparências
Que ofuscam o olhar primogénito.
O Mundo está corrompido.
Rejeito-o completamente.

Recuso-me a compactuar
Com a hipocrisia,
Com as falsas verosimilhanças,
Com as vãs ironias,
Com as inglórias inteligências
Das mentes foragidas,
Que nada vêm.

Enjeito os espíritos inúteis,
Completamente inúteis,
Que, apenas, perpetuam,
Um saber “fantasiado”,
Com longos rasgos de ignorância extrema.
Não quero viver
No Inferno das noites afogueadas,
Na solidão das gentes,
Nos espaços atópicos
De cada pensamento,
Nos campos indefinidos,
Dos pensamentos dispersos.

Não quero a luz opaca
Dos olhares indiscretos,
O brilho negro
Dos falsos sorrisos,
A demagogia retórica
Das palavras imundas,
O cheiro nauseabundo
Das mentes em decomposição.
O que esperamos
Desta Humanidade,
Assim transviada?

O que esperamos
Deste Mundo cruel,
Indigno para os seres puros?

O que esperamos
Da ausência de senso
Dos que,
Pressupostamente,
Comandam as nossas vidas?

Esperança!
Mas que Esperança?
A da mudança do caos para a ordem?

Instaurado o caos,
Como ordem,
Resta-nos permanecermos
No vislumbre de qualquer espécie de expectativa,
Quiçá, possível!

Sorriam, sempre, como se as rosas não tivessem espinhos

As rosas chamam-se.
Falam-me dos amores
Possíveis
E impossíveis,
Serenos
E inquietos.

As Rosas chamam-me.
Falam-me dos amores
Abençoados
E amaldiçoados,
Comprados
E vendidos.

As rosas chamam-me.
Falam-me dos amores
Permitidos
E proibidos,
Dos que perpetuam a paz
E dos que a guerra provem.
Os Céus-Estrelados
Iluminam as almas dos amantes,
Calorosamente entrelaçadas.

Em silêncio permanecem.
Na harmonia musical,
Sustentam,
O ardor dos corpos nus.
Pensar o mar em marés de desassombro,
Ao som do canto das gaivotas que passam,
Anunciando tempestades violentas.

Os amantes suspiram,
Por entre os ventos do Norte.
No mar derramam o seu choro,
De sal e alento.

Não há choro que o mar não acolha,
Quando os corpos ardentes
Se lançam nas águas resplandecentes.
Amo o Amor.
O meu,
O dos outros,
Pelo prazer de o ter,
De o sentir,
Ou de o viver.

Amo o Amor,
Fonte dos prazeres eternos
Indescritíveis,
Memoráveis,
Jamais esquecidos.

Amo o Amor
Na sublimidade
De um beijo ardente,
Que em cada boca se vivifica.

No enlace
Dos corpos lânguidos,
Derretidos,
Esvaídos,
No bálsamo
Do orgasmo eternizado,
Em cada instante,
Nascido.

Amo o Amor
Das mentes des-vairadas,
Suadas
Pela intensidade,
Indominável,
Do Desejo.

Amo o Amor
Na instintividade
Da comunhão dos pares,
Jogados,
Nos lençóis soltos
Das camas desfeitas.

Botticelli, «Primavera», 1478


O brilho do Sol,
O cheiro suave e doce,
Do ar tranquilo,
Volta com a Primavera.

As flores despontam
E apontam para um novo estado,
Coberto de Graça.

Os pássaros,
Fazem ouvir o seu canto,
Não pré-meditado.

As nuvens correm,
Rumo
A uma nova des-floração.

O brilho intenso,
Das noites claras,
Afaga-me a Alma.

A alegria da Vida,
Desperta em todos os rostos,
A distinta formosura da Criação,

A beleza de cada ente,
Mantém-se no palco,
Da eterna comunhão.

O estares não se aquietam,
E os amores despertam,
Para a colheita de novos frutos.

