quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Esperas por mim?
Onde?

Na mais longínqua clareira

De uma floresta não iluminada?


Não!

Definitivamente, NÃO!

NÃO te quero mais!

NÃO te acompanho mais!

...

Enquanto não botar a Luz

Que aclare os meus caminhos

Tão íngremes

Como os rochedos do Cáucaso,

Onde a Morte e a ressurreição

Me esperam…ao lado de Prometeu.

IR

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Para Martin Heidegger


Expressões silentes,

Sobranceiras,

Marcadas por um misto

De espanto

E de inquietação;

Olhos que fitam o infinito

Diante da imensidão

Dos caminhos do campo

Ainda longe das mãos

Destruidoras

Dos Homens sem Razão;

Expressões carregadas

De solidão

Face à desertificação da Terra

Que sempre lança

O seu (des)esperado grito de alerta;

Pés que pisam o chão campónio

Como uma bênção,

Enquanto a serena musicalidade atmosférica

Invade um espírito expectante

Que o Ser sempre escuta.


Ai estás, oh Filósofo!

IR
(Inédito)

Identidade


Amo-me, desejo-me,
Acima de tudo e de todos!

Narcisismo?
Egocentrismo?
Arrogância?

- Não! Claro que não!
Rotulem-me como quiserem...
Mas isso, digo-vos: “Não sou”!

Amo-me, porque me amo!
Não é razão suficiente?

IR

Processo da escrita



As ideias ocorrem, escorrem...

No caudal dos rios da Língua

Que as suporta e transmite;

Espalham-se, difundem-se

Num aberto continuado

No bloco de notas que sempre as acolhe;

Surgem num ápice eufórico!

Têm de ser ditas e registadas

Para que a serenidade volte

Ao meu pensamento desassossegado.

Escrevo-as sem que as precipite.


As palavras revelam-se, impõem-se

Sempre em cadeia ininterrupta

- como a água das fontes derramada sem cessar -

Sem que as des-oculte, nunca,

Na imediatez dos sentidos.


Escrevo!

Simplesmente escrevo

O que o meu pensamento me dita

Num ritmo vertiginoso, quase alucinatório,

Que as minhas mãos nem sempre acompanham.

Mãos instrumento dizer!


Assim digo o Mundo no seu ser e no seu estar,

Mutante e perene, num raio apaixonante,

Que o papel, antes vazio, reflecte e ilumina;

Assim caminho no balanço incerto das vogais

E das consoantes, que nunca me traem,

Que clareiam o meu dizer na transparência

Da Linguagem, a “Casa do Ser”.

IR
Na boca do Poeta


O poder gerador das palavras

Afirma-se e presentifica todas as coisas,

Visíveis e invisíveis,

Na boca do Poeta;

A sua força de criação e re-criação

Vivifica-se no mesmo instante

Em que o Mundo se torna claro,

Apesar dessa obscuridade que o enforma;

Apesar das manchas cinzentas

Que escondem a alvorada do Sol;

Apesar das nuvens que já não são brancas

E anunciam as chuvas não esperadas

Numa tarde de Verão.


Pelas palavras ditas

E não-ditas - nas entre-linhas supostas -

Nesse silêncio remoto das entranhas,

O Poeta des-vela as essências

E todas as coisas mortas surgem como vivas;

Os artefactos tornam-se manifestos

Na sua opaca transparência,

No deslumbre de uma Vida que se rasga

Para não mais se unir nos fragmentos estilhaçados

Na memória dos tempos.


- “Nunca mais”… - não é dito pela boca do Poeta!

IR


Sejamos Natal


Para além de todas as demagogias,
Para além do politicamente correcto,
Para além de todas as hipocrisias...

Celebremos, finalmente, o Espírito do Natal
Em todos os momentos
Desta nossa existência, tão efémera.

Natal é Fraternidade, Solidariedade, Paz,
Amor e Alegria na Terra
E nos Corações dos Homens;

Natal é a apologia do autenticamente Humano,
Em toda a sua essência genuína
De Bondade e de Verdade;

Natal é o enaltecimento de um Mundo
Onde não haja mais lugar para a Crueldade,
Para a Violência ou para a Agressividade;
Natal é a reunião dos Corações sensíveis
Que lutam, desesperadamente, pela União
Dos Povos e das Nações;
Natal é a rejeição da Discriminação,
Dos horrores da Guerra,
Da mutilação dos Corpos e das Almas;

Natal é a consciência da Miséria Humana,
O compromisso da sua superação,
O enaltecimento da Justiça e da União fraterna;

Natal é o triunfo do Bem e do Belo,
A glória de todos os Renascimentos,
A comemoração da Dignidade Humana;

Natal é a benção do sempre Novo,
O louvor de todo o acto de Criação,
De Renovação e de Regeneração.

Sejamos Natal,
Hoje, sempre,
Para sempre...

Isabel Rosete

domingo, 4 de dezembro de 2011

"Hino ao Sol", por Isabel Rosete - Inédito




Sol que brilhas e iluminas a minha alma,


Aqueces o meu corpo gélido.

Como te amo na tua natural formosura!

És perfeito, Astro dos Astros,

Imensamente grandioso.

Por favor, não te extingas!


Por favor, não me abandones também!

O que faria da minha vida sem a tua luz,

Na carência do teu calor?


A tua majestade, aí, altivo

- nem ao meu alcance, nem ao de mais ninguém –

Enobrece-me a mente,

Que, pouco a pouco, se torna clara.


Libertam-se as Ideias, ó Sol,

Tão brilhantes como tu,

Reflexos translúcidos nas águas onde te derramas,

Espelhos infinitos de Dédalo(s) intra-mundanos

Espraiadas nessas águas frias,

Nessas águas peregrinas agitadas

Que nos conduzem á confluência de todos os Mares.

Aí, os espelhos intersectam-se

E a visão dos Mundos possíveis é enorme.


Agora tudo se mostra na sua frente e no seu verso.

Já não há véus! Já não há sombras!

Apenas a Verdade em todas as suas representações,

Des-veladamente diáfanas.


Espera! Não te vás, ainda, ó Sol da Vida!


Preciso de continuar a contemplar-te

Para manter a minha respiração fluída;

Preciso da tua presença

Para que as minhas mãos continuem a escrever;

Preciso da tua companhia

Para disfarçar este meu estar só.


Espera! Não te vás, ainda, ó Sol da Vida!

Isabel Rosete (inédito)

"A via láctea cobre-me", por Isabel Rosete - Inédito


A via láctea cobre-me

Tal como os ramos secos pelo tempo

Daquela figueira ancestral

Dos pingos de mel arroxeados

Onde se guardam todas as minhas memórias

De estórias, de lendas, de dizeres encantados,

Arquivadas nos espaços longínquos

Da infância perdida por entre as bonecas de trapo

Agora emersas nas recordações que sempre voltam,

Nas recordações que sempre se deslocam

Mas, nem sempre se des-velam.


O canto das aves brancas acorda-me

do sonambulismo persistente

Á primeira luz da manhã,

Quais despertadores

Que a Natureza me doa todos os dias

Para que o milagre do Ser aconteça

Em todas as maravilhas da Criação

- tão generosa, tão doce, tão terna… -,

Em plena harmonia com todos

Os estados de Graça,

Grandiosos em cada fruto,

Em cada flor, em cada animal,

Que percorre o pastoreio em mais um dia

De luta pela sobrevivência.


Assim habitam a Natureza.

Com ela repartem e recolhem

As dádivas mais singelas

Em plena comunhão.


Não há contrários que não se unam.

E o desterro nunca chega,

Apesar do devir perpétuo de todos os elementos.


A pureza do sonho une-se com a pureza da realidade,

Poupando o eterno Mistério do Mundo.

Tudo se arrecada no mesmo lugar do eterno retorno

De cada caminho do campo,

Nas encruzilhadas onde nem todos se bifurcam.


Este amor pela Natureza desfaz os infinitos labirintos

Sem saída, onde já não repousa o Minotauro.

O princípio e o fim tocam-se na íntegra união

De todos os modos do Ser.

O Homem comove-se nesta fusão,

Celebrando e abrigando os hinos que se soltam

Por entre as montanhas:

- O canto dos pássaros;

O sussurro dos rios;

O balbuciar das árvores

E das flores frescas da Primavera renovada.


Dá-se a Paz no silêncio da Música celeste.

O divino e o humano recolhem-se

No mesmo tempo e no mesmo espaço.

A Terra e o Céu tornam-se um só.


Nasce a grande esfera concêntrica

Que ampara o Universo.

Afasta-se o Nada.

Presentifica-se o Ser

Na sua autenticidade iluminatória.

Ergue-se a Luz que ainda nos ilumina,

Antes do Sol se pôr mais uma vez.

Reluz o Mar azul e verde,

Que, ao longe, se funde com o horizonte

Em cores de fogo aceso.

Isabel Rosete - Inédito

"Na infância do Além-Tejo", por Isabel Rosete - Inédito


Na infância do Além-Tejo

Revejo a paz e a serenidade

Da minha alma espargida

Por entre os campos de palha seca,

Os riachos quase sem água,

Que a seca traz no Solstício de Verão.


As fontes secaram! Mas..., as palavras…

As palavras sempre surgem para dizer

Essa maravilhosa Natureza de tranquilidade.


Tudo está parado e move-se, ao mesmo tempo,

No mesmo lugar.

As cabras regressam das extensas pastagens,

Nutridas, à sua habitação imutável.

