sábado, 27 de novembro de 2010

O salpico doce
Das gotas salgadas,
Desperta-me
Para os segredos da Criação,
Para o devir contínuo
Da marcha do Mundo,
Sem intervalos,
Sem pausas.

O farol que o mar torna visível,
Anuncia: “terra-à-vista”!

Sempre ilumina a minha alma,
Todas as almas,
Em todas as direcções
De onde os barcos
Partem e regressam,
Na saudade amarga
Daqueles que se separam
Pela luta do pão e da vida.

IR
Tão vil é
Este mundo onde sobrevivemos
Comandados pelo compadrio;

Tão ignóbil é
Este mundo por onde vagueamos
Movidos pelo oportunismo;

Tão des-crente é
Este mundo onde não mais habitamos,
Perseguidos por uma glória que não existe;

Tão insano é
Este mundo onde não temos mais lugar,
Tiranizado pela discriminação;

Tão fútil é
Este mundo onde vacilamos,
Esquartejados pelas sombras das essências.

IR
Meros farrapos
Nos tornámos,
Nós, os pretensos
Arautos da Razão.

Razão?
O que é a Razão?
Não sabeis, pois não?

A palavra degenerou-se,
Gastou-se,
Transmutou-se para um outro,
Que jamais é o outro de si mesmo.
Continuamos a carregar este rótulo,
O de sermos racionais,
Cada vez mais vazio,
Cada vez mais insano!

Não é a Justiça que nos move,
Não é o Bom-Senso que nos determina,
Não é a Ética que nos rege!

O que nos alimenta
Ou des-nutre,
Sobe o nome da “Razão”?

A Demagogia e a Retórica,
Abastardadas;
O poder e a ambição,
Des-medidas;
A intolerância e a discriminação,
Arrogante,
Sem fundamento plausível.

É nisto, Homem,
Movido pelas escaldantes farpas do Demo,
Que te transformas-te
Por conta própria?

IR

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Caminho pelas areias infinitas
Das praias desertas.
Nada se ouve.
Nada se sente.

O luar
Incandesce os meus olhos,
Míopes,
Perante a imensidão da linha do horizonte
Que não vislumbro mais
A minha alma esvaiu-se
Na solidão das marés,

Que vão e vêm,
Nunca se fixam
Nunca deixam os mesmos rastos,
Nunca permanecem
No mesmo lugar.

Trazem um tempo outro,
Anunciam outros espaços,
Outras vidas,
Encobertas
Pelas águas,
No seu incessante peregrinar.

IR
O Mar que me deu a Paz

É o mesmo que me devora as entranhas
Nas escuras noites de trovoada
Que sob o meu tecto des-falecem.

IR
Amamos a Paz dos desertos

Onde encontramos a tranquilidade.
Aí permanecemos,
Nessa espécie de refúgio do Mundo,
A salvo dos olhares alheios
Que nos penetram na alma,
A salvo das mãos dos outros
Que nos apontam o dedo,
A salvo das mentes incriminatórias
Que só vêem o visível,
A salvo dos espíritos perversos
Que a verdade atrofiam.

Isabel Roste
Das Fontes
Já não jorram mais
As águas cristalinas!

Dos mares
Já não ecoa mais
O canto das sereias!

Das Estrelas
Já não renasce mais
O brilho duradoiro!

Da Terra
Já não desponta mais
A fonte da Salvação!

Da Humanidade
Já não eclode mais
O grito do perdão!

IR
Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões
Dispersas,
Invisíveis,
Aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.


Agouros pronunciam,
Em nome do desespero,
Egoísta,
Que lhes corrói a alma.

IR