Nasce a reviravolta ardente
De outros desejos,
Ainda não-consumados.

Tudo acontece,
Na embriaguez sólida,
De um eterno beijo.
Penso no amor.
Assoma a angústia
Dos sentimentos vividos
E por viver.

Amor é dor,
Calafrio do corpo
Que se arrepia,
Desassossego da Alma
Que se atrofia…
Quero viver todas as vidas,
Todas as realidades,
Todas as existências…

Todos os Povos,
Todas as Nações,
Todos os Estados…

Todas as personagens,
Todas as máscaras,
Todos os véus…

Quero o Mundo em mim,
Os mares,
Os oceanos…

As estrelas,
Os planetas,
As galáxias…

Quero abraçar o Todo,
Os outros,
Que estão e não estão dentro de mim…

O Infinito,
O Indeterminado,
O Indefinido…

O mistério,
O enigma,
A incógnita…

Quero todas as dúvidas,
Todos os porquês,
Todas as interrogações…

Todos os silêncios,
Todas as pausas…

Todos os vazios do cheio das palavras,
Todas as entrelinhas…

Todos os sons,
Todos os olhares…

Todos os gostos,
Todos os cheiros…

Quero a criação,
O renascer,
A renovação…

Quero todos os amores,
Todas as paixões,
Todas as sensações,
Todos os desejos…

O real,
O imaginário,
O virtual…

Quero a essência das coisas-mesmas,
O des-vendar do Ser,
A ocultação do Nada…

A transcendência da alteridade,
A pureza de cada alma,
A sensibilidade de cada corpo…
O Amor crava-se no meu peito
Como um espinho
De uma rosa
Sangrenta,

Aveludada,
Doce,
Sedosa,

Quente,
Misteriosa,
Enigmática.

A Felicidade,
É o paradoxo
Dos amores
Verosímeis
E inacreditáveis.

O Amor espalha-se por todas as veias,
Tornar-se plasmático,
Dividido,
Unido.

Move-se nessa massa
Vermelha,
Que circula
Em todas as células,
Em todas as veias,
Em todos os poros.

Tudo inunda,
Tudo faz,
E des-faz,
Na dimensão paradoxal
Do Infinito Universo do sentir.
Singelos e leves
Nos movemos
No espaço interplanetário
De todos os amores,
De todas as paixões,
Não nutridas,
Pela reciprocidade dos sentires.

Paixões brutais,
Consomem,
Aniquilam,
Os espíritos em des-união.

Paixões selváticas,
Alimentam o amor e o ódio,
Tão próximos
E tão distantes.

Paixões bravias,
Vulcanizam,
Os pedaços dos pares
Em ininterrupto turbilhão.
Eleva-se,
A singela nudez
Dos corpos em comunhão,

A pura leveza
Dos olhares,
Que já não são pálidos,

O riso das crianças,
De olhos claros,
Que a alegria espalham,
Por todos os lugares.

A Paz
Torna-se visível,
Até para os olhos míopes.

O Amor permanece,
No seu devido lugar,
Mesmo que in-certo.

A Felicidade regressa,
A todas as Almas,
Outrora des-pedaçadas.

Cantamos,
Sem dor,
Todas as dores.
E o sofrimento torna-se leve.
Cruzam-se os olhares,
Na paz perpétua
De um saudoso beijo.

Não há mais re-volta.
Paira a serenidade,
A tranquilidade intranquila
De todos os desejos.

Tudo se move,
No seu ritmo certo,
Absolutamente certo.

Tudo permanece
No seu devido lugar,
Sem des-vios ou des-norte.

O desfiladeiro,
Não apavora mais
Os olhares inquietos.

O Mar,
Enrola-se na areia,
Ao som do ébrio canto das Sereias.

Na paz dos Anjos,
Se acalentam as tempestades,
Fatigadas,
Do seu intenso peregrinar.