Chocalham de satisfação. Quase que sorriem!

Mais um fim de dia!

O Sol ainda vai alto pela indelével fresca

Do final da tarde.


Parte-se o queijo e o pão.

Recolhe-se o leite que conforta o peito

No termo de mais um dia de jorna,

Onde o calor intenso lançou os corpos amortecidos

Nas medas de feno para a sesta habitual

De recuperação de novas energias.


Nas horas altas da noite

Sento-me por debaixo do céu estrelado,

Tão claro..., tão... transparente…!

As estrelas são-me cada vez mais próximas

Com a sua luz límpida e suave.

Brilham nos meus olhos negros,

Que, por momentos, co-habitam o Infinito.

Isabel Rosete (Inédito)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Posfácio do meu novo livro, "ENTRE-CORPOS"


Posfácio de "ENTRE-CORPOS, por Isabel Rosete - Nele encontram a teoria que me moveu a escrevê-lo, a qual apresenta a minha visão do seu conteúdo específico.


POSFÁCIO

"Aos outros cabe-lhes o universo;

A mim, penumbra, o hábito do verso.

Todo o poema, com o tempo, é uma elegia.

Não há outros paraísos que não sejam paraísos perdidos.

A página vive para lá da mão que a escreve."
Jorge Luís Borges


«Fala-se de Corpos nesta obra que desce até às entranhas do Sentir. De corpos vivos e de corpos mortos; de corpos decaídos e exaltados; de corpos cansados e embriagados; de corpos em todas as suas formas e estados reais ou possíveis.

Também as Almas são aqui celebradas: as puras, as impuras, as que transmigram, as que permanecem neste ou naquele lugar sonhado, vivido, projectado, tão intensamente pela paixão convicta de ser o Tudo, na sua autenticidade iluminatória.

Almas fora ou dentro dos Corpos; almas que transcendem e deixam, por instantes, os corpos suspensos, solitários, entregues a si próprios; almas que os integram, acompanham e animam na leveza ou no peso do Cosmos.

No entanto, em momento algum se defende a dualidade antropológica decretada por Platão na República, no Fédon, no Ménon ou em qualquer outro dos célebres diálogos deste pensador binário. Jamais se perspectiva o Corpo como cárcere da Alma; jamais se concebe a Alma como uma forma, co-afim com tantas outras formas ou eidos imateriais, incorpóreos, residentes no Mundo Inteligível, cujo Corpo em que encarnam é mera cópia ou simulacro, completamente desprezível.

É claro que se procuram as essências, a verdade daquilo que é, em detrimento das aparências, das ilusões dos sentidos ou dos sonhos sem fundamento, da verosimilhança ou de qualquer outro modo de pseudo conhecimento da realidade que a torne o que ela não é, que a ludibrie no seu ser próprio. Porém, as essências na sua materialidade, ou espiritualidade – também o podemos admitir – vistas pelos olhos da Razão que perpassam o parecer-ser e desvelam o originário.

Não há fugas ao ver claramente visto; não há fugas ao ouvir que escuta até ao ínfimo nível dos ultra-sons. Também não há fugas ao tacto, ao olfacto ou ao gosto que, em combinação perfeita com a Razão, nos mostram o Mundo, físico e humano, na veracidade do seu ser.

Todos os sentidos, holisticamente conjugados, se revelam como portas e janelas, como aberturas conscientes e racionalizadas, pela crítica, dos múltiplos estados concretos ou prováveis, perfeitamente possíveis – digamo-lo sem reservas – de todos os Corpos e de todas as Almas.

Há, apenas, estados múltiplos e sequenciais, circunstâncias de comunhão e de separação de Corpos e de Almas, à semelhança do que acontece com todas as coisas animadas, num misto de realidade e de ficção (mera projecção da realidade), que me movem no pensamento e na escrita.

A Vida e a Morte são, em Entre-Corpos, as etapas efémeras e eternas dos Corpos e das Almas, unidas ou separadas pelo Amor, esse estádio outro que tanto é Vida como é Morte. Talvez a Morte seja mais inverosímil do que a Vida e, por conseguinte, a Alma perdure, mesmo que o Corpo seja ou não um caos ambulante.

Também o Amor se presentifica e entifica, nestas linhas escritas com a minha alma e com o meu corpo, com o meu sangue, nas suas múltiplas formas ou séquitos de ser, sem ocultar alguma. Amores de todas as cores e de todos os sons. Amores de todos os sabores, tactos ou cheiros. Amores sentidos, vividos, sonhados, ideados… meus e de todos os outros, passados ou vindouros. Tão-só Amores!

Na trilogia – Vida, Amor e Morte – caminha esta obra, por entre todos os Corpos vivificados ou trucidados pelas Almas que os escoltam ou abandonam. Almas e Corpos que riem; Corpos e Almas que choram, que sonham o Mistério e o Milagre que é o Amor; que almejam a Felicidade e a Glória, como formas de aniquilação do sofrimento, inevitável.

Entre-Corpos, coisas do Amor e da Morte ou da Morte e do Amor são, a limite, o mesmo. Talvez haja uma paixão desmedida, completamente assoberbada, no Amor e na Morte, que nos descontrola o Espírito, sem volta à sensatez. O racional e o emocional misturam-se num novelo de emaranhados fios por nós não desatados. Impera um Amor que se gera nas Ideias, mas que solicita, ao mesmo tempo, o Corpo para a sua materialização efectiva, porque dele inseparável.

Talvez já não possamos estabelecer a diferenciação específica, rigorosa e absoluta, a partição “clara e distinta”, como diría Descartes – o filósofo por excelência dualista da Época Moderna, das “paixões da alma” que não são jamais as “paixões do corpo” – entre os múltiplos conceitos que, sob o nome do Amor, se exaltam, se agitam e giram em seu redor: o “desejo”, o “instinto”, a “libido”, a “tentação”, a “química”, a “carência” do estar só, uma certa “alucinação” que nos impele ao “apetite” e à “provocação” do outro, que esperamos desesperadamente em nós.

Evidencia-se, não obstante, que em qualquer estado em que o Amor e a Morte se apresentem, nada se acata dentro do Eu que, apenas, fervilha e fervilha, sem saber onde está o início, sem saber qual o terminus do seu próprio fim, quer se trate da união consigo, quer da união com o outro.

O impulso à umbilical comunhão dos corpos, cresce numa escala vertiginosa que desatina e não atina em absoluto. Há a inquietude irritante e ardente dos amores não vividos, num intenso enorme, ou numa quase loucura do ser que não é, mas que fustiga e não pára e não se aquieta. Assoma o prazer desejado sem contenção, nem dos músculos, nem das veias, nem das vísceras, nem das células.

O complexo físico-químico que somos revolta-se aquando da junção do Corpo e da Alma, fundidos num desejo só. É o querer que comanda. Um querer que é Vontade do Outro. Sem o Outro não se mantém; sem o Outro não sossega.

Infortúnio da Alma, este querer ilimitado, esta Vontade-de-Poder que determina os sentires incondicionalmente, porque está acima do Tudo, do Absoluto, do Indeterminado, do Telos de todas as coisas animadas ou inanimadas, porque vai para além da Morte e destrona o efémero?

Ergue-se, num escasso instante, o turbilhão existencial que nos transporta para múltiplos estados outros, jamais cogitados. Instala-se o novo, o inesperado, a súbita palpitação do Coração desprevenido emersa pela paixão que, freneticamente, se desenrola sem rumo determinado a priori.

Não há serenidade nos corações dos amantes, na Vida e na Morte, que assim se movem sem qualquer espécie de freios, porque o freio não existe aquando da exaltação dos sentires dispersos, conscientes ou inconscientes. Não pode existir, de modo algum. É imperativo que não exista. Se existisse, não seria nem Amor, nem Morte.

O Amor vulcaniza-se pelos meandros da Vida e da Morte e derrama a sua lava, incandescente, em todas as direcções. Não escolhe trilhos. Não tem deliberações. Não está sujeito a pré-determinações. Apenas escorre, flui, goteja, mas nunca se esgota na sua essencialidade. Há sempre um rasto que fica no e para além do Tempo. Move-se, como perfeito dinamite, sempre pronto a explodir em qualquer momento.

Este descontrolo, nem sempre total, a escrita aclama, qual desabafo que o papel em branco acondiciona, aconchega e, deste modo, tranquiliza o desconforto da Alma e do Corpo que choram, se exaltam ou se preenchem de um prazer ímpar, naturalmente indizível pela objectividade racionalista.

Assim é a Vida. Assim é a Morte. Assim é o Amor.

Assim é o Tempo. Assim é a Eternidade. Assim são os espelhos, côncavos ou convexos, que nos mostram, amiúde, um outro rosto no labirinto dos caminhos que, nem sempre, se bifurcam.

Ainda e sempre o enigma da Esfinge? O erro do nosso estar metafísico que não nos deixa ser Édipo? Ou a ausência da luz do Ser?

“Caminhamos para uma Estrela, nada mais”, “quando, no silêncio da madrugada, o céu pouco a pouco se ilumina no cimo das montanhas…” (Martin Heidegger)»

Isabel Rosete
Janeiro de 2011

Blogue no meu novo livro: "ENTRE-CORPOS":
http://isabelroseteentrecorpos.blogspot.com/

Aguardo a vossa visita e os vossos comentários!

Informo que este livro se encontra disponível nas lojas online das livrariras Bertrande e Wook.

