segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Angeologias

ANGEOLOGIAS

Entrar no universo dos Anjos…

Uma metafísica angeológica
Se nos impõe

Uma ontologia
Uma diferença ontológica

Uma escala
De gradação de entes

De criaturas
Na sua irredutibilidade
Enteológica…

Uma diferenciação
Topológica
Cronológica
Nos traços invisíveis
Da dualidade cosmológica…

Dois mundos distintos
Se presentificam
Interpenetram
Pelo mais ténue sopro
Que choca
O rosto dos Homens…

O alento
De uma presença incógnita
Sente-se
Pressente-se
E não se vislumbra mais…

A indelével mão do Anjo
Toca em cada ombro deserto
Num momento de angústia
De desespero existencial
Em desvario
Em alucinação…

Acalma
Tranquiliza
Apazigua…

Traz a esperança
De um Mundo
Mais luminoso
Isento do vazio
Da solidão…

O toque da mão
Não vista
Incomensuravelmente sentida
Por um encéfalo
Fonte de inteligência
De recordação
De afecto…

Comunicante
Monadicamente
Com outros encéfalos…

No seio da multidão
Da massa humana
Indiferente
E indiferenciada…

No caótico trânsito da cidade
Comandado por projectos ideias
Ainda se medita
Em escassos momentos
Sobre o sentido da Vida
Da Morte
Do Ser
Do Não-Ser
Do Nada…

Um caminho
Entre muitos
Entrelaça
O “jardim de caminhos que se bifurcam”
Entre uma visão a cores
E outras a preto e branco…

Sim…
“Os caminhos que se bifurcam”
Qual universo borgesiano…

A cada passo
Se ergue um labirinto
Infinito…

Todos os homens se perdem…

Um labirinto de labirintos
O labirinto do Minotauro…

Sinuoso
Cresce
Abarca o passado
O futuro
Um outro tempo…

Envolvente
Indeterminado
Permanece
O labirinto conflituoso
Morada
Perpétua
Do conhecimento
Abstracto do Mundo…

De longe
Se vislumbram
Os restos de tarde
Entre os caminhos
Que se bifurcam
Por entre as várzeas indistintas…

A música aflora
Aguda
Grave
Inquietantemente suave
Arrebatadora
Embaladora
Magica
Embriagante…

Silábica
Se aproxima a melodia…

Se afasta
Também
Com o vai-vém do vento
Que as folhas
Desloca
E os bandos de pássaros
Encaminha…

Povoam todos os céus
Como nuvens escuras
Anunciantes das tempestades...


Se escondem os Anjos
Eternos observadores
Das multidões agoniadas…

Mensageiros
Comissionários das palavras
Locutores ocultos
Intermediários discretos…

Companheiros ignorados
Guardas
Abrigos
Ternas sombras dos Homens…

De assas brancas
Ou negras
Neste tempo de indigência
Aí estão
Como entes alados
Vagueantes
Num espaço
Atópico…

Num tempo
Intemporal
Num tempo
Redondo
Fora do alcance da Humanidade…

Atentamente
Viajam
Vigiam
Espreitam
E escutam…

Penetram
Na interioridade dos Homens
Eles que são “Nada”
E estes que são “Tudo”...

O Universo dos Anjos
Eternamente invisíveis
“Tão longe e tão perto”
“Nas asas do desejo”…

Entre o Mundo
Da efemeridade do visível
Das coisas mutantes
Da permanente metamorfose…

Entre o Mundo
Da dádiva do Ser
Da eternidade do invisível
Da perenidade de uma outra Existência…

Não há fuga possível
Até que a morte nos separe…

Não há fuga possível
Até que vejamos
O outro lado da Vida
Não iluminado
Não voltado para nós…

Assim clarifica
Rilke
O poeta do Anjo
Belo e Terrível
Consagrado
À celebração da Vida
E da Morte
Do terrestre
E do celeste…

Do Aberto
Da Terra silente
Em grito de alerta
Em desespero
Silenciador
Do ruído ensurdecedor das máquinas…

Isabel Rosete
Outubro, 2007
25/01/08

(Fonte de inspiração: Wim Wenders, “Asas do Desejo”/ “Tão Perto tão Longe”; Rainer Maria Rilke, “Elegias de Duíno”))

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