Os segredos
Da Vida e da Morte,
Já não se ocultam mais.

Os corações despertos,
Estão aí,
Preparados para todos os re-começos.
Não suportamos sobreviver
À ausência do Nada,
À Morte não anunciada,
Que sempre nos espera;

Não suportamos sobreviver
Ao Vazio da extensão do Ser,
Que se perpétua
Por todas as épocas,
Por todos os tempos,
Por todos os lugares…
Reais,
Possíveis,
Imaginários,
Ou seja lá o que for!…

“A casa da saudade chama-se memória: é uma cabana pequenina a um canto do coração“


Saudades, chegam,
Da infância que não tive,
Dos sonhos que não sonhei,
Dos amores que não vivi.

Nostálgica, estou,
De um Mundo não-visto,
De um Paraíso não-conquistado,
De uma Existência não-saboreada,
Das Paixões não-concretizadas.
A morte do Outro
Apraz-nos bem,
Engrandece-nos o Ego
Em busca de auto-satisfação…

Quem disse que o homem
Nasce naturalmente bom?

Quanta ilusão,
Quanta alucinação,
Quanta aparência,
Quanta insolência!...

A finitude do outro
E do mesmo,
O acabamento
A aniquilação…

Um outro espaço,
Um outro lugar,
Um outro tempo,
Uma outra vida…
Não sei o que é feito do mar,
Que os peixes
Não mais acolhe…

Não sei o que é feito do Amor,
Que os corações
Não mais comove…

Não sei o que é feito da Amizade,
Que os amigos
Não mais venera…

Não sei o que é feito da Paz,
Que as guerras
Não mais amortece…

Não sei o que é feito da Humanidade,
Que o Mundo
Não mais protege….

Não sei o que é feito do Ser,
Que os entes
Não mais presentifica…

Não sei o que é feito de Deus,
Que às criaturas
Não mais se manifesta…

Não sei o que é feito dos caminhos,
Que à Felicidade
Não mais conduzem…

Não sei o que é feito de mim,
Que o Destino
Não mais encontro….

«Amor-próprio»


Não sei como Amar o outro!
É tudo tão fútil,
Tão vulgar,
Tão comum!

Procuro o in-habitual,
O outro lado das coisas,
Nem sempre virado para mim.
Só visto para além do visível.

Desejo o oculto,
O mordaz,
O irónico,
O sagaz,
A inteligência,
Que vê longe,
Que escuta os infra-sons,
Que olha o infinito,

Não sei como Amar o outro!
É tudo tão insensato,
Tão efémero,
Tão fugaz!

Procuro a eternidade
De cada momento,
A delicadeza
De cada gesto,

A sublimidade
De cada sorriso,
A beleza
De cada olhar.

Desejo a paz,
A serenidade,
O amor-próprio,
Na sua identidade e alteridade.

Busco o amor do outro
Na sua especificidade,
Pureza,
Realidade,
E autenticidade.

Porém,
Permaneço no vazio
Da solidão incógnita,
Sem o outro de mim.
Respiro o desejo libidinal
De um intenso querer.

Inspiro o prazer ansiado,
Desejado,
Que me des-assossega.

Na minha Alma
Penetra
Vulnerável vidro,
Disposto a quebrar-se
Em mil pedaços
Espalhados
Pelo chão,
Dispersos,
Por todos os lugares
Lançados,
Soltos,
Sem ordem,
Sem ligação,
Nem relação possível.

A amargura
Instale-se no meu peito,
Por esse outro que não vem.

Está aí
Mas, não aqui.

Paira no meu pensamento,
Consome-me visceralmente,
Deixa-me só.
Pelo Amor,
Corpos e almas se vivificam.
Em comunhão
Se consomem,
Na alegria
Aberta do Desejo.

Pelo Amor,
Outros horizontes se rasgam,
Para além do visível.
Outros Mundos
Se mostram,
Para além do apreensível.