Saudações poéticas,
IR


Permaneço no silêncio fechado do Mar remoto,
Por onde se ergue a minha voz calada:

- Porque as Palavras já se esgotaram;

- Porque as Lágrimas já foram todas derramadas;

- Porque o Choro me trava a garganta;

- Porque a Vida já não me sorri;

- Porque a Morte já não me espera;

- Porque o efémero permanece

e o Eterno já não alcanço;

- Porque a Dor já não me deixa;

- Porque a Felicidade já não regressa;

- Porque o Destino já não me comanda;

- Porque o Espanto me fecha em mim;

- Porque as Águas já não me molham os pés

nem me consolam a alma;

- Porque o Sol já não brilha na sua mais pura claridade;

- Porque as Flores já não são coloridas;

- Porque Ares airosos já não flutuam em mim;

- Porque o Fogo já não me aquece;

- Porque a Tormenta me congela o cérebro;

- Porque o Mundo já não é mais redondo;

- Porque as Andorinhas já não voltam com a Primavera;

- Porque o Sonho já não se ergue

e as folhas, no Outono, teimam em cair secas e desfeitas;

- Porque o Silêncio já não desce do alto e Deus;

- Porque o Silêncio é imposto à minha voz calada

no suor e no sopro da Eternidade,

que clama o Infinito na purificação

da Unidade do Cosmos universal,

Que já não Ouço,

que já não Vejo,

que já não Sinto;

- Porque aqui estou no silêncio recolhido que me cobre

e já não me deixa boiar por entre as pedras roxas,

onde os Sons já não se propagam,

onde a Luz já não se acende,

onde a Carne já não vibra!

Isabel Rosete, Ílhavo, 2011

quinta-feira, 3 de novembro de 2011


Escuto o martelar da água salgada nas rochas

Que habitam as praias solitárias,

Essas por onde passam, de sobrevôo,

As gaivotas e, por vezes,

Os homens em busca da quietude

Outrora perdida num manto de Rosas vermelhas,

Onde se entoam e ecoam todas as Paixões.

Os amantes, já exaustos, deambulam pelas areias

Movediças, autênticos palcos de muitos mundos,

Esses que imaginamos, mas ainda não vivemos

Onde arquitetam ou aniquilam as suas próprias moradas.


Uma linguagem incompreensível vocifera das suas bocas

Quentes, abrasadas, suadas pelos beijos trocados

Com o sabor amargo e doce da Vida não habitada

Em terreno firme e terno.


Ah, a Vida, o trampolim, a barra olímpica

Por onde caminhamos em perplexos des-equilíbrios

No correr solto dos ventos saltitantes

Que bolem as nossas pernas trôpegas,

Como se mal tivéssemos começado a andar!

Isabel Rosete
No silêncio da Morte,

Enquanto Deus dorme,

Movo-me, leve, tão... serena...

Pelos espaços astrais que me engrandecem

E comovem na tranquilidade da minha Alma.

A paz dos Anjos esses entes alados em vigília

Constante permanente, acompanha-me

Com a ternura e a serenidade dos Espíritos puros.

O meu Corpo, então, sossega e adormece

Na tranquilidade da Eternidade.

Isabel Rosete
(Inédito)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Escrevo sempre que o meu pensamento

Se volta para o interior de si próprio,

Sempre que nele se espelha o Mundo,

Sempre que nele se relfecte a Natureza,

A Humanidade, nos seus confins e afins,

Em trajectórias imensas que percorrem

Todos os ciclos do Universo.

Absorvo o Tudo, o Nada e o Vazio, o Acaso,

O Ocaso... Que se dá sublimadamente,

O Destino, que se mostra e esconde,

Num mesmo instante existencial irrepetível.


Nada pode ser ocultado.

Não há omissões possíveis

Neste espaço de transparência absoluta

Onde reina a Verdade

E não mais a verosimilhança.


Todos os detalhes, mais ou menos recônditos,

São naturalmente cruciais,

Até mesmo os aparentemente mais fúteis,

Porque o Todo que sempre move a ambição

Desmedida do Pensamento só é visível

Por entre as suas ínfimas e ilimitadas partes;

Porque a Alma dos Tempos,

Passados e Vindouros,

Só re-luz quando imersa no seu cheio redondo.

IR, Ílhavo, 19/03/2009

domingo, 23 de outubro de 2011


Li a tua carta de ontem

Ao rair da madrugada luminosa.

Não inalei o teu cheiro,

Não ouvi a tua voz,

Não saboreei o teu paladar.

Por isso, não te senti.

Estavas longe, muito longe...

Demasiado longe... Tão longe...

Para chegares até mim!



As tuas mãos já não me tocam,

Os teus olhos já não me enxergam,

A tua alma já não me anima

E o teu corpo já não penetra o meu.



Permanecemos na distância próxima

Da nostalgia que, ainda, nos abala,

Na memória repleta de recordações

De nós, outrora, fundidos numa mesma

Matéria e num mesmo Espírito.



Isabel Rosete, Ílhavo, 19/06/2010

Os pratos da balança já não se equilibram mais!

Já não sabemos onde mora a Justiça!

A medida certa acabou!

Esgotou-se nas hipérboles

Dos inglórios feitos humanos.



A incerteza, a dúvida, o paradoxo

São o paradeiro do nosso caminhar incerto

Em terreno irremediavelmente movediço,

Ao mesmo tempo que estanque

E repleto de obstáculos inultrapassáveis.



Sempre nos prendem as pernas

Quando os nossos passos são longos!

Sempre nos prendem os passos

Quando as nossas pernas caminham

Em direcção aos lugares nunca antes cogitados!



Ah, que ilusão, a dos Homens,

Sempre que lançam na Terra e nos Mares

As malhas apertadas das suas próprias redes

Como (supostos) senhores, dominadores do Universo

Físico e humano, onde residem e escassamente habitam!



O Mundo está aí e permanece imutável,

Na sua essência, apesar de todas as investidas

Desta Humanidade minoritária que luta

Pelas suas mais nobres causas, sempre solitária;

Que acompanha, em desacordo, o furor das multidões

Em revolta, contra o imposto pelas leis da Natureza,

Que não mais salvaguarda ou protege.



Ai, esta Humanidade que, um dia,

Alimentou a vã ilusão do Tudo manipular,

De ser a gestora de um Universo que,

Amiúde, gosta de se esconder

Na sua mutabilidade camaliónica!

Isabel Rosete
Amo o Desejo com o corpo todo.

Amo o Desejo com a alma inteira.

Amo-te de corpo e alma com o Desejo pleno.

Queres maior prova do meu Amor?

Assim me habito e te habito nesta morada

Viva de um Amor eterno, num obscuro domínio.


IR, Ílhavo, 09/02/2011

terça-feira, 11 de outubro de 2011

EDITORIAL MINERVA - blogue: Sugestões de Leitura para os meses de Outubro e No...

EDITORIAL MINERVA - blogue: Sugestões de Leitura para os meses de Outubro e No...: Produções K X Y (Vídeo de Célia Cadete - Captação digital). Visione no fim deste blogue todos os vídeos bi-mensais das sugestões de leitu...

sábado, 17 de setembro de 2011

Gotas de solidão


Gotas de solidão apertam o meu peito

Amargurado pelas trilhas da vida

Vazias num só e único passo

Deambulante como o vento

Em noites de dilúvio.


Encontro-me em cada gota

Da minha solidão

E da solidão de todos os outros,

Também abandonados

A uma sorte não-escrita,

Não-dita, nem sequer balbuciada

Num qualquer borda - d’água.


Nas gotas da solidão

Invertem-se todos os espelhos,

Que já não são speculum,

Que já não reflectem

A mão ao longe estendida

À minha alma nua e desabitada.

Isabel Rosete
Na boca do Poeta


O poder das palavras afirma-se

E presentifica todas as coisas,

Visíveis e invisíveis, na boca do Poeta.

A sua força de criação e de re-criação

Vivifica-se no mesmo instante

Em que o Mundo se torna claro,

Apesar dessa obscuridade que o enforma,

Das manchas cinzentas

Que escondem o brilho do Sol,

Ou das nuvens que já não são brancas

E anunciam chuvarada.


Pelas palavras ditas e não-ditas,

Nesse segredo remoto das entranhas,

O Poeta des-vela as essências.

Os artefactos tornam-se visíveis

Na sua opaca limpidez, sem paradoxos,

No deslumbre de uma vida que se rasga

Para não se unir, nunca mais,

Ou para se unir, para sempre.

Isabel Rosete
Processo de escrita



As ideias ocorrem, escorrem.

Espalham-se num aberto continuado.

Surgem num ápice eufórico.

Escrevo-as sem que as precipite.


As palavras revelam-se, impõem-se-me

Sempre em cadeia ininterrupta

Sem que as des-oculte propositadamente

Na imediatez do raciocínio que se eleva.


Escrevo. Simplesmente escrevo

O que o meu pensamento me dita

Num ritmo vertiginoso, quase alucinatório,

Que as minhas mãos nem sempre acompanham facilmente.


Assim digo o Mundo no seu ser e no seu estar

Mutante e perene, num raio apaixonante,

Que a folha de papel em branco ilumina.

Assim caminho no balanço das vogais

E das consoantes que nunca me traem,

Que clareiam o meu dizer na transparência

Da Linguagem que é a “Casa do Ser”.

Isabel Rosete

quinta-feira, 18 de agosto de 2011


Chora mulher.

O teu homem foi levado pelo mar,

Enrolado no sal das águas que o conserva.



