quarta-feira, 15 de maio de 2013

CAIXAS E CAIXINHAS, por IR (semi-heterónimo de Isabel Rosete)




Pensei em seguir viagem,
Mesmo não sabendo para onde quero ir.
Viajar é preciso!
O caminho de agora já não é o meu caminho.

Estou cansada destes cantos e recantos
Onde me afundo, todos os dias,
Nas gavetas do meu Pensamento
Com os ferrolhos da Imaginação,
Em tantas outras gavetas
Onde mora, aberta, a minha Emoção.

Abri os armários da minha Inquietude,
Em trajes vários;
Abri as caixas e as caixinhas
Dispostas, com precisão,
Na ordem das cores.
Mas, há sempre uma gaveta desarrumada,
Aquela onde está depositada
A Desordem da Ordem da minha (des)arrumação!

Preciso dela, ali,
Com objectos vários,
Sem nexo (aparente) entre eles,
Sem comunidade de essência,
Remexidos, sempre remexidos, em con-fusão.

Arrumo-me na minha des-arrumação
De obsessão de organização,
Viajando nos contratempos da des-ordem ordenada;
Consumo-me em pormenores
De formas e cores, em alinhamento.

Mas, há sempre a gaveta desarrumada
Nesses cantos e recantos do meu coração cansado
De fortes sentires indignados.

Passo pelas viagens em sonho viajadas
Na vigília do sono que não vem
Porque arrumar é imperativo.

IR
Ílhavo, 24/02/2013
Pintura: Magritte


IMPOSIÇÕES, por Isabel Rosete




Não me queiram impor catecismos,
Cartilhas de qualquer espécie;
Não me queiram converter
A nenhuma religião,
A nenhuma crença,
A nenhuma facção partidária.
Já vos disse: NÃO QUERO!

Não me queiram vencer pelas normas sociais
Ou pela dita moral instituída,
Ou pelas modas ideológicas,
Ou pelas correntes filosóficas em voga.
Já vos disse: NÃO QUERO!

Não me queiram calar a minha Boca,
Sabotar a minha Língua,
Fechar os meus Ouvidos,
Tornar a minha Visão cega.
Já vos disse: NÃO SEREIS CAPAZES!

Não me queiram converter em freira,
Esposa de Deus com aliança no dedo,
Aprisionar-me o espírito,
Castrar-me a matéria.
Já vos disse: NÃO SEREIS CAPAZES!

­ Se ainda não sabeis:
SOU LÚCIDA!
­ Se ainda não sabeis:
SOU LIVRE!

Isabel Rosete

domingo, 12 de maio de 2013

MALES, por Isabel Rosete


Que para bem longe vá

A Hipocrisia pestilenta,

Que transfigura a verdadeira

Face da Humanidade;

Que para bem longe vá

O Fútil reino das aparências,

Que ofusca os olhos inocentes;

Que para bem longe vá

A língua perversa das mentes execráveis,

Sem bom-senso, nem ordem;

Que para bem longe vá

A falsa caridade dos oportunistas,

Mergulhados no seu diabólico egocentrismo.

Isabel Rosete