Pelo Amor,
Outros estares
Se revelam,
Outros sentires
Se manifestam,
Para além do cognoscível.
Os meus amores vão e vêem,
Tão firmes e tão efémeros,
Tão nostálgicos e tão saudosos!

São eternos instantes de prazer,
Guardados pela memória que os presentifica,
Em todos os momentos de solidão.

São pedaços de mim,
Estilhaçam-me o peito,
Inquietam-me o corpo e a Alma.

São revoltosos,
Transpiram um desassossego megalómano,
Transluzem a impaciência em efervescência.

Os meus amores são ansiedade em estado líquido,
Exausto devir de adrenalina pura,
Correntes sanguíneas em excitação.

Estares explosivos,
Impulsivos,
Gritantes…

Não compactuam com as regras impostas,
Ultrapassam todos os limites,
O convencionalmente estabelecido,
Os freios hipócritas da moral instituída.

Os meus Amores são Excesso,
Hipérbole,
Des-medida,
Deflagração perene do sentir.

Não se contêm mais dentro de mim.
Vagueiam pelo espaço libidinal
De um Universo ilimitado,
Sem princípio nem fim.
O Amor está na essência
De um destino
Traçado por encontros
E des-encontros.

Move-se
Na corda bamba
Do equilibrista,
Tão frágil
Como as asas dos Anjos,

Tão forte
Como as montanhas rochosas,
Tão intenso
Como as tempestades.

O Amor des-gasta a Alma,
Invade as suas entranhas
E revoluciona-as,
Sem digestão.

Percorre todo o corpo,
Exalta-o,
Enobrece-o,
Ou subestima-o.

O Amor é um viandante.
Des-basta
Todas as moradas,
Desprevenidas.

Vem,
Passa,
Vai,
Deixando
Longínquas pegadas
Impressas,
Qual fóssil
Em terreno des-conhecido.

O Amor também mata,
Também dói!

Espelha
O inquietante composto,
De alegria e de felicidade,
De exaltação
E De ex-uberância,
De nudez
E de pureza,

Do Tudo
E do Nada.
O Amor está na essência
De um destino
Traçado por encontros
E des-encontros.

Move-se
Na corda bamba
Do equilibrista,
Tão frágil
Como as asas dos Anjos,

Tão forte
Como as montanhas rochosas,
Tão intenso
Como as tempestades.

O Amor des-gasta a Alma,
Invade as suas entranhas
E revoluciona-as,
Sem digestão.

Percorre todo o corpo,
Exalta-o,
Enobrece-o,
Ou subestima-o.

O Amor é um viandante.
Des-basta
Todas as moradas,
Desprevenidas.

Vem,
Passa,
Vai,
Deixando
Longínquas pegadas
Impressas,
Qual fóssil
Em terreno des-conhecido.

O Amor também mata,
Também dói!

Espelha
O inquietante composto,
De alegria e de felicidade,
De exaltação
E De ex-uberância,
De nudez
E de pureza,

Do Tudo
E do Nada.

Não sei amar
Sem sofrer,
Sem ausentar a dor,
Num sereno
Campo de girassóis.

Não sei amar
Na quietude
Das noites de Lua cheia,
Na incandescência do fim da tarde,
Ao pôr-do-sol.

Não sei amar
Na suavidade das dunas
Das praias desertas,
Que as gaivotas sobrevoam,
Anunciando tempestades.

Não sei amar
Na paz,
Imutável,
De um encontro de amantes,
Insaciáveis e indiscretos.
Amar,
O entusiasmo
Das Almas abertas
A todos os renascimentos;

A exaltação
Dos corações inquietos;
A embriaguez
Dos corpos libidinais,
Ansiosos
E aflitos.

Amar,
A dor,
A preocupação,
A protecção;
O cuidado,
A comunhão,
A união,
A inter-secção;

Amar,
O fluir oculto do sentir,
A dádiva,
Do Eu no Outro;
A marcha,
Inconsciente,
Das paixões,
Condenadas ao des-norte
Dos afectos,
Ao vaguear,
Incerto,
Dos instintos,
Imprevisíveis.