Mas…, espera. Não caias por terra.

Ninguém assim to ordenou.

Ainda não tens a campa.

Ainda não tens a lápide.

Ainda não tens as velas ou a lamparina.

Ainda não tens nem a floreira

Nem o crucifixo, nem o corpo.

Ainda não chegaram as carpideiras

Para contigo o chorar.

Ainda não chegou o padre

Para lhe dar a extrema unção.

Queres enterrá-lo de forma infame

Sem que ele se tenha redimido

Dos seus vastos pecados?



Não chores, ainda, mulher.

Talvez o teu homem venha com a próxima maré.

Espera-o na beira da praia.



IR, 16/08/2011


Ah, se o teu rosto se voltar a colar no meu,

Se as nossas almas derem as mãos,

Se os nossos corpos deslizarem

Na pele macia que nos une na diáspora,

Se me voltares a ver, ao fim da tarde,

Quando o ruído se torna silêncio,

Se me beijares de cor-de-rosa…!

Oferece-me rosas azuis,

Mesmo que sejam temerárias.



IR, 10/08/2011


A um amor perdido



Não sei se te ame, se te adore,

Se te venere, se te castre,

Se te mande para o Inferno.

O abismo impõe-se entre nós.

Ainda me corróis as entranhas,

Ainda me esmagas a alma

Envolta em cardos espinhosos.



Não sei se te odeie de um modo tão amargo quanto o fel,

Se te presenteie com Cicuta, essa mesma com que

Envenenas-te o meu sangue, agora roxo,

Com metástases de um sofrimento atroz.



Dizias sempre que, um dia, voltarias

Depois da purificação de todos os teus pecados

Amargos, sem perdão.

Que perdão? Deus já não te ouve!

És um intruso amaldiçoado,

Eternamente amaldiçoado por um amor

Que nunca tiveste, a não ser por ti próprio,

Na tua obsessão doentia,

Na tua incondicional posse de mim.



Não sou um objecto, não sou um biblô

Que mostras ao mundo como um troféu de caça

Que carregas nessas tuas mãos endinheiradas

E envelhecidas pelo mote das aparências indiscretas

Que sobrevivem em ti e nos outros sob a dissimulação

De um dito lar perfeito.



Se, um dia, voltares, não estarei aqui.

Talvez vagueie num qualquer cais incerto

Das emoções livres, onde as palavras

Jamais me doerão.



IR, 09/03/2011

Olhos azuis cintilam na brancura rosada

De uma face, ainda, imaculada.

São pedras preciosas

Inscritas no alvor da candura

De uma Alma tão grande,

Capaz de se dar ao esplendor do Universo.



Por debaixo dos seus finos lábios,

Sempre se rasga um sorriso luminoso,

Tão incandescente

Quanto a mais bela das estrelas

Deste Céu que, ainda, nos cobre.



Que doçura inspiram os que os olham

Na sua inocência libidinal

Tão pura, tão leve…

O mais ténue sopro

Pode arrastar o seu Espírito

Até às profundezas da Terra.



Sabe amar como ninguém!



Esses hipnóticos olhos azuis

Fazem transparecer

O amor verdadeiro em cada lento

E terno pestanejar.



Azul do Céu, azul do Mar, azul da Lua…

Azul que reflecte um singelo ser transparente,

Uma dádiva divina, a infinitude do Ser

Do estar, do amar…



Azul dos espaços siderais, azul do Infinito,

Azul do Ilimitado, azul de todos os horizontes…

Azul de todos os desejos, azul de todos os instintos,

Azul de todas as pulsões…



Azul de todos os amores, azul da Esperança,

Azul do olhar fixo e profundo, que tudo olha

E sempre vê.



Isabel Rosete









Breves constatações sobre um Portugal de demissionários:


1. Vivemos, hoje, num Pais de demissionários, de gentes sem rosto e sem voz própria, convicta ou determinada;

2. Vivemos, hoje, no silêncio mórbido dos que não sabem como salvar este País em marés de desalento, em estado de naufrágio total. Completamente alagados, na sua ausência de ideais, os mandantes ou (des)mandantes nacionais talvez seja este o termo mais adequado navegam, sem norte, nos mares da dissimulação, da mentira e do faz-de-conta, sem escrúpulos ou peso nas suas consciências inconscientes;

3. Vivemos, hoje, banhados por um regime político incógnito e, naturalmente, indefinível e impassível de qualquer espécie de adjectivação apropriada, porque: vagueamos na política da lamentável conveniência, do tachismo sem disfarce, da ausência da identidade nacional, do parecer-ser estatístico que pretende camuflar – pensam eles! – as misérias nacionais, apenas invisíveis perante a quadradice dos espíritos míopes.

Isabel Rosete

2010

O deliro das multidões sem rosto

Esgota-me a Alma.

Quanta Hipocrisia paira

Nos aglomerados das massas

Que lutam por arrastamento

Sem convicção própria.



Isabel Rosete

04/01/2009

Um dia de Sol resplandece

Por entre as águas cristalinas

Tão puras, tão imortais,

Tão ancestrais quanto o próprio Homem.



Mas, não há Sol

Que ilumine as mentes escuras

Travadas pelas trevas da Ignorância!



Mas, não há Sol

Que entre pelas vidraças,

Húmidas e tristes,

Das casas cinzentas

Votadas ao abandono

Pela (des)habitação do Humano!



Mas, não há Sol

Que acalente os corações jazidos

Pelo ódio ainda não arrefecido,

Pela vingança irreflectida

Dos espíritos acobardados!



Isabel Rosete

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Pensar um mundo que não é meu?

Porquê? Para quê?


Interrogações existenciais corem,

Em cadeia, por este meu espírito

Em constante fluir.


Não sossega perante nada,

Nem ninguém,

Nem mesmo quando os olhos

Se semi-cerram,

Obrigando-o a adormecer.


Sempre observador, nada lhe escapa.

Tudo o move ao permanente estado de Questionação, de Dúvida –

Por vezes, céptica, por vezes, metódica –,

De crítica, de meditação quase ininterrupta.


Nunca se acomoda, este meu pensamento.

Vive em rebeldia perene.

Jamais está satisfeito,

Nunca entra em estado de serenidade,

Mesmo que a quietude nele assome,

Durante escassos instantes.


Não pára!

Não pára!

Não se acomoda!

Não se acomoda!


Vê sempre um “porquê”

Na transparência das coisas opacas,

Desde as mais simples e singelas

Até às mais complexas,

Conflituosas ou dilemáticas.

IR

"O Pensamento", por Isabel Rosete


O Pensamento é a mais preciosa lente

De observação do Mundo.

Em si mesmo, todos os pormenores pode acolher,

Des-construir, editar e re-editar.

Dentro de si, todas as essências pode abrigar.

Sem limites, navega o meu pensamento

Sempre na ânsia de percorrer

Todos os mundos possíveis,

Determinado por um sentido universal

E universalizante. Quer abarcar o Todo,

Sem deixar nada de fora.

Aos insondáveis mistérios se dirige

Com uma curiosidade infinita.

Os segredos do Universo quer desvendar,

Não para o manipular,

Mas para o salvaguardar da originariedade

Que ainda lhe resta.

Tudo dentro de mim. Nada fora de mim.

Eis o lema que, sempre, me persegue.

É megalómano? Quiçá!

Porém, não se desfaz na quebra das ondas,

Nem na alternância das marés.

Permanece, aí, convicto da sua missão:

Observar e dizer o Mundo, ritmicamente,

Sem má fé, sem pré-conceitos.

Com racionalidade, Espírito Crítico,

Sensatez e originalidade.

Isabel Rosete

sábado, 16 de julho de 2011

Não quero viver no Inferno das noites fogueadas,

Na solidão das gentes emaranhadas

Nas teias de tantos outros, de rosto deformado,

Nos espaços atópicos de cada pensamento,

Nos espaços indefinidos dos pensamentos ignóbeis.



Não quero a luz opaca dos olhares indiscretos,

Maledicentes e intolerantes,

O brilho negro dos falsos sorrisos,

A demagogia retórica das palavras imundas,

O cheiro nauseabundo dos corpos em putrefacção.


Isabel Rosete
O Mundo está apodrecido.

Rejeito-o completamente.

Recuso-me a compactuar

Com a Hipocrisia,

Com as falsas verossimilhanças,

Com as vãs ironias,

Com as inglórias inteligências

Dessas mentes foragidas

Que nada vêm.

São inúteis.

Completamente inúteis.

Perpetuam, apenas, um saber fantasiado,

Com longos rasgos de ignorância extrema.


Isabel Rosete

sábado, 2 de julho de 2011


No espaço concêntrico do puro fluir

Dos corpos, caminhamos nos rastos

Da Memória, nos rastos dos trilhos

Sem idade por entre os longos atalhos

Dos bosques desconhecidos, onde nos

Perdemos do destino do cosmos.



O Tempo descongela-se.

A idade já não tem idade.

Tudo se presentifica ad eternum

Num infinito recife de recordações

Ainda por desvelar.



A Memória do Tempo é o próprio Tempo

Na sua Eternidade, pela reconstrução dos

Fragmentos outrora avulsos, pela unificação

Dos segmentos do Ser que ficaram por

Conectar, pela re-colecção dos des-contextos,

Em aparência, des-contextualizados.



IR, 12/08/2010


Se queres que te ame, volta no ermo da

Noite calada e preenche-me de prazer.

Já não quero mais choro, nem lágrimas.

