A via láctea cobre-me
Tal como os ramos secos pelo tempo
Daquela figueira ancestral
Dos pingos de mel arroxeados
Onde se guardam todas as minhas memórias
De estórias, de lendas, de dizeres encantados,
Arquivadas nos espaços longínquos
Da infância perdida por entre as bonecas de trapo
Agora emersas nas recordações que sempre voltam,
Nas recordações que sempre se deslocam
Mas, nem sempre se des-velam.
O canto das aves brancas acorda-me
do sonambulismo persistente
Á primeira luz da manhã,
Quais despertadores
Que a Natureza me doa todos os dias
Para que o milagre do Ser aconteça
Em todas as maravilhas da Criação
- tão generosa, tão doce, tão terna… -,
Em plena harmonia com todos
Os estados de Graça,
Grandiosos em cada fruto,
Em cada flor, em cada animal,
Que percorre o pastoreio em mais um dia
De luta pela sobrevivência.
Assim habitam a Natureza.
Com ela repartem e recolhem
As dádivas mais singelas
Em plena comunhão.
Não há contrários que não se unam.
E o desterro nunca chega,
Apesar do devir perpétuo de todos os elementos.
A pureza do sonho une-se com a pureza da realidade,
Poupando o eterno Mistério do Mundo.
Tudo se arrecada no mesmo lugar do eterno retorno
De cada caminho do campo,
Nas encruzilhadas onde nem todos se bifurcam.
Este amor pela Natureza desfaz os infinitos labirintos
Sem saída, onde já não repousa o Minotauro.
O princípio e o fim tocam-se na íntegra união
De todos os modos do Ser.
O Homem comove-se nesta fusão,
Celebrando e abrigando os hinos que se soltam
Por entre as montanhas:
- O canto dos pássaros;
O sussurro dos rios;
O balbuciar das árvores
E das flores frescas da Primavera renovada.
Dá-se a Paz no silêncio da Música celeste.
O divino e o humano recolhem-se
No mesmo tempo e no mesmo espaço.
A Terra e o Céu tornam-se um só.
Nasce a grande esfera concêntrica
Que ampara o Universo.
Afasta-se o Nada.
Presentifica-se o Ser
Na sua autenticidade iluminatória.
Ergue-se a Luz que ainda nos ilumina,
Antes do Sol se pôr mais uma vez.
Reluz o Mar azul e verde,
Que, ao longe, se funde com o horizonte
Em cores de fogo aceso.
Isabel Rosete - Inédito
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