terça-feira, 7 de setembro de 2010

Sessão “Amores decantados”, 13 de Junho de 2010, Decante-Bar, 21.30h.
Concepção e organização: Isabel Rosete com a colaboração do Grupo Poético de Aveiro

I.

Se os girassóis florirem...
O nosso Amor continuará a ser eterno!

Mesmo que as amarguras da Vida
Perdurem,
Mesmo que a Morte nos
Separe!

Nada,
Ninguém,
Combaterá a intensidade
Da força do nosso Amor!

Sempre que o Amor é Rei...
Ah, sempre que o Amor é Rei!
Quando um Rei impera
Pela seiva divina que o legítima,
O imbatível consome-se.
Não há impossíveis!

Os obstáculos desaparecem
Pelo alento do Amor.
Todas as restrições
Podem ser contornadas!

Há um mundo infinito para explorar!

Emergem todas as potencialidades
Do Sentir,
Tão intenso e extenso
Quanto o próprio Universo;

Tão sublime
E tão belo,
Quanto o nascer de todas as coisas;

Tão cruel
E fatídico,
Quanto as fímbrias de todas as tragédias gregas.

E o Amor corre!
Ai, como corre!
Sem fim
Aparentemente visível,
Sem fronteiras
Claramente determinadas,
Sem muros
Obviamente impeditivos
Das possíveis manipulações do Eu.
II.

Amo!
Claro que Amo!
Mas,
Não sei bem o que amo!

Tenho medo de voltar a amar,
De voltar a sofrer,
De voltar a sonhar.

As ilusões crescem,
Quando se ama!
Emerge a dor,
A insatisfação,
A insanidade,
A insensatez...

Exterioriza-se a cólera
Na presença ausente
De um outro estado,
Sempre inacabado,
Sempre adiado.

Caminhos que não conduzem
A parte alguma,
Espreitam-nos no Amor.

Nos caminhos
Que se bifurcam,
Perdemo-nos
De nós
E do outro.

Encontramos o desfiladeiro.
Assoma o Vazio
De uma Alma deserta,
Dis-persa,
Em con-fusão...
Alienada pela adrenalina
Que sobe, Escorrega,
Desampara, inquieta...
Nos des-amores da contradição!
III.
O teu silêncio,
O teu olhar profundo,
Meu amor de sempre,
Preenchem-me a existência,
Por vezes, tão vazia de um
Inquietante Nada de Ser.

O teu singular perfume,
As singelas palavras
Que a tua boca pronuncia,
Embalam-me nos momentos de insónia.

Então, sossego,
Num sono mais-que-profundo!

Nesse momento,
Os Anjos regressam
Na paz imensa
De um beijo ainda não dado,
Na inquietude tremenda
De um corpo ainda não tacteado,
Mas, suado, pelo desejo,
Intenso, de o ser.
IV.

Cada passo que dás,
Meu amor, que já não és mais,
É o triunfo inglório da glória
Das nossas vidas
Vividas,
A ferro-e-fogo,
No desejo do estar junto
E do estar só.

Há um tremendo abismo entre nós!
Ainda não o viste,
Ainda não o sentiste,
Nessa tua caminhada
Solitariamente acompanhado?

Nunca estou contigo,
Mesmo permanecendo e partilhando
O mesmo leito,
Irremediavelmente cheio
Do vazio,
Da presença ausente de mim.

O teu amor esgota-me a alma
Pela obsessão desenfreada
Que te move e me aureola,
Sem intervalos.

A claustrofobia mental
Instala-se,
Num instante só.
E, a partir desse momento, já não sou eu,
Mas um espaço redondo de lamentações
Que me sufocam a mente,
Que me empedernessem o corpo
Logo despojado do ser,
Atrofiado,
Sem resposta…

Já não tens mais perdão,
Já não és nada de mim
Nem para mim, a não ser…
Um pedaço de mágoa e de dor
Que desprezo e abomino.

Não te pedi para me amares assim!

V.

Somos amantes
Inter-seccionados.
Esquecemos o Mundo.
Fechamo-nos
Nas nossas próprias conchas.

Esquecemos os Homens.
Queremos ser só nós.
Nada mais importa!

O Amor preenche-nos.
Por completo
Alimenta
Os nossos corpos
Ardentes,
As nossas almas
Inundadas
De intensa alucinação.

Temo-nos,
Apenas,
Um ao outro.
E isso basta-nos.
É mais do que Tudo.
Está para além do Nada.

Tornamo-nos esféricos,
Auto-suficientes.
Esquecemos o Universo.
Permanecemos
Em todos os espaços.

Somos o mesmo corpo,
A mesma alma,
O mesmo sangue,
O mesmo plasma,
A mesma pele...

Somos um só organismo
Que se auto-preenche,
Prenhe de fertilidade.

Esquecemos a Vida,
Vadia,
Repleta de futilidades.

Esquecemos a morte.
Somos eternos.
VI.

Nos duelos com o teu corpo
Encho a minha alma
De sangue virgem,
A jorrar pelo meu peito.
Toda a força orgásmica
Corre-me nas veias.

Amo-te até à exaustão
Do sentir;
Amo-te para além
Dos limites do dizível;
Amo-te até ao último
Impulso audível.

Os duelos
Sempre continuam,
Cada vez
Mais intensos,
Porque a força do Amor nos move
Em todos os caminhos
Que se bifurcam.

Não quero parar de me debater
Com o teu corpo, único,
Com a tua alma, tão singular,
Que me extasia as moléculas,
De imediato,
Em estado de com-bustão.

Assim te amo
Na ponta da espada, sem bainha,
Sempre pronta a atravessar
Todas as tuas células,
Em inflamação;

Assim te amo
Nos cortes e recortes do teu corpo,
Delgado e nu
De emoção.

VII.

Orgasmos de melão e abacaxi,
Com alho,
Percorrem-me o corpo
De cima para baixo,
De baixo para cima,
Numa alegria estonteante,
Imensa!

A minha pele torna-se leve,
Macia, aveludada…
Qual seda escorregadia
Que inflama,
Orgasticamente,
A minha e a tua alma
Que, de repente, clama!

A chama do orgasmo
Preenche a libido.
Vulcões se acendem,
Lavas sedentas de prazer
Apelam ao teu corpo,
Cheio de graça!

A felicidade?
Ai, a felicidade!
É infinita!
Eterniza-se naquele momento,
Primeiro, único…,
Inesquecível…

Isabel Rosete

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