Que venha a alegria e a felicidade

Que me cortam o pranto daquelas noites

Violentas que me rasgam no desespero da

Solidão intolerável.



Espero pelo amanhecer guiada pela tua mão

Colocada sob o meu peito, que sempre afaga

As amarguras da minha alma.



O Sol volta a brilhar.

O meu rosto deixou aquela palidez mortiça

E os meus olhos tornaram-se mais claros.



IR, 15/02/2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Pensamentos Dispersos, 12/03/08 , por Isabel Rosete


- A solidão das multidões não me apavora. Preservo a minha identidade.

- A Alma do Mundo espalha-se por cada um de nós.



- Há um Espírito errante que nos percorre,

Cobre as nossas faces desprotegidas,

Invade a nossa morada,

Nunca a salvo de qualquer perigo.



- Por entre a seiva da Vida

Corre o esgoto

Das mentes pálidas,

A podridão do horror,

O enfado do tédio,

A escuridão, cega e surda,

Das franjas deixadas ela Inveja.



- Despimo-nos do tédio,

Enfrentamos as multidões dispersas

Invisíveis aos olhos maledicentes

Das bocas preservas.

Só agouros pronunciam

Em nome do desespero egoísta

Que lhes corrói as entranhas.

Malditas!



- Das Fontes

Já não jorram mais

Àguas cristalinas;


Dos Mares

Já não ecoam mais

Os cantos das sereias;


Das Estrelas

Já não renasce mais

O brilho duradouro;


Da Terra

Já não desponta mais

A fonte da Salvação;


Da Humanidade

Já não eclode mais

O grito do perdão.



- O grito das Aves migratórias

Ensurdece os meus ouvidos.

Anunciam Tempestade,

Morte, Terror, Guerra...


- Amamos a paz dos desertos, onde encontramos a tranquilidade. Aí permanecemos, nessa espécie de refúgio do Mundo, a salvo dos olhares alheios que nos penetram a alma; a salvo das mãos dos outros, que nos apontam para o rosto; a salvo das mentes incriminatórias, que só vêem o visível; a salvo dos espíritos perversos que a verdade atrofiam.


- O mar que me deu a paz

É o mesmo que me revolta as entranhas

Nas escuras noites de trovoada

Que sob o meu tecto desfalecem.



- Caminho pelas areias infinitas

Das praias desertas.

Nada se ouve.

Nada se sente.


O luar incandesce os meus olhos

Míopes perante a vastidão da linha

Do horizonte, que não vislumbro mais.


A minha alma esvaiu-se

Na solidão das marés

Que vão e vêm.


Nunca se fixam,

Nunca deixam os mesmos rastos,

Nunca permanecem

No mesmo lugar.


Trazem um tempo outro,

Anunciam outros espaços,

Outras vidas encobertas

Pelas águas

No seu incessante peregrinar.


Este é o meu Mar salgado

Que em açúcar transformou o seu sal.

Este é o meu Mar salgado

Onde reina a glória merecida

Dos nobres feitos dos Homens.


IR

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Sol que brilhas e iluminas a minha alma, IR


Sol que brilhas e iluminas a minha alma

Aqueces o meu corpo, tão só.

Como te amo na tua natural formosura.

És perfeito, Astro dos Astros,

Imensamente grandioso.

Por favor não te extingas.

Que faria da vida sem a tua luz

E sem o teu calor?


A tua majestade, aí altivo, nem ao meu alcance,

Nem ao de ninguém – enobrece-me a mente

Que, pouco a pouco, se torna clara.


Libertam-se ideias, tão brilhantes como tu,

Reflexos translúcidos nas águas

Onde te derramas, qual espelho infinito

Dos labirintos intra-mundanos que se

Espraiam nessas águas em movimento

Perpétuo; águas peregrinas que nos

Conduzem á confluência de todos os Mares.

Aí, os espelhos intersectam-se

E a visão dos mundos é imensa.


Tudo se mostra na frente e no verso.

Já não há véus. Já não há sombras.

Apenas a Verdade em todos

Os seus reflexos, desveladamente diáfanos.


Espera! Não te vás, ainda!


Preciso de continuar a contemplar-te

Para manter a minha respiração fluída;

Preciso da tua presença para que as minhas

Mãos continuem a escrever;

Preciso da tua companhia para disfarçar

Este meu estar só.


Espera! Não te vás, ainda!
IR, Jardim Oudinot, 12/08/2010

sexta-feira, 27 de maio de 2011


Li a tua carta de ontem

Ao rair da madrugada luminosa.

Não inalei o teu cheiro,

Não ouvi a tua voz,

Não saboreei o teu paladar.

Por isso, não te senti.

Estavas longe, muito longe...

Demasiado longe... Tão longe...

Para chegares até mim.



As tuas mãos já não me tocam,

Os teus olhos já não me enxergam,

A tua alma já não me anima

E o teu corpo já não penetra o meu.



Permanecemos na distancia próxima

Da nostalgia que, ainda, nos abala.

A memória repleta de recordações

De nós, outrora, fundidos numa mesma

Matéria e num mesmo Espírito.

IR, 19/06/2010


PALESTRA DA APRESENTAÇÃO DO LIVRO «ÁGUAS DE TERNURA» DE ANTÓNIO MARTINS

Por Isabel Rosete

Estamos aqui reunidos para celebrar a Poesia. Sempre que um poeta nos dá a conhecer a sua obra, é a Poesia e a sua poesia que se torna a protagonista do palco onde a ouvimos e a expomos.

Trago-vos hoje «Águas de Ternura», um livro de poemas de António Martins, a quem agradeço o convite endereçado, que muito me honra. Analisei-o em todos os seus pormenores, nos seus mais finos detalhes, seguindo, ao mesmo tempo, pela interpretação de numa visão alargada dos temas que nela me parecem ser fundamentais.

O que vos vou apresentar é, obviamente, a minha leitura, uma leitura possível entre muitas outras, que pode ou não coincidir com a perspectiva interpretativa do autor sobre a sua própria obra (o escritor é sempre um leitor da sua escrita) ou com os pontos de vista de cada um de vós. Uma apresentação de um livro é apenas uma visão particular emersa da identidade de quem o lê, sente ou escuta. Portanto, jamais uma anteposição ou uma sobreposição.

Centro-me nas mensagens essenciais que ela fez nascer em mim, quer como cidadã, quer como amante da poesia que estudo e escrevo há alguns anos. São mensagens de nobres valores declaradamente conta os anti-valores, ou valores negativos, que comandam, cada vez mais (lamentavelmente), muitos dos seres humanos degenerados que caminham, desviados e desvirtuados, por este mundo que é “tão louco”, tal como o próprio autor afirma.

Neste contexto, refere-se àqueles que exploram as gentes humildes que por si só vivem, ou que imploram tão-só pela sua mera sobrevivência. E ajudar não custa, frisa António Martins, desde que haja um carinho franco, uma intenção autêntica, um sorriso que lhes refresque as mentes abandonadas, sós, e lhes traga a Felicidade que realmente merecem.

«Àguas de Trenura» é uma composição de poemas simples. Porém, note-se que o adjectivo “simples” é empregue no seu sentido mais nobre e enriquecedor. A poesia não precisa, de facto, de palavras rebuscadas, ininteligíveis para muitos, para dizer o pensar, o sentir, as memórias, os sonhos ou os desabafos da alma. Apenas requere as palavras que o seu autor encontrou dentro de si mesmo para o manifestar, que só podem ser aquelas e não outras, porque só essas dizem as coisas como elas realmente são no seu devido lugar, sem enfoques desnecessários.

A Poesia não comporta, nem suporta, na sua essência originária, os dizeres retóricos, demagógicos, que ludibriam os espíritos com “belos” vocábulos propagandistas vazios de conteúdo. Na Poesia presentifica-se (assim o deve ser) o poder primordial do Verbo, no seu sentido ontológico, esse que faz nascer as coisas sempre que elas são nomeadas. Assim a vemos brotar neste livro de António Martins, que recomendo, acessível a todo o tipo de leitores, nunca enganados por qualquer espécie de feitiços da linguagem.

Nele voam pássaros de todas as cores. A discriminação aniquila-se, ao mesmo tempo que se enaltece a Liberdade. São pássaros azuis que nos conduzem ao infinito de todas os horizontes sem linhas determinativas, encantados nos seus movimentos de alegria. Exuberantes, fazem-nos ouvir as suas melodias em cantos de melaço. Pássaros valentes, como todos nós devemos ser, porque, mal ou bem, sabemos que o futuro ainda não morreu, que os nobres feitos dos homens ainda não foram todos conquistados, que nem tudo está realizado, que a nossa caminhada ainda não chegou ao fim que lhe está determinado pelos segredos do Universo, nem sempre ao nosso alcance. Há o Mistério, o Enigma, o Acaso. Contudo, é sempre tempo, frisa António Martins, de nascer para uma vida de qualquer cor no intuito de encontrar o puro amor. A dedicatória deste livro é, sem dúvida, afirmativa desta tese: «À vida/e aos seus desígnios/com que ela nos brinda».

A Vida! Ai a Vida e as nossas vidas de que sempre fala a Poesia de um modo tão concreto quanto determinado em todos os seus visos possíveis! Se a vida é bela, deliciosa, entusiasmante, o estímulo da continuidade da nossa existência, também é, contudo, composta de lágrimas. Lágrimas que brotam de uma “mente desfeita”, que nascem quando se quebra uma ilusão. A vida dá-se igualmente na sua tristeza que não é, contudo, para o poeta, o motor de qualquer espécie de negatividade, a não ser imediata, porque é a jorrante fonte da alegria que acaba por imperar.