Amar,
Queima,
Rói,
Corrói,
Destrói;
Aprisiona,
Assalta,
Sobressalta…

Amar,
Um eterno encontro de Egos,
Dispersos;
A comunhão
Das consciências,
Em rebelião;
O estar próprio,
Das almas altruístas;

Amar,
A dádiva do Ser,
Que por todos os entes
Se espalha;
O desassossego,
Que chama
E inflama;
A ânsia
Que exclama,
Reclama,
Alucina
E proclama.

«Amor-perfeito»


Não há amores-perfeitos.
Apenas pedaços de nós,
Que se vão doando
E fragmentando,
Na intimidade com o outro.
Assim é o amor,
Uma força que move e comove,
Despista,
Rói,
Corrói,
Destrói!...

Cego e surdo,
Táctil e visual,
Move-nos
Para a realidade
Do intolerável,
Para o possível
Do impossível,
Para o imaginável
Do inimaginável,
Para o sonho
Do in-sonhável…

Para o infinito
Do próprio finito,
Para a alucinação
Da sensatez,
Para a irrazoabilidade
Do razoável,
Para as correntes tumultuosas
De um mar sem fim…

Para o ilimitado
De todos os limites,
Conscientes
Ou inconscientes.

Assim é o Amor,
Uma força tremenda,
Gigantesca,
Arrebatadora,
Desmedida,
Enorme.

Assim é o Amor,
Sempre dentro de um tempo redondo,
De um eterno retorno
Do mesmo e do outro,
Com princípio e fim.
Amo o Amor.
O meu,
O dos outros,
Pelo prazer de o ter,
De o sentir,
Ou de o viver.
Amo.
Não sei bem o que amo!

Tenho medo de voltar a amar,
De voltar a sofrer,
De voltar a sonhar.

As ilusões crescem,
Quando se ama.

Emerge a dor,
A insatisfação,
A insanidade,
A insensatez.

Exterioriza-se a cólera
Na presença ausente
De um outro estado,
Sempre inacabado,
Sempre adiado.

Caminhos que não conduzem
A parte alguma,
Espreitam-nos no amor.

Nos caminhos
Que se bifurcam,
Perdemo-nos
De nós
E do outro.

Encontramos o desfiladeiro.
Assoma o Vazio
De uma Alma deserta,
Dispersa,
Em con-fusão,

Alienada pela adrenalina,
Que sobe,
Escorrega,
Desampara
E inquieta.
Uma paixão ardente me consome,
Mina todo o meu ser,
No mais recôndito de si.

Trespassa a minha Alma,
Com agudos espinhos.

Uma fina dor
Eleva-se,
Mexe e remexe
As minhas entranhas.

Estremeço,
Quando ouço a tua voz,
Meu amor.

Todo o meu corpo vibra,
Na proximidade da tua presença.

Sinto-me em mim!

És um sopro de Vida,
Alimentas todo o meu ser,
Sugas todas as minhas energias.

Fico débil!
Permaneço na loucura
De uma hipersensibilidade indescritível,
Incontrolável,
Desesperadamente avassaladora,
Desconcertante,
Desordenada.

E, aqui estou,
Irremediavelmente só.
Tudo morre,
Tudo nasce,
Tudo se transforma.

Nada permanece!
Nada permanece!

A perpétua mudança
Impera,
Num equilíbrio inextinguível.

O Ser está aí,
Estável,
Em cada alvorecer,
Em cada des-floração.

Oculta-se,
Em todas as coisas.
Des-vela-se,
Em todos os entes.

Aparece
E desaparece,
Num círculo redondo.
Somos amantes
Inter-seccionados.

Esquecemos o Mundo.
Fechamo-nos
Nas nossas próprias conchas.

