- A solidão das multidões não me apavora. Preservo a minha identidade.
- A Alma do Mundo espalha-se por cada um de nós.
- Há um Espírito errante que nos percorre,
Cobre as nossas faces desprotegidas,
Invade a nossa morada,
Nunca a salvo de qualquer perigo.
- Por entre a seiva da Vida
Corre o esgoto
Das mentes pálidas,
A podridão do horror,
O enfado do tédio,
A escuridão, cega e surda,
Das franjas deixadas ela Inveja.
- Despimo-nos do tédio,
Enfrentamos as multidões dispersas
Invisíveis aos olhos maledicentes
Das bocas preservas.
Só agouros pronunciam
Em nome do desespero egoísta
Que lhes corrói as entranhas.
Malditas!
- Das Fontes
Já não jorram mais
Àguas cristalinas;
Dos Mares
Já não ecoam mais
Os cantos das sereias;
Das Estrelas
Já não renasce mais
O brilho duradouro;
Da Terra
Já não desponta mais
A fonte da Salvação;
Da Humanidade
Já não eclode mais
O grito do perdão.
- O grito das Aves migratórias
Ensurdece os meus ouvidos.
Anunciam Tempestade,
Morte, Terror, Guerra...
- Amamos a paz dos desertos, onde encontramos a tranquilidade. Aí permanecemos, nessa espécie de refúgio do Mundo, a salvo dos olhares alheios que nos penetram a alma; a salvo das mãos dos outros, que nos apontam para o rosto; a salvo das mentes incriminatórias, que só vêem o visível; a salvo dos espíritos perversos que a verdade atrofiam.
- O mar que me deu a paz
É o mesmo que me revolta as entranhas
Nas escuras noites de trovoada
Que sob o meu tecto desfalecem.
- Caminho pelas areias infinitas
Das praias desertas.
Nada se ouve.
Nada se sente.
O luar incandesce os meus olhos
Míopes perante a vastidão da linha
Do horizonte, que não vislumbro mais.
A minha alma esvaiu-se
Na solidão das marés
Que vão e vêm.
Nunca se fixam,
Nunca deixam os mesmos rastos,
Nunca permanecem
No mesmo lugar.
Trazem um tempo outro,
Anunciam outros espaços,
Outras vidas encobertas
Pelas águas
No seu incessante peregrinar.
Este é o meu Mar salgado
Que em açúcar transformou o seu sal.
Este é o meu Mar salgado
Onde reina a glória merecida
Dos nobres feitos dos Homens.
IR
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