António Martins sabe, com mestria, erguer do mais miseravelmente humano, porque envolto pela ternura, o que de mais nobre e de exaltante albergam os homens nas suas entranhas. E assim acontece com as lágrimas que se são de tristeza ou de amargura, também podem ser de alegria ou de glória. As lágrimas surgem como uma metáfora da água cristalina saída das fontes ainda castas, como se tivemos sentimentos em estado líquido, jamais congelados que, apesar de tudo, ainda conservam essa pureza inicial que combate os ignóbeis sentires de muitos dos nossos pares.

“Brota a água da Fonte” (p.24), o poema que dá o mote a este livro. É um verdadeiro hino à água imaculada, à água que como dizia o filósofo pré-socrático,Tales de Mileto, é a origem de todas as coisas. Com ela tudo nasce, cresce e se vivifica; sem ela, tudo definha e morre na sua mais intensa agonia.

A água, “de terno e bom sabor” é, para o poeta, sinónimo de liberdade e de magia; é diáspora da felicidade, melodia e poesia, purificação, qual líquido precioso que nos eleva ao deleite e nos torna seres majestosos; é benfazeja no futuro suor da terra, por mais humilde que seja (“Ciclos da vida”).

Para além de exaltar a água, um dos quatro elementos primordiais, também celebra a Terra no seu cheiro, sabor e frescura, igualmente o Ar, o terceiro elemento, de que falava Anaxímenes, também como “arché” ou “princípio” (assim se deve traduzir o termo grego), origem de todos os seres vivos, fonte da sua respiração vital, tal como o podemos observar no poema “Sabor da terra” (p. 28).

António Martins não se esquece, neste poema, das várias faces da terra, as estações do ano, nomeando, em particular o Outono e a Primavera. Esta pelo consolo do arvoredo húmido; aquela pela chuva que se colhe.

A terra, que tanto mal tratamos, é consagrada pela riqueza que gera, por permitir a fuga ao degredo; pelo sustento que nos doa, sem mácula, qual lugar onde nos revigoramos, não obstante os insultos que lhe movemos, muitas das vezes, sem dó. Nela também surge o amor que supera a dor, fortalece e constrói.

O poeta confessa-nos ser fustigado pelas “brutais pancadas da vida” (p.55) que marcaram com nódoas negras a intimidade do seu sentir, acusando, neste ponto, a não preservação, por muitos, dos grandes valores da pessoa humana: a identidade e a diferença. Assim o foi/é a vida para o poeta e para todos. Neste caso, a questão é social, perante a qual ergue a sua voz legitimamente crítica.

A sociedade tem esse condão sarcástico e castrador de dilacerar as virtudes com que nascemos, de ensombrar a jovialidade que, cedo, se perde, não nos deixando colher o que de bom grado semeámos. No entanto, há sempre algo de bom que nos fica de todas as pancadas, de todas as nódoas negras: o amor, a esperança, os momentos de felicidade vividos, a “amizade de valor”, como uma estrela cintilante que brilha e dá sentido á vida na sua amargura. Também os sorrisos sinceros, a gentileza de algumas almas puras, a graciosidade que fica em nós das pessoas que nos são realmente queridas, aquelas que nos acompanham em todos os momentos da nossa existência e que sabemos que nunca partem.

E, deste modo, volta a surgir essa alegria, de que tanto fala António Martins ao longo deste livro, a qual redobra o ânimo redentor de continuar vivo, de continuar com a Vida intensamente, mesmo que se pressuponha que o ciclo da dor possa voltar a qualquer momento. Temos, de novo, o contraste vencido: há a doçura do mel que a abelha arquiteta a partir das flores, que nunca negam essa sua dádiva natural, nessa comunhão perfeita que a Natureza fertiliza. Eis onde a Vida torna a renascer no seu mais encantatório estado de Graça, no mistério da existência que assoma, mais uma vez, nos seus opostos conciliáveis que, de alguma maneira, nos permite fugir á apatia na firmeza da palavra poética, caminhar no rumo mais direito, mais certo, abraçando os mais dignos valores e os mais nobres pensamentos. Assim se pode ler no poema «A flor, a abelha e o mel» (p. 60).

É, neste contexto, que se pode compreender o apelo deixado por António Martins a todos os seus leitores no poema “Existe a força que vem de nós”, (p. 67):

“Lutemos com as nossas mãos

Pela força que vem da mente

E com a arma que nos pertence.

Urge quanto antes decidir

Que neste mundo de interesses

A coragem da razão é que vence.”



A alma deste poeta de Lisboa que ama Aveiro de um modo especial – e por isso também o devemos saudar por sempre nos brindar com a sua poesia apresenta-se, de facto, indignada, manifestando-o claramente em “Perturbações e envolvências”, um poema da página 42. Mas indignado com o quê, por detrás deste seu viso de homem sereno? Poderão perguntar os seus futuros leitores. Obviamente pelas perturbações que no mesmo enumera:

• Os desleixos de um sentir descontrolado que é desabafo inusitado;

• As ervas daninhas;

• Os seres conflituosos que tudo aniquilam para ficarem famosos, não olhando os meios para atingir fins (e há tantos!);

• Os lixos, humanos ou não, de que este mundo se compõe;

• As meretrizes disfarçadas de rainhas;

• Os maus quereres.

Mesmo assim, o poeta nunca se despede. Mantém-se sempre em nós, sejamos estes ou o contrário de todos estes, porque nos doa incondicionalmente o seu “Abraço profundo” (p. 38).

Por entre este valores e anti-valores, a mensagem de António Martins é clara: urge restaurar a lucidez e, com ela, pautarmos todos os nossos pensamentos e comportamentos, percorrendo os caminhos, no nosso peregrinar tão eterno quanto efémero, com confiança, no aconchego do amor, conscientes de que não há suspiro que disfarce o seu puro sentido; urge movermo-nos no miolo da sensação que recusa as vulgares aparências, adulteradoras do Ser; urge saudar a fertilidade da mente nos seus contrastes, com os seus pensamentos infinitos, eliminando os dolentes, os maldosos, traçados pelo ódio e pela vingança e, ao invés, saudar e salvar os bondosos, fortalecedores de uniões e alianças, e os incógnitos, como mistérios a revelar.

«Águas de Ternura» é um livro intimista, se o perspectivamos à luz de outros poemas como “Dar e receber amor” (p.12) ou “Valor inesquecível” (p. 42).

No primeiro, fála-se do Amor de um modo muito peculiar, desse amor em estado virgem sem obsessões ou paranóias (quando se torna patológico) – desse sentimento universal, dado em várias formas de outros sentimentos que integra, que ocupa o Espírito dos poetas, que sempre por eles é cantado em forma de hino ou de elegia. No segundo, desvela os seus mais íntimos sentimentos dirigidos á sua princesa (quem será?), a quem dedica esses seus versos.

O que nos diz António Martins sobre o Amor?

O Amor (este Amor do poeta) solicita, em primeiro lugar, a reciprocidade do dar e do receber, rejeitando, de imediato, o egoísmo, sem com isso negar a individualidade ou identidade conjunta dos pares.

No amor impera, amiúde, a parcialidade do eu perante o outro e, por isso, ele falha, aborta. Esperamos somente receber, mas não retribuímos como uma dádiva o que nos é singelamente concedido pelo outro que nos ama. O inverso, todos o sabemos, é igualmente corrente. Esta forma de amar seria denominada de imperfeita.

O Amor só será perfeito, puro e genuíno, alerta-nos o autor, se for pautado pela dialéctica da complementaridade do “Dar e receber” constante, refiramo-nos ao amor conjugal, ao filial, ao maternal, paternal, ou ao amor entre os Homens, os Povos, as Nações.

O amor deve ser o sentimento que une e não o que separa, a mais forte aliança, que trás a prosperidade e a ventura e não, nunca, a dor ou a angústia. Por isso, associa o amor ao sonho, em estado de vigília ou de sono, de uma vida de comunhão que é um caminhar perpétuo na presença e na partilha perene do outro amado, na sua memória sempre presente, para quem haverá sempre um sorriso de encantamento, seguramente, uma “mais-valia”, um “aconchego toda a hora”.

Por último, resta-nos perguntar: E o poeta, António Martins, quem é? Como é? Como se apresenta a si próprio e aos seus leitores?

Para que sobre ele não divaguemos, para que sobre ele não digamos o que ele não é, teve o cuidado de, nesta sua obra, nos deixar o seu auto-retrato, assim o interpreto, no poema “Sou não sendo aquilo que sou” (pp.69-70), um poema de amor, um poema existencialista, onde se apresenta e caracteriza, onde deixa, como deve ser, a marca da sua identidade específica.


Isabel Rosete

6 de Maio de 2011











Apresentado o livro «Águas de Ternura» de António Martins, Hotem Moliceiro, Aveiro







Estas minhas mãos, que agora escrevem,

São as mesmas que limpam a sujidade

De todos os dias das más-línguas envenenadas

Pela cólera, pelo prazer do ódio do simples

E ridículo acto sórdido do mal-dizer.



Estas minhas mãos, que agora escrevem,

São as mesmas que enxugam as lágrimas

Dos olhos amargurados pela miséria da Vida,

Pelo infortúnio, pela má sorte de um Destino

Que não foi feito por elas.