Esquecemos os Homens,
Queremos ser só nós,
Nada mais importa!

O Amor preenche-nos.
Por completo,
Alimenta
Os nossos corpos
Ardentes,

As nossas almas,
Inundadas,
De intensa alucinação.

Temo-nos um ao outro.
E isso basta-nos.
É mais do que Tudo.
Está para além do Nada.

Tornamo-nos esféricos,
Auto-suficientes.
Esquecemos o Universo.
Permanecemos
Em todos os espaços.

Somos o mesmo corpo,
A mesma alma,
O mesmo sangue,
O mesmo plasma,
A mesma pele.

Somos um só organismo,
Que se auto-preenche,
Prenhe de fertilidade.

Esquecemos a Vida,
Vadia,
Repleta de futilidades.

Esquecemos a morte
Somos eternos!
Por amor se mata,
Por amor se morre.

Por amor se odeia,
Por amor se deseja.

Por amor se unem os corpos,
Por amor se aniquilam.

Por amor se iluminam as almas,
Por amor se despedaçam.

Por amor percorremos montes e vales,
Por amor destruímos montanhas.

Por amor o mundo se une,
Por amor se fragmenta.

Paul Klee, «Rosas sangrentas»


Amar é coisa dos homens,
Entes solitários,
Incapazes de percepcionar
A Solidão como outra forma de Amor.

E isso não basta
A estas criaturas errantes?

Não.
Não basta!
Nada basta!

Há sempre um mais,
Há sempre um depois,
Que aflora
Em todos os pensamentos
Translúcidos,
Recônditos
Ou inconscientes.
Pensamos na morte
Em todos os momentos
Da nossa existência,
Individual e colectiva,
Mesmo
Que o façamos
Inconscientemente.

Receamos a morte,
A única certeza absoluta
De que dispomos,
Um vir a ser inevitável
Completamente irreversível.

A morte é lenta,
Até chegar
O derradeiro momento,
O instante final
Do seu incontornável
Aparecimento.

A todos
Bate à porta,
Sem aviso prévio
De recepção anunciada.

A morte?
Pois,
A morte!

Esse outro lado da Vida
Que não está iluminado,
Voltado ou virado
Para nós?

O que tememos?
Aquilo que ignoramos?

A morte!
O que é a morte?

A separação da alma e do corpo?
A passagem para um outro modo de ser?

O passaporte para uma outra Vida?
A entrada num outro estado de graça
Pleno e purificado?

Um horror?
Um Inferno?
O Nada?
Não somos Sócrates,
Não abraçamos a Morte
Como um bem supremo.

A morte do outro,
A morte de nós mesmos…

Sempre esperada,
Sempre adiada…

Sempre próxima,
Sempre distante…

Uma figura do Destino,
Implacável…

Que todas as coisas conduz,
Ao seu próprio fim.

Um estado outro,
Que nem ousamos imaginar.

Apavora,
Atormenta…

Sempre está aí,
Numa outra face…

Numa presença,
Ausente,
Que não queremos presentificar.

O mar! Sim o Mar!
Sempre o Mar!
Espelho dos horizontes,
Ao longe avistados,
Pelos Espíritos inquietos.

O hipnótico canto das Sereias,
As Almas extasiadas
Pelo sopro dos sons ébrios.

A transparência das gotas espargidas
Pelos corpos nus,
Leves e puros.

Os corações perdidos
No fogo do amor,
Sempre re-nascido.

O devir das águas,
As areias esparsas
Das paixões enfraquecidas.
Amamos os outros,
Mas não amamos
Os outros.

Amamo-nos a nós mesmos,
Centros de todos os Mundos,
De todos os Universos,
De todos os espaços Siderais.

O egocentrismo,
É a nossa
Marca perpétua.

A alteridade
Está aí,
Vemo-la,
Escutamo-la,
E recusamo-nos
A senti-la.

