sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cansas-me

Estou cansada desse teu olhar que me despe
Cheio de mágoas e frustrações.

Estou cansada desses teus lhos esbugalhados
Que me sorvem, sem piedade,
Pelo egoísmo de me possuíres,
Tão intensamente, que me exaures
O corpo e me desgastas a alma.
Estou cansada desse teu suor, desbravador,
Durante e depois do Amor.

Estou cansada dessa tua obsessão, desmedida,
De me quereres, sempre, dentro de ti
Mesmo quando estás ausente,
Algures, em qualquer lugar.

Cansas-me de sufoco sempre que
A claustrofobia mental se instala
Em mim pelo excesso do teu amor.

Cansas-me quando beijas a minha boca
Mais que embebida nessa tua saliva
Que me amordaça a mente.

Tudo, no teu amor, é repleto de cansaço.
Um cansaço de tédio, que é mais que cansaço.
Não te suporto mais.

Isabel Rosete





Da Lira


Orfeu! Ah, Orfeu!
Tu, ó deus da lira e do canto,
Da katarsis musical,
Que me moves o corpo
E adoças a alma
Nos desígnios do Amor
Puro e leve,
Trágico e terrível.

Sempre presente
Estiveste, ó Orfeu, saudado e desejado,
No reino dos vivos e dos mortos,
Amando, sofrendo,
Lamentando-te pelo Amor perdido.

Orfeu! Ah, Orfeu!
Tu, ó grande dádiva de magia
Que até os rochedos comovias.
Não tens limites,
Ultrapassas todas as fronteiras,
Infindas, que só a arte das Musas alcança.

Orfeu! Ah, Orfeu!
Como me revejo nesse teu Amor
Des-graçado, penitente, nunca recuperado.
Também eu des-pedaçada,
Não pelas mãos das Ménades
Embriagadas por Diónisos,
Mas pelas garras dos amantes
Que não me amaram,
Dos amantes que me possuíram
E nunca me conquistaram.

Isabel Rosete

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões dispersas,
Invisíveis aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.
Agoiros pornunciam
Em nome do desespero egoísta
Que lhes corrói as entranhas.

IR

Há um Espírito errante que nos percorre,
Cobre as nossas faces desprotegidas,
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.
IR

Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto
Das mentes pálidas,
A podridão do horror,
O enfado do tédio
A escuridão, cega e surda,
Das franjas deixadas ela Inveja.

IR

Talvez viva um mundo que não existe,
Talvez viva um mundo que é só meu
Numa solidão imensa que me atrofia,
Por dentro, no mais íntimo de mim.

IR, 13/12/2010

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Mãos macias são as tuas, meu Amor,
Deslizando pelos contornos do meu
Corpo débil, frágil, encolhido…
No majestoso calor que elas emanam em mim.

Sobem e descem, as tuas mãos, meu Amor,
Dentro e fora de mim,
Em movimentos ora singelos e leves,
Ora intensos e extasiantes.

Arrepiam-me até aos confins
De todos os meus poros,
Até ao mais íntimo da minha alma
Acalentada pelo teu cheiro, ímpar,
Que em mim penetra e fica
Como um fóssil
Por todo o meu corpo estendido.

Emaranho-me nas tuas mãos, meu Amor,
Como num lençol de cetim vermelho,
Fresco, escorregadio… raiando de sensualidade
Por onde os nossos corpos deslizam,
Suados e consolados, pelo prazer do Amor.

Assim te quero, assim te desejo, meu Amor,
Por entre as tuas mãos que o meu corpo conhecem
Nos mais finos detalhes, até nos mais encobertos.
Nunca deixarei de te amar, meu Amor,
Mesmo que as tuas mãos pereçam
E nunca mais me toquem.

IR





Não sei amar sem sofrer,
Sem ausentar a dor
Num sereno campo de girassóis.

Não sei amar na quietude
Das noites de Lua cheia,
Na incandescência do fim da tarde,
Ao Pôr-do-Sol.

Não sei amar na suavidade das dunas
Das praias desertas,
Que as gaivotas sobrevoam,
Anunciando tempestades.

Não sei amar na paz, imutável,
De um encontro de amantes,
Saciáveis e discretos.

IR