Estas minhas mãos, que agora escrevem,

São as mesmas que amparam os corações

Dilacerados pela Inveja, pela mesquinhez

Dos espíritos impuros, pela cobardia

Das mentes malditas que aniquilam

Os sorrisos trazidos pela Felicidade dos outros.



Para vós, Hipócritas, feiticeiros do bem-dizer,

Demagogos, falsários de promessas sempre

Adiadas, nunca cumpridas em tempo algum;

Para vós, feiticeiros indiscretos do anúncio

Da salvação impossível, retóricos dos

Pensamentos ocos e das palavras vãs;

Para vós, impostores convictos de uma política

Des-governada, estas minhas mãos não mais escrevem.



Não quero tornar as minhas mãos impuras!



IR, 27/10/2010

Numa palestra sobre Poesia e a minha poesia na "Casa da Culrura de Paranhos"


CONVITE:


É com muita satisfação que vos convido a participarem na 13ª Sessão de apresentação do meu livro "Vozes do Pensamento", a realizar na "Feira do Livro do Porto", no dia 7 de Junho (terça-feira), às 21h, no respectivo auditório, pela Editora Ecopy.

Aguardo a vossa presença.

Será uma oportunidade para conhecer alguns dos amigos do Facebook pessoalmente.

Saudações poéticas,

IR

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mergulho na neve branca da tua face tão serena, por Isabel Rosete


Mergulho na neve branca da tua face tão serena.
Assoma a paz, aquela tranquilidade única da quietude
Inebriante que antecede um doce e terno beijo.
Unem-se as bocas, depois os corações, depois
Os corpos que, lentamente, vão ficando ansiosos.
Assoma a paixão que nos distrai a alma,
Que nos adormece a mente liberta dos sentidos.
O corpo ergue-se em toda a sua pujança,
Vigoroso e hirto. Já não há serenidade. Só o arrepio
Da pele eriçada. Só o fogo genital. Só a respiração
Ofegante. Só os batimentos cardíacos acelerados
E descontinuados. Só as nuvens claras e esparsas.
Só o Sol de um brilho e calor instintivos. Só o
Cansaço e a exaustão prazerosa durante e depois
Do amor. Aí permanecemos quase prostrados, de
Corpos nus e suados, nos lençóis desajeitamente enrolados
De uma cama desfeita, prontos para iniciar mais
Um ciclo de dualidades emocionais quase perfeitas
Que a paixão consome.

IR, 09/02/2011

quinta-feira, 28 de abril de 2011

CONVITE: Isabel Rosete no "Clube literário do Porto"


É com muita satisfação que vos convido a estarem comigo no "Clube Literário do Porto", no dia 7 de Maio, às 21.00h, para assistirem/participarem da minha palestra «A Poesia e as "Vozes do Pensamento"», coincidente com a 12ª sessão de lançamento deste meu/vosso livro.

O convite é extensível à vossa família e amigos.

Saudações poéticas,

Isabel Rosete

Curso de Isabel Rosete sobre Àlvaro de Campos, Sociedade da Língua Portuguesa, Lisboa, Maio 2011



ÁLVARO DE CAMPOS: «Sentir tudo de todas as maneiras»
Por Isabel Roste

1ª Sessão: «De monóculo e casaco exageradamente cintado» (sou) «franzino e civilizado» - O Campos de Fernando Pessoa(s)
1. O nascimento de Álvaro de Campos («um súbito impulso para escrever e não sei o quê») e a histeria de Fernando Pessoa
2. Campos e o seu Mestre Caeiro: a urgência de sentir e o ser si próprio
3. O canto originário do Poeta: o Ser, o Mistério, a Realidade, a Morte, o Homem, o Enigma da Existência, os deuses, Deus e o Destino
Poemas: «Mestre, meu mestre querido!», «Ah, perante esta única realidade, que é o mistério», «Se te queres matar, porque não te queres matar?»

2ª Sessão: «Nunca fiz mais do que fumar a vida» - O Decadentismo
1. O estilo confessional brusco e divagativo de um poeta decadente
2. A nostalgia do além: os sonhos de um Oriente inexistente, o cansaço da civilização e a consolação pela embriaguez do ópio
3. A «Pátria é onde não estou»
4. O aborrecimento de uma alma sensível: o cansaço e horror à vida
Poemas: «Opiário», «O que há em mim é sobretudo cansaço»

3ª Sessão: «Ah, poder exprimir-me todo como um motor se exprime!/Ser completo como uma máquina!» - Sensacionismo e Futurismo
1. Emotivo e sensacionista: um poeta da vertigem, das sensações modernas, da volúpia da imaginação e da energia explosiva
2. O legado de Marinetti e de Whitman, a emergência do Futurismo e a exaltação da Energia, do Progresso e da civilização industrial
3. Uma estética não-aristotélica: da ideia de “beleza” à ideia de “força” e a emotividade individual de uma vitalidade transbordante
Poemas: «Ode Triunfal», «Dois Excertos de Odes», «Ode Marítima», «Saudação a Walt Whitman», «Passagem das Horas»

4ª Sessão: «Não posso querer ser nada./À parte disso, tenho em mim todos os sonhos do mundo» - Da Inquietação e da Abulia do Campos ele-mesmo
1. Álvaro de Campos irmão do Pessoa ortónimo
1.1. «A consciência da ilusão do não-sentido do mundo» e as reminiscências saudosas do mundo fantástico da infância
1.2. O cepticismo e a dor de pensar
2. Solidão interior e angústia existencial: o poeta do abatimento e da atonia, cosmopolita, decaído e melancólico
3. Desassossego, náusea, tédio, negatividade do real e do eu
Poemas: «Dactilografia», «Tabacaria», «A Casa Branca Nau Preta»

Isabel Rosete
A partir de 19 de Maio 4 Sessões, sempre às Quintas-feiras, das 19.00h -20.30 h, 40 Euros

quinta-feira, 21 de abril de 2011

QUAL PÁSCOA?, por Isabel Rosete

Bebi desse delicioso vinho, símbolo eterno do sangue de Cristo, que agora e sempre nos vivifica a alma e nos enobrece os corações, para que o ódio neles se apague, para que a raiva sempre desprezem, para que à comunhão e ao perpétuo renascimento permaneçam abertos.

Cristo, pelas mãos do seu próprio povo, os Judeus, foi sacrificado. Por eles e, quiçá, por nós também, sofreu e morreu, no auge da sua maturidade, aos 33 anos de idade. Pelo menos, assim rezam as Escrituras.

Apenas mais uma norte de um ideólogo alucinado? Perguntarão aqueles que, à luz da Verdade, a História não leram. “Não. Claro que não. Estão completamente enganados”. Responderão essoutros que as alegorias bíblicas souberam interpretar literariamente.

Não se trata, de facto, nem de mais uma morte, nem, sobretudo, de uma morte qualquer. A morte de Cristo, não obstante a sua comprovação histórica literal, é uma metáfora, uma simbolização metafórica da Morte politica e socialmente indigna que, com precisão, devemos saber analisar.

O que verdadeiramente importa – pelo menos assim o vejo aquando de olhos postos neste Mundo ingrato – não é a morte ou a dor física desta nobre e lendária figura do humano, não é o seu frágil corpo açoitado e ensanguentado, mas a sua morte e dor espiritual, até hoje perpetuada, qual denotação perfeita da Crueldade, da Cobardia e da Insanidade dos Homens alimentada pela desgraça alheia, porque petrificados por um estado de exacerbação do prazer do Mal, assombrados pela “glória” que não enxergam mais como sinónimo da sua própria imbecilidade.

A morte de Cristo, Deus feito Homem, diz-se, é a exemplificação "claramente vista" da ignorância das gentes de mente pequena, que facilmente entram em histeria colectiva, completamente desgovernadas, ao som da voz de um qualquer líder demagógico movido por uma infundada sede de punição, sem saberem exactamente por que causa lutam.

Eles, os Judeus, preferiram soltar Barrabás e crucificar Cristo. Escolheram salvar o Crime, a Bestialidade, a Desonra, em vez de conservarem a pureza de uma alma que lutou pela Igualdade e pela Justiça, aceitando, sempre e pacificamente, mesmo apesar do seu atroz sofrimento universal, o destino que o Pai lhe havia confiado, a selvajaria norteada pela mais inconcebível inversão de valores que a Humanidade devia, deve, banir convictamente de todos os seus pensamentos e, principalmente, de todas as suas acções.

Cristo lutou, honrosamente, em nome da filosofia que o movia. Defendeu-a, com toda a convicção, em prol de um mundo mais humano, onde imperasse essa costela de Bondade, de Verdade e de rectidão do carácter, a qual também nos integra, por essência, mas que nem sempre des-ocultamos. Morreu por ela, manifestando toda a sua bravura e lealdade ideológica, até mesmo nos momentos em que a sua dimensão humana se encontrava estarrecida.

Caminhou, a passos largos, sem medo de assumir essa penosa tarefa de ser “Persona no grata” a um sistema corrupto, degenerado, completamente desqualificado, à semelhança daquele que hoje vivemos.

Podemos considerá-lo um herói histórico? Claro. Podemos e Devemos. É a minha tese, que passo a defender num intercâmbio de perguntas e respostas.

O que representa ou simboliza este herói? Um mártir, entre tantos outros, que a Historia nos apresenta? A resposta parece-me simples e clara: Cristo foi, é, o símbolo da essência do Humano, na sua grandeza e na sua miséria. Mostrou, mostra, aos Homens – hoje tão cegos e tão surdos como os do seu tempo – como a irracionalidade e o puro instinto são o cancro de todos os Povos, de todas as Nações, em todas as épocas.

