A um amor perdido
Não sei se te ame, se te adore,
Se te venere, se te castre,
Se te mande para o Inferno.
O abismo impõe-se entre nós.
Ainda me corróis as entranhas,
Ainda me esmagas a alma
Envolta em cardos espinhosos.
Não sei se te odeie de um modo tão amargo quanto o fel,
Se te presenteie com Cicuta, essa mesma com que
Envenenas-te o meu sangue, agora roxo,
Com metástases de um sofrimento atroz.
Dizias sempre que, um dia, voltarias
Depois da purificação de todos os teus pecados
Amargos, sem perdão.
Que perdão? Deus já não te ouve!
És um intruso amaldiçoado,
Eternamente amaldiçoado por um amor
Que nunca tiveste, a não ser por ti próprio,
Na tua obsessão doentia,
Na tua incondicional posse de mim.
Não sou um objecto, não sou um biblô
Que mostras ao mundo como um troféu de caça
Que carregas nessas tuas mãos endinheiradas
E envelhecidas pelo mote das aparências indiscretas
Que sobrevivem em ti e nos outros sob a dissimulação
De um dito lar perfeito.
Se, um dia, voltares, não estarei aqui.
Talvez vagueie num qualquer cais incerto
Das emoções livres, onde as palavras
Jamais me doerão.
IR, 09/03/2011
Sem comentários:
Enviar um comentário