Queremos o outro,
Mas não queremos o outro!
Queremo-nos
A nós próprios,
Apenas em nós próprios,
E não o outro.
Fazemos do outro
Um outro de nós.

Giramos em círculo,
Nem sempre perfeito,
Em torno do outro,
Em torno de todos os outros de nós.

Um eterno retorno
Ao Ego,
É a marcha
De todos os nossos passos.

Bifurcamo-nos
Nos caminhos dos outros,
Para nos encontramos,
Sempre,
Que permanecemos dispersos.

A incessante busca da Identidade
É o traço do nosso Destino,
Errante,
Perplexo,
Complexo.

Isabel Rosete

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Se o Mundo se extinguisse num só dia,
Quantos remorsos acalentaríamos,
Quantas mágoas surgiriam,
Quantas dores se re- erguiriam?


Somos a exemplificação
Do pecado e da virtude,
O espelho,
Vivo,
De todas as desgraças
E de todas as venturas.

Cada um,
A seu modo,
É a sombra especular do seu mundo,
Que é o mundo de todos os outros.

Isabel Rosete
Que os egoístas
Se enclausurem
No seu próprio mundo;

Que os lunáticos
Sejam vencidos
Pelo princípio da realidade;

Que os hipócritas
Desfaleçam
Pelo rosto alvo
Da transparência…

Isabel Rosete
Os nossos Mundos
Encontram-se e des-encontram-se
No des-amor.

È a eterna luta
De todos os amantes
No acordo e des-acordo
Das suas paixões,
Inconscientes.

Libinalmente,
Unem-se.
Racionalmente,
Separam-se.

Regressa, ciclicamente, o perene conflito
Dos sentidos e da razão,
Presente,
Em todos os amores.

Isabel Rosete
O tempo passa
Na inconstância
Dos desejos moribundos,
Sem par.

Balança
E balança…
Num extenso caminho,
Sem fim visível.

Aí se ergue a ameaça
Da paixão avassaladora,
Que atormenta e move o amor.

Isabel Rosete



Não há espeços vazios
Na escuridão intra-estrelar.
Apenas pedaços de céus
Envelhecidos
Pela humanidade emturpecidos
No reino caótico
Do Tudo e do Nada.

Isabel Rosete
Não há espaços abertos
Na escuridão das mentes insanas.

Todos os círculos se fecham,
Todos os segmentos de recta têm o seu fim,
Imprevisível e indeterminado.
Todos os ângulos são obtusos.
O Aberto já não é mais possível.

O mundo ruiu
No fechamento do seu próprio círculo,
Redondo,
Sempre redondo…

Isabel Rosete
Este mundo empoeirado,
Quadrado,
Obtuso,
Esmaga-me o Espírito.

O que temeis
Perversas gentes?
A verdade que vos arruína
A alma encoberta?

A mentira
Com que profanais
Os espaços sagrados?

A hipocrisia,
Agora,
Des-velada?

A cobardia
Persegue-vos.
A menoridade,
Das vossas mentes dementes,
Atrofiadas,
Claustrofóbicas,
Cultivada em terreno
Nem sempre infértil,
Atormenta-vos,
Até ao derradeiro momento
Da vossa existência,
Até ao dia juízo final.

Mesmo assim,
Não tendes remorsos?
Mesmo assim,
A consciência não vos pesa?

Claro que não!
Porque já não tendes consciência,
Porque já não sabeis o que são os remorsos.

Isabel Rosete
A Paz está podre!
E o mundo abre-se-nos
Na escuridão infinita
De um pálido sorriso
Em marés de desassombro.

As gotas da chuva delicada
Que a Terra regam e fortificam,
O sal do mar salgado
De doce amparo,
Tornam-se uma benção.

Do Céu,
Ainda nos chega
A escassa luz
Que nos alumia.
Mas, o Sol não brilha mais,
Nesse amarelo reluzente
Que, outrora, espalhava todo o seu esplendor.

Isabel Rosete