domingo, 9 de dezembro de 2007


Sobre o filme de Gibson:«A Paixão de Cristo»

Se lermos os capítulos da Bíblia em que Gibson se inspirou, é isso mesmo que sente, vê, escuta. Todos os relatos da época confirmam, sem reservas, essa crueldade, essa "des-humanidade", essa insensata histeria colectiva movida pela agressividade... Por isso, não me parece que o realizador tenha enfatizado ou empolado a realidade. Apenas a mostrou como ela é em si mesma.
A humanidade é assim mesmo: cruel, violenta, vil... Toda a história o mostra. Só que nem sempre o queremos ver. Ou, simplesmente, não convém que o vejamos.
Cristo foi apenas mais um, entre ouros, mártire dessa crueldade, bestialidade ou insensibilidade exacerbada dos Homens.
Cristo não convinha ao sistema instituído. Foi um revolucionário. A sua filosofia contestatária. Naturalmente, tinha de ser morto, como também o foi Gandhi, só para dar mais um exemplo histórico.
Assim é a postura de todos os regimes políticos totalitários, os de ontem e os de hoje. São dogmáticos. Não admitem outras verdades, outras visões do mundo, ou, outra ordem...
É preciso mostrar ao Mundo, do modo mais realista possível, o que ele é em si mesmo.
Na verdade, o Mundo não é um mar de rosas, mas um mar de espinhos, camuflado por belas, cheirosas e aveludadas pétalas...
São estas algumas das razões que me levaram a colocar essas imagens em cena. Devem ser vistas, pensadas, analisadas com os olhos da razão.
Precisamos não esquecer, nunca, que estamos minados pela hipocrisia, pela inveja, pela violência, pela guerra, entre alguns escassos momentos de paz e de enaltecimento dos valores que autenticamente devem prevalecer: a verdade, a honestidade, o bem, a solidariedade, o respeito pelas diferenças...
Espero que tenha sido clara. Obviamente que esta é a minha perspectiva, tão discutível como qualquer outra. Mas, penso, seguramente realista, porque alicerçada em factos históricos devidamente fundamentados e, por conseguinte, incontestáveis.

Isabel Rosete
07/12/07

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