Lamentavelmente, esta lição, mesmo que já tenha sido interiorizada por muitos de nós, ainda não foi cumprida. E porquê?

1. Porque não convém aos “donos” do poder uma humanidade marcada pela racionalidade do Dever, pelo respeito pelas liberdades fundamentais, na sua igualitária e natural diferença;

2. Porque continua a reinar a Hipocrisia, a Mentira, a Inveja e a Intolerância, escondidas nas entrelinhas dos graciosos discursos.

A “Caixa de Pandora” abriu-se. Lançou sobre a Terra toda a espécie de males. Nela, porém, ainda se encontra Esperança, guardada com punho forte e, quiçá, só libertada quando os Homens desvairados, pautados por valores indecorosos e insolentes, encontrarem o seu verdadeiro caminho: o da comunhão plena do Bem e do Belo.

Será que, um dia, chegará esse momento tão ansiado pelos espíritos que ainda se mantêm puros? A mundividência que os nossos olhos diariamente des-velam parece mostrar que jamais há possibilidade de um regresso ao “Paraíso Perdido”. Senão vejamos: vivemos o ódio e a disputa desenfreada entre as Nações que, por interesses económicos ou políticos, se dispõem a matar, a destruir brutalmente todos os obstáculos que se lhes apresentam e tendem a coarctar as ideias indigentes dos sistemas totalitários, intencionalmente disfarçados de democráticos.

O valor da dignidade humana, da Pessoa tomada em si mesma como um fim e não como um meio, foi aniquilado pela maioria dos Países que, só em teoria, o respeitam. Em primeiro lugar – dizem eles na sua retórica habitual – estão os valores da Pátria (que grande mentira!) encobertos pelo frenesim económico do lucro pelo lucro, pelo prazer do poder pelo poder, circunscrito a uma minoria que se auto-classifica como peremptoriamente capaz de defender os Direitos Humanos, porém, só por detrás das armas que, indiscriminadamente, fazem jorrar o sangue dos inocentes.

Alucinados nos mantemos neste céu de trevas, obscurecedor dos espíritos manipulados por uma escala axiológica inversa, comandada pelo valor imperativo do dinheiro, por sua vez, acompanhado pelo poder político sem escrúpulos, que o faz crescer tão-só nas mãos de alguns que desgovernam o Mundo.

Nesta corda bamba, não mais manobrada pelas hábeis mãos do equilibrista, continuamos a assistir ao subdesenvolvimento dos países do 3º Mundo, onde reina a fome, a escravidão, a insolência, a má fé, a falsa solidariedade e a intransigência, o des-humano. Para sermos ainda mais claros e realistas: o Inferno vivido em vida, entre outros anti-valores de que os nossos rostos, sorridentes, se deviam envergonhar aquando de cada lágrima derramada dos olhos das crianças atiradas para a guerra, que já nem o Céu têm como horizonte possível.

Assistimos, todos os dias, pela televisão ou pelos jornais, a estes cenários degradantes. E nenhum de nós se pode declarar como intocável, como irresponsável perante estas mazelas que por todo o Mundo assomam, de forma mais ou menos visível ou dissimulada. Até nos podemos lamentar. No entanto, nada fazemos, de facto, para as eliminar ou minimizar.

Sabemos que o palco do Mundo caminha nas franjas da barbárie (nem sempre des-ocultada), de um modo cada vez mais assustador. Mesmo assim, permanecemos calados ou, então, mostramos apenas a nossa revolta num grupo restrito, cuja voz ali se encerra, olhando os “coitados” que sofrem.

Afinal, jamais deixamos de pensar interrogativamente: «Quem sou eu para mudar o Mundo?» (odeio frases feitas!). E assim voltamos à apatia de sempre, bem mais cómoda do que qualquer cogitação de uma possível luta real, posta em marcha, pautada pelos ideais em que acreditamos. Outras vezes, acrescentamos – porque nos convém para mascarar a nossa ausência de atitude imediata – que a “culpa é do Governo”, o eterno bode expiatório das culpas que do nosso cartório estamos sempre prontos a descartar.

Não é propício, não é promissor para a minoria acabrunhada – que esta rampa ambígua vai suportando por detrás de um permanente e abafado não-dito –, nem para a maioria indignamente imperante, que sobre esta realidade meditemos de rosto aberto, em voz alta (ai a maldita censura disfarçada!).

Levados pelas correntes da demagogia, vendamos os olhos de molde a que as atrocidades não nos façam pesar a consciência; obturamos os ouvidos com o intuito de não escutarmos mais os gritos aflitos de milhões de pessoas – nossos pares, por essência – que amarguradamente mendigam um simples pedaço de pão que os seus corpos famintos nutrifique, um simples sorriso ou uma palavra realmente solidária, que os seus desalentados espíritos console.

Não fazemos mais jorrar o sangue que Cristo nos doou pelas almas sedentas de Paz. Não compartilhamos mais o seu corpo com todos os outros corpos que almejam um abrigo sereno no “Monte das Oliveiras”. Não dividimos mais o pão por todos os outros de nós mesmos, também sobreviventes, neste Mundo demente.

Isabel Rosete
Abril de 2011







quinta-feira, 14 de abril de 2011

Vagueamos por todos os caminhos

Aqui estamos nós, Homens,

Um dia rotulados de “animais racionais”.
Supostamente pensantes,
Supostamente equilibrados,
Supostamente sensatos,
Prudentes, previdentes,
Detentores de um raciocínio lógico-discursivo.
Hipoteticamente emersos,
No melhor dos mundos possíveis.

Afinal, o que queremos de nós,
Meros seres errantes?

O que queremos do Mundo
Que em torno de nós se desloca
A uma velocidade incomensurável?

Que intentos nos movem?
Por que causas lutamos?
O que desejamos?

Apagar essa aura de entes onde, um dia,
Fomos depositados, sem que o nosso querer
Fosse chamado a opinar?

Varrer este modo de Existência
De caos e de ordem indeterminados?
Abolir esse estado epimetaico
E prometaico
Que sempre nos acompanha?
Remover os des-equilíbrios
De que somos co-autores e co-produtos,
Voluntária ou involuntariamente?

Perdemos o rumo, a direcção.
Vagueamos por todos os caminhos
E o fio de Ariana,
Que comanda o nosso Destino,
Não encontramos mais.

Destino? Mas, que Destino?
O de sermos meros pedaços enredados
De uma humanidade enlaçada
Nas maquiavélicas malhas da sua própria teia?

Ariana e a Aranha estão sobre a caução
Do mesmo invólucro.
Tão opaco, quanto transparente,
Tão sublime, quanto miserável,
Tão glorificador, quanto condenável.

Mesmo assim, ainda podemos falar
Da harmonia heracliteana dos contrários?
Do caos criativo que Gera a ordem
Deste Mundo incógnito?

Isabel Rosete

PENSAR ABRIL II

Trinta e sete anos passados.
Restam-nos as memórias
Dos horrores da guerra,
De uma sociedade que,
Em nome dos cravos vermelhos,
Um dia, ousou gritar:
Liberdade.

Liberdade:
Qual palavra de ordem
Que fez cair um regime
Eternamente enraizado.

Liberdade:
Qual palavra de ordem
Que arrancou,
Com todas as armas,
A tirania aos pretensos opressores
De um poder adulterado.

Liberdade:
O sinal do dizer aberto,
Há muito ocultado,
Pelo véu da falsa ordem,
Há muito camuflado,
Sob a tríade
Deus, Pátria, e Família.

Liberdade:
O sinal do dizer aberto,
Há muito velado,
Nos meandros da paupérrima Cultura
De um Povo
Que convinha manter calado.

Calado? Sim, calado!
Em nome da ausência
Do espírito crítico,
Das mentes despertas
E do pensar astuto.

Trinta e sete anos passados
E aqui estamos nós,
Quiçá, em uníssono,
A comemorar,
Com milhares de cravos vermelhos,
O grande acontecimento da Liberdade.

Isabel Rosete

PENSAR ABRIL I


O 25 de Abril,
A Liberdade na ponta
Das espingardas com cravos vermelhos,
A esperança pela Tolerância
E pela fraternidade,
O Zeca Afonso das baladas
De intervenção
Que nos fizeram acordar
De uma longa noite de trevas.

O 25 de Abril,
A voz audaz de um povo,
Até então, calado,
Adormecido
Pelas vozes tirânicas,
De um poder sem dó.

O 25 de Abril,
A consciência de uma voz,
Aberta,
Que nos iluminou o futuro.

O futuro? Que futuro?
O da política demagógica?
O da falsa democracia?

O futuro? Que futuro?
Que já não se silencia?
O futuro da expressão
De todas as cores?
O futuro do rosa, do laranja,
Do vermelho, do verde?

O 25 de Abril,
O eco de pensamentos outros,
Do diálogo,
Ou da conversa fiada,
Da trama das ideologias
E da teoria da inexistência das ideologias.

O 25 de Abril,
O amor e a paz,
Sempre adiadas,
Mesmo depois do ilusório apogeu
Da bem-dita guerra colonial,
Dos homens mutilados,
Dos corações de mulheres,
Despedaçados,
Das almas das crianças,
Órfãs,
Que assim nasceram,
Á luz da promessa
De uma nova idade.

